O PROCESSO DE MODERNIZAÇÃO PERIFÉRICA E A CONSTITUIÇÃO DE UMA “RALÉ” ESTRUTURA Gessé Souza.

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Transcrição da apresentação:

O PROCESSO DE MODERNIZAÇÃO PERIFÉRICA E A CONSTITUIÇÃO DE UMA “RALÉ” ESTRUTURA Gessé Souza.

Florestan Fernandez trata em seu livro da “Integração do negro na sociedade de classes”, destacando que foram estes grupos que tiveram “o pior ponto de partida”, na transição da ordem escravocrata à competitiva. São Paulo, se torna a mais burguesa e competitiva das cidades brasileiras. Os negros libertos: Abandonados a própria sorte; O Estado, a Igreja, ou qualquer outra instituição jamais se interessaram pelo destino do libertado.

Não dispunham dos meios materiais ou morais para sobreviver numa nascente economia competitiva do tipo capitalista e burguês. Faltava-lhe vontade de se ocupar com as funções consideradas degradantes (que lhe lembravam o passado) – peso que os imigrantes italianos, por exemplo, não tinham. Não eram suficientemente industriosos, nem poupadores e, acima de tudo, faltava-lhes o aguilhão da ânsia pela riqueza. Foram abandonados pelos antigos donos e pela sociedade como um todo. Foi se preferindo um destino de marginalidade social e pobreza econômica.

O imigrante europeu eliminava a concorrência do negro onde quer que ela se impusesse. Para o negro, sem a oportunidade de classificação social burguesa ou proletária, restava os interstícios e as franjas marginais do sistema como forma de preservar a dignidade de homem livre: o mergulho na escória proletária, no ócio dissimulado, ou ainda, na vagabundagem sistemática e na criminalidade fortuita ou permanente. A ânsia em O imigrante europeu eliminava a concorrência do negro onde quer que ela se libertar-se das condições humilhantes da vida anterior, tornava-o inclusive, especialmente vulnerável a um tipo de comportamento reativo e ressentido em relação as demandas da nova ordem.

O liberto tendia a confundir as obrigações do contrato de trabalho e não distinguia a venda da força de trabalho da venda dos direitos substantivos à noção de pessoa jurídica livre. Ademais, a recusa a certo tipo de serviço, a inconstância no trabalho, a indisciplina contra a supervisão, o fascínio por ocupações “nobilitantes”, tudo conspirava para o insucesso nas novas condições de vida e para a confirmação do preconceito.

Entre as dificuldades de adaptação à nova ordem competitiva Florestan Fernandez, destaca: - Inadaptação do negro para o trabalho livre; - Incapacidade de agir segundo os modelos d comportamentos e personalidade da sociedade competitiva. Segundo Fernandez a família não negra não chega a se constituir como uma unidade capaz de exercer as suas virtualidades principais de modelação da personalidade básica e controle de comportamentos egoísticos. - A política escravocrata brasileira sempre procurou impedir qualquer forma organizada familiar ou comunitária da parte dos escravos.

- Muitos vão se concentrar nas “favelas” das cidades. - Para não ser “otário”, condenado aos “serviços de negros”, invariavelmente perigosos e humilhantes, os destinos de vagabundos, ladrão ou prostituta ofereciam perspectivas comparativamente maiores. Fernandez aponta a posição peculiar do sexo no mundo do negro como uma das causas principais da anomia nesta esfera:

O excesso de pessoas morando nos cortiços e barracos de favelas, facilitava todo tipo de relação incestuosa ou abusiva (os garotos sexualmente abusados pelos mais velhos). O vício do álcool é assim como o sexo, um fator de desorganização e autodestruição, como um protesto contra a sucessão de insucessos sociais. As mulheres tinham mais acesso ao mercado de trabalho do que os homens, isso porque nos serviços domésticos era a única área de competição com o imigrante, não era significativa.

Fora dos serviços domésticos, ´único acesso fácil as mulheres era a baixa prostituição. Era difícil, mesmo às mulatas “mais bonitas”, se alcançarem a alta prostituição, já que, também neste campo, mulatas e negras “valem menos”. Sob todos os aspectos, a família desorganizada era a base dos desequilíbrios da vida em todas as suas dimensões. A situação da população negra é comparável aos dependentes rurais brancos.

Na sociedade competitiva, a cor funciona como índice “relativo” de primitividade. O abandono secular do negro e do dependente de qualquer cor `própria sorte a “causa” obvia de sua inadaptação. Dentre as sociedades desenvolvidas, e entre elas os EUA é que apresenta maior índice de desigualdade e exclusão. A redefinição “moderna” do negro como “imprestável” para exercer qualquer atividade relevante e produtiva no novo contexto, que constitui o quadro da nova situação de marginalidade.