Prof. André M. Biancareli 16/04/2010

Slides:



Advertisements
Apresentações semelhantes
Contas Externas Brasileiras Carlos Thadeu de Freitas Gomes Seminário APIMEC 40 anos Rio de Janeiro, 17 de Maio de
Advertisements

SETOR EXTERNO DA ECONOMIA BRASILEIRA
- O Setor Externo Fundamentos do Comércio Internacional
Transparência e auditoria das dívidas: condição para a Nova Arquitetura Financeira Internacional Simposio Internacional: "Construyendo una Nueva Arquitectura.
Assessoria Econômica da FEDERASUL Crise Financeira e o Impacto na Economia Mundial.
A Crise Internacional e os Efeitos no Brasil e no Mundo
Keynesianismo é a teoria econômica consolidada pelo economista inglês John Maynard Keynes em seu livro Teoria geral do emprego, do juro e da moeda (General.
EVOLUÇÃO DA ECONOMIA INTERNACIONAL
O BRASIL E A CRISE DE 1929 O café representava 71% das exportações brasileiras e os grandes compradores eram os Estados Unidos. Outros produtos que compunham.
Sistema Financeiro Internacional
FINANÇAS INTERNACIONAIS
Mercados Financeiros e o Caso Especial da Moeda
Visão Global da Macroeconomia UNIVERSIDADE DOS AÇORES
Política Macroeconómica com câmbios flexíveis
Convertibilidade e estabilidade cambial: Bretton Woods
Balanço de Pagamentos 1- Transações correntes
Profª. Teresa Cristina Barbo Siqueira
ECONOMIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA
Amaury Patrick Gremaud Marco Antonio Sandoval de Vasconcellos
2a Conf. Int. de Crédito Imobiliário 19 de Março de 2010
A CRISE MUNDIAL E SEUS EFEITOS NO BRASIL
Fundamentos de Economia
Macroeconomia Global Contemporânea
Anos 1980: Rumo perdido.
A ASCENSÃO DA CHINA NO SISTEMA MUNDIAL E OS DESAFIOS PARA O BRASIL
Neoliberalismo Prof Vilmar A. Silva.
Incertezas em um novo cenário Roberto Padovani Setembro 2008.
Balanço de Pagamentos Prof. Ricardo Rabelo
Governo do Estado de Sergipe Secretaria de Estado da Fazenda AUDIÊNCIA PÚBLICA 3º Quadrimestre 2008 Fev/ AUDIÊNCIA PÚBLICA Avaliação do Cumprimento.
O Brasil e a Superação da Crise Internacional
Sistema Monetário Aula 5 Prof. Karine R. de Souza.
POLÍTICAS EXTERNAS POLÍTICA CAMBIAL: depende do tipo de regime de câmbio adotado: taxas fixas de câmbio ou taxas flexíveis. POLÍTICA COMERCIAL: alterações.
MBA em Relações Internacionais FGV Questões Internacionais Contemporâneas A economia nos EUA: prosperidade e crise.
Parte IV: Transformações Econômicas nos Anos Recentes
Celso Furtado FEB Cap. XXVI – XXVIIII.
PIB TRIMESTRAL Bahia – 4º Trimestre de 2009 Bahia – 4º Trimestre de 2009 CONJUNTURA ECONÔMICA: 2011 DILMA_100 dias.
Economia brasileira plano real e seus desdobramentos cap. 16
Economia Internacional CEAV Parte 7
A DÉCADA PERDIDA PROBLEMAS NO COMÉRCIO EXTERIOR
Perspectivas Econômicas para 2013: Brasil e Rio Grande do Sul.
Perspectivas Econômicas 2011 Data 21/10/10 Economia Internacional 2011 Governo dos EUA expandirá a moeda (QE II) – Espera-se reação semelhante da União.
II - A Evolução Recente da Economia Portuguesa. II - A Evolução da Economia Portuguesa 1) Os choques políticos e internacionais em e os Acordos.
Parte IV: Transformações Econômicas nos Anos Recentes
Parte II: Determinantes do Produto
A HISTÓRIA DO SÉCULO XX E A ECONOMIA POLÍTICA
1 ESTÁGIO AVANÇADO DA INTERNACIONALIZAÇÃO CRISE NA PRODUÇÃO : CICLO DE BAIXA 2002 AMBIENTE MUNDIAL.
Ministério da Fazenda Secretaria de Política Econômica 1 A CRISE MUNDIAL E SEUS EFEITOS NO BRASIL Nelson Barbosa Secretário de Política Econômica 2 de.
“ A BALANÇA COMERCIAL SOBRE O REGIME DE CÂMBIO FLUTUANTE” Barros & Giambiagi. Brasil globalizado: o Brasil em um mundo surpreendente. Ed. Campus, 2008.
SISTEMA MONETÁRIO INTERNACIONAL
Universidade do Vale do Itajaí Curso de Geografia
COMÉRCIO INTERNACIONAL
Aula de Economia Política
Estabilização Macroeconômica, Retomada do Desenvolvimento e Crise Mundial Domingos R. Pandeló Jr
Economia Brasileira1 Política Econômica Externa e Industrialização:
CRISE INTERNACIONAL NOS ANOS 1970
CRISE ECONÔMICA DA ARGENTINA
Introdução à Macroeconomia
CENÁRIO ECONÔMICO. MUDANÇA DE RUMO DE POLITICA ECONÔMICA  FIM DE POLITICAS ANTICÍCLICAS BASEADO NO ESTIMULO DA DEMANDA  AJUSTE FISCAL  REALINHAMENTO.
O mundo dividido na era da Globalização
Sistema Financeiro Internacional
A nova regionalização do mundo
Manual de Economia e Negócios Internacionais
FUNDAMENTOS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL, TAXA DE CÂMBIO, ESTRUTURA DO BALANÇO DE PAGAMENTOS.
POSSÍVEIS CENÁRIOS ECONÔMICOS : UMA VISÃO PANAMERICANA.
Amaury Gremaud HEG II A Grande Depressão e o Sistema Monetário Internacional.
Parte IV: Transformações Econômicas nos Anos Recentes Capítulo 20: O Brasil e o Fluxo de Capitais: Dívida Externa, sua Crise e Reinserção nos anos 90.
Parte IV: Transformações Econômicas nos Anos Recentes
Amaury Gremaud HEG II Sistema Monetário Internacional: conceitos e definições.
Objetivos e Instrumentos
OS GRANDES TEMAS DA ECONOMIA INTERNACIONAL BAUMANN, R, CANUTO O., GONÇALVES, R (2004) – CAP. 1 CAVES, R.E.(2001), Introdução KRUGMAN, P.; OBSTFELD, M.
Transcrição da apresentação:

Prof. André M. Biancareli 16/04/2010 ECO 720 – Fundamentos de Finanças Internacionais Aula 5. A ordem monetária e financeira de Bretton Woods Prof. André M. Biancareli 16/04/2010 ECO - 720 Fundamentos de Finanças Internacionais

Objetivos principais Entender as origens de um determinado “arranjo” monetário e financeiro Já vimos que se trata de: baixa mobilidade, câmbio fixo e política monetária autônoma A sua institucionalidade e as suas regras O seu real funcionamento A evolução: afirmação, auge e declínio Objetivo de fundo: contrastar com o período da globalização, atual ECO - 720 Fundamentos de Finanças Internacionais

Origens: por que Bretton Woods? BW é uma cidadezinha no estado de New Hampshire, nordeste dos EUA Em 1944, realiza-se uma conferência internacional que tinha como objetivo reorganizar o mundo (em termos econômicos) após o fim da II G M ECO - 720 Fundamentos de Finanças Internacionais

Origens... O que se discutia? O que se queria organizar? Pano de fundo era a experiência traumática do período entre-Guerras Não só a guerra e o Nazi-fascismo em si Em termos econômicos, dois “fantasmas” Recessão, depressão, desemprego em massa Desvalorizações competitivas ECO - 720 Fundamentos de Finanças Internacionais

Origens... Consenso de que ajustes externos deveriam preservar o crescimento Experiência traumática de tentativas de volta ao padrão-ouro pós I Guerra Falência da ortodoxia convencional, surgimento da macroeconomia, keynesianismo etc. ECO - 720 Fundamentos de Finanças Internacionais

Origens... Busca de competitividade por meio das desvalorizações nacionais gerava o pior dos mundos Forte instabilidade cambial Tentativa de “empurrar a miséria para o vizinho” (beggar thy neighbour) deixava todos pobres Aumento do protecionismo ECO - 720 Fundamentos de Finanças Internacionais

Duas grandes propostas Nas reuniões preparatórias, embate entre duas propostas: O Plano Keynes (Inglaterra) O Plano White (EUA) Interesses imediatos e posições de poder distintos Mas também fortes diferenças de fundo ECO - 720 Fundamentos de Finanças Internacionais

O Plano Keynes Muito mais ambicioso, propunha a criação de dois elementos inovadores A International Clearing Union, uma caixa de compensação e um grande livro caixa pelo qual passariam todas as trocas internacionais O bancor, uma moeda exclusivamente internacional e meramente contábil, para liquidar as transações externas ECO - 720 Fundamentos de Finanças Internacionais

O Plano Keynes O funcionamento do esquema garantiria a liquidez necessária para o comércio internacional Transações automaticamente compensadas, registro contábil Ao final de um período, apura-se os saldos de cada país em bancor Se negativo (Xs<Ms), necessidade de ajuste Mas, se muito positivo (Xs>Ms), também punição, também necessidade de ajuste! ECO - 720 Fundamentos de Finanças Internacionais

O Plano Keynes Keynes preocupado com uma “regra” injusta e contracionista vigente: o ajuste assimétrico Ao forçar o superávitário a crescer mais, diminuiria os desequilíbrios, de maneira expansionista! Além disso, a moeda internacional não seria a moeda própria de nenhum país Trocas internacionais não dependeriam da política do emissor dessa moeda ECO - 720 Fundamentos de Finanças Internacionais

O vitorioso Plano White Bem mais modesto Previa a criação de um fundo de estabilização para evitar as desvalorizações em caso de problemas no BP Mantinha o atrelamento das moedas ao ouro Como 2/3 das reservas de ouro estavam nos EUA  dólar como moeda reserva Além disso, previa (como o Keynes) controles de capital e câmbio fixo ECO - 720 Fundamentos de Finanças Internacionais

O vitorioso Plano White Vitória de White refletia ascensão americana e decadência inglesa EUA interessados em impor uma ordem regulada e estável, mas que atendesse às suas vantagens ao fim da guerra Enorme competitividade industrial Moeda reserva Propostas de Keynes parecem utópicas, mas apontam para as questões fundamentais... ECO - 720 Fundamentos de Finanças Internacionais

A institucionalidade de BW FMI criado para ser o fundo de estabilização Países contribuindo de acordo com seu peso no comércio internacional, voto ponderado Criação também do Banco Mundial, para financiar a reconstrução Proposta de criação da OIC (ITO) para o comércio, mas não avança (...Gatt) ECO - 720 Fundamentos de Finanças Internacionais

A institucionalidade de BW Regras Câmbio fixo mas ajustável diante de “desequilíbrios fundamentais” Paridade US$ 35/onça ouro Adoção da conversibilidade em conta corrente em cinco anos Uso de controles de capital diante de fugas Poder só retórico para o ajuste dos superavitários (cláusula da moeda escassa) ECO - 720 Fundamentos de Finanças Internacionais

Os pilares de Bretton Woods Eichengreen (1996) aponta três pilares do período Câmbio fixo e conversibilidade em ouro FMI com algumas funções de coordenação Uso disseminado dos controles de capital Na prática, porém... ECO - 720 Fundamentos de Finanças Internacionais

O confronto com a realidade No imediato após-guerra, desejos dos americanos contrastam com a realidade Queriam exportar para o mundo (Europa) e essa precisava desesperadamente de ajuda e importações Mas... como importar se não se têm os dólares? Essa é a fase da escassez de dólares: Dinamismo do comércio internacional depende de déficits no emissor da moeda reserva, mas esse é superavitário... FMI não tem os recursos suficientes ECO - 720 Fundamentos de Finanças Internacionais

O confronto com a realidade Solução só vai se encaminhar com duas providências estranhas às regras de BW: Desvalorizações na Europa em 1949 (2/3 do comércio global, em média 30%) Plano Marshall 1948: forte conteúdo geopolítico encaminhando a reconstrução Encaminhada a escassez de dólares, BW se afirma e mostra seus resultados ECO - 720 Fundamentos de Finanças Internacionais

Um exemplo dos resultados ECO - 720 Fundamentos de Finanças Internacionais

Depois da escassez... Plano Marshall, desvalorizações, UEP, abertura do mercado americano, forte política industrial no Japão e Europa... Resto do mundo desenvolvido rapidamente recupera a competitividade Passam a exportar para os EUA (dólares saindo de lá agora) Isso pelo lado comercial... ECO - 720 Fundamentos de Finanças Internacionais

Pelo lado financeiro Fluxos de IDE americano na Europa Empréstimos de longo prazo dos bancos americanos Somados aos déficits comerciais... Vai se construindo a situação inversa, ao longo dos anos 1960: a abundância de dólares fora dos EUA ECO - 720 Fundamentos de Finanças Internacionais

Um fator agravante... EUA, na tentativa de conter a perda de US$, impõem uma série de medidas: Restrições (no início voluntárias) para saída de IDE Equalização de juros e controles de capital Funcionam como combustível para o desenvolvimento do Euromercado de dólares Outros fatores também determinantes ECO - 720 Fundamentos de Finanças Internacionais

Um fator agravante... O Euromercado agrava o problema da abundância de dólares Circuito financeiro internacional em US$, fora do controle e da supervisão das autoridades americanas Países da AL vão ser envolvidos, na década de 1970, nesse movimento... Mas, afinal de contas, qual o problema da abundância de US$? ECO - 720 Fundamentos de Finanças Internacionais

Dois problemas relacionados EUA, como emissores da moeda reserva, tinham uma vantagem em relação aos demais: Podem ter déficit no BP sem se preocupar com o ajuste Outros países aceitam acumular ativos em US$ ao invés de ouro, são equivalentes É até bom para o dinamismo do comércio global Mas é um “privilégio exorbitante” (França), os outros têm que se adaptar Esse é o “problema do ajustamento” ECO - 720 Fundamentos de Finanças Internacionais

Dois problemas relacionados Mas, excesso de dólares fora dos EUA, significa também... Mais direitos sobre o ouro americano Aos poucos, vai desaparecendo qualquer relação entre a quantidade de ouro em Fort Knox e os dólares em circulação Déficits, saídas de capital e euromercado Vai gerando desconfiança na conversibilidade dólar-ouro Esse é o “problema da confiança” ECO - 720 Fundamentos de Finanças Internacionais

Dois problemas relacionados Problema do ajustamento mais o problema da confiança configuram o chamado “Dilema de Triffin”: País emissor da moeda reserva precisa ter déficits (saída de US$) para as trocas internacionais funcionarem bem (a liquidez é em US$), mas isso até o ponto em que surja a desconfiança no real valor do dólar em ouro... ECO - 720 Fundamentos de Finanças Internacionais

A crise de Bretton Woods Anos 1960 são marcados por um longo processo de administração dessa crise de confiança na conversibilidade dólar-ouro Vários instrumentos, reuniões e medidas criados para manter a conversibilidade 1968: conversibilidade decretada só oficial (entre BCs) 1971: “fechamento da golden window” 1973: adoção do câmbio flutuante Um dos três pilares de BW estava derrubado! ECO - 720 Fundamentos de Finanças Internacionais

A crise de Bretton Woods O segundo (controles de capital) foram sendo erodidos ao longo do tempo (inclusive pelo Euromercado) e nos anos 1970 já não existem no mundo desenvolvido Configura-se a passagem da baixa para a alta mobilidade internacional do capital O terceiro (coordenação e supervisão do FMI) nunca funcionou na prática Pelo menos para as economias centrais Ele vai achar seu papel nas crises de dívida depois ECO - 720 Fundamentos de Finanças Internacionais

Pós-Bretton Woods Período de crise e instabilidades nos anos 1970 Aumento da inflação (choques do petróleo e política econômica negligente nos EUA) Queda no crescimento e aumento do desemprego Instabilidade de taxas reais de juros e de câmbio Desconfianças e forte desvalorização do US$ Até que, em 1979, ocorre uma guinada na política monetária americana que vai mudar tudo, re-estabelecendo a hegemonia do US$ e dos EUA, e abrindo caminho para o período da “globalização” ECO - 720 Fundamentos de Finanças Internacionais

Crescimento do PIB, mundo e principais países desenvolvidos, em % a. a. ECO - 720 Fundamentos de Finanças Internacionais

Inflação nos Estados Unidos (variação anual do IPC, %) ECO - 720 Fundamentos de Finanças Internacionais

Taxa de desemprego EUA (% da força de trabalho) ECO - 720 Fundamentos de Finanças Internacionais

Taxa de Câmbio do dólar (efetiva real, 1970 Q1 =100) ECO - 720 Fundamentos de Finanças Internacionais

Além do movimento desce-sobe do dólar... Nítido aumento da volatilidade ECO - 720 Fundamentos de Finanças Internacionais

Preço do petróleo http://en.wikipedia.org/wiki/Image:Oil_price_chronology-june2007.gif ECO - 720 Fundamentos de Finanças Internacionais

Preços do petróleo ECO - 720 Fundamentos de Finanças Internacionais

Taxas de Juros nos Estados Unidos (% a. a.) ECO - 720 Fundamentos de Finanças Internacionais