Aborto O Argumento da Humanidade Pedro Galvão Departamento de Filosofia Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Slides:



Advertisements
Apresentações semelhantes
O conceito de pessoa O conceito de pessoa é constantemente invocado no debate atual em ética aplicada e a razão para isso é que atribui-se à pessoa uma.
Advertisements

ÉTICA EM NEGOCIAÇÃO Profa.: Mayna Nogueira.
Lógica Matemática e Computacional 2.2 – Implicação e Equivalência
Trabalho Escolar de Filosofia
Liberdade e Escravidão
Jorge Muniz Barreto UFSC-INE
INTRODUÇÃO A lógica faz parte do nosso cotidiano.
RAZÃO E INSTINTO Pascal “ O Coração tem razões que a razão desconhece
Lógica e lógica de programação
Curso: Licenciatura em Matemática
Conhecimento Verdade e validade Tipos de conhecimento
A existência de Deus e o Mal
A ética Kantiana.
Questões preparação para exame Soluções
Filosofia Professor Breno Cunha
O Existencialismo é um Humanismo - Sartre
CONSCIÊNCIA CRÍTICA E FILOSOFIA
Searle, John. Consciência e Linguagem. S. Paulo: Martins Fontes 2010
Prof. Kleyton Gustavo de Rezende Filosofia – º Médio A e B
Determinismo e liberdade na acção humana
Teorias do conhecimento
Aulas 9,10 Fábio Nakano.
JOGO de Filosofia.
Parte II - Carlos _ Bru.  Eu não estou passando informação para vocês serem melhores, eu estou transmitindo informações para que vocês entendam o mecanismo.
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
Argumentos em filosofia
BCC101 – Matemática Discreta
Immanuel Kant
André Luiz da Costa Carvalho
Subentendido.
Educação de Essencialidades. Há continuidade em nós!!! Vamos conecta la.
FILOSOFIA – 10º ano II - A acção humana e os valores Rua Professor Veiga Simão | Fajões | Telefone: | Fax: |
ÉTICA E LEGISLAÇÃO TRABALHISTA E EMPRESARIAL
 David Hume era um pensador escocês que ridicularizava a razão humana, acreditando que o que as pessoas sabiam vinha dos sentidos. Ao afirmar isso, Hume.
Decidibilidade, Corretude, Completude, Consistência
Consciência /Alienação: a ideologia no Nível Individual. Identidade
VERIFICACIONISTAS/REFUTACIONISTAS “Sinto às vezes a inclinação de classificar os filósofos em dois grupos principais – aqueles dos quais discordo e os.
Curso de Geografia Epistemologia – conceitos gerais
A ética Kantiana.
Introdução à Engenharia de Computação
Especialização em Docência do Ensino Superior
Ética. Ética-Introdução: Argumentos morais.
..  Apresentação:  Racionalista  Modelo de pensamento dedutivo, de inspiração matemática  Método analítico.
René Descartes ..
As bases da ciência moderna
Aula: Tomás de Aquino.  Período da escolástica  Características: Surgimento das primeiras universidades – abertura do acesso ao conhecimento Revalorização.
René Descartes ..
PROFISSIONAL Profª. Ms. Lissandra L.C.Rocha.
Santo Agostinho d.C.) Crer para compreender.
Processos de produção textual Profª Margarete Apª Nath Braga.
Ética Aplicada: Introdução
Aborto O argumento pró-escolha de Michael Tooley Pedro Galvão Departamento de Filosofia Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Pensamento crítico Nós temos dois modos de sustentar nossas opiniões e concepções: o dogmáticoo crítico.
A distinção validade-verdade
Aborto O argumento pró-escolha de Judith Thomson
Aborto O Argumento da Regra de Ouro
Professor: Suderlan Tozo Binda
Lógica I “Sem abstração, a inteligência não floresce” (João Zelesny)
Filosofia central de Nietzsche
Eutanásia e a Doutrina do Duplo Efeito
A FUNDAMENTAÇÃO METAFÍSICA DOS COSTUMES. O Homem deve também acreditar no Homem Boa ideia…! Assim já posso ir de férias.
Locke V O Conhecimento: “O seu valor e a sua extensão”
Edmund Husserl A REJEIÇÃO DO PSICOLOGISM0 Defende Husserl: –“ As leis lógicas são rigorosamente universais e necessárias e precisamente por.
Critérios de Morte Pedro Galvão Departamento de Filosofia Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Capítulo 4 – Filosofar é conhecer
Aborto O Argumento da Privação de um Futuro Valioso Pedro Galvão Departamento de Filosofia Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Investigando o Saber. Profª Renata Lopes  O que é afinal conhecer? Conforme analisa o filósofo norte-americano contemporâneo, Richard Rorty, na concepção.
dissertativo-argumentativo
Sócrates e o nascimento da Filosofia
Os constituintes do campo ético
Transcrição da apresentação:

Aborto O Argumento da Humanidade Pedro Galvão Departamento de Filosofia Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

O argumento pró-vida da humanidade do feto: – O aborto é errado porque o feto é um ser humano. O argumento numa versão mais explícita: 1.Todos os seres humanos têm o direito moral à vida. 2.Os fetos são seres humanos. – Logo, os fetos têm o direito moral à vida. 3.Se os fetos têm o direito moral à vida, o aborto é errado. – Logo, o aborto é errado. O argumento é válido (i.e. a conclusão segue-se necessariamente das premissas). Mas será que todas as premissas são verdadeiras? o argumento

Nas premissas 1 e 2 ocorre o termo “seres humanos” — que é ambíguo. Ao usarmo-lo, podemos ter em mente um conceito biológico de humanidade, entendendo por “ser humano” um membro da espécie Homo sapiens. Mas, por vezes, o termo exprime um conceito psicológico de humanidade. Nesse caso, entende-se por “ser humano” um indivíduo dotado de racionalidade, de consciência de si ou de outras capacidades mentais sofisticadas. Uma opção terminológica sensata consiste em usar “ser humano” apenas no seu sentido biológico. Para captar o conceito de um agente racional e consciente de si, o termo “pessoa” é perfeitamente apropriado. “seres humanos”

Suponha-se que interpretamos o argumento da humanidade à luz de um conceito psicológico de humanidade. Nesse caso, deverá ser lido assim: 1.Todas as pessoas têm o direito moral à vida. 2.Os fetos são pessoas. – Logo, os fetos têm o direito moral à vida. Qualquer deontologista aceitará 1. Mas 2 afigura-se manifestamente falsa. interpretação 1

Suponha-se agora interpretamos o argumento da humanidade à luz do conceito biológico de humanidade. Nesse caso, deverá ser lido assim: 1.Todos os membros da espécie Homo sapiens têm o direito moral à vida. 2.Os fetos são membros da espécie Homo sapiens. – Logo, os fetos têm o direito moral à vida. 2 é verdadeira. Mas 2 afigura-se injustificada: – Por que razão ser um membro da espécie Homo sapiens há-de ser condição suficiente para ter o direito moral à vida? interpretação 2

E o que dizer desta versão do argumento da humanidade? 1.Todas as pessoas têm o direito moral à vida. 2.Os fetos são pessoas potencialmente. – Logo, os fetos têm o direito moral à vida. O argumento é inválido. Para obtermos um argumento válido, temos de acrescentar uma premissa como a seguinte: (P)Se os X têm um certo direito moral, então os X potenciais também têm esse direito. Mas (P) não é plausível. potencialidade

Oderberg argumenta que temos de aceitar o seguinte: (P*)Se as pessoas têm o direito moral à vida, então as pessoas potenciais também têm esse direito. Se não aceitarmos P*, alega Oderberg, teremos de concluir, absurdamente, que quando ficamos inconscientes (e.g. adormecidos, anestesiados) deixamos de ter o direito à vida. – Pois, nessa situação, somos apenas pessoas potenciais. Mas isto é falso: quando ficamos inconscientes, geralmente não deixamos de ser pessoas. – Pois não perdemos as capacidades da racionalidade ou da consciência de si. potencialidade

Schwarz defende o argumento da humanidade afirmando a pessoalidade dos fetos (e até dos zigotos). 1.Cada um de nós é uma pessoa essencialmente. 2.Cada um de nós já foi um feto (e até um zigoto). – Logo, o feto (e até o zigoto) que já fomos era uma pessoa. – Não era apenas uma pessoa em potência. Os fetos humanos (e até os zigotos) já são pessoas – defende Schwarz. – Simplesmente ainda não funcionam como pessoas. Mas será isto verdade? a pessoalidade dos fetos