Comunidade (Direitos humanos e alteridade) l Psicologia e Comunidade 1 Luciana Souza Borges.

Slides:



Advertisements
Apresentações semelhantes
Teoria Contratualista Thomas Hobbes (1588 – 1679)
Advertisements

ESTÉTICA 1.
CONSTRUINDO ADERÊNCIA COM AS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS
HUMANISMO E PSICOLOGIA Mauro Martins Amatuzzi
Ética e subjetividade – uma reflexão
A Psicologia Sócio-Histórica
A Formação Histórica das Esferas Pública e Privada
EXISTENCIALISMO Os existencialista não tem um pensamento unificado.
Corpo. Pedaço de carne. Perambulas, Seguindo trilhos traçados
Prof.a Andréia Chagas Pereira
Explicação da Prática de Purificação de Mente
A Natureza do Caminho Interior
Espiritualidade e Direitos Humanos
CONSCIÊNCIA CRÍTICA E FILOSOFIA
Romanos 7 Sou salvo! Livre da lei!
Criação: Marlos Urquiza Cavalcanti
Searle, John. Consciência e Linguagem. S. Paulo: Martins Fontes 2010
ÉMILE DURKHEIM ( ): TEORIA DOS FATOS SOCIAIS
Profa. MSc. Daniela Ferreira Suarez
O que é? Para que serve? Filosofia Prof. Joaquim Célio de Souza.
Existencialismo – Parte II
OBJETO DA ÉTICA Nas relações cotidianas dos indivíduos entre si surgem continuamente problemas. Ex: Devo ou não devo falar a verdade! Desta forma faz se.
Autores:FÁTIMA BEATRIZ MAIA (UFRJ) PAULA DA CRUZ MORAES (UFF)
3ª Parte Agir.
Conversando sobre Formação Integral.
PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO.
A Filosofia Existencialista
Ou quem e o que o constitui
Immanuel Kant
Emile Durkheim e o fato social
AUTONOMIA MORAL E A CONSTRUÇÃO DE UMA ESCOLA DEMOCRÁTICA
QUEM É O HOMEM? “Quem é o homem para dele te lembrares com tanto carinho?” (Sl 8) Freud: o homem é um ser impulsionado, conduzido por seus instintos.
1ª aula Profª Karina Oliveira Bezerra
22/08/2031 Profª Karina Oliveira Bezerra
Assessoria Ministério da Identidade e -- antonio frutuoso -- Casa da Juventude do Paraná.
A Psicologia ou as Psicologias
Direito das Minorias Profª.Adirleide Greice Carmo de Souza
Immanuel Kant.
Professor: Karina Oliveira Bezerra
ESTÉTICA 1.
Processos culturais: formas cotidianas de fazer as coisas. Desenvolvimento humano: as pessoas se desenvolvem como participantes das práticas e tradições.
Direitos Humanos Ligado aos aspectos ideológicos, poder; Textos:
Thomas Hobbes: o estado de natureza como guerra entre todos
Immanuel Kant
Questões para debate em sala:
Eckhart Tolle A Natureza do Caminho Interior CLICA para continuar.
ANTROPOLOGIA TEOLÓGICA
AS CONDIÇÕES A PRIORI DA POSSIBILIDADE DA REVELAÇÃO
O CAMPO DA RELIGIÃO Prof. Helder Salvador. É só com a filosofia moderna que se começa tratar a religião, e com isto também a fé cristã, filosoficamente,
A QUESTÃO DE DEUS DESCARTES.
LUDWIG FEUERBACH Deus é a essência do homem projetada em um imaginário ser transcendente. Também os predicados de Deus (sabedoria, potência,
PSICOMOTRICIDADE Profa. Dra. Ana Catarina Araújo Elias.
DO SABER ÉTICO À ÉTICA VAZ, Henrique C. de Lima. Escritos de filosofia IV: introdução à ética filosófica 1. São Paulo: Loyola, p
MAURICE MERLEAU-PONTY ( ):
INOBJETIVIDADE DA EXISTÊNCIA
Prof. SuderlanTozo Binda
A PESSOA: As ideias sobre os valores e sua hierarquia permitem: Refinadas análises críticas do subjetivismo ético no mundo moderno Delineamento agudo da.
CONAE 2010 – Brasília Prof° Ms. Marco Antonio Soares – Secretário de Direitos Humanos da CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação)
MAURICE MERLEAU-PONTY ( ):
KARL JASPERS
Também necessitamos da Natureza para que nos ensine o caminho para “CASA”, o caminho de saída da prisão das nossas mentes.
MAURICE MERLEAU-PONTY ( ) A LIBERDADE CONDICIONADA.
Professor– Alison Pereira Batista “Conhecimento sobre o Corpo”
Ex corde ecclesiae (15/08/90): A vocação da Universidade Católica Erico Hammes Porto Alegre, 05/04/2011.
1-De acordo com Descartes:
Aulas previstas: 7. O eu pessoal (13 slides) 8. As relações interpessoais (26 slides) 9. A pessoa na sociedade (15 slides) 10. Tempo, morte e imortalidade.
 O que é um conceito?  O espaço na Física Clássica é o mesmo que na Relatividade?  Caso não, o que os diferencia?
A ideia da fenomenologia alguns apontamentos
Transcrição da apresentação:

Comunidade (Direitos humanos e alteridade) l Psicologia e Comunidade 1 Luciana Souza Borges

Direitos humanos: Declaração Universal dos Direitos Humanos (Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas, 10 de dezembro de 1948). Preâmbulo: considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo. Contempla 30 artigos. EX: Artigo 1º: Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência, por isso devem agir fraternalmente uns com os outros. 2 Luciana Souza Borges

Como considerar os direitos humanos (que são meus e também do outro) sem compreender a alteridade? - Os direitos humanos supõem a compreensão de mim mesmo e de outrem. 3 Luciana Souza Borges

O que é alteridade? (Houaiss) - Natureza ou condição do que é outro, do que é distinto. - Situação, estado ou qualidade que se constitui através das relações de contraste, distinção, diferença. 4 Luciana Souza Borges

Por que a alteridade é uma questão? Aspectos da problemática resumidos pelo antropólogo Carlos Rodrigues Brandão: - A consciência da alteridade é o reconhecimento da diferença (diferente é o outro). - O outro é um diferente e por isso atrai e atemoriza. - Por isso o outro deve ser compreendido. - O outro deve ser decifrado para que lados mais difíceis de meu eu, do meu mundo, da minha cultura sejam traduzidos através dele, de seu mundo e de sua cultura. - Por meio do que há de meu nele é que às vezes melhor me vejo. - Através do que ele afirma, nessa diferença que há entre ele e eu. 5 Luciana Souza Borges

Psicologia social = a questão do outro é nuclear Outro = tudo aquilo que não é o eu. Porque é uma questão central: porque somente pela possibilidade de existência do outro e de seu reconhecimento pelo “Eu” é que a Psicologia é possível. Em outras palavras: não há experiência de subjetividade (campo psicológico) anterior à experiência da intersubjetividade/ e essa depende da relação com o Outro. Questão filosófica, antes de ser psicológica ou antropológica. 6 Luciana Souza Borges

Psicologia social = a questão do outro é nuclear Na filosofia contemporânea = Merleau-Ponty tem relevância com relação a esta temática. Objetivismo científico e subjetivismo filosófico = não existe o “nós”/ o mundo social é uma impossibilidade/ consequentemente, a Psicologia social ou as ciências humanas se tornariam impossíveis. Por essa razão, ambas as posições não responderiam satisfatoriamente à complexidade imposta pela temática do “outro”. Então, quando o “Outro” passa a ser questão? 7 Luciana Souza Borges

Quando o “Outro” vem a ser questão? A alteridade torna-se um problema = quando percebo em minha experiência cotidiana (em que o contato com o outro ocorre) que outrem é ao mesmo tempo idêntico e diferente de mim (um ser habitado por uma interioridade). Uma subjetividade constituinte (“eu penso”): não é possível reduzir o outro a um objeto, pois cria um impasse para o aparecimento da intersubjetividade/ necessário superar, portanto, a dicotomia sujeito/objeto. 8 Luciana Souza Borges

Quando o “Outro” vem a ser questão? Para Merleau-Ponty: a experiência do corpo consigo mesmo se propagaria na relação entre ele e as coisas e também entre ele e um outro corpo. Página 13: Por que a generalidade que faz a unidade de meu corpo não se abriria para outros corpos? A sinergia (operação associada/ cooperação/ ação conjunta) possível no interior de cada um seria possível entre os diferentes organismos. Possibilidade de “intercorporeidade”/ a imagem que vejo cruza-se com a de outro e torna-se nossa e não minha. 9 Luciana Souza Borges

Quando o “Outro” vem a ser questão? Essa possibilidade de “intercorporeidade” (p. 13). Eu e o outro partilhamos de um mesmo panorama que vemos por dois pontos de vista diferentes. Uma vez que não há visão acabada, cada visão está sujeita a ser descentrada por outras visões = quando isso ocorre, os limites de nossa visão são acusados. A referência ao outro pressupõe a presença de um mundo intersubjetivo (aberto a novas experiências). 10 Luciana Souza Borges

Quando o “Outro” vem a ser questão? A certeza perceptiva nunca será autêntica certeza se não remeter a essa dimensão de coexistência na qual a minha perspectiva e a do outro se envolvem mutuamente. Por isso “eu” e “outro” podemos figurar como órgãos de uma única intercorporeidade. Portanto: minha perspectiva e a do outro são simultaneamente possíveis. 11 Luciana Souza Borges

Quando o “Outro” vem a ser questão? O mundo é intercorporal: a possibilidade de existência do outro ocorre abaixo da ordem do pensamento: ou seja, antes de ser espiritual, a intersubjetividade é corpórea. Em outras palavras: na medida em que vemos outros videntes, pela primeira vez somos muito visíveis para nós mesmos. Não confundir o visível com a camada superficial do ser = o visível estende-se em profundidade. 12 Luciana Souza Borges

Quando o “Outro” vem a ser questão? Não confundir o visível com a camada superficial do ser. O que o outro vê de seu lugar não é apenas a película superficial de minha pele, mas uma interioridade inesgotável que se expressa e se exterioriza. Ou seja: cada vidente não existe sem ser ao mesmo tempo visível, sendo cada um uma presa de outros videntes, sendo por meio desses sendo conduzido de seu exterior para seu interior. Descentrando-me de mim mesmo e de meu pequeno mundo, os outros me abrem para novas dimensões do “Ser’. 13 Luciana Souza Borges

Quando o “Outro” vem a ser questão? Fundada a relação com o “Outro”, fica aberto o modo particular como esse relacionamento irá se dar: a experiência com o outro amplia nossos horizontes, proporcionando-nos incessantes revelações. Nessa perspectiva, concebemos a simpatia = reconhecer a dor e o prazer do outro. O que torna possível ao homem compreender a mulher; ao leitor, a obra; ao jovem, o idoso; etc./ Dessa perspectiva surge a possibilidade de conviver com as diferenças. 14 Luciana Souza Borges