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INTRODUÇÃO À ONTOLOGIA DOS TROPOS

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Apresentação em tema: "INTRODUÇÃO À ONTOLOGIA DOS TROPOS"— Transcrição da apresentação:

1 INTRODUÇÃO À ONTOLOGIA DOS TROPOS
Qualquer mundo possível e, é claro, o nosso, é totalmente constituído de seus tropos. D. C. Williams

2 Há vários nomes para nosso assunto:
propriedades concretizadas, qualidades particularizadas, acidentes individuais, bites de qualidades, particulares abstratos e ainda outros. Mas o mais usual é a palavrinha tropo, que pelo menos tem a vantagem de ser pequena.

3 A teoria dos tropos é uma aquisição ontológica bastante recente.
Embora o conceito de tropo tenha existido no mínimo desde Aristóteles, somente nos últimos cinqüenta anos filósofos tiveram a idéia de tomar os tropos como as pedrinhas de construção ontológicas fundamentais do mundo, tentando resolver os tradicionais problemas dos universais e da natureza dos particulares concretos somente através deles. De fato, meu palpite é o de que a teoria dos tropos é tão revolucionariamente simples em seus aspectos fundamentais, que ela será capaz de produzir em ontologia uma revolução similar à introdução de novas teorias fisicalistas na solução do problema mente-corpo na segunda metade do século vinte.

4 Infelizmente, como as novas teorias da relação mente-corpo, a teoria dos tropos tem se ramificando em uma variedade crescente, cada uma tentando realizar ao seu próprio modo a tarefa de pesar valores ontológicos quase imperceptíveis. No que se segue quero apenas introduzir as idéias gerais, além de fazer algumas sugestões, com o objetivo de despertar o interesse das pessoas no assunto.

5 propriedades localizadas no espaço e no tempo,
Mas afinal, o que são tropos?! Tropos são primitivos, e como tais, eles não podem ser propriamente definidos. No entanto, a coisa fundamental acerca dos tropos é que eles são propriedades localizadas no espaço e no tempo, onde o termo ‘propriedade’ deve ser entendido no mais amplo sentido possível, incluindo relações e espécies naturais.

6 Exemplos de tropos podem ser a cor vermelha da torre Eiffel, a sua forma, o seu peso, a sua dureza, a sua altura etc. Outros tropos são o grito de um hipopótamo particular chamando a fêmea e o odor particular exalado por uma margarida. Tropos diferem de particulares concretos como a torre, o hipopótamo e a margarida. Apesar disso eles são particulares, posto que estão localizados no espaço e no tempo.

7 Tropos são usualmente compostos de tropos,
e algumas composições de tropos são altamente complexas, como, por exemplo, uma performance da quinta sinfonia de Beethoven. E tropos podem ser objetos de percepção seletiva: ao olharmos para o oceano podemos nos concentrar alternativamente em sua cor, nas formas de suas ondas, ou em seus sons.

8 - Como todos os particulares, tropos têm condições de identidade.
Parece que a condição de identidade fundamental é a sua localização espaço-temporal sob certo modo epistêmico de acesso e avaliação. Por exemplo: o par de sapatos que eu estou usando agora é marrom. A propriedade do sapato direito de ser marrom é um tropo, uma vez que está localizada em meu sapato direito, e a propriedade do sapato da esquerda de ser marrom pode ser considerada outro tropo, uma vez que está localizada em meu sapato esquerdo. Como os sapatos têm diferentes localizações espaciais, temos ao menos dois tropos de marrom. A maciez do couro de meu sapato esquerdo é também um tropo que tem mais ou menos a mesma extensão de sua cor marrom. Isso significa que esse marrom e essa maciez são o mesmo tropo? Não, posto que eles são perceptualmente acessados de modos diferentes, no caso, por sentidos diferentes.

9 Para a próxima questão de saber o quanto o tropo de marrom do meu sapato esquerdo pode ser subdividido, uma resposta razoável seria: até onde ainda formos capazes de distinguir a cor marrom. Quanto tempo o tropo de marrom do meu sapato esquerdo irá durar? Provavelmente não mais do que o próprio sapato. Um tropo dura enquanto ele permanecer essencialmente o mesmo sem deixar de manter a sua continuidade temporal.

10 Menciono essas coisas porque um entendimento inadequado pode facilmente dar azo a tentativas de desacreditar as condições de identidade dos tropos, por exemplo, empurrando a precisão para além dos seus limites contextualmente razoáveis. A vaguidade de nossas condições de identidade para os tropos é uma conseqüência direta de nossas práticas lingüísticas, sendo tais condições fortemente baseadas em convenções e apenas suficientemente precisas para servirem aos nossos propósitos.

11 Tropos visuais e táteis, por exemplo, devem ter alguma forma,
Como os tropos estão localizados no espaço e no tempo, eles são particulares existentes. Pois existência é a comprovadamente contínua aplicabilidade de um predicado a um particular, que no caso do tropo é uma propriedade espaço-temporalmente localizável. Alguns tropos podem ser experienciados de forma isolada, por exemplo, o perfume da margarida, o som do vento. Outros não. Tropos visuais e táteis, por exemplo, devem ter alguma forma, e todos os tropos devem ter certa duração no tempo.

12 São formas espaciais e durações temporais tropos?
Bom, essas coisas não parecem poder existir sem estarem associadas com tropos, uma forma com uma cor, um volume com o seu peso, uma duração no tempo com um agregado de tropos persistindo em sua existência etc. Keith Campbell, discordando de D. C. Williams, não admite que formas sejam tropos, devido a sua dependência de outros tropos. Mas isso parece insuficiente. Afinal, por que os limites espaciais e temporais dos tropos não poderiam ser tropos, se eles também são descritíveis como propriedades espaço-temporalmente localizáveis? - Chamá-los-ei de tropos limitadores.

13 I. TROPOS E UNIVERSAIS

14 o problema dos universais e o problema dos particulares concretos.
A teoria dos tropos é importante porque promete uma nova solução para pelo menos dois perenes problemas ontológicos: o problema dos universais e o problema dos particulares concretos. Começo com o problema dos universais, que ontologicamente colocado se entende como a questão de se saber como é possível que muitos particulares diferentes possam compartilhar da mesma propriedade, e lingüisticamente colocado se entende como a questão de como podemos aplicar o mesmo predicado a muitos particulares diferentes.

15 Filósofos realistas (platonistas ou aristotélicos) sugeriram que essa predicação de um de muitos só é possível porque um predicado designa um universal, entendido como um objeto abstrato em que particulares de algum modo participam, ou, como é usualmente dito, exemplificam ou instanciam o universal. Assim, para o realista dizemos que essa rosa e esse morango são vermelhos porque eles participam do universal ‘vermelho’, ou porque eles exemplificam ou instanciam o universal. A solução traz consigo dificuldades profundas que não poderão ser consideradas aqui.

16 Para resolver o problema dos universais apelando para os tropos precisamos introduzir a idéia de igualdade, entendida no sentido de similaridade exata, que também é um primitiva. Filósofos como D. C. Williams e Keith Campbell conceberam o universal como uma classe de tropos similares. Assim, a palavra ‘vermelho’ se refere à classe de todos os tropos de vermelho, que é unida pelo fato de que tais tropos são idênticos uns com os outros. Para Williams, quando nós dizemos “Essa rosa é vermelha”, queremos dizer que essa rosa tem um tropo de vermelho que pertence à classe dos tropos de vermelho. E quando nós dizemos que o vermelho é uma cor, o que queremos dizer é que a classe de todos os tropos de vermelho está incluída na classe de todos os tropos de cor.

17 Contudo, há problemas com esse modo de ver:
Primeiro, há um problema com o tamanho: uma classe pode tornar-se maior ou menor; mas um universal não pode mudar o seu tamanho, pois um universal não parece ter tamanho. Segundo, o que é uma classe? Se não é um tropo, mas um objeto abstrato, parece que estamos abandonando as vantagens da teoria. Terceiro, podemos desenvolver objeções concernentes ao status ontológico das igualdades e ao problema da igualdade entre as igualdades.

18 Suponhamos, para começar, que igualdades são tropos
Suponhamos, para começar, que igualdades são tropos. Nesse caso, se temos o conjunto de tropos iguais T1, T2, T3 e T4, podemos dizer (usando ‘=’ para abreviar igualdade): T1 = T2, T2 = T3, T3 = T4 etc. Mas aqui surge um problema. De modo a construir uma classe de tropos similares precisamos saber que o primeiro tropo de igualdade é similar ao segundo tropo de igualdade, e que o segundo é igual ao terceiro etc. Mas como sabemos disso?

19 (1) T’’1 =... T’1 = T’2 =... T1 = T2 = T3 = T4…
Bom, como não podemos apelar para uma idéia abstrata de igualdade, deve ser por apelar para um terceiro tropo de igualdade. Assim, a igualdade entre T1 e T2 é igual à igualdade entre T2 e T3, e essa igualdade entre as duas igualdades é um novo tropo de igualdade. Como a mesma questão pode ser colocada com respeito à igualdade entre os tropos de igualdade desse segundo nível e assim por diante, parece que caímos em uma espécie de regresso piramidal, que pode ser parcialmente representado no esquema seguinte: (1) T’’1 =... T’1 = T’2 =... T1 = T2 = T3 = T4…

20 (1) T’’1 =... T’1 = T’2 =... T1 = T2 = T3 = T4…
Mesmo que não seja infinito esse regresso parece suficientemente esmagador para o intelecto humano. Além disso, não parece que ele seja algo realmente experienciado.

21 I. TROPOS E UNIVERSAIS (CONTINUAÇÃO)

22 Um tropo T* qualquer tomado como modelo,
Na tentativa de ultrapassar essas dificuldades, quero propor uma concepção algo diferente dos universais, inspirada pelo tipo de tratamento que filósofos empiristas como Berkeley deram as “idéias”, de modo a assegurar a sua unidade. A luz desse tratamento sugiro que um universal possa ser definido de maneira muito simples como: UNIVERSAL(df): Um tropo T* qualquer tomado como modelo, ou qualquer outro tropo igual a ele.

23 (i) Aceitando essa definição, o problema do tamanho desaparece, pois é indiferente à definição quantos tropos são iguais a T*. (ii) O problema do status ontológico da classe também desaparece, pois nessa análise nenhuma menção precisa ser feita ao conceito de classe. Para exemplificar: Quando alguém profere a sentença “Essa rosa é vermelha”, a pessoa quer dizer que essa rosa tem um tropo Tr que é similar ao tropo Tr* tomado como um modelo na memória do falante, o qual remonta à sua experiência de coisas vermelhas (não penso em T* como sendo um único: qualquer T pode ser tomado como T* e o modelo usado pelo ouvinte não precisará ser o mesmo usado pelo falante, o qual não precisa permanecer o mesmo a cada proferimento). E quando o falante profere a sentença “Vermelho é uma cor” ele quer dizer que sempre que nos for dado um tropo de vermelho, ele será também um tropo de cor. (iii) Finalmente, o terceiro problema também parece desaparecer, pois não precisamos comparar uma similaridade com a outra, mas somente os tropos T1, T2... Tn individualmente com o tropo T*.

24 Ao invés do regresso piramidal, o esquema toma uma forma mais razoável:
ll T2 = T* = T3 T4… Alguém poderá redarguir que uma solução tão simples não elimina totalmente o problema. Afinal, suponha que queiramos saber se T1 é similar a T4? Se precisamos nos valer de um modelo T*, isso é feito por comparação com esse modelo, como no esquema seguinte: T1 = T* = T4

25 Certamente, surge aqui a questão de se saber se a primeira igualdade é igual à última igualdade, o que nos força a recorrer a uma igualdade de segunda ordem. Apesar disso, a atual solução é mais econômica do que a inicialmente considerada: Pois segundo a primeira solução, considerando que T1 = T2 = T3 = T4 chegávamos à conclusão de que T1 = T4 pela lei da transitividade, mas precisávamos justificar a aplicação dessa lei pelo recurso a uma pirâmide de igualdades de ordens superiores.

26 Existe um outro caminho pelo qual precisamos recorrer a similaridades exatas de ordem superior. Afinal, se igualdades são tropos, o universal ‘igualdade’ precisa ser construído de tal modo que certo tropo de igualdade, que pode ser chamado de Ts*, seja admitido como modelo para os outros tropos de igualdade. Nosso esquema será: (3) Ts1 ll Ts2 = Ts* = Ts3 Ts4…

27 (3) Ts1 ll Ts2 = Ts* = Ts3 Ts4… Ora, sendo as igualdades tropos, então parece que podemos ter tropos de igualdade de segunda ordem referidos pelos signos de igualdade que estão entre Ts1 and Ts*, entre Ts2 e Ts*, e assim por diante – chamemo-los Tss1, Tss2 etc. De maneira a fazer referência ao universal composto por essas igualdades de igualdades precisaremos de um novo tropo modelar de igualdades de igualdades, que será Tss*. É fácil predizer que poderíamos criar um número indeterminado de ordens superiores de tropos de igualdade dessa maneira.

28 Uma resposta razoável a esta suposta objeção é a de que a conseqüência predita é inofensiva:
Nada nos impede de parar quando não encontramos mais vantagem explanatória em prosseguir. Como H. H. Price notou, as mesmas conseqüências resultam da adoção do realismo: a idéia da idéia na filosofia de Platão nada mais é do que uma idéia de segunda ordem. Provavelmente Platão, ao criticar a sua doutrina das idéias, fazia uma idéia de sua idéia da idéia. Mas ele não precisaria prosseguir neste procedimento indefinidamente, posto que há um ponto para além do qual as razões explanatórias cessam.

29 Finalmente, vale a pena observar que a igualdade não precisa ser vista como um tropo como os outros.
Considere, por exemplo, as condições de igualdade para a igualdade. Elas devem pressupor vaguidade e extensões espaciais extremamente variáveis. Muitos diriam que a igualdade não ocupa espaço nem tempo. Mas não estou certo disso. Quando considero a igualdade entre as cores de dois sapatos que estou vendo na vitrina da loja, a igualdade entre essas coisas parece estar de algum modo por aqui mesmo e não, digamos, lá fora ou em lugar algum. E quando alguém considera as igualdades entre a forma de nossa galáxia e a forma da galáxia de Andrômeda, a igualdade deve ter algo a ver com toda a região do universo na qual elas se encontram, pois tal igualdade não existiria se esses aglomerados de estrelas não existissem.

30 Talvez devêssemos agora ser lembrados que a similaridade tem a ver com lógica e que, tal como o espaço e o tempo, a lógica estaria além do reino dos tropos. Contudo, a lógica já foi considerada como algo que só não parece empírico por dizer respeito à realidade empírica como um todo. É possível sugerir que a igualdade seja também um tropo algo diverso, que vige entre os operadores lógicos e os tropos perceptíveis mais típicos...

31 Comparemos agora a presente solução para o problema dos universais com as tradicionais soluções realista e nominalista: Para o realista, propriedades universais devem ser objetos abstratos não-empíricos, acessíveis somente ao intelecto. Isso nos força à admissão da existência de dois mundos, nosso mundo empírico e ainda um outro mundo com um infinito número de entidades abstratas, entidades para as quais não temos critérios de identidade, posto que elas não são espaço-temporalmente localizadas. Mais além, o realista é deixado com o aparentemente insolúvel problema de como explicar a relação entre as entidades abstratas extramundanas e os particulares que deles participam e que os instanciam.

32 Por outro lado, a solução nominalista é uma espécie de reação reativa contra o realismo, limitada pelas mesmas assunções. O nominalista consistente “resolve” o problema dos universais através de uma contra-intuitiva negação da existência das propriedades; para ele há apenas particulares nus e a predicação é um flatus vocis sem referência real. Mas essa parece ser uma estratégia de avestruz… com a qual ele se recusa a fazer face aos problemas.

33 A teoria dos tropos, ao invés, não duplica os mundos como o realismo, nem nos força ao contra-senso.
Em seus princípios, ao menos, ela está em perfeito acordo com o senso comum. Se você perguntar ao homem comum onde as propriedades estão, ele irá responder apontando para o azul do céu, para a solidez da mesa, e comprovando a frieza de um cubo de gelo pelo tato. Somente anos de doutrinação filosófica poderão ser bem sucedidos em condicionar a sua mente a ver essas coisas de modo diferente!

34 II. TROPOS E PARTICULARES CONCRETOS

35 Tropos e particulares concretos
O segundo grande problema é o de como construir particulares concretos com base em tropos. Para D. C. Williams, um particular concreto é uma soma de tropos. Tropos podem ser associados de modo a formar agregados de tropos e, eventualmente, particulares concretos. O conceito-chave aqui é o de co-ocorrência (concurrence): a mesmidade da localização espaço-temporal dos tropos.

36 Esse conceito de co-ocorrência pode ser analisado como composto de dois outros, a co-localização e a co-temporalidade. A co-localização dos tropos é a sua localização em certa região do espaço, sem levar em consideração quando eles se encontram nessa região. Assim, duas pessoas que tomam turnos em dormir em uma mesma cama não deixam de ser co-localizadas nessa região do espaço. A co-temporalidade de tropos é a sua existência durante um mesmo intervalo de tempo. Assim, o monte Roraima e eu somos co-temporais, mas não somos co-localizados. A co-ocorrência dos tropos surge quando eles são co-localizados e co-temporais, ou seja, quando eles existem simultaneamente durante certo intervalo de tempo em certa região espacial. A co-ocorrência dos tropos é a co-temporalidade de tropos co-localizados.

37 Um particular concreto, como uma cadeira, deve ser totalmente constituído por tropos de peso, dureza, cor, forma etc. que estão relacionados uns aos outros minimamente através de co-ocorrência (i.e. por co-localização co-presente). A vantagem dessa concepção é que ela nos permite abandonar o velho conceito de substância entendido como um substrato oculto das propriedades. O particular concreto evidencia-se como uma alcachofra, que consiste somente em suas folhas, que são os tropos.

38 É preciso lembrar, também, que pode haver sentidos da palavra ‘substância’ resgatáveis através de uma ontologia dos tropos. Se a substância for entendida como “aquilo que existe em si mesmo e sem a necessidade de outra coisa,” então parece que ela pode ser aproximada do conceito de um sistema de tropos co-ocorrentes essenciais à identificação de um tipo de objeto material.

39 Uma ingênua, mas instrutiva objeção contra essa maneira de ver é que nesse caso toda predicação se torna tautológica: o proferimento “As suas unhas são vermelhas” é tautológico porque vermelho é predicado de um sujeito que já possui tropos de vermelho como constituintes. Essa objeção pode em princípio ser refutada se pudermos distinguir tropos essenciais de outros, não-essenciais. Tropos essenciais a um objeto material são aqueles que consideramos como necessariamente pertencentes a ele, sendo referidos a ele em sua definição. Diversamente de dureza e forma, os tropos de vermelho de suas unhas não pertencem a elas necessariamente. Portanto, esses tropos não são constitutivos do objeto referido pelo termo singular ‘suas unhas’ e a sentença não é tautológica.

40 2) Chamemo-la de relação Tc.
Uma outra dificuldade, apontada por Cris Daily, nasce do fato de que a teoria dos tropos é vulnerável a argumentos de regresso análogos aos usados contra os objetos abstratos assumidos pelo realismo. No caso de particulares concretos, Cris Daily mostrou que é possível construir, contra a idéia de co-ocorrência, o seguinte argumento: 1) Suponha que um particular concreto fosse constituído somente pelos tropos T1, T2 e T3. Como a relação de co-ocorrência não pode ser uma entidade abstrata, ela deve ser um tropo. 2) Chamemo-la de relação Tc. 3) Nesse caso parece que nós temos um novo particular concreto, constituído por T1, T2, T3 e Tc. 4) Ora, para dar conta desse particular precisamos de uma nova co-ocorrência para T1, T2, T3 e Tc, a qual poderá ser chamada de Tc’. 5) Mas a adição de Tc’ gera um novo particular, que requer uma nova co-ocorrência e assim infinitamente.

41 Uma resposta a essa objeção poderia tomar uma forma similar àquela que filósofos realistas aplicaram em defesa de suas próprias entidades abstratas. Para o realista platônico as formas ou idéias possuíam um status sui-generis, sugerido pelo fato delas resistirem à autopredicação. Assim, embora o vermelho se autopredique, pois o vemelho é vermelho, e o grande também, pois o grande é grande, nem a idéia de vermelho é vermelha nem a de grandeza é grande. Ora, a co-ocorrência também parece se autopredicar, pois ela não é co-ocorrente (se fosse, com o que seria ela co-ocorrente?). Do mesmo modo, a co-localização não se co-localiza, a co-temporalidade não se co-temporaliza, nem a similaridade é similar. Por ser a co-ocorrência um tropo limitador sui-generis, diferente dos outros, podemos argumentar que não faz sentido demandar um tropo adicional de co-ocorrência para garantir a co-localização e co-temporalidade de um agregado de tropos.

42 O ponto importante que precisa ser notado é que, embora possamos ser obrigados, em defesa da teoria dos tropos, a aplicar estratégias semelhantes àquelas que foram usadas em defesa das teorias realistas dos universais, nós estamos fazendo isso de um modo totalmente inexpensivo, nem pressupondo nem multiplicando entidades questionáveis. A teoria dos tropos é, pois, uma promessa de se encontrar um fim para mais de dois mil anos de especulação ontológica em torno de coisas tão misteriosas como idéias platônicas, particulares nus e substâncias ocultas. ******

43 fim


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