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CURSO INTRODUTÓRIO SOBRE OS UNIVERSAIS NA IDADE MÉDIA

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Apresentação em tema: "CURSO INTRODUTÓRIO SOBRE OS UNIVERSAIS NA IDADE MÉDIA"— Transcrição da apresentação:

1 CURSO INTRODUTÓRIO SOBRE OS UNIVERSAIS NA IDADE MÉDIA
01 – Breve introdução ao problema dos Universais na Idade Média Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

2 O problema dos universais na Idade Média
Introdução O problema dos universais na Idade Média é um problema real que tem suas ramificações dentro da filosofia analítica contemporânea; esse elemento pode ser atestado pela seguinte passagem de Marcuse: “Longe de ser apenas uma questão abstrata de epistemologia, ou uma questão pseudoconcreta de linguagem e de seu uso, a questão do estatuto dos universais está no próprio centro do pensamento filosófico” (MARCUSE, Herbert. A Ideologia da sociedade industrial. Trad. Giasone Rebuá. Rio de Janeiro: Zahar, 1978, p. 191); Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

3 O problema dos universais na Idade Média
para efetivamente entendermos o problema dos universais em sua plenitude especulativa temos de formar uma base teórica que nos possibilite tramitar pelos autores e temáticas de uma forma livre; nesse sentido faz-se necessário um caminho preparatório, a saber, a contextualização e apresentação do pensamento dos autores envolvidos e o esclarecimento das terminologias a serem adotadas; Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

4 O problema dos universais na Idade Média
O problema na Idade Média o conteúdo central do problema dos universais na Idade Média gira em torno do estatuto ontológico dos universais, ou seja, trata e investiga a possibilidade da existência ou não-existência dos universais; o caminhar da pergunta acerca do estatuto ontológico nos remete a mais algumas questões: admitindo-se que os universais existem, que tipo de existência eles possuem, ou seja, se existem a sua existência é real ou simplesmente mental? Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

5 O problema dos universais na Idade Média
No medievo estabelece-se através das investigações de Porfírio: ao pensar e formular o problema, Porfírio traça um caminho argumentativo: ao tecer um comentário sobre as vozes do Livro I dos Tópicos de Aristóteles, Porfírio entende não mais as quatro, afirmadas pelo mestre Estagirita, mas cinco; nesse sentido os gêneros e as espécies deveriam ser entendidos como universais; Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

6 O problema dos universais na Idade Média
sobre os universais o próprio Porfírio fala: “Antes de mais, no que se refere aos gêneros e às espécies, a questão é saber se eles são realidades em si mesmas, ou apenas simples concepções do intelecto, e, admitindo que sejam realidade substanciais, se são corpóreas ou incorpóreas, se enfim, são separadas ou se apenas subsistem nos sensíveis e segundo estes”. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

7 O problema dos universais na Idade Média
a forma de Porfírio pensar pode ser resumida através de um esquema desenvolvido por Leite Júnior, reproduzido abaixo: Quanto aos universais (gêneros e espécies): 1 – ou são realidades subsistentes: A) corporais; B) incorporais: B – 1) separadas das cosias sensíveis; B – 2) situadas nas coisas sensíveis; 2 – ou são simples concepções do intelecto. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

8 O problema dos universais na Idade Média
por entender que o tema era muito complexo e seus escritos eram meramente introdutórios, Porfírio absteve-se, textualmente, de apresentar uma solução ao problema; do esquema desenvolvido por Porfírio podemos derivar algumas das variações que o problema irá assumir ao longo das discussões da Idade Média; Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

9 O problema dos universais na Idade Média
uma primeira derivação pode ser expressa através do seguinte esquema didático: sobre a pergunta inicial de Porfírio (os universais são entidade em si mesmas ou apenas concepções do intelecto?) temos duas posições: a) ou os universais são coisas (res) que existem independentes de nossa mente; b) ou os universais são conceitos (conceptus) ou ainda palavras (voces), que dependem do intelecto humano. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

10 O problema dos universais na Idade Média
essas duas posições nos remetem ás duas primeiras posições acerca do problema, a saber: a vertente platônica e a vertente aristotélica, respectivamente; contudo, o problema não para somente nessas posturas, outra derivação pode ser retirada da própria concepção dos termos gênero e espécie, do que se entende por universal, ou seja, uma vertente lingüística é introduzida á problematização de cunho ontológico; essa adoção de aspectos semânticos dentro da discussão ontológica acontece tendo em vista a ambigüidade do termo quando confrontamos os textos de Aristóteles e de Porfírio; Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

11 O problema dos universais na Idade Média
nesse sentido o problema dos universais passa a remeter a dois aspectos, um lógico e outro ontológico, tal derivação deve-se ao fato de que para Aristóteles a definição de universal, além do cunho ontológico, tem uma noção lógica de predicação, ou seja, eles podem ser aplicados tanto às palavras quanto às coisas; no fundo a questão fundamental acerca dos universais guarda como pano de fundo de sua problematização a pergunta acerca de sua existência, que esta existência seja pensada ou seja real; Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

12 O problema dos universais na Idade Média
independentemente de qual faceta do problema possamos abordar, indubitavelmente nos depararemos com a problemática ontológica, nesse sentido teremos algumas tipologias específicas das posições medievais sobre o tema, a saber: Realismo Nominalismo Conceptualismo (conceitualismo) Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

13 O problema dos universais na Idade Média
realismo, que pode ser assim matizado: realismo extremo, realismo platônico ou realismo grosseiro (os universais têm uma existência real, separada, anterior e independente das coisas sensíveis – universais = entidade ante rem); realismo moderado (os universais têm uma existência real que é identificada com uma essência comum que é compartilhada e presente apenas nas coisas sensíveis, ou seja, os universais existem somente nas coisas e não anteriormente ou independente delas – universais = entidade in re). Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

14 O problema dos universais na Idade Média
nominalismo - aqui temos vários posicionamentos e matizações como ocorreram com o realismo, a saber: características básicas do nominalismo: rejeição completa da existência de qualquer entidade universal extramental, seja anterior às coisas, seja enquanto realidade nas coisas; e afirmação de que na realidade extramental há unicamente os indivíduos singulares; nominalismo extremo, nega a existência dos universais tomando-os como flactus vocis, meras emissões da voz – universais = entidades que não são mais do que o significado dos nomes [nominum significatio]; segunda posição, nega qualquer existência real do universal tomando-o como um conceito da alma, enquanto sinal (signo, nome ou termo) através do qual designam-se os vários indivíduos que compõem a realidade – universal = sinal lingüístico mental, dotado da capacidade de ser predicado de muitas coisas. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

15 O problema dos universais na Idade Média
conceptualismo, posição híbrida que mescla elementos tanto do realismo quanto do nominalismo: os universais existem somente enquanto conceitos universais em nossa mente, são idéias abstratas e por isso possuem esse obiectum; os universais não são entidades reais ou tampouco mero nomes usados para designar entidades concretas; universais = conceitos gerais Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

16 O problema dos universais na Idade Média
cada uma dessas tipologias engloba um inúmero de teorias que guardam alguns aspectos similares, mas de forma alguma podemos tomá-las de forma rígida ou mesmo definitiva. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

17 CURSO INTRODUTÓRIO SOBRE OS UNIVERSAIS NA IDADE MÉDIA
02 - LINGUAGEM E PENSAMENTO NA FILOSOFIA GREGA - Traços mais significativos para uma melhor compreensão do Problema dos Universais na Idade Média Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

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Parmênides Inicialmente temos de ter em mente que o problema das relações entre a Linguagem e o Pensamento estão presentes em todo o modelo grego; Contudo, somente na obra de Parmênides teremos o protagonismo que nos interessa estudar a esse respeito. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

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Parmênides No poema acerca da Natureza o Eleata coloca na boca da Deusa um argumento complexo: Ressalta a unidade lógica, epistemológica e ontológica de uma entidade que ele chama de “o ser”; Essa entidade proporciona a fundação de uma única realidade/verdade (alêtheia) que corresponde a um único pensamento (noein, nôema) ou a uma única “coisa” pensada e dita: o ser Essa noção entre unidade e identidade é expressa pela frase do fragmento 3 do Poema: “O mesmo é pensar e ser” Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

20 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Parmênides O argumento não é difícil de se mapear, embora sua interpretação seja controversa: Só se pode pensar (2.2): “é” e “não é”; Ao negar um se chega ao outro e negando este se regressa àquele (2.3b, 5b); Mas o “não é” não pode ser pensado, nem apontado (2.7-8), pelo fato de que não é informativo (2.6), conclui-se que “ser” e “pensar” são o mesmo (3); Dessa visão segue ser necessário que “ser”, “dizer” e “pensar” sejam (6.1a), pelo fato de serem possíveis (6.1b); mas, ao contrário, o nada não é (6.2a) Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

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Parmênides Os mortais ignoram essa posição e confundem “ser” e “não ser” pelos hábitos dos sentidos; Mas para acabar com essa confusão devemos ter em mente que o “ser”: É ingênito e indestrutível (8.3), compacto, inabalável, sem fim (8.4), eternamente presente, homogêneo, uno, contínuo (8.5-6a), pois não tem origem, nem razão de ser (8.9-10) no nada (8.6b-10); A) é único ( a), não cresce, nem morre (8.13b-14), é ou não é; B) pois “não é” é impensável e inexprimível ( ), enquanto “é” é autêntico (8.19): não nasce, nem morre (8.19); não era nem vem a ser, pois “é” (8.20); É indivisível (8.22a), homogêneo, contínuo, cheio, consigo (22b-25); É imóvel/imutável (8.26), sem princípio nem fim (8.27), pois é ingênito e indestrutível (8.27b-28): o mesmo, imóvel e firme (8.29); É completo (8.32), pois de nada carece, enquanto o nada de tudo carece (8.33), sendo limitado, logo, completo (8.42), equilibrado como uma esfera ( ), invariável, inviolável, igualmente nos limites ( ) Arremate do argumento: O mesmo é o pensamento e a “causa-fim” (houneken) do pensamento [o ser] (8.34), pois sem o ser não há pensar ( ); só o ser é: inteiro e imóvel ( a) e a ele se referem os vários nomes postos pelos mortais, iludidos (8.38b-41). Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

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Parmênides Tal argumentação nos leva a levantar duas observações: Na Via da Verdade Parmênides não presta atenção à observação do mundo exterior (como era feito por seus antecessores que explicavam a gênese do cosmo mediante a emergência dos contrários que derivavam de uma natureza substancial original); Seu ponto de partida é exclusivamente a experiência humana do pensamento e da linguagem. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

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Parmênides O que significa pensar: “é”? Significa primeiramente afirmar; A alternativa para isso – “não é” – significa negar. Mas o que é negado ou afirmado? A resposta será exposta no fragmento 8: Teremos a noção que nos permitirá, explicitamente, identificar “o Ser” como o sujeito da afirmação. A resposta já se prefigura no frag. 2 que coloca o ponto de partida de todo o argumento na afirmação “é”, aspecto que postula não somente o cancelamento do caminho do “não ser”, como a identidade do pensamento com a identidade pensada e dita (fragm. 3) Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

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Parmênides O que o movimento anterior proporciona é a eliminação do acesso do não ser à identidade. Essa será uma marca que dará a Parmênides uma gama de influências na tradição reflexiva grega, sobremaneira nas obras epistemológicas e ontológicas de Platão e, em menos grau, de Aristóteles. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

25 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Parmênides Se focarmos o olhar exclusivamente na Via da Verdade (fragms ) teremos um argumento dividido em três momentos: (fragms. 2 e 3) Denúncia da inviabilidade onto-epistemológica da via negativa (2.5-8), que resulta na afirmação da identidade do ser com o pensar; (fragms. 6 e 7) Mostra a finalidade programática do Poema. O “pensamento” dos mortais é “errante” (6.4-5) pois confunde ser e não ser e ignora a disjunção que os opõe (6.1-2a). A causa do erro é a confiança na percepção sensível (7.3-5) e o remédio o debate argumentativo (7.5) O argumento expõe as conseqüências da aceitação da premissa “é” mediante a enumeração dos “sinais” do ser (8.1-49). Essa visão nos expõe uma metafísica que será contundente para a posteridade. Sua metafísica parte do pensamento e somente poderá ser realizada através do estudo da evidência lingüística. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

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Parmênides O que essa estrutura pode nos revelar? Uma entidade cuja natureza reflete ou é refletida pela gama dos sentidos do termo a que se refere. O modo constitutivo do ser como uma entidade una, imutável, perfeita e eterna pode ser explicada pela reificação dos sentidos presentes no verbo grego “ser”, que estão fundidos na referência a um significante abrangente. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

27 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Parmênides Afirmar “é” equivale a fazer convergir no ser a multiplicidade de sentidos que o verbo condensa; A consideração de algo que “não é” evidencia a insanável contradição decorrente da incognoscibilidade (2.5-8, 8.8-9, 8.16b-18a, a); Essa noção da pluralidade de einai será atacada por Platão, no Sofista, e rejeitada por Aristóteles, (Met. D7, 1017a22-35). Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

28 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Parmênides Toda essa argumentação nos estabelece a cisão entre a linguagem/pensamento e a sensibilidade Essa linha contrasta o caminho dos sentidos (costume muito experimentado) (7.3-5a) com a prova do logos (muito disputada) (7.5b) e nos conduz ao caminho daquilo que é (8.1-2a) Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

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Parmênides A afirmação “é” funde os sentidos identitativo e veritativo, mas não nos oferece uma possibilidade de leitura predicativa de “ser” ( ; 19.3). A questão abordada nos coloca que se “todos os nomes que os mortais instituíram” são “acerca do ser” ( ), tal instituição virá somente da opinião/crença (19.1-3), pois, partindo de “é” para “o ser é”, só podemos chegar a “o ser é ser” e, por isso, confirmar a noção de identidade. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

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Parmênides Fica claro, portanto, que o modelo desenhado identifica pensamento e ser (aqui temos o ponto pacífico da tese); O problema é que no meio desses dois pólos temos a aparência sensível. Já que a tarefa da filosofia é explicar também a aparência, como podemos eliminar a dicotomia e a distância desses dois pólos e explicar a aparência, o sensível? A resposta, dada por Platão, postula a hipótese das formas. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

31 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Platão Todo o percurso platônico está em tentar solucionar essa cisão, herdada de Parmênides, entre a realidade inteligível e a aparência sensível (Fédon 72e-76a; República 506d-535a, 476a-480a; Timeu 27d ss). O problema expresso em todo o percurso do dualismo platônico pode ser condensado na briga entre duas dimensões: uma ética e antropológica; outra ontológica, epistemológica e lógica. Nessa última está inserido nosso interesse frente á predicação. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

32 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Platão Nos diálogos onde temos expressa a hipótese platônica das Formas (Fédon 100a), vemos as estruturas onto-epistemológicas do Ser eleático caracterizadas ora como sujeitos, ora como predicados perfeitos, únicos, eternos, imutáveis. As formas atomizam o ser eleático e expressam a convergência de cada entidade para a plenitude de sentidos do verbo ‘ser’. O que temos, portanto, é a instauração, pela teoria platônica, de uma natureza una e inseparável do ser eleático, manifesta em várias formulações, caracterizando a teoria das Formas (como a acumulação de sentidos, fundidos e inseparáveis, ao mesmo tempo, entre o “ser” e o “verbo ser”). Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

33 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Platão A pluralidade de termos famosos (“ser”, “essência”, “entidade”, “existência”, etc.) mostram a forma com que ocorre a acumulação narrada anteriormente. Mas qual o problema: essa pluralidade é reconhecida por Platão mas ele mesmo se reconhece incapaz de as separar ou mesmo distingüí-las. O problema também deve-se à preferência platônica pela linguagem poética, no uso de metáforas e analogias e a intercalação de tudo com as ditas “manifestações da verdade” Essa manifestação mostrará a presença do sentido veritativo do verbo ser na identificação automática realizada entre o ser e as Formas; Isso vem expresso na analogia do Sol, na República VI 508e-509b. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

34 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Platão O que temos, portanto, é uma tentativa de unificar todas as noções e sentidos que o verbo ser assumiu dentro da tradição grega e, na Teoria das Formas, desambiguar esses usos. Mas se o sentido fica resolvido, o problema lógico e epistemológico, provocado pelo dualismo, fica em aberto, a saber: Mostrar como as Formas Inteligíveis e as instâncias sensíveis podem ser relacionadas pela predicação, e, Não somente caracterizando o poder causativo das teorias das Formas, mas chegar a uma descrição efetiva da aparência sensível. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

35 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Platão A investigação do mundo da aparência passa pela resolução de duas questões prévias: A necessidade de definir o lugar da sensibilidade na cognição, Recebe um primeiro tratamento nas teorias da anamnese e da participação. A possibilidade de articular o sensível e o inteligível numa investigação unitária. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

36 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Platão A anamnese (Ménon, Fédon e Fedro), no aspecto da cognição, que é o que queremos investigar aqui, pode ser focada no Ménon e no Fédon. Ménon: em todas as pessoas há opiniões verdadeiras, acerca daquilo que ignoram, possíveis de se despertarem por interrogatório (85a, 86a) – nos leva ao raciocínio explicativo (97d-98a). Fédon: o argumento dos iguais (72e-77a), descartando o aspecto mítico, salienta-se no interlocutor a convicção da anterioridade e superioridade da Forma inteligível sobre quaisquer instâncias sensíveis. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

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Platão O argumento anterior (Fédon) estabelece um dualismo epistemológico, depois ontológico (78b-79e), que separa o ser da Forma (una e idêntica) da percepção da multiplicidade mutável das suas instâncias sensíveis; Essa construção demonstra que a possibilidade de representação do sensível repousa sobre a sua capacidade de previamente referir a representação à Forma inteligível (75b-76d); O processo guarda uma reciprocidade psíquica: a percepção somente “evoca” a Forma porque ele está a priori, por “contiguidade” ou “associação” (75b-76a). Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

38 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Platão Esse processo tem duas vantagens e uma justificação: 1ª) explicar o “encadeamento” das noções inteligíveis na alma, instauração de uma investigação gradual 2ª) tal aspecto dá acesso a uma espécie de outro “anterior”, metacognitivo que se obtém no método de pergunta e resposta (Fédon 78d) Justificação: crítica ao reducionismo empirístico dos “filodoxos” (República V 480a). Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

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Platão Na dialética a questão passa a ser tratada como a teoria da participação mostrando que somente as Formas são dotadas de poder para causar/explicar o sensível e as suas variações. Assim, os predicados são vistos como “proto-propriedades” (Fédon 102d,e) cuja “entrada” e “saída” nos sensíveis é explicada pela constante variação relacional a que se encontram submetidos. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

40 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Platão Essa visão nos possibilita entender uma variante do problema: nas abordagens da anamnese e da participação se complementam na definição das relações entre pensamento e linguagem. Temos duas condições: 1ª. A linguagem é encarada como pressuposto no qual repousa toda a análise do real, 2ª. São definidas as condições mediante as quais ela pode ser usada como instrumento dessa análise, Um problema: o modelo não consegue explicar a interdependência dos processos senso-perceptivo e epistêmico. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

41 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Platão No Fédon, Platão apresenta fortes argumentos para negar a possibilidade de uma investigação da natureza sensível, criticando explicitamente os “naturalistas”: Para ele todos os fenômenos “vitais” são inacessíveis a uma abordagem mecanicista que tenta apenas apresentar uma mera descrição dos fenômenos visíveis (o estudo da alma é teleológico); No Timeu, ele postula que existe no sensível uma resistência puramente mecânica ao funcionamento da ação inteligente (48a ss); Esse confronto dessas duas instâncias, que têm modos de funcionamento opostos, exige a intermediação de paradigmas reguladores da natureza sensível (tempo, espaço e devir) os quais irão regulá-los em prol do inteligível Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

42 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Platão Essa dinâmica levada á perspectiva psíquica será abordada no Teeteto: A senso percepção (184b-187a) é vista como um processo puramente analítico e passivo; Caberá à alma, doravante encarada como mente, poder converter em conceito a informação recebida, depois que a senso-percepção for elaborada pelo pensamento; Somente a linguagem é capaz de justificar a presença, na mente, de conceitos, tanto os originários da senso-percepção (som, cor, dureza/moleza – 185a-c, 186b-c), quanto os dela independentes (Formas como o Belo, a verdade e a existência – 185c-186c); Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

43 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Platão Na dinâmica, para que a mente possa se utilizar desses conceitos e passar a operá-los numa análise do sensível, ela terá de recorrer ao pensamento (diálogo interior da mente), o qual chega a conclusões que serão expressas em formas de opiniões (189e-190a; Sofista 263e); Esses elementos nos mostram um sujeito cognitivo capaz de usar a linguagem para analisar e descrever o real, fazendo com que a hipótese de um discurso explicativo seja ampliada. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

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Platão Mas o problema somente poderá ser resolvido com a junção das duas perspectivas tomadas de forma complementar (tarefa realizada no Sofista): Instaura-se, pela definição, o regime de relações entre os cinco “sumos gêneros”, pela qual os vários sentidos do Ser serão separados em cada um dos sentidos do verbo ‘ser’; Instaura-se, assim, a dificuldade de delimitação do sentido da predicação, simultaneamente, tanto inteligível quanto sensível (251e ss); A argumentação (251e), primeiramente, mostra que o Movimento e o Repouso no Ser são exigidos pelo fato deles se excluírem mutuamente (252d), obrigando-os a “participarem da entidade” (251e) para poderem ser (252a); O segundo passo a afirmação de que o Não-ser é (254c-d) torna possível a predicação pois nos coloca diante da natureza do Outro (255c-d) – cada gênero ou entidade é o mesmo em relação a si e o Outro em relação a outro (256a-b) – é assim que o predicado passa a ser visto como outro em relação ao sujeito sem que ele tenha que deixar de ser ele mesmo Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

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Platão A argumentação anterior viabiliza a leitura separada de cada um dos sentidos de ‘ser’: A identidade é expressa pelo Mesmo, A predicação pelo Outro, A existência pelo Ser. Assim, verdade e falsidade perdem a sua relação direta como Ser e tornam-se função da proposição (263b-c, d). Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

46 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Platão Esse estabelecimento da verdade como uma função proposicional resolve o problema do acesso ao conhecimento infalível, descartando a existência de infalibilidade do saber; Mas um problema fica em aberto: no âmbito do ser, como esse poderá ser investigado através de uma linguagem proposicional? Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

47 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Aristóteles Aristóteles toma a possibilidade de resolução de seus problemas mediante a resolução do problema da predicação; A pergunta no modelo platônico: como as muitas coisas podem ser semelhantes e dissemelhantes? (Parmênides 127e) Aristóteles denuncia a falácia, no pensamento acima, que é “dizer o ser de uma só maneira” (Física A185a20-32, 186a22-b35): O ser caracteriza os entes individuais, como sujeitos de predicação, e não pode ser encarado como a classe definida pela posse do predicado comum a todos; Por isso o ser não pode ser gênero (Categorias 5, 3a-10-24), ele somente pode ser sujeito (substância primeira dotada de existência – Categorias 5, 2b1-6) ou predicado (substância segunda, privada de existência – Categorias 5, 3a7-21), podendo ser dito pela categoria. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

48 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Aristóteles Essa limitação da existência às substâncias primeiras e ao que nelas existe nos leva a um problema: como explicar a possibilidade de acesso às substâncias segundas e às essências; Caberá à evidência lingüística mostrar que elas devem ser encaradas como objetos cognitivos, produzidos pela experiência individual, e necessários para a compreensão do real, que seriam assim expresso: Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

49 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Aristóteles “... O universal fixado na alma, o um que corresponde aos muitos, a unidade identicamente presente em todos eles, como ponto de partida da arte e da ciência...” (Segundos Analíticos B19, 110a6-9; Cf., também, Metafísica A1, 980b29-981a1) Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

50 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Aristóteles Aqui, contrariamente a Platão, o universal exibe a sua vocação predicativa, começando por se manifestar como um ente mental; Como resultado de uma experiência individual, ele jamais poderá assumir o estatuto de um paradigma ideal, pelo simples fato de refletir a flutuação processual da opinião; Contudo, sua relação com as substâncias permite que a alma, gradualmente, lhe tenha acesso, e o reconstrua, através da definição, num longo processo de “definição das essências” (Tópicos A1, 101b38-102a18); Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

51 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Aristóteles Tal modelo nos configura mais uma inovação conceitual: a idéia de que o ser pode ser captado pelo pensamento; Essa captação o fixa e “significa” pela palavra dita e escrita, produzindo verdade ou falsidade (Da Interpretação 1, 16a1-19); Para que isso ocorra é necessário, de um lado, que o pensamento (mente), tal como a percepção, seja “assemelhado” ao objeto, de modo que venha a “ficar como ele” (Da alma B5, 41a3-6); Do outro lado, é necessário combinar nomes e verbos, dotados de significação convencional, numa proposição, a qual, enquanto uma afirmação ou negação, é portadora de verdade ou falsidade (Da alma B5, 16a20-17a8). Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

52 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Aristóteles O paralelismo entre as duas vias converge num programa de investigação no qual a definição e a explicação se co-determinam uma à outra; definição das essências – através dos universais, sua explicação – através do discurso. Assim os nomes podem significar independentemente da existência das entidades nomeadas; Mas somente a cooperação poderá estabelecer uma explicação que diga “o que é” e “por que é” a essência nomeada (Segundos Analíticos B8-10, B16-18) por meio de uma teoria unificada da definição (Segundos Analíticos B13-15). Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

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Aristóteles O complexo doutrinal aristotélico critica e reforma integralmente o platonismo, dispensando a necessidade de recorrer a um mundo inteligível para conferir à mudança um mínimo de estabilidade que a torne pensável: Metafísica A6, 987a30-b10; Categorias 5, 4a10-4b19. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

54 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Aristóteles A crítica aristotélica ao monismo de Parmênides e Platão distingue um sujeito de um predicado, tanto lógica quanto ontologicamente, de forma independente frente à função gramatical que desempenham na proposição, aspecto que permite formalizá-la através de uma relação entre os indivíduos, classes e propriedades (Tópicos A5, 102a18-31) Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

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Aristóteles A concepção do universal a partir da experiência será central na sua visão: Ao dotar o sujeito da capacidade de criar objetos cognitivos, Aristóteles os liberta da necessidade de referir-se a toda experiência de paradigmas ideais, a priori, aspecto que dispensa o dualismo platônico; Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

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Aristóteles A noção de que o pensamento e o discurso ‘significam’ o real liberta a linguagem da contaminação pelo ser Esse elemento possibilita à linguagem a sua utilização como um instrumento de exploração da realidade; A inovação reside no fato de se associar a capacidade de afirmar ou negar, presente na proposição, ao poder significativo do nome e da proposição, como condição de verdade e de falsidade; De outro lado, a co-determinação da definição e da explicação permitem, pela primeira vez, uma investigação sistemática da realidade. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

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Resumo Em Parmênides o pensamento, associado à linguagem, mostra o ser único como meio de acesso à entidade englobante (ser)com a qual se identifica. De forma oposta a ele, a sensibilidade é rejeitada pelo fato de oscilar entre a afirmação e a negação, aspecto que impede a compreensão da Unidade, Identidade e Perfeição do Ser. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

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Resumo O modelo de Platão visa dirimir a cisão implantada por Parmênides, estabelecendo que a Teoria das Formas, embora aceite o ser eleático em sua plenitude de atributos, atomize-o numa infinidade de estruturas onto-epistemológicas, que são organizadoras da aparência, as quais, no contexto do dualismo estrito, separam o saber da opinião, mediando-os pela senso-percepção. Mas existe um atenuante nessa posição, dentro da noção da geometria, que mostra que é possível passar do sensível para o inteligível; A desconstrução do eleatismo é finalizada com a dissolução da unidade polissêmica do ser nos quatro sentidos de einai: predicativo, identitativo, veritativo e existencial (somente de forma incompleta). Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

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Resumo Aristóteles, com sua concepção de substância, distingue o ser, como sujeito e substância primeira, do ser, como predicado e substância segunda; Assim, a concepção do universal caracteriza o predicado como um objeto cognitivo, definido pelo pensamento num processo de infinita aproximação das essências; Em sua teoria da significação, o pensamento é investido da capacidade de significar o ser através do discurso; Na realização da cooperação entre definição e explicação, abre-se a possibilidade de uma investigação sistemática do real. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

60 CURSO INTRODUTÓRIO SOBRE OS UNIVERSAIS NA IDADE MÉDIA
03 – Aspectos introdutórios acerca do modelo e da estrutura de Boécio diante do problema dos universais na Idade Média Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

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LOCALIZAÇÃO Boécio é visto como o primeiro dos escolásticos e o último dos antigos; O problema analisado por Boécio congrega os problemas da filosofia antiga helenística com os primeiros problemas de lógica desenvolvidos dentro da Idade Média; É nesse sentido que ele é visto como o elo, um intermediário, entre dois mundos: o mundo antigo grego e o mundo medieval latino; O ponto de partida de Boécio é a escolástica neoplatônica tardia, oriunda das discussões lógicas do século V e VI a partir do choque das culturas gregas e latinas; Seu ponto de vista contempla posições de autores como Alexandre de Afrodísias, Simplício, Fílon de Alexandria, etc; Suas visões contemplam pontos de vistas diferentes que harmonizam a visão de seus contemporâneos romanos e dos críticos do oriente; Seu maior mérito, contudo, é o de ser o “transmissor da filosofia grega aos latinos”. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

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LOCALIZAÇÃO Contudo, devemos entender que Anicius Manlius Toscuatus Severinus Boethius é, efetivamente, o primeiro grande comentador latinófono de Aristóteles e de Porfírio; Seus comentários serão tão importantes que servirão de entrada, no século XIII, de algumas doutrinas do Estagirita na reforma para a lógica terminorum; Nesse sentido podemos entender que por sua importância e modo de tratar a teoria da predicação aristotélica, ele é um autor que desenvolve uma doutrina lógica separada da escolástica do século VI; Suas teorizações formatarão como os principais pontos do Órganon aristotélico, via o comentário da Isagoge de Porfírio, entrarão no mundo ocidental e reorganizarão a lógica medieval; Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

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LOCALIZAÇÃO seu grande objetivo era traduzir para o latim os escritos de Platão e Aristóteles demonstrando, ao mesmo tempo, que ambos os filósofos concordavam no essencial de suas doutrinas; de seus escritos somente nos chegaram a tradução comentada das Categorias (tratado da primeira operação do espírito) e os comentários sobre o Peri hermeneias (De Interpretatione, que é dedicado ao juízo); também traduz a Isagogé ou Introdução às Categorias de Aristóteles do fenício e neoplatônico Porfírio: em sua obra Porfírio analisa a doutrina sobre os predicáveis; dentre os escritos mais célebres de Boécio na Idade Média temos a De Consolatione philosophie libri quinque, obra escrita durante o seu período de prisão; Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

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LOCALIZAÇÃO comumente a sua obra pode ser catalogada na seguinte estrutura: tratados e traduções sobre o corpus do Estagirita (comumente conhecida como a lógica vetus dos medievais); opúsculos teológicos (que seriam substituídos, mais tarde, pelos trabalhos de Gilberto de Poitiers e Tomás de Aquino); sua Consolação da Filosofia. sua influência contudo se estende além das contribuições de tradutor e comentador, a saber: um método de trabalho intelectual (o comentário ao texto ou a lectio do modelo de ensino Escolástico); a maneira de condensação precisa do pensamento em fórmulas precisas (comumente conhecida como sententiae); particularmente a sua hierarquização das ciências (adotada como critério universal durante a Alta Escolástica); Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

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LOCALIZAÇÃO Os pontos essenciais do Órganon aristotélico Boécio os traduziu através da Isagoge de Porfírio mediante dois tipos de comentários: Os pequenos comentários (ou Editio prima): modelo literário de comentário composto de perguntas e respostas, basicamente dos pontos desenvolvidos por Porfírio nos seus consagrados comentários às Categorias, mediante a primeira tradução da Isagoge de Marius Victorinus. Os grandes comentários (ou Editio secunda): composta pelas próprias traduções e comentários de Boécio à Isagoge de Porfírio. A tradução de Mario Vitorino não terá grande importância mas os trabalhos de Boécio frente a Isagoge de Porfírio, tanto como tradutor como comentador, determinarão seu horizonte de interpretação no mundo latino; Nesse sentido devemos entender Boécio, principalmente, como mediador das doutrinas porfirianas, aspecto que, sob as leituras dos medievais do século XII, constituirão o chamado “problema dos universais”; A principal característica aqui determinada são os comentários neoplatônicos do século VI acerca do texto de Porfírio; Contudo, para desenvolver sua própria resposta ao problema, Boécio terá de usar a teoria epistemológica alexandrina, a qual estava ancorada em um conjunto maior de teoremas e conceitos fundamentais para as teorias da predicação latinas. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

66 Boécio – mediador da filosofia antiga
Para melhor entendermos Boécio recordemos o modelo de Porfírio: O neoplatônico Porfírio estabelece a busca acerca dos universais em três perguntas: 1ª) se os universais existem como substâncias ou não subsistem senão como meros conceitos da mente?; 2ª) se existem como substância na realidade, subsistem separados e fora das coisas sensíveis ou somente nas coisas sensíveis?; 3ª) se existem separados das coisas sensíveis, são substâncias corpóreas ou são substâncias incorpóreas? essas perguntas eram dirigidas ao estudo do livro dos Tópicos de Aristóteles; como neoplatônico, contudo, ele fica no meio termo entre o modelo platônico e o aristotélico, dando ênfase no primeiro Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

67 Como Boécio vê o problema em Porfírio
na Isagogé, Porfírio coloca algumas considerações acerca das noções de idéias gerais; o texto de Porfírio é o seguinte: “Se os gêneros e as espécies subsistem ou estão só no puro intelecto; se são substâncias corpóreas ou incorpóreas; e (neste último caso) se se fazem separadas das coisas sensíveis ou postas nelas: a essa questão passo por cima. Isso se trata de um assunto dificílimo, o qual necessita maior investigação.” (Tradução que Boécio faz da obra de Porfírio). a doutrina geral dessa importantíssima passagem pode ser sistematizada através de três questões básicas: 1) os gêneros e as espécies são realidades subsistentes em si mesmas ou simples concepções do espírito? 2) se são reais, são corpóreas ou incorpóreas? 3) se são incorpóreas, existem fora das coisas sensíveis ou somente unidas a elas? essas três perguntas constituem-se na maneira com que Boécio vê o problema e o transmite para a Idade Média; Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

68 Como Boécio vê o problema em Porfírio
a posição de Boécio ao clarear o problema é colocado da seguinte maneira: “Platão pensa que os gêneros, espécies e outros universais não só são conhecidos com independência dos corpos, senão que existem e subsistem fora deles; enquanto que Aristóteles pensa que os incorpóreos e os universais são objetos do conhecimento, mas que somente subsistem nas coisas sensíveis. Minha intenção não tem sido decidir qual dessas opiniões é a verdadeira, já que isso corresponde a uma filosofia mais alta. Nos temos limitado a seguir a opinião de Aristóteles, não porque nos inclinemos preferencialmente a ela, senão porque este livro tem sido escrito em vistas às Categorias, cujo autor é Aristóteles.” (comentário de Boécio à tradução que estaria fazendo do texto do Estagirita, as Categorias). Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

69 Como Boécio vê o problema em Porfírio
somente no final de sua vida Boécio decidirá por seguir os passos doutrinais do platonismo, como é atestado pelo texto a seguir: Quando a luz fere os olhos, ou melhor a voz chega aos ouvidos: então se solta o vigor da mente, que tem espécies interiores, Chamando à outras juntas a estas, aplicando às notícias exteriores, as que tinha dentro, relacionando as imagens com as formas. (texto extraído de sua obra Consolação da Filosofia, verso V, metro 4). Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

70 Como Boécio vê o problema em Porfírio
o próprio Boécio explicou esse verso, por ele escrito, a saber: Na percepção dos objetos, os órgãos dos sentidos têm de receber as impressões externas, sendo necessário que a atividade do espírito seja precedida por uma sensação física que atraia a ação da inteligência e desperte as formas nela adormecidas. Nestas condições, para a percepção, o espírito não é informado pelas sensações, senão que julga por sua própria luz sobre os dados que estas lhe proporcionam. Com maior razão temos de inferir, portanto, que os seres livres de toda influência corpórea, e independentes do mundo externo para formular seus juízos, podem remar a velas livres, deixando em liberdade sua inteligência. (texto extraído de sua obra Consolação da Filosofia, verso V) obviamente o texto apresenta uma clara preocupação gnosiológica ao tentar explicar o processo de nosso conhecimento, contudo, ao falar de formas adormecidas da inteligência que se despertam por causa das sensações físicas, Boécio se revela mais próximo de Platão do que de Aristóteles. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

71 Como Boécio vê o problema em Porfírio
ao receber o problema através dos textos de Porfírio, a tentativa de solução do mesmo, por parte de Boécio, apresenta-se como a porta de entrada do problema dos universais na Idade Média; a discussão apresentada por Boécio, que tem como fundamento as bases da filosofia aristotélica, tende à pretensão de uma resposta efetiva ao problema; um problema efetivo que surge é o da indefinição, por parte de Boécio, a que sistema aderir, ao platonismo ou ao aristotelismo, aspecto que deixa o problema dos universais ainda mais obscuro para os medievais, haja vista o fato de que no final de sua vida Boécio adota, claramente, as posições do mais puro platonismo; caminhemos, então, passo a passo na estruturação do problema e das argumentações desenvolvidas por Boécio; Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

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O Caminho de Boécio textualmente Boécio afirma ter resolvido a questão dos universais que havia sido colocada por Porfírio (BOÈCIO, PL 64, 85 D); a pergunta que deve ressoar em nossos ouvidos é a seguinte: sob qual perspectiva Boécio tratou a questão dos universais? uma das posturas interpretativas que poderíamos tomar seria a de entender o modus operadi de Boécio como uma forma de estrutura “onto-gnosiológica”: ontológica: por admitir a existência dos universais nas coisas; gnosiológica: na medida em que incide sob a forma com que conhecemos e formamos os gêneros e as espécies, ou seja, sobre sua natureza. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

73 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
O Caminho de Boécio os argumentos do Texto de Boécio podem ser divididos em 4 partes: parte 1: apresenta-se as questões propostas por Porfírio (núcleo do problema) e postula-se o seguinte assunto a desenvolver: “Os gêneros e as espécies ou existem e subsistem, ou são formados apenas pelo intelecto e pelo pensamento; mas gêneros e espécies não podem existir” (BOÈCIO, PL 64, 83A) Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

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O Caminho de Boécio parte 2: depois de apresentado o problema Boécio desenvolve três argumentos; onde os dois primeiros refutam a tese de que os gêneros e as espécies existem separados das coisas sensíveis; e o terceiro recusa a tese de que os universais sejam meros pensamentos (intelecções da alma); Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

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O Caminho de Boécio argumento 1: centra-se na noção de comunidade dos universais – nega a sua existência através da negação de sua unidade (tudo o que não é uno não existem, como os universais são comuns a muitos, eles não existem) Tudo o que existe ao mesmo tempo comum a muitos não pode ser uno em si. Pois é de muitos o que é comum, especialmente quando uma e mesma coisa esteja toda ao mesmo tempo em muitas; pois, não importando quão numerosas sejam as espécies, em todas o gênero é um, e não como se as espécies singulares tomassem dele algumas partes, mas possuindo cada uma, ao mesmo tempo, todo o gênero; pelo que todo o gênero não pode estar situado em muitos singulares ao mesmo tempo; nem, pois, pode ser o caso que, sendo em muitos ao mesmo tempo, em si mesmo seja um em número. Porque se é assim, não poderá ser um determinado g~enero e, portanto, não será absolutamente nada. Pois tudo o que é [est], pela própria razão de ser [esse] é uno, e o mesmo convém ser dito da espécie. (BOÈCIO, PL 64, 83B) Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

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O Caminho de Boécio Porque se algum gênero é uno em número, não poderá ser comum a muitos (...); o gênero, porém, não pode ser comum á espécie se nenhum desses modos, pois deve ser comum de tal modo que esteja todo nos singulares, e ao mesmo tempo, e que seja capaz de constituir e conformar a substância” (BOÈCIO, PL 64, 83 C-D) Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

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O Caminho de Boécio argumento 2: rejeita o caráter múltiplo dos universais pois tal multiplicidade remeteria a um regresso ao infinito; Porque, se existe algum gênero (e espécie) múltiplo e não uno em número, não haverá um gênero último, mas terá outro gênero situado acima de si que inclua aquela multiplicidade em um vocábulo de seu nome, pois assim como muitos animais, tendo algo similar, não são, todavia, o mesmo, e por isso mesmo se buscam aos seus gêneros – porque o gênero, que existe em muitas cosias e por isso é múltiplo, tem em si a similitude que é o gênero, não sendo, porém, uno porque existe em muitos – assim também um outro gênero deste deve ser buscado e, ainda que fosse encontrado, pela mesma razão mencionada acima, por sua vez, um terceiro gênero seria buscado; portanto, é necessário que a razão proceda ao infinito e que não ocorra termo algum à ciência. (BOÈCIO, PL 64, 83C) Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

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O Caminho de Boécio argumento 3: rejeita os universais enquanto apenas pensados pois para ele tudo o que é concebido o é a partir de algum objeto, ou seja, somente há uma intelecção se sob essa intelecção exista um sujeito subordinado (se os universais não se encontram expressos em nenhum objeto a intelecção que promovem é vazia e falsa pois não corresponde à realidade) Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

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O Caminho de Boécio Mas se os gêneros, as espécies e os demais [predicáveis] são apenas concebidos pelos intelectos, já que toda intelecção se faz, a partir do objeto, ou como a coisa é, ou como a coisa não é, é vão o que é concebido de nenhum objeto, pois não se pode fazer intelecção de objeto algum. Se a intelecção dos gêneros, das espécies e dos demais [predicáveis] provém do objeto assim como é a própria coisa entendida, aqueles já não estão apenas situados no intelecto, mas também existem na verdade das coisas. E novamente se deve buscar qual é a natureza daquilo que a investigação acima procurava; mas se a intelecção dos gêneros e dos demais [predicáveis] é apreendida de alguma coisa não como é a coisa submetida ao intelecto, necessariamente vão ser inteligida, já que é apreendida de alguma coisa, mas não como a coisa é, pois falso é o que é inteligido de outro modo do que a coisa é” (BOÈCIO, PL 64, 84A) Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

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O Caminho de Boécio parte 3: os argumentos anteriores colocam Boécio diante de um problema a solucionar: os universais de um lado não existem separados das coisas (nem unidade e nem multiplicidade) e por outro lado a intelecção que geram na mente é vazia e falsa (não tem objeto subordinado), então deve-se abandonar a investigação pois não se deve seguir investigando sobre coisas que não existem; a solução vem dos comentários de Alexandre de Afrodísias; Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

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O Caminho de Boécio a solução apresentada por Boécio é de cunho aristotélico e nos mostra os modos pelos quais concebemos ideias, formamos intelecções na mente: por conjunção (composição) – é falsa a intelecção produzida por conjunção (une-se a idéia de homem e a de cavalo e se cria a noção de centauro) porque une seres que na natureza não podem ser unidos; por divisão e abstração – não é falsa apesar de não corresponder ao modo como a coisa é na realidade (exemplo da linha que é abstraída do corpo pelo intelecto); Mas o espírito [amimus], apreendendo em si, a partir dos sentidos, as coisas confusas e mistas, distingue-as por sua própria força e pensamento (...), cujo poder é compor os disjuntos e dissolver os compostos que são transmitidos confusamente a partir dos sentidos e, junto com os corpos, distingue de tal modo que contempla e vê a natureza incorpórea por si e sem [as coisas] corpóreas em que está concretizada. (BOÈCIO, PL 64, 84D) Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

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O Caminho de Boécio assim ele admite que possam existir coisas concebidas á parte das sensíveis colocando gêneros e espécies como uma forma de abstração da similitude dos particulares a que estão ligados e que são comuns (...) e não se deve considerar a espécie nada mais do que o pensamento coligido da similitude substancial dos indivíduos dissímiles em número, e o gênero é o pensamento coligido da similitude das espécies. Mas esta similitude, quando está nos singulares, se faz sensível; quando nos universais, se faz inteligível, e do mesmo modo que, quando é sensível permanece nos singulares, quando é inteligida, se faz universal. Subsistem, portanto, nos sensíveis; são inteligidos, porém, fora dos corpos (...). (BOÈCIO, PL 64, 85C) Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

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A resposta de Boécio Boécio pretende ter resolvido o problema de Porfírio com a seguinte formulação: (...) os gêneros e as espécies subsistem de um modo, são, porém, inteligidos de outro modo; e são incorporais, mas subsistem nos sensíveis, junto com os sensíveis. São inteligidos, porém, fora dos corpos, como por subsistência própria e não tendo em outros seu ser. (BOÈCIO, PL 64, 85D -86A) Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

84 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
A resposta de Boécio a hipótese inicial, assim, parece ter sido confirmada: Boécio trata o problema dos universais sob uma perspectiva onto-gnosiológica: os universais são considerados como res universales com um fundamento na realidade; gêneros e espécies encontram sua natureza, origem e localização nas próprias coisas sensíveis; as noções gênero e espécie são abstrações mentais que formamos das semelhanças (aliquod commune) existentes nos objetos extramentais em coisas sensíveis; somente podemos produzir na mente as noções de gêneros e espécies à medida em que há na realidade, junto aos sensíveis, algo universal comum a vários. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

85 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
O Caminho de Boécio parte 4: a própria noção proposta para o autor parece-lhe dúbia; comparando entre as teses de Platão e Aristóteles ele oscila entre uma e outra, vacila, mas mantêm-se, naquele momento, atenciosamente reto em relação ao Estagirita Platão julga que os gêneros, as espécies e os demais [predicáveis] não apenas são inteligidos como universais, mas também que são e subsistem fora dos corpos. Aristóteles julga, porém que são inteligidos como incorporais e universais, mas que subsistem nos sensíveis. Não considerei adequado decidir entre as suas opiniões. (...) Seguimos mais cuidadosamente a opinião de Aristóteles de modo algum porque a aprovemos, mas porque este livro se escreveu para as Categorias, de que Aristóteles é o autor. (BOÈCIO, PL 64, 86A) Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

86 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
A resposta de Boécio a postura de Boécio, dessa forma, alinha-se ao modelo do realismo moderado; além de toda a sua contribuição ao problema dos universais cabe ressaltar que Boécio ainda precisou algumas noções lógicas cruciais para a Idade Média, a saber: a) repete e consagra o quadro das oposições lógicas de Aristóteles criado pelo poeta e filósofo latino Apuleio; b) introduz os termos de sujeito e predicado ao estudo da lógica de Aristóteles; c) traduziu as seguintes obras de Aristóteles: De Interpretacione, Primeiros analíticos, Segundos Analíticos, Elencos Sofísiticos e Tópicos (essas obras marcariam como a primeira entrada de Aristóteles no ocidente e comporiam o sistema lógico medieval que mais tarde ficaria conhecido como lógica vetus) Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

87 CURSO INTRODUTÓRIO SOBRE OS UNIVERSAIS NA IDADE MÉDIA
04 – Aspectos introdutórios acerca do modelo e da estrutura conceptualista de Abelardo diante do problema dos universais na Idade Média Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

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Considerações Gerais Um aspecto unânime dentro das investigações medievas refere-se à aceitação de uma Renascença do século XII; Nela podemos notar a importância de Abelardo quando, especificamente, vários estudiosos, ao se referirem ao século XII, esse fica descrito como “o século de Abelardo e da Dialética”; Abelardo foi essencialmente um lógico, em suas próprias palavras: Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

89 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Considerações Gerais (...) RENUNCIEI COMPLETAMENTE A Corte de Marte para ser educado no regaço de Minerva. E, visto que eu preferi as armas dos argumentos dialéticos a todos os ensinamentos da filosofia, troquei as outras por essas e antepus os choques das discussões aos troféus das guerras. (ABELARDO, Pedro. História das minhas calamidades, Coleção pensadores, p.250) Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

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Considerações Gerais Que tipo de lógico ele era? Ser lógico significava ser dialético; Nesse contexto ser dialético é, segundo a designação de João de Salisbury, ser Peripatético do Pallet; Nesse contexto devemos lembrar que o ensino da lógica era denominado de Dialética, mas na concepção geral a dialética era maior do que a lógica; Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

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Considerações Gerais Abelardo teve uma educação pautada nas chamadas artes liberais, as quais se dividiam em: Artes reais (quadrivium), que era constituída pela Música, Aritmética, Geometria e Astronomia; Artes do Discurso (trivium), que era constituída pela Gramática, Retórica e Dialética (ou lógica). Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

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Considerações Gerais O estudo da dialética no sistema medieval adquiriu pleno destaque frente ás demais áreas de pesquisa; Ela era o domínio do homem, o domínio do saber, portanto, o campo do racional por excelência, o local onde se tinha a possibilidade de discernir o discurso verdadeiro do falso; Sua importância também fica manifesta na medida em que se percebe que seu uso também era aplicado na interpretação de textos, principalmente os da Escritura; Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

93 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Considerações Gerais Nesse sentido a dialética era empregada para a realização de uma análise racional dos problemas, incluindo-se aí o âmbito da teologia; O saber dialético exprimia um certo racionalismo, e esse aspecto gerou uma reação, por parte da teologia, que ficou conhecida como a “querela entre dialéticos e antidialéticos); A briga foi grande e, dentre alguns nomes importante, podemos citar os esforços de mediação realizados por Santo Anselmo: Ele assume uma posição de equilíbrio na discussão pois afirmará, frente aos dialéticos, a primazia absoluta da fé, frente aos antidialéticos, sustentará a razão como meio para a compreensão da fé. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

94 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Considerações Gerais Para Anselmo, a busca da verdade deve consistir em primeiro crer nos mistérios da fé antes de discutí-los pela razão; depois deve-se esforçar-se pela razão por compreender aquilo em que se crê; Não dar preferência à fé, como queriam os dialéticos é presunção; não apelar, em seguida, para a razão, como o faziam os antidialéticos, é negligência Mas qual seria o papel do lógico, do dialético? Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

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96 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Pars construens O momento construtivo é aquele onde Abelardo apresenta sua noção de universal e tenta responder às três questões apresentadas por Porfírio; Seu ponto de partida da parte construtiva é o produto obtido da conclusão negativa que o Magister chegou na parte destrutiva de sua reflexão: Não há coisas universais, nem tomadas isoladamente, nem coletivamente. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

97 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Pars construens Ele parte da rejeição das teorias que atribuíam a universalidade às coisas e chega a uma afirmação: A indicação de que a universalidade cabe somente às palavras – o universal é palavra, vox. Cabe, contudo, tecer algumas considerações acerca do que seria a expressão vox: No contexto abelardianao vox é uma expressão que não se reduz ao mero sentido físico concebido por Roscelino; Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

98 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Pars construens “quer o som articulado ainda sem significado [palavra material], quer a palavra instituída pelo homem para a significação” (FUMAGALLI, PARODI, Storia della Filosofia Medievale. Laterza, 1998, p.170) A expressão vox assume em Abelardo o sentido de vox significativa; Disso resulta o uso dado em que a expressões mostram-se como sermo ou nomen Na Lógica Nostrorum Abelardo introduz a diferença entre vox e vox significativa Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

99 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Pars construens Vox = o som no sentido acústico – flactus vocis; Vox significativa = a palavra = explica a origem dos nomes (sermo sive nominum) e é eminentemente uma instituição humana. A distinção está no fato de que a primeira, vox, designa o aspecto físico da palavra, a segunda, vox significativa, designa a função signficativa das palavras. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

100 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Pars construens O que está sendo estabelecido nessa distinção é o domínio semântico da significação (significatio); Nesse contexto, significação assume um sentido intencional, quer dizer, enquanto é geradora de um conceito na mente; Assim, uma palavra (nomen, sermo, vox significativa) é significativa, na medida em que tem a capacidade de gerar uma intelecção (intelectum constituere); Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

101 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Pars construens Seu objetivo na parte construtiva, portanto, é o de fornecer os fundamentos da atribuição da universalidade apenas às palavras; Sua tarefa, portanto, consiste em mostrar sobre que bases o universal atribuído somente às palavras pode ser significativo, ou seja, de que forma ele pode constituir uma intelecção na mente, na medida em que não há, na realidade, uma res universal que possa corresponder àquela intelecção. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

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Pars construens Inicialmente ele apresenta, no âmbito da linguagem, uma diferença de vocabulário entre a gramática e a Dialética; Os gramáticos utilizam certos nomes chamados próprios e outros chamados apelativos; O repertório dos dialéticos compreende expressões simples, como palavras universais e palavras singulares; Essa diferença destaca dois pontos: Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

103 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Pars construens I) um universal pode ser um nome, todavia, nem todos os nomes (como nomes apelativos ou nomes próprios) podem ser universais. Isso ocorre tendo em vista que o universal é definido pela sua predicabilidade. Os nomes apelativos ou próprios não comportam os casos retos e nem os oblíquos, portanto, não podem ser tomados como predicados e, assim, estão fora da definição. Universal, portanto, poder ser colocado entre os nomes, porém não é equivalente aos nomes apelativos ou próprios. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

104 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Pars construens II) nem todos os universais reduzem-se aos nomes, visto que os verbos são passíveis de serem incluídos entre os universais. Os verbos não estão contidos na definição dos nomes (no caso dos nomes) mas podem atuar como universais (predicado) em frases predicativas. Ex.: “Manoel anda”. Nessa frase o verbo “anda” pode ser concebido, entendido, como uma forma predicativa do tipo “Pedro é andante”. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

105 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Pars construens Assim, temos uma nova definição abelardiana acerca do universal: “Uma palavra universal é aquela que, por sua descoberta, é apta para ser predicada de muitos tomados um a um, tal como este nome ‘homem’, que pode ser ligado com os nomes particulares dos homens segundo a natureza das coisas subordinadas ás quais foi imposto. Já o singular é aquele que é predicável de um só, como Sócrates, tomado como nome de um único.” (L I, 16, 25-30) Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

106 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Pars construens Existem algumas particularidades nessa definição de universal: I) Abelardo utiliza a expressão “palavra universal”, portanto, toma o universal como res se esse é considerado como vox; II) o universal parece que é retirado do mundo da natureza (res) e colocado no domínio de uma construção e instituição humana (vox); III) a definição insinua uma relação entre nomes, quando afirma que um nome universal é ligado aos nomes particulares dos indivíduos. Entretanto, a possibilidade de imposição (a impositio é um ato eminentemente humano) dos nomes universais parece estar vinculada à natureza das coisas, remetendo a um certo compromisso ontológico. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

107 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Pars construens Para Bertelloni, a esse respeito: “Devemos aqui chamar a atenção sobre a circunstância de que, apesar da participação da natura rerum no processo que permite a imposição do nome universal, desde o princípio Abelardo coloca a questão como problema concernente a uma relação entre nomes e não uma relação entre nome universal e indivíduos ou coisas particulares. (...) percebemos de imediato a vontade abelardiana de colocar o problema em um terremo claramente semântico” (BERTELLONI, Pars construens..., p ) Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

108 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Pars construens A forma com que Abelardo encaminha suas reflexões parte para uma exaustiva análise dos termos da definição de predicado onde ele seria aquele que (quod) é predicado (praedicari) de vários (de pluribus); O foco de sua atenção nessa análise está no modo, os dois, como pode ocorrer uma ligação entre sujeito e predicado, e isso envolve pensar nas atribuições específicas entre o gramático e o dialético; Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

109 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Pars construens O tratamento da predicação, enquanto imposição dos nomes, diz mais respeito ao âmbito da Dialética do que ao âmbito da Gramática. A diferença entre elas está na forma com que cada uma estabelece a ligação da construção (Gramática) e a ligação de predicação (Dialética). Em suas palavras, uma boa ligação realizada por uma gramático dá-se quando: “ (...) quanto a manifestar verdadeiramente uma intelecção, mas não quanto a mostrar o estado da coisa. Assim, a ligação de construção é boa, todas as vezes que apresenta uma sentença correta, quer seja assim, quer não.” (L I, 17, 16-19) Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

110 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Pars construens O Gramático: Examina se uma determinada frase predicativa está corretamente construída. Ou seja, investiga uma frase que realiza a ligação de construção sujeito-predicado de modo correto e vincula um sentido que entendemos, embora não manifeste um estado de coisa. O Dialético: Ocupa-se com a correção semântica (categorial) de uma frase predicativa, ou seja, examina se a ligação de predicação que a frase estabelece respeita uma semântica correta. Uma frase predicativa é semanticamente correta se a ligação de predicação que ela expressa une um predicado a um sujeito, conforme a natureza desse sujeito, e mostra a verdade de seu estado. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

111 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Pars construens Para atingir seu objetivo (uma frase semanticamente correta) o Dialético usa dois critérios: A atribuição do predicado deve corresponder à natureza da coisa predicada; Deve mostrar a verdade do que é afirmado, isto é, do estado de coisa (sattus rei) Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

112 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Pars construens Em sua concepção, Abelardo nega que o universal é uma coisa (res), tanto isolada quanto coletivamente. Ao realizar tal afirmação ele terá de localizar o universal em algum lugar; Sua localização será na palavra, ou melhor, naquilo que a palavra tem de próprio, a sua significação. Em suas palavras: “(...) é próprio das palavras significar ou relevar, e das coisas, o serem significadas” (L I, 10, 1-2) Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

113 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Pars construens A característica própria das palavras é a sua capacidade de significação; A capacidade significativa de uma palavra é dada em satisfação a duas condições: I) quando gera uma intelecção na mente; e II) quando se refere a alguma coisa. O problema que Abelardo enfrenta incide sobre a possibilidade de significação dos nomes universais, ou seja, às condições requeridas para a significação: “Levantaram-se questões a propósito dessas palavras universais, divida-se sobretudo de sua significação, uma vez que parecem não ter qualquer coisa subordinada nem fixar uma intelecção válida de algo” (L I, 18, 6-9) Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

114 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Pars construens Esse problema acerca da significação dos nomes universais pode desdobra-se em vários outros problemas, mas quero frisar dois muito importantes: a impotência significativa e a impotência cognoscitiva do universal: A impotência significativa diz respeito ao fato de que os nomes universais parecem não corresponder a alguma realidade, isto é, não têm qualquer coisa subordinada, não se aplicam ou não nomeiam nada; A impotência cognoscitiva incide sobre a impossibilidade de que as palavras universais possam oferecer algum conhecimento ou gerar uma intelecção válida de algo na mente. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

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Pars construens Para que um nome universal possa ter significação, ele deve cumprir essas duas condições: constituir uma intelecção válida na mente e referir-se a alguma coisa subordinada na ordem do real. Mas o nome universal parece desprovido de significação. Diz Abelardo: “Desse modo, parece que tanto homem como qualquer outro vocábulo universal não significa coisa nenhuma, uma vez que não fixa a intelecção de coisa alguma. E nem parece que possa haver intelecção que não tenha uma coisa subordinada que conceba. (...) Em consequência disso, os universais parecem completamente desprovidos de significação” (L I, 18, 37-19,6) Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

116 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Pars construens Aprioristicamente parece que Abelardo nega a possibilidade de significação dos nomes universais, mas ele mesmo mostra que isso não procede e molda a forma com que as palavras universais podem ter significação: “Mas não é assim. De fato elas significam, de certo modo, coisas diversas por meio da denominação, não porém fixando uma intelecção procedente delas, mas pertinente a cada uma. Como esta palavra homem, tanto nomeia cada um deles por motivo de uma causa comum, isto é, que são homens, pelo que é denominada [a palavra] universal, como constitui uma certa intelecção comum, não própria, isto é, pertinente a cada um deles, dos quais concebe a semelhança comum.” Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

117 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Pars construens Para Abelardo as palavras universais são passíveis de nomear coisas diversas, e sua significação não deve ser buscada numa intelecção que proceda das coisas nomeadas, mas pertencente a cada uma delas, na medida em que, a partir de uma causa comum, concebe a semelhança comum entre elas. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

118 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Pars construens Depois de investigado esse ponto, Abelardo incide sua investigação na significação intelectual do universal para responder á seguinte pergunta: qual é a concepção de intelecção da semelhança comum das coisas? Um nome pode ser dito comum devido: A) à causa comum; B) ou à concepção comum; C) ou, ainda, a ambas simultaneamente. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

119 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Pars construens Para Abelardo os homens individuais diferenciam-se uns dos outros tanto pelas suas essências como pelos seus acidentes; Essa diferenciação nos mostra que as coisas somente existem como individuais; Mas os homens individuais combinam (convêm) no ‘ser homem’ (in esse hominem), portanto, naquilo em que eles mesmos são, no fato de que todos são homens. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

120 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Pars construens Para Abelardo: “Cada um dos homens, distintos uns dos outros, embora difiram tanto pelas próprias essências quanto pelas formas, se reúnem naquilo que são homens. Não digo no homem, já que nenhuma coisa é homem, exceto uma coisa distinta, mas no ser homem. Ora, ser homem não é homem ou coisa alguma (...)” (L I, 19, 20.26) Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

121 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Pars construens O que ele quer evidenciar é um “estado de homem”, ou seja, algo que indica o fato real de um home individual ser aquilo mesmo que é – homem, mas isso não é uma essência, não é algo na ordem do real. Para ele: “(...) dizemos que este e aquele combinam no estado de homem, ou seja, nisto que são homens. Mas não entendemos senão que eles são homens e, de acordo com isso, não diferem de modo algum; de acordo com isso, explico-me, que são homens, ainda que não apelemos para nenhuma essência.” (L I, 20, 3-6) Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

122 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Pars construens O fato de um indivíduo encontrar-se no ‘estado de homem’ não expressa algo diverso do homem individual, mas, simplesmente, que o homem individual é um homem. Para ele: “Chamamos de estado de homem o próprio ser homem, que não é uma coisa e que também denominamos causa comum da imposição do nome a cada um, conforme eles próprios se reúnem uns com os outros” (L I, 20, 7-9) Assim, essa doutrina coloca entre os indivíduos uma semelhança real, mas ela não se pode realizar de uma forma à parte, como uma essência. A natureza humana é tão somente uma espécie de concordância substancial de indivíduos, parte-se, portanto, do indivíduo. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

123 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Pars construens O nome universal tem uma significação real; mas somente a partir das próprias coisas ele significa o status rei, isto é, as próprias coisas individuais enquanto combinam no serem tais coisas; Essa é a intelecção gerada pelos universais. Essa intelecção não necessita de um órgão corporal e prescinde de um objeto subordinado. A noção de intelecção torna-se importante. Nas palavras de Abelardo: Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

124 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Pars construens “(...) assim como a sensação não é a coisa sentida, para qual se dirige, assim também a intelecção não é a forma a forma da coisa que ela concebe, mas a intelecção é uma certa ação da alma, pela qual é chamada de inteligente, e a forma para a qual se dirige é uma certa coisa imaginária e fictícia, que o espírito elabora para si quando quer e como quer, como são aquelas cidades imaginárias vistas durante o sono ou como aquela forma de um edifício a ser construído (...).” (L I, 20, 28-34) Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

125 CURSO INTRODUTÓRIO SOBRE OS UNIVERSAIS NA IDADE MÉDIA
05 – Aspectos introdutórios acerca do modelo e da estrutura nominalista de Guilherme de Ockham diante do problema dos universais na Idade Média Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

126 Considerações Iniciais
Ockham iniciou seus estudos no convento dos frades franciscanos de Oxford em 1307, estudando os temas teológicos durante 8 anos para que depois, durante 4 anos, pudesse comentar as Sentenças de Pedro lombardo; Durante seu período de permanência em Avignon, 1324 a 1328, dedica-se aos estudos de lógica e desse período temos a composição de sua Obra Summa Logicae; Depois de sua fuga com Migeul de Cesena abandona as investigações acerca da lógica e dedica-se aos estudos acerca da política; Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

127 Considerações Iniciais
A reorganização e a sistematização do ensino universitário ocorrido no século XIII, com a Escolástica, fomentaram uma enorme efervescência no ocidente, principalmente depois da introdução do Corpus Aristotelicum; A introdução de Aristóteles amplia o debate acerca da lógica desembocando na criação de um modelo lógico denominado de Lógica Terminista; Debaixo desse modelo se encontra o ambiente no qual as teorias ockhamianas serão desenvolvidas. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

128 A estrutura crítica do problema dos universais
A forma de ver o problema dos universais não é algo isolado, o problema se compunha em conformidade com questões de teologia, por exemplo, com a possibilidade de encontrar entre Deus e suas criaturas alguma coisa de comum que seja atribuível á essência de um e de outro, como é atestado pela seguinte passagem: “Acerca da identidade e da distinção entre Deus e a criatura é perguntado se, entre Deus e as criaturas, existe algo comum unívoco, predicável essencialmente de ambos” (L. Sent., IV, 99, 9-11). Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

129 A estrutura crítica do problema dos universais
Duas obras são centrais nas formulações ockhamianas acerca dos universais: o Scriptum in Librum Primum Sententiarum e a Summa Logicae; Na primeira ela elabora 5 questões (da IV à VIII) que abarcam sua parte crítica acerca dos universais; Sua estrutura nos mostrará a visão geral do modelo ockhamiano acerca do problema dos universais, examinemo-las: Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

130 A estrutura crítica do problema dos universais
Nas questões de IV a VII, temos a parte crítica das idéias ockhamianas, onde é apresentada a possibilidade da existência de uma natureza universal extra animam, ou seja, o que temos é um conjunto de posições que convergem para uma única posição: “ (...) todas [as opiniões] nisto convêm: que os universais são de algum modo à parte das coisas, daí que os universais estão nos singulares mesmos” (L. Sent., VII, 229, 4-6) Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

131 A estrutura crítica do problema dos universais
Na questão VIII, o modelo nos apresenta a parte resolutiva e nos demonstra que o universal existe de algum modo em qualquer parte, portanto, ele irá localizar o universal in anima; Disso resulta uma dicotomia no modelo que está em construção: os universais existem extra animam ou in anima? Todas as opiniões que são examinadas e rejeitadas por Ockham nos seus comentários concordam basicamente em colocar nos indivíduos (singulares) uma natureza que é de algum modo universal, ou seja, eles sustentam a existência de uma natureza universal que é comum a muitos e é parte constitutiva desses muitos e, como parte, é indistinguível deles. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

132 A estrutura crítica do problema dos universais
Essas noções estabelecem as heranças dos sistemas metafísicos do século XIII (Tomás e Duns Scotus) que estabeleceram o problema da individuação (como e de qual modo a natureza universal se contrai dando lugar à multiplicidade dos indivíduos da mesma espécie?); Contudo, essas questões são vistas por Ockham como pseudo-problemas, ou seja, para ele existe apenas o indivíduo e a realidade é por si mesma singular e é esse elemento que a torna inteligível; Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

133 A estrutura crítica do problema dos universais
Examinando as discussões de seus opositores frente ao modo pelo qual a natureza universal e o singular se distinguem, surgirá na análise uma segunda dicotomia: A distinção entre universal e singular ocorre a partir da natureza da coisa (ex natura rei); A distinção entre universal e singular ocorre segundo a razão (secundum rationem); Contudo temos duas forma de distinguir universal e singular ex natura rei: realiter e formaliter; A realiter tem duas formas: non-multiplicata (a natureza universal, mesmo realizada nos singulares, mantém sua unidade) e multiplicata (a natureza universal se diversifica nos singulares por meio de uma diferença contraída). Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

134 A estrutura crítica do problema dos universais
Na visão secundum rationem, Ockham fala em três versões: A) o universal é certa forma nas coisas e assim gênero e espécie subsistem, cada qual á sua maneira, nas coisas mesmas (enquanto forma); B) considerada na natureza uma coisa pode ser singular, mas se é vista no intelecto, a mesma coisa pode ser universal, depende do modo de sua consideração (enquanto consideração do intelecto); C) uma mesma coisa sob um conceito é universal, e sob outro é singular (enquanto conceito confuso). Assim, Leite Júnior nos mostra um quadro interessante que nos remete a essa estrutura: Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

135 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

136 A crítica ockhamiana os modelos apresentados
O movimento crítico ockhamiano parte do seguinte princípio: toda a realidade existente fora da alma é essencialmente e imediatamente singular; O princípio de singularidade do real faz com que a figura do indivíduo seja concebida como a única realidade concreta e, nesse sentido, a noção de evidência decide contra todo o modo de existência do universal fora da alma; É nesse sentido que o âmbito lógico torna-se o lugar onde Ockham conceberá o discurso e o exame acerca dos universais; Ao munir-se do arsenal lógico Ockham irá atacar e refutar todas as posições de seus adversários, uma a uma Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

137 A resolução ockhamiana
Para Ockham toda a realidade extramental é imediata e essencialmente singular, individual e, por esse motivo, fica excluída toda e qualquer possibilidade de existência do universal extra animam; Ao fixar o universal na alma significa que ele é visto como um ser de razão, ou seja, um conceito (conceptus); Essa visão muda o enfoque do problema dos universais pois agora ele é deslocado do âmbito da ontologia (extra animam) para a adoção de sua possibilidade como conceito, portanto, como linguagem; Em virtude de sua localização in anima, teremos três possibilidades de concepção e realização dos universais, as quais são consideradas plausíveis; Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

138 A resolução ockhamiana
A primeira posição examinada por Ockham é a teoria do fictum, ou seja, a visão de que os universais tem um ser objetivo na alma e esta é uma certa ficção; Os universais, enquanto objetos pensados, são imagens na mente (ficta); Aqui os conceitos são entendidos como certas qualidades existentes subjetivamente na mente. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

139 A resolução ockhamiana
A segunda posição examinada por Ockham é a Teoria da qualitas mentis, ou seja, aqui os universais são vistos como alguma qualidade existente subjetivamente na alma e se distingue do ato do intelecto pois lhe é posterior; Aqui os conceitos na mente seriam espécies de acidentes em sua substância. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

140 A resolução ockhamiana
A terceira posição, a Teoria do ato mental, entende os universais como qualidades da intelecção em si mesma; Aqui existe a identidade do universal com o próprio ato de conhecer; O conceito é visto como um sinal, mas ele é um sinal natural, ou seja, todas as propriedades que as palavras possuem mediante a estrutura convencional, o conceito as possuem por natureza; O conceito é um sinal que se esclarece na sua natureza, portanto, o universal é algo que é predicável de muitos por sua natureza e assim ele é existente na mente, quer seja de modo subjetivo, quer seja de modo objetivo; Essa será a posição adotada por Ockham, tanto nos primeiros escritos, quanto na obra mais acabada de cunho investigativo lógico, a Summa logicae. (pg. 144 Pedro) Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

141 A resolução ockhamiana
A teoria do ato mental basicamente sustenta que o universal é um conceito confuso da alma formado a partir da similitude dos indivíduos fora da alma; Assim, o ato da intelecção incide sobre uma realidade existente extra anima pois todo o conceito tem os indivíduos por objeto; É nesse sentido que devemos entender que o universal não se acha de modo algum nos indivíduos, haja vista que o conceito é visto como uma similitude das coisas, ou seja, como um signo; O conceito é visto como o ato de inteligir (baseia-se no princípio de parcimônia – pg Pedro). Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

142 A resolução ockhamiana
O ponto essencial acerca dos universais no modelo ockhamiano refere-se á adoção da noção do universal como conceito, portanto, foca-se no seu caráter de signo; A relevância do modelo ockhamista, portanto, somente pode ser efetivada enquanto dentro de uma teoria dos signos, ou seja, somente dentro de uma perspectiva lingüística; O universal tem uma aptidão para ser utilizado na designação de todos os indivíduos de um conjunto, portanto, o que se salienta é seu caráter de signo (estar no lugar de ou supor por) – um termo universal significa muitos indivíduos, mas não se realiza em nenhum deles; Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

143 A resolução ockhamiana
A função de um signo é significar, portanto, é enviar do signo uma realidade diferente de si e gerar na mente uma intelecção dessa segunda realidade; A função significativa de um signo pode ocorrer em dois níveis: Significação representativa: um signo significa tudo aquilo que apreendido torna conhecida outra coisa – como temos aqui uma significação essencialmente rememorativa, sua natureza é a de re-presentar a coisa significada e, portanto, pressupõe um conhecimento prévio da coisa significada; Significação lingüística: o signo é aquilo que traz algo á cognição e é capaz de supor por isso. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

144 A resolução ockhamiana
Na acepção lingüística, juntamente com a função significativa (aquela que gera a intelecção) existe outra característica essencial que é acrescentada: a capacidade suposicional do sinal; O sinal agora passa a ser caracterizado pela possibilidade de produzir uma intelecção primária (não meramente rememorativa) por sua função suposicional, ou seja ele está orientado a ocupar o lugar da coisa significada em uma proposição; É por meio dessa suposição que um signo se torna signo lingüístico e coincide com a noção de termo Designo por termo aquilo em que uma premissa [proposição] se resolve, isto é, o predicado e o sujeito acerca do qual ele se afirma, quer o verbo ser lhe esteja junto, quer o não-ser esteja separado” (Aristóteles - analíticos primeiros) Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

145 A resolução ockhamiana
Se signos lingüísticos estão vinculados a termos, é necessário que se entenda os signos, e esses são de dois tipos: Signos lingüísticos naturais: termos mentais ou conceitos; Signos lingüísticos convencionais: termos escritos e falados (significam por meio de uma convenção, ou seja, uma instituição voluntária dos homens). Conceitos (termos mentais) significam de modo natural tudo aquilo que significam, ou seja, eles exprimem diretamente a coisa significada; Signos mentais são produzidos naturalmente através da interação do objeto e do intelecto; Sinais convencionais são subordinados aos sinais naturais e por isso as palavras escritas e faladas são inventadas pelos homens para designar as coisas das quais os conceitos são sinais naturais (pg. 152 – Pedro) Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

146 A resolução ockhamiana
A função suposicional de um signo é a que o faz um signo lingüístico e, dessa forma, um termo; Essa noção está sob a égide da teoria da suposição, ou seja a propriedade que convém aos termos somente quando os mesmos estão inseridos num contexto proposicional; A noção de suposição vincula-se de forma estreita com a noção de signo e de significação. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

147 A resolução ockhamiana
O problema dos universais, visto dentro da teoria dos signos, resulta na afirmação de que existem dois tipos, modos, de serem vistos: O universal como conceito natural: aquilo que é naturalmente signo predicável de muitas coisas – aqui temos o conceito na alma e, portanto, não existe nenhuma substância ou acidente fora da alma; O universal como signo convencional (termo escrito ou falado): o universal aqui é concedido mediante uma instituição voluntária, ou seja, por uma convenção, o signo irá significar por muitas coisas. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

148 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Conclusão Ockhamiana O universal existe na mente enquanto ato do intelecto que gera um conceito confuso, a partir da similitude das próprias coisas singulares; Esse conceito na alma encontra sua possibilidade de universalização na medida em que é signo lingüístico e, portanto, um termo; A noção de que os universais são conceitos, e conceito é sinal lingüístico, portanto um termo da linguagem, transporta o problema dos universais do âmbito da ontologia para o âmbito da linguagem. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

149 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Conclusão Ockhamiana O estudo da semântica ockhamiana nos coloca de frente com conceitos como signo, termo, significação e suposição e essas construções se aproximam muito dos problemas filosóficos atuais inseridos no âmbito da lógica, da semântica e da filosofia da linguagem. Um exemplo disso é o modelo de Quine. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

150 CURSO INTRODUTÓRIO SOBRE OS UNIVERSAIS NA IDADE MÉDIA
06 – Interfaces do problema medieval frente à Filosofia Contemporânea Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

151 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Recordando O problema colocado pode ser dito de muitas formas e mediante muitas classificações; Se quisermos buscar a origem do problema remontaríamos a aporias estabelecidas pelo diálogo dos pré-socráticos, especificamente pelo sistema de Parmênides e suas críticas aos filósofos da natureza; contudo, uma forma “irônica” de ver o problema e mudar o foco das investigações filosóficas remonta a Sócrates; Todavia, a primeira formulação clássica do problema, da forma como a entendemos hodiernamente, deriva de Porfírio. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

152 Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB
Recordando É justamente diante dessa confusão de análise das categorias aristotélicas mediante uma ontologia neoplatônica, a partir da leitura de Porfírio, que o problema é formulado por Boécio, que por muitos é visto como o primeiro dos medievais e o último dos clássicos; Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

153 A importância do Problema
O problema dos universais, contemporaneamente, têm muita importância; Alguns aspecto são imprescindíveis termos em mente para compreendermos essa importância: O problema da linguagem é complexo e reflete muito mais do que o simples fato de que sua função seria nomear coisas concretas, ela ultrapassa isso; No uso da linguagem encontramos expressões que nos remetem a entidades abstratas cuja explicação é complexa e difícil; Quando estamos inseridos no campo epistêmico, o uso dessas palavras abstrata exige uma explicação que implica não somente estabelecer a relação ente seu referente (denotatum), mas, efetivamente, nos impele a discorrer acerca do estatuto ontológico dessas palavras; São palavras que se enquadram dentro dessa visão que suscitaram o problema que ora investigamos: o Problema dos Universais Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

154 A importância do Problema
Alguns aspecto imprescindíveis: Embora o problema seja antigo, remontando à própria discussão de Aristóteles a Platão, devido ao embate epistemológico dentro da ciência, ele se transforma em um problema típico da relação travada entre a ciência e a filosofia hodiernamente; As postulações de Frege, Russell e o 1º Wittegenstein são exemplo disso no século passado, com todos os seus desdobramentos; As discussões entre Quine, Strawson, Putnam, Fodor, etc., é outro exemplo nos nossos dias; Mas independentemente desses elementos, qual seria a base substantiva que nos permitiria dizer que esse problema é ainda importante? Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

155 A importância do Problema
Independentemente dos critérios que podemos usar para determinar e examinar o problema, o que ele nos revela, neste caso específico por nós investigado, é: A imposição do problema coloca todo homem, no ato mesmo do seu pensar, diante de uma capacidade de ‘manipular’, de forma cognoscitiva, os objetos Usamos as palavras, sem nenhum problema, com conotações de transcendência dentro das locuções e sem nos dar conta de que estamos mudando, com o uso da linguagem, a realidade que nos rodeia; Quase nunca perguntamos, acerca de nosso pensamento, o que acontece quando pensamos, que tipo de coisas pensamos, qual a relação dessas coisas com o mundo externo à nossa mente? Normalmente nunca nos damos conta da diversidade de nossos conteúdos mentais e da forma com que eles se relacionam com o mundo externo à nossa mente. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

156 A importância do Problema
Outro ângulo para o problema, hodiernamente, está na forma com que abordamos a ciência, ou seja, ela apresenta uma linguagem mais precisa para descrever o mundo que a linguagem ordinária; Mas ambos sistemas lingüísticos são frutos do mesmo pensar: Analisando isso podemos ver que, apesar de dizermos que a ciência é isenta das coisas do mundo ordinário, grande parte de suas estrutura se refere a realidades ou acontecimentos concretos mas, de outro lado, existe uma enorme gama de concepções adotadas que seriam praticamente impossíveis de dizermos, efetivamente, a que se referem; Assim, se temos tais palavras, mesmo nas ciências, é necessário estudá-las pois seu caráter aporético se impõem tanto na Filosofia quando na ciência; Todavia, se tratar desse problema não é fácil, as possíveis respostas também acompanham essa dificuldade: estabelecem-se como opostas, contraditórias e o problema segue em aberto. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

157 A importância do Problema
A diferença entre a formulação do problema dos universais hodiernamente e no período Medieval radica-se num elemento: Hodiernamente, mediante uma nova estrutura lógica, podemos desenvolver novas análises acerca desses fenômenos lingüísticos e precisar as dificuldades com maior precisão; Os novos métodos da lógica são imprescindíveis para isso, conforme nos alerta Quine: A matemática clássica...está fundida até o pescoço em compromissos relativos a uma ontologia de entidades abstratas. Assim é como a grande controvérsia medieval sobre os universais tem surgido de novo na filosofia moderna das matemáticas.” (QUINE, W. V. O. From a Logical Point of View. 2ª ed. Cambridge, Mass.: Harvard university Press, 1961, 1961, p ) Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

158 A importância do Problema
Mas antes de delimitarmos nosso campo de investigação dentro do medievo, precisamos estabelecer uma noção mínima do que é a definição de “universal” e uma caracterização mínima do que é seu problema dentro da Filosofia e das Ciências contemporâneas; Iremos trabalhar em duas linhas: uma que visa instruir a etimologia da palavra em português, outra que localiza o problema e as noções dentro do campo da lógica. Assim, iremos delimitar, brevemente, esses dois aspectos e, depois, partirmos para nossa investigação dentro da Idade Média. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

159 Definição de Universal
No dicionário Aurélio: Do latim universale: Em Português, quando é um adjetivo de dois gêneros: Na cadeia de denominações no dicionário Aurélio, algumas são importantes: 3. Comum a todos os homens, ou a um grupo dado: história universal; língua universal. 10. Lóg. Diz-se de atributo que convém a todos os indivíduos de uma classe. 11. Lóg. Diz-se de termo (14) tomado em toda a sua extensão. ~V. Componedor -, proposição – afirmativa, proposição – negativa, quantificador -, sufrágio – e tempo -. Em português, quando é um substantivo masculino: 13. Filos. O conjunto dos seres ou das ideias que, numa dada circunstância, estão tomados em consideração. 14. Jur. Complexo de coisas singulares, suscetível de apreciação econômica, e que constitui um ser coletivo totalmente distinto dos seus elementos componentes. ~V, universais. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

160 Definição de Universal
Para os termos lógico-filosóficos: Divide a totalidade das entidades ou dos objetos em duas grandes categorias mutuamente exclusivas e conjuntamente exaustivas: Universais: objetos que são em essência repetíveis, exemplificáveis, ou predicáveis de algo (ex.: objetos abstratos como propriedades e atributos – a propriedade de ser sábio e o atributo da brancura); Particulares: objetos que em essência não são repetíveis, exemplificáveis, ou predicáveis do que quer que seja (ex.: meu relógio, o atual papa). Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

161 Definição de Universal
A distinção feita anteriormente tem sido útil para as discussões em ontologia; Contudo, o foco do sistema está nas discussões de caráter linguístico, especificamente no âmbito das relações entre a semântica e a pragmática; Tais discussões postulam-se em pelo menos duas correntes: nominalismo e realismo, essa última com duas vertentes diversas. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

162 Definição de Universal
Hodiernamente: NOMINALISMO: 1º) Uma doutrina segundo a qual não há universais: Doutrina que prega que, numa ontologia razoável, todos os objetos são necessariamente particulares; 2º) Doutrina segundo a qual só há particulares concretos, objetos de algum modo localizáveis no espaço-tempo: Doutrina que prega que não há objetos abstratos pois, em uma ontologia razoável, todos os objetos são necessariamente concreta. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

163 Definição de Universal
Hodiernamente: REALISMO: 1º) universais ante rem: objetos completamente auto-subsistentes, cuja natureza e existência são independentes da circunstância de serem exemplificáveis por particulares (concepção platônica dos universais); 2º) universais in rebus: objetos cuja natureza e existência são dependentes da circunstância de serem exemplificáveis por particulares; os universais apensas existem nos particulares 9concepção aristotélica dos universais) Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

164 Definição de Universal
Pensar o problema dos universais engloba várias tendências que precisam ser esclarecidas para a delimitação do que iremos estudar: Cosmológico: centra-se na busca do modo como se formam a unidade dos diferentes grupos de entes físicos e como podemos buscar, via fator de unidade conjuntural, um elemento de universalidade; Psicológico-epistemológico: efetivamente centra-se na forma com que o intelecto chega ao conhecimento do universal a partir de entes particulares e sensíveis (problema vinculado á abstração), sem a necessidade dos sensíveis (problema vinculado à intuição); Lógico: refere-se á forma com que o uso do sujeito e do predicado do universal pode ocorrer nos esquemas operacionais do discurso lógico (relação com as funções quantificadoras); Ontológico: refere-se ao status entitativo do universal, ou seja, ao tipo de essência que ele tem para poder existir. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB

165 Definição de Universal
Os planos lógicos e ontológicos são o principal foco de nossa investigação; Contudo, alguns elementos valem a pena serem esclarecidos quanto ao plano ontológico: O famoso Status ontológico do problema dos universais refere-se à pergunta, de cunho aristotélico, acerca dos objetos enquanto seres, ou acerca da onticidade do universal mediante a pergunta: que gênero de realidades existem? O âmbito da resposta já pressupõe a sua existência e deve focar-se, explicitamente, em como é a existência dos universais e o que são. Prof. Dr. Anderson D'Arc Ferreira - UFPB


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