SÓCRATES O VALOR ÉTICO INCONDIClONADO Helder Salvador.

Apresentação em tema: "SÓCRATES O VALOR ÉTICO INCONDIClONADO Helder Salvador."— Transcrição da apresentação:

1 SÓCRATES O VALOR ÉTICO INCONDIClONADO Helder Salvador

2 Na Apologia, uma acusação é levantada contra Sócrates, visto que desabafa nestes termos: "tentaram persuadir-vos de acusações não menos falsas contra mim: que há tal Sócrates, homem sábio, que especula acerca das coisas celestes, que investiga todos os segredos subterrâneos, que torna as razões mais débeis nas mais fortes".

3 Desse modo, é verdade, ó cidadãos de Atenas; ganhei esta fama por certa sabedoria que possuo. E de que sabedoria se trata? Talvez de uma sabedoria puramente humana. E quanto a ser sábio, corro o risco de possuir unicamente essa sabedoria.

4 Mas em que consiste essa sabedoria? "Ora, (Quere fonte) um dia esteve em Delfos e ousou fazer esta pergunta ao oráculo: (... ) - perguntou se havia alguém mais sábio do que eu. A Pítia respondeu que não havia ninguém".

5 "Ouvida a resposta do oráculo, refleti deste modo: Que quer dizer o deus? O que esconde o enigma? Porque eu, por mim, não tenho consciência de ser sábio, nem pouco, nem muito. Que quer dizer então o deus quando diz que sou o mais sábio dos homens? Certamente não mente, ele que não pode mentir. E por longo tempo permaneci nesta incerteza sem saber o que queria o deus dizer. Finalmente, contra a minha vontade pus-me a fazer pesquisas a esse respeito".

6 Põe-se à procura da resposta para tal enigma. Depois de pesquisar entre os homens políticos, os poetas, os artesãos, chega à seguinte conclusão: "Mas a verdade é outra, ó cidadãos: quem sabe é apenas o deus, e quer dizer com seu oráculo que pouco ou nada vale a sabedoria do homem, e dizendo que Sócrates é sábio, não quer referir-se propriamente a mim, Sócrates, mas apenas usar meu nome como exemplo, como se tivesse dito: O homens, é sapientíssimo entre vós aquele que, como Sócrates, tenha reconhecido que sua sabedoria não possui nenhum valor".

7 Nesta busca pela definição e aquisição da verdadeira sabedoria, Sócrates centraliza o seu interesse na problemática do homem. E faz uma grande descoberta: a essência do homem é a sua psyché. Se os filósofos naturalistas se empenharam em dar resposta à pergunta que os inquietava: o que é a natureza?, qual é o princípio último das coisas?, Sócrates dirige o seu questionamento para a tentativa de definir a essência do homem.

8 Na concepção socrática, só uma resposta é possível: o homem é a sua alma, identificada com a razão, com a atividade humana pensante e eticamente operante. A alma é o elemento que identifica o eu consciente: é a própria consciência intelectual e moral.

9 Devido a isso, por ser a alma a essência do homem, compete a cada individuo e, de modo especial, aos educadores, fazer com que o escopo principal da vida seja a cura da própria alma. Pois, para Sócrates, "isto, vós o sabeis, é ordem do deus e estou persuadido de que exista para vós maior bem, na cidade, que esta minha obediência ao deus. Não faço outra coisa, em verdade, com este meu andar, senão persuadir a vós, jovens e velhos, que não deveis cuidar nem do corpo, nem das riquezas, nem de qualquer outra coisa antes e mais que da alma, para que ela se torne ótima e virtuosíssima, e que das riquezas não nasce virtude, mas da virtude nascem as riquezas e todas as outras coisas que são bens para os homens, tanto para os cidadãos individualmente como para o Estado".

10 A partir dessa exigência, a alma impele o homem ao ato de conhecer- se a si mesmo. O "conhece-te a ti mesmo" é o desejo incessante que pulsa na alma humana. Ao conhecer- se, ela descobre a sua própria natureza, aquilo que deve ser: boa e perfeita. Ou seja, ela, por essência, é virtuosa.

11 A virtude (areté), segundo Sócrates, é a "ciência" ou o "conhecimento". O vício, nesta perspectiva, então, só pode significar ignorância, privação do conhecimento. Esta tese incute uma consequência imediata: ninguém peca voluntariamente, o mal é praticado devido à ignorância, por falta de "ciência". O bem moral é reduzido ao ato do conhecimento.

12 A sabedoria, neste caso, é virtude. Ou, invertendo os termos, a virtude indica uma forma de conhecimento. A razão, assim, expressa a natureza do homem e as virtudes servem para aperfeiçoá-la, possibilitando plenamente a sua atuação. O conhecimento, por consequência, é inato. A alma pode se apossar da verdade, porque dela está "grávida". Basta a sua parturição. Ela vem à luz, à medida que é parida. Para tanto, o único método apropriado é a "maiêutica".

13 Diante do que foi explicitado, cabe a pergunta: Para a metafísica, hoje, qual é o valor da via socrática? Sabemos a fortiori que a visão socrática é redutiva, enquanto identifica razão e virtude, moral e conhecimento. Mas, ultrapassando o erro, denominado de "intelectualismo", no qual incorre, para a ótica metafísica, Sócrates desvela uma dimensão essencial da vida humana: a ética - a busca do sentido de "bem".

14 O valor ético, devido à sua fundamentação metafísica, está radicado na realidade, como propriedade inerente ao seu modo de ser, como expressão de sua tendência e fim, como revelação de sua bondade ontológica. Em virtude desta relação, é necessário associar o sentido de bondade ao de valor, pois, segundo a expressão escolástica - ratio boni, aquilo pelo que uma coisa é boa apresenta valor. As coisas são boas porque encarnam valores. Bondade e valor expressam a própria identidade ontológica, a "totalidade" substancial de cada ser particular. Por ser aquilo que é, por estar em conformidade com as propriedades que lhe são intrínsecas, cada realidade se expõe ao ato moral do respeito, sobretudo, o homem consciente de sua grandeza existencial.

15 A moral (o saber articulado através da vivência de valores a serem respeitados de modo absoluto) é, portanto, a primeira instância que se abre a nós para além da experiência, para além de tudo aquilo que se pode dizer e explicar com um discurso teórico. Isto significa que qualquer metafísica terá inevitavelmente um alcance prático, moral e político, a exemplo de Sócrates que tinha em vista formar bons cidadãos numa situação de crise política.

16 A importância da dimensão moral, para a qual nos desperta o pensamento socrático, ainda nos faz compreender: a.O saber está implícito no nosso modo de agir. Nós sempre exercitamos ou levamos à prática um saber que não somos capazes de explicar teoricamente. Não agimos às cegas, mas sabemos aquilo que estamos fazendo. Isto indica, segundo a tese socrática, que o vício, o erro, muitas vezes, são fruto da ignorância.

17 b.Existe, aliás, em nossa interioridade, um "saber inexprimível". O nosso saber não termina lá onde acaba a nossa possibilidade de discursar, pois possuímos algumas certezas que não estamos em grau de exprimi-las, que não conseguimos explicá-las ou justificá-las com o discurso lógico. Talvez, elas revelam o segredo de nossa intimidade, a inviolabilidade de nossa consciência como santuário indevassável.

18 c.Disso se apreende que:  - o sentido de verdade interior transcende a exterioridade objetiva dos fatos, dos acontecimentos;  - a relação entre foro interno e foro externo, praticamente, sempre é tensa e conflitiva;  - o significado da "consciência", para a vida moral, é de suma importância. Ela é a instância intermediária, o elo de ligação entre a instância normativa e a situacional. Justamente por isso, em nível propriamente prático e analítico, é possível que exista o erro na consciência, sem que esta perca sua dignidade e seu valor obrigatório. E o caso da consciência invencivelmente errônea.

19 d.A definição de "norma" tem que estar vinculada à ideia de valor. Na verdade, norma é a explicitação racionalizada do valor. É a sua formulação lógico- conceitual. De acordo com esta compreensão, é apenas uma mediação que não pode ser absolutizada, dado que o caráter de absoluto pertence ao valor.