Desafios contemporâneos da biblioteconomia: ativismo e pluralidade Carlos Alberto Ávila Araújo 40 Anos de Biblioteconomia na UFES Desafios contemporâneos.

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Desafios contemporâneos da biblioteconomia: ativismo e pluralidade Carlos Alberto Ávila Araújo 40 Anos de Biblioteconomia na UFES Desafios contemporâneos da biblioteconomia: ativismo e pluralidade 02 de setembro de 2014

Desafios contemporâneos da biblioteconomia: ativismo e pluralidade Carlos Alberto Ávila Araújo Três questões antes de começar... Estudo “Prospectiva 2020 – las diez áreas que más van a cambiar en nuestras bibliotecas en los próximos años”, elaborado pelo Conselho de Cooperação Bibliotecária da Espanha (dez/2013) – 10 itens 2) Incrementar a cooperação, ampliando o papel da biblioteca dentro e fora da instituição 5) Função de criar comunidades e igualdade de acesso Lankes, Nova Biblioteconomia: num mundo crescentemente fragmentado e digital, facilitar a criação de conhecimento nas comunidades Enebd 2014 Fortaleza: rolezinho na biblioteca?

Desafios contemporâneos da biblioteconomia: ativismo e pluralidade Carlos Alberto Ávila Araújo Iniciando o debate... As pessoas vêem sombras e as tomam por verdade Causa – não a natureza dos prisioneiros mas as CONDIÇÕES em que se encontram Correntes = crenças em que acreditamos sem questionar O mito da caverna Platão

Desafios contemporâneos da biblioteconomia: ativismo e pluralidade Carlos Alberto Ávila Araújo Qual a nossa realidade contemporânea (a nossa “caverna”)? Protestos 2013, estupros na Índia, violência contra mulheres, arquivos da ditadura, espionagem e escutas Big data, motores de busca e concentração, pessoas com aplicativos Geração multitarefa, aplicativos de encontros, sociabilidade, pirataria Burke: cada sociedade tem seus desafios (Báez livros, Silva arquivos, Bolaños museus) – outras realidades, outros conceitos Hoje: pós-modernidade, globalização, virtual, cibercultura, líquida, redes

Desafios contemporâneos da biblioteconomia: ativismo e pluralidade Carlos Alberto Ávila Araújo Acontecimento: “ruptura da normalidade, desencadeando sentidos e descortinando novas possibilidades” (França) Alarga o leque do possível, horizonte do que não foi pensado

Desafios contemporâneos da biblioteconomia: ativismo e pluralidade Carlos Alberto Ávila Araújo E o que tem sido feito no campo da informação? Shirky, “cultura da participação”, excedente cognitivo usado voluntariamente para cooperação; Lévy, “coletivo pensante”; Choo, “cultura da aprendizagem” Linux, colaboração de diversos países; Napster; Flickr (6 milhões de fotos) Wikipedia, 90 mil colaboradores, 14 milhões de artigos em 287 línguas TED, Ideas Worth Spreading (Clinton, Gates, Al Gore, etc); Ushahidi, Quênia Facebook, 76M de usuários só no Brasil YouTube, postagens e comentários, 1B de acessos/mês Avaaz.org, Amazon, ResearchGate, Scoob, Google Books, Dspace (Garcia, 2014)

Desafios contemporâneos da biblioteconomia: ativismo e pluralidade Carlos Alberto Ávila Araújo Quem são esses atores? Empresas comerciais – futuro (garantia institucional), integridade (vendas e usos) Caráter público da biblioteca Conceitos de cultura: tradicional, descritivo, semiótico e estrutural (Thompson, 1995) Uma aproximação aos campos de estudo: abordagens funcionalistas, representacionais, de públicos e críticos Um novo entendimento de cultura? Hall: campo de embate de significados “Esfera pública” (Habermas) e “banalidade do mal” (Arendt)

Desafios contemporâneos da biblioteconomia: ativismo e pluralidade Carlos Alberto Ávila Araújo E a Biblioteconomia? Diferentes “missões” ou “tarefas” ao longo do tempo Desafio de preservar e guardar Desafio de organizar, descrever, classificar Desafio de proporcionar acesso, “atender o cliente” Hoje: refletir sobre o que deve ser guardado, organizado e disponibilizado; promover a diversidade; garantir a atuação dos coletivos Quanto aos objetivos da ciência: técnicos, práticos, emancipatórios (Habermas)

Desafios contemporâneos da biblioteconomia: ativismo e pluralidade Carlos Alberto Ávila Araújo Shera, Sociological foundations of Librarianship Biblioteconomia é uma profissão a)Serviço para sociedade (professar = dedicação) b)Corpo de conhecimentos (teorias e práticas) Bibliotecário é um mediador, seu papel é MAXIMIZAR O USO dos registros de conhecimento Epistemologia social: estudo dos modos como uma sociedade lida com o conhecimento Estudo do conhecimento: interação entre conhecimento e atividade social (ou dinâmica social)

Desafios contemporâneos da biblioteconomia: ativismo e pluralidade Carlos Alberto Ávila Araújo Algumas implicações Papel não é só ser guardião (conhecer os documentos), organizador (conhecer os SCB), disseminador (referência, DSI) CI se esqueceu disso, tradição de Bush e Shannon Garfinkel, 1952, apontava um outro conceito de informação – pragmatismo Usar a linguagem é realizar uma ação e não descrever a realidade Não se trata de eliminar ruído, ter uma transmissão “perfeita” Nem preencher uma lacuna, quando a pessoa tem uma parada

Desafios contemporâneos da biblioteconomia: ativismo e pluralidade Carlos Alberto Ávila Araújo Insuficiência da lógica cumulativa e transmissiva Terminada a última guerra mundial foi encontrada, num campo de concentração nazista, a seguinte mensagem dirigida aos professores: “Prezado professor, Sou sobrevivente de um campo de concentração. Meus olhos testemunharam o que nenhum homem deveria ver. Câmaras de gás construídas por engenheiros formados. Crianças envenenadas por médicos diplomados. Recém-nascidos mortos por enfermeiras treinadas. Mulheres e bebês fuzilados e queimados por graduados de colégios e universidades. Assim, tenho minhas suspeitas sobre a educação. Meu pedido é: ajude seus alunos a tornarem-se humanos. Seus esforços nunca deverão produzir monstros treinados ou psicopatas hábeis. Ler, escrever e aritmética só são importante para fazer nossas crianças mais humanas”. Saber utilizar as tecnologias não é apenas um problema técnico.

Desafios contemporâneos da biblioteconomia: ativismo e pluralidade Carlos Alberto Ávila Araújo Insuficiência da lógica cumulativa e transmissiva “Como hoje em dia é extremamente limitada a possibilidade de mudar os pressupostos objetivos, isto é, sociais e políticos que geram tais acontecimentos, as tentativas de se contrapor à repetição de Auschwitz são impelidas necessariamente para o lado subjetivo (...) A educação tem sentido unicamente como educação dirigida a uma auto-reflexão crítica” (ADORNO, 1995, p. 121) “É necessário contrapor-se a uma tal ausência de consciência, é preciso evitar que as pessoas golpeiem para os lados em refletir a respeito de si próprias” (Idem)

Desafios contemporâneos da biblioteconomia: ativismo e pluralidade Carlos Alberto Ávila Araújo O argumento do “quarto chinês”- Searle

Desafios contemporâneos da biblioteconomia: ativismo e pluralidade Carlos Alberto Ávila Araújo Calvino, A memória do mundo “De fato, é nisso que trabalhamos, e podemos dizer que estamos bem adiantados: não só o conteúdo das mais importantes bibliotecas do mundo, dos arquivos e dos museus, das coleções anuais dos jornais de cada país já está nas nossas fichas perfuradas, mas também uma documentação recolhida ad hoc, pessoa por pessoa, lugar por lugar” (p. 118) “Se na memória do mundo não há nada a corrigir, a única coisa que resta fazer é corrigir a realidade ali onde ela não coincide com a memória do mundo” (p. 124)