O HOSPITAL HISTORIA E CRISE

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Transcrição da apresentação:

O HOSPITAL HISTORIA E CRISE Herval Pina Ribeiro

As missoes O hospital ja existia na Grecia e na Roma Antiga – templos religiosos serviam para abrigar pobres, velhos e enfermos. Idade Media – o hospital adquire novas missoes. Constantinopla (1136), Cairo (1283) e Bagda (equipe medica permanente e servia de escola). Imperio islamico – 34 hospitais dando atendimento religioso e socorrendo, gratuitamente, os doentes e morimbundos,

O mercantilismo Mudancas economicas e sociais, maior importancia conferida a municipalidades para resolucao de problemas comunitarios, interesse de subordinar o clero as autoridades civis – mudan;as nos hospitais do Ocidente. Com a criacao dos estados monarquicos, os hospitais vieram para a admnistracao publica. A partir dai O MEDICO se torna figura central. O medico representa o poder do estado e n’ao do clero – funcoes delegadas pela autoridade publica. Passa a ser competencia exclusiva sua – examinar, internar, prescrever e dar alta. Holanda (sec XVII) – o hospital torna-se, alem de campo das praticas medicas, instrumento de formacao e aperfeicoamento.

Mercantilismo Adensamentos urbanos e intensos movimentos portuarios – medidas sanitarias abrangentes. Leis e posturas de carater coletivas foram adotadas. Criados hospitais gerais e dispensarios. Nas colonias, os hospitais foram iniciativas da comunidade.

Cirurgioes e Clinicos Cirurgioes apoiados pelo estado (guerra) – construcao do hospital cientifico e moderno. Lugar para ensino e pesquisa medica. Missao de incorporar tecnologias. Halsted (1890) – luva cirurgica Inicio sec XX – raros hospitais tinham laboratorio clinico ou aparelhos de raio X.

Sec XX Hospital ainda como lugar de internacao de pobres doentes. Procedimentos terapeuticos, clinicos ou cirurgicos bastante limitados nas 4 primeiras decadas. A socializa;’ao do seu uso deveu-se ao aumento crescente das patologias de causa;’ao externa e violentas e ao adensamento urbano, consequencia doprocesso de industrializa;’ao.

Sec XX Perdeu as missoes de penitencia e misericordia da IM e tornou-se um lugar de tratamento e recuperacao, com a incorporacao do cientificismo da medicina a partir do sec XVIII. Somente na metade do sec XX com a producao industrial dos quimioterapicos e de equipamentos, adquire caracteristicas e missoes novas, proprias do hospital contemporaneo.

Sec XX Aspectos magicos e sacerdotais remanecem nesse hospital. Lidar com a vida e a morte suscita expectativas desconhecidas. A medicina adquiriu eficacia inimaginavel – pode coibir a dor, o sofrimento e a morte por meio do saber e da experiencia de sua equipe de tecnologos (n’ao mais da acao individual do medico). O hospital torna-se imprecind[ivel socialmente. miss’oes – adiar, tornar indolor e ocultar a morte. 1930-1950 – transferencia da morte para o hospital – processo tecnologico com intervencao medica

Hospital contemporaneo Aparelho formador de profissionais em permanente qualificacao, independentemente de ser, stricto senso, uma escola. Ao qualificar tecnicos, qualifica e avaliza tecnologias – produtos industriais, mercadorias. Local de venda de mercadorias, entre elas, o trabalho.

Hospital contemporaneo Ao lado da missao de recuperar a forca de trabalho e devolve-la ao mercado, o hospital reproduz o capital. O que assinala essa transicao e um salto tecnologico importante – a producao industrial da penicilina em 1941. O instrumento de trabalho, por excelencia, da medicina e o hospital (Goncalves, 1979)

Ao ser incorporado o cuidado medico ao custo de reproducao de forca de trabalho, a pratica medica se impoe, portanto a si, uma tarefa que inclui sempre uma dimensao de manipulacao de antagonismos sociais, e isso se revela sob diversar formas – em primeiro lugar, no proprio fato de ser incorporado o consumo de servicos medicos aquela reproducao, por onde transparece a legitimacao da atencao medica como capaz de dar conta das necessidades de saude, apesar das condicoes que geram essas necessidades/ em segundo lugar, de forma correlata, o consumo de servicos medicos vem substituir parcialmente o consumo de bens capazes de produzir saude, tanto no sentido de uso alternativo de recursos como no sentido de efetiva identificacao do cuidado medico como produtos de saude / em terceiro lugar, e, por consequencia, o consumo de servicos medicos reproduz o portador da necessidade medica como consumidor satisfeito, com o que corta os nexos entre as condicoes de vida e a transgressao das estruturas de normatividade/ em quarto lugar, finalmente, a medida em que pode substituir o consumo de outros bens, o consumo de cuidados medicos preserva o capital de uma elevacao direta de salarios, ja que esse consumo pode ser financiado diretamente por mecanismos socializadores de custos, que significa uma elevacao indireta de salarios (…) (Goncalves, 1979) R conta

Os trabalhadores Profissionais de saude – medicos, enfermeiros, pessoal dos servicos auxiliares de diagnostico e terapia (2/3) – mais especializacao e mais pessoal qualificado, tecnologias que requerem trabalho intensivo de custos crescentes. Pessoal de apoio admnistrativo e dos servicos de infra-estrutura – como na producao industrial esses setores estao tendo seu trabalho dividido, organizado, automatizado e terceirizado. Autoritarismo e hierarquia – militarismo (Foucault). Divisao de tarefas hospitalares – organizacao do trabalho no modo de producao capitalista.

A pratica medica Medicina interna (letrados) X Cirurgia (iletrados). Hospital – cooperacao dentro de uma divisao tecnica do trabalho. Superespecializacoes – resultado das inovacoes tecnologicas – tecnologo do detalhe. Essa medicina instrumentalizada e industrial trabalha ideologicamente o imaginario popular, induzindo-o a crenca de que toda doenca pode ser precocemente diagnosticada e tratada. Vai-se ao laboratorio clinico ou de diagnostico de imagem da mesma forma como se vai a famacia. Os especialistas tendem a definir as necessidades dos pacientes em termos do que eles proprios tem para oferecer. O paciente e da instituicao e a medicina e do capital.

Medicamentos Essas coisas que sao os medicamentos, sao estados organicos ou, mais precisamente, parte deles, for a do organismo. A pessoa que nao dorme naturalmente dorme com um medicamento, logo, o medicamento contem numa certa medida, o sono na sua formula ou a formula do sono. Ou dito de outro modo, o sonifero e o sono equacionado quimicamente, ou ainda, o sonifero e a expressao concreta da resolucao tecnologica do sono (Lefevre, 1991).

O doente e a doenca E sempre atraves do medico que a doenca passa a existir e o doente e aceito como tal, quem morre sem diagnostico morre de causa indeterminada.

O doente e a doenca Ao contrario do paciente de consultorio que mantem seu direito de opcao em aceitar ou nao o tratamento e desobedecer a prescricao, o doente acamado perde tudo. Sua vontade e aplastada, seus desejos coibidos, sua intimidade invadida, seu trabalho proscrito, seu mundo de relacoes rompido. Ele deixa de ser sujeito. E apenas objeto da pratica medico-hospitalar, suspensa sua individualidade, transformado em mais um caso a ser contabilizado.

O doente e a doenca Nao admira sua inseguranca agravada pelo processo forcado de infantilizacao e inducao a culpa. So um sentimento mais forte e responsavel por esse grau de submissao – o medo da morte. O hospital nao e apenas o lugar onde as pessoas se tratam e curam, e tambem onde se morre e onde, paradoxalmente, amorte e negada (Aries, 1988).

O doente e a doenca A dor, a doenca e a morte foram interditadas num pacto de costume, aprisionadas e privatizadas no espaco hospitalar sob novos codigos e formas de relacao. A mentira, a nao revelacao do real estado do doente, e o que rege o bom comportamento (Pitta, 1990).

A segregacao do hospital moderno Adoecer nessa sociedade e, consequentemente, deixar de produzir e, portanto, de ser, e vergonhoso, logo deve ser ocultado e excluido, ate porque dificulta que outros, familiares e amigos, tambem produzam (Pitta, 1990).