Até quando o trabalhador aguenta... SAUDE DO TRABALHADOR Até quando o trabalhador aguenta...

O que é saúde do Trabalhador? É uma área da saúde pública que tem como objeto de estudo e ação as relações entre o trabalho e a saúde e como objetivo a promoção e proteção do trabalhador, traduzidas por ações de vigilância nos ambientes e organização do trabalho. Além disso, organiza a prestação de serviços de assistência aos trabalhadores vitimados por agravos relacionados ao trabalho, a partir de procedimentos de diagnóstico, tratamento, notificação e reabilitação, de forma integrada ao SUS.

Assim entendida, a Saúde do Trabalhador aos poucos vem sendo incorporada às ações do Sistema Único de Saúde - SUS, desde a definição ampliada de saúde definida na Constituição de 1988 e Lei Orgânica da Saúde 8.080, de 1990.

Saúde Ocupacional (Medicina doTrabalho) Saúde do Trabalhador X Saúde Ocupacional (Medicina doTrabalho) “Modelos” essencialmente distintos e inconciliáveis na abordagem, na prática e na conformação adotada pelo modelo de desenvolvimento do país. Nesse contexto a Saúde Ocupacional é hegemônica.

Trajetória do Conceito Trabalho = Sofrimento Tripalium (palavra latina): Instrumento em tripé, formado por 3 estacas cravadas no chão, onde eram supliciados os escravos. Daí derivou-se o verbo ”tripaliare” que significava torturar (alguém no tripalium tres paus). Trajetória do Conceito Século 12: O termo se expandiu nas diversas línguas como: traball, traballo e trabalho (Português)

Antigo Testamento: Condenação / Trabalho de Parto Adão e Eva – Castigo: trabalho para sobrevivência x paraíso Renascimento: Labuta, atividade, exercício profissional Português moderno: Trabalhoso = cansativo, custoso, difícil. O que não é fácil = dá muito trabalho Dicionário Aurélio “Aplicação das forças e faculdades humanas para alcançar determinado fim” O trabalho e as mudanças dos Processos Produtivos A crise do capitalismo no início da década de 80 exige forte remodelação na administração das grandes empresas.

Cenário Atual e o Trabalho - Mudanças políticas, econômicas, sociais e tecnológicas levaram a transformações visíveis no cenário mundial - Reestruturação produtiva e suas consequências. Ex: Reengenharia, Qualidade Total, 5S, etc Rever, redesenhar processos de trabalho para aumentar o lucro Sutileza das formas de dominação Manipulação de valores como participação, colaboração,satisfação, tornam os trabalhadores permeáveis e inibe resistências. Linguagem da “empresa enxuta” - demissões Enfraquecimento dos sindicatos que passam a lutar pelo emprego O desempenho profissional é medido por indicadores de qualidade e produtividade A introdução da informática induz procedimentos padronizados

Contradições da modernidade - Flexibilidade da organização do trabalho e remuneração variável por produtividade. - O fenômeno da globalização cada vez mais se consolida e o trabalho mostra-se cada vez mais complexo, especializado e raro. - O crescimento da informalidade. - A terceirização, subcontratação, precarização = degradação do trabalho, produção de um novo proletariado - A aceleração - A desumanização - O COLABORADOR O mundo precisa urgentemente de um choque de humanidade: Leonardo Boff

A Saúde Mental neste atual contexto de trabalho: Para Sigmund Freud, “saúde mental é a capacidade de amar e trabalhar”. Estas são as duas grandes áreas na vida de um ser humano adulto: o amor, traduzido nos afetos, nos amigos, na família e no erotismo; e o trabalho, traduzido na profissão, no dinheiro, na classe social, na produção, no consumo, entre outros fatores. De forma ampla nada ficou de fora: amar e trabalhar resumem a vida adulta. Pelo amor reproduzimo-nos, pelo trabalho produzimos – produzir e reproduzir explicam a nossa existência” (SORATTO, 2004).

Por que a organização do trabalho adoece: - A organização do trabalho tem prioridade sobre o indivíduo. - A forma como se dá a organização não passa pela decisão ou opinião dos trabalhadores. Criatividade, inventividade e imaginação são embotadas. SOFRIMENTO x PRAZER - Perversidade da qual ninguém escapa

Por que os processos de trabalho adoecem: No processo de trabalho o homem põe em movimento a sua própria natureza, expressa na sua corporalidade: braços, mãos, pés, pernas e cabeça. Aquele que compra a força de trabalho consome esse movimento, na medida em que faz trabalhar aquele que a vende. Através de estratégias de “premiação” por produtividade coletiva a natureza humana é exaurida. - Os cargos intermediários se tornaram dispensáveis (controle de todos por todos).

Por que as relações de trabalho adoecem: Relações são vínculos que se estabelecem no trabalho.(quem trabalha e quem paga). A CLT define contrato como “acordo tácito ou expresso da relação de trabalho”. O contrato é uma espécie do “gênero relação”. Daí poder afirmar as sub-espécies contratuais: a empreitada, a locação de serviço, o trabalho avulso, o autônomo, o estagiário, o temporário, o subordinado, o trabalho em casa, etc.

Por que o ambiente de trabalho adoece: Acidentes de trabalho: estruturas, máquinas e equipamentos obsoletos no mesmo espaço físico e temporal em que avançadas tecnologias de informação, com vistas à produção e a comercialização, são inseridas. A convivência com riscos: físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e de acidentes graves fazem parte do cotidiano dos trabalhadores.

Consequências para a saúde: Limites do corpo Principais doenças: Ler / dort Transtornos mentais Intoxicações exógenas Dermatoses Pneumopatias PAIR Câncer Problemas hematológicos Acidentes de trabalho

Trajetória do Trabalhador adoecido- O adoecimento: Exigências de produção; Pressão exacerbada para cumprimento de metas; Competitividade entre os trabalhadores; Ausência de medidas protetivas; Precariedade das condições de trabalho; Dificuldade de assimilar as mudanças nos processos de trabalho; Dificuldades de adaptação a novas tecnologias; Desinformação sobre os riscos presentes no ambiente e processos de trabalho; Falta de informação sobre os direitos; Serviços de Medicina do Trabalho com foco no controle para a produção.

Surgimento dos primeiros sintomas do adoecimento; Queda da produção; Maximização do esforço físico e emocional para atender as exigências da empresa; Medo de perder o emprego; Automedicação como solução paliativa; Manifestações sintomáticas inespecíficas; Dificuldades de acesso à rede pública de saúde; Questões culturais que levam à negação do sofrimento;

A Incapacidade: Afastamento do trabalho para tratamento; Doença em estágio avançado; Tratamentos ineficazes; Agravamento do quadro clínico; Desencadeamento de reações psicoafetivas; Negação do nexo causal pela empresa; Dificuldades impostas pela burocracia e morosidade institucionais; Perda de direitos.

O retorno ao trabalho: Retorno para a mesma função ou para atividades incompatíveis com a doença / limitação; Discriminação por parte de colegas e de chefias - estigmatização; Agressão, assédio moral; Exigência de produção; Pressão imposta para pedido de demissão; Medo da demissão; Sofrimento pela impossibilidade de conseguir outro emprego.

A Incapacidade definitiva: Sequelas limitantes; Incapacidade de reinserção no mercado de trabalho; Dramas pessoais, familiares e sociais impostos por questões culturais; Sensação de inutilidade; Sofrimento físico e emocional; Aposentadoria precoce por invalidez.

Até quando o trabalhador aguenta???

Um homem se humilha Se castram seu sonho Seu sonho é sua vida E vida é trabalho... E sem o seu trabalho O homem não tem honra E sem a sua honra Se morre, se mata... (Um homem também chora.) Gonzaguinha

Consolidação das Leis do Trabalho-CLT Iniciação ao Direito doTrabalho-SP,LTr,1984,10ª ed. pag.80 Russomano, Mozart Victor, Direito do Trabalho, 7ª ed. Pag. 60 Ministério da Saúde: Doenças Relacionadas ao Trabalho- Brasília, 2001 Antunes,R, 1995.Adeus ao Trabalho? 3ª ed.,SP/Campinas:Cortez Ed. UEC Laurell, A.C. Noriega, M.,1989. Processo de Produção e Saúde: Trabalho e Desgaste Operário. São Paulo:Hucitec