ARQUIVOS MÉDICOS COMO FONTE PARA PESQUISA: a importância dos prontuários e dos arquivos médicos para os Registros de Câncer.

Slides:



Advertisements
Apresentações semelhantes
Dr. Stephen Doral Stefani
Advertisements

CENÁRIO DO CÂNCER - MORTALIDADE ESTADUAL - ESTADO DE MINAS GERAIS
NO CONTEXTO DA POLÍTICA NACIONAL DE CONTROLE DO CÂNCER
Cancer Burden in the year The global picture
Indicadores epidemiológicos
Dr. Luiz Antonio Santini Diretor Geral do INCA
Linhas de Conduta em Atenção Básica – Controle dos Cânceres do Colo do Útero e da Mama Novembro 2005.
Estudo de coorte retrospectivo
Atenção ao Câncer do Colo do Útero
EPIDEMIOLOGIA DESCRITIVA
Indicadores Epidemiológicos
Etimologia do vocábulo - EPIDEMIOLOGIA
Métodos de Investigação Epidemiológica em Doenças Transmissíveis
EPIDEMIOLOGIA DA TUBERCULOSE EM ARACAJU/SE NO PERÍODO DE 1984 A 2006
MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DAS AÇÕES NO CONTROLE DA TUBERCULOSE - TDO
Estudos longitudinais
Epidemiologia e Saúde Ambiental
Mortalidade materna em adolescentes: epidemiologia e prevenção
Estudos de Caso-Controle
Estudo caso-controle Hjm jul-2001.
CÂNCER DE COLO DO ÚTERO RODRIGO CÉSAR BERBEL.
Profa. Dra. NAZIRA MAHAYRI
PLANO DE ENFRENTAMENTO DAS DCNT DE PALMAS-TO
INDICADORES DE SAÚDE.
Indicadores hospitalares - usos e abusos
TIPOS DE UNIDADE Reginalda Maciel.
Hepatites Virais em Florianópolis
PROCESSO SAÚDE DOENÇA 20 BIMESTRE AULA 1 CLÁUDIA HAGGI FAVERO
Disciplina de Epidemiologia I Faculdade de Saúde Pública da USP
MEDIDAS DE SAÚDE COLETIVA
Disciplina de Epidemiologia I Faculdade de Saúde Pública da USP
Viviane Rodrigues Graner Carolina Novoa Fernandes
Vigilância Epidemiológica do Câncer e de seus Fatores FUNASA Universidade Federal Fluminense Instituto de Saúde da Comunidade Departamento de Epidemiologia.
EPIDEMIOLOGIA EM SERVIÇOS DE SAÚDE: CONCEITOS, INSTRUMENTOS E MODOS DE FAZER Lorene Pinto Setembro 2009.
SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE PÚBLICA COORDENADORIA DE PROMOÇÃO À SAÚDE SUBCOORDENADORIA DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA PROGRAMA ESTADUAL DE CONTROLE DO.
Controle das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) - II
Epidemiologia de Medicamentos – Mortalidade e Morbidade
1 “CÂNCER E EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL NO SETOR MADEIREIRO, NA REGIÃO NORTE DO BRASIL” AUTORES Profª MSc. Silvia Helena Arias Bahia. Profª Drª Inês Echênique.
Câncer no Brasil - Dados dos Registros de Base Populacional Volume IV
EPIDEMIOLOGIA CLÍNICA ESTUDO CASO CONTROLE Departamento de Enfermagem Disciplina: Epidemiologia Clínica Professora: Dra Dulce Aparecida Barbosa Alunos:
CONCEITOS PARA ELABORAÇÃO DE INDICADORES DE SAÚDE
A Oncologia Pediátrica no Brasil
EQUIPE Professor Jefferson Traebert (UNISUL)
Disciplina de Epidemiologia I Faculdade de Saúde Pública da USP
Conceitos Aplicações Abordagem descritiva
Principais tipos de estudo descritivos
Mas como medir a saúde da população?
ESTATÍSTICA NA PRÁTICA DOS SERVIÇOS DE SAÚDE
Autores: Lília Paula de Souza Santos Fábio Silva de Carvalho
Economia e Gestão da Saúde (ECO059)
Seminário Preparatório da Conferência Mundial sobre Determinantes Sociais da Saúde 5 de agosto de 2011.
Vigilância Epidemiológica
Risco Edina Mariko Koga da Silva Universidade Federal de São Paulo
Resumo – principais tipos de estudo
Principais delineamentos de estudos epidemiológicos
Ciências Naturais 9.º ano
Profª Enfª Adriana Cristina Hillesheim
Medida da Saúde Coletiva Prof. Claudia Curbani V. Manola.
Medida da Saúde Coletiva 2 Prof. Claudia Curbani V. Manola.
Profª Enfª Adriana Cristina Hillesheim EPIDEMIOLOGIA APLICADA ÀS EMERGÊNCIAS INDICADORES DE SAÚDE.
ESTUDOS DE COORTE E CASO-CONTROLE
Hiperdia Tarsila Cunha.
Universidade do Estado do Rio de Janeiro Faculdade de Ciências Médicas Liga de Oncologia Alimentando Saúde Uma alimentação saudável deve ser: Variada:
EPIDEMIOLOGIA MEDIDAS DE SAÚDE COLETIVA MÔNICA FONSECA 2014.
Projeto de Pesquisa* Análise do comportamento da mortalidade por doenças crônicas não transmissíveis para o Brasil e regiões, com base em métodos de estimativas.
PRÁTICAS DO AMBULATÓRIO DE ONCOLOGIA DO MUNICÍPIO DE ARARANGUÁ-SC NA DETECÇÃO PRECOCE DO CÂNCER DE MAMA: Ciências Biológicas / Ciências Médicas e da Saúde.
ESTUDO DE COORTE -Estudos observacionais - a situação dos participantes quanto à exposição determina sua seleção para o estudo ou sua classificação após.
RASTREIOS DE MASSA (SCREENING). EXAME ESPECÍFICO DOS MEMBROS DE UMA POPULAÇÃO, DESTINADO A IDENTIFICAR OS FACTORES DE RISCO OU DOENÇA NUMA FASE PRÉ- SINTOMÁTICA.
Vigilância Epidemiológica e Farmacoepidemiologia no Brasil.
VIÉS. VIÉS Distorção dos resultados de uma pesquisa em decorrência de erros sistemáticos (não aleatórios).
Transcrição da apresentação:

ARQUIVOS MÉDICOS COMO FONTE PARA PESQUISA: a importância dos prontuários e dos arquivos médicos para os Registros de Câncer

As neoplasias malignas devido a sua elevada incidência e mortalidade e o aumento da esperança de vida ao nascer constituem-se, atualmente, em um dos mais importantes problemas de Saúde Pública, não só, no Brasil, como também, em outros países nos cinco continentes.

O primeiro censo sobre câncer foi realizado em 1728 em Londres, sem sucesso. Durante mais de um século, várias tentativas para estabelecerem-se estatísticas de mortalidade e morbidade comparáveis e confiáveis foram falhas, e poucos conhecimentos concretos foram incorporados até o final do século XIX.

Somente em 1929, na Alemanha, formou-se a base para o primeiro Registro de Câncer como conhecemos hoje. Três enfermeiras visitavam os hospitais e as clínicas dos médicos de Hamburgo em intervalos regulares de tempo. Elas anotavam os nomes dos pacientes que eram casos novos de câncer e transferiam os dados para um arquivo central, localizado no departamento de saúde de Hamburgo. O arquivo de dados era comparado uma vez por semana com os atestados de óbitos.

O Registro de Câncer de Hamburgo foi o primeiro exemplo de um Registro de Câncer moderno, onde a idéia de que o controle do câncer não envolve somente, aspectos científicos e médicos, mas também, aspectos de planejamento em Saúde Pública, a curto, médio e longo prazo.

De maneira geral, pode-se entender um Registro de Câncer, seja hospitalar ou de base populacional, como: um serviço permanente, que coleta de forma padronizada e sistemática dados, analisa, mantém e divulga informações consolidadas sobre neoplasias malignas das pessoas que tiveram algum tipo de câncer durante a vida.

OBJETIVOS E FUNÇÕES Em outras palavras, um Registro de Câncer, coleta dados e produz informação para subsidiar a ação dos profissionais e autoridades em saúde: no planejamento estratégico, seja em nível hospitalar, ou na população geral, para a detecção precoce, o controle e a prevenção de cânceres dos mais variados tipos, em todas as idades e nas mais diferentes comunidades

1. o número de pacientes portadores de neoplasias malignas, Assim, um Registro de Câncer, trabalha na coleta sistemática e padronizada de dados dos prontuários e dos arquivos médicos, de tal forma que permite conhecer: 1. o número de pacientes portadores de neoplasias malignas, 2. sua distribuição por faixa etária, 3. sexo, 4. local de nascimento, 5. local de residência, 6. extensão da doença, 7. qualidade do diagnóstico, 8. avaliação das diferentes modalidades de tratamento e da sobrevida, entre outros.

Registros de Câncer podem ser diferenciados em: Registro de Câncer de Base Populacional Registro Hospitalar de Câncer Registro Especial de Câncer

Um Registro de Câncer de Base Populacional (RCBP) coleta os casos novos de câncer, ano a ano, de uma população específica em uma área geográfica delimitada, por localização primária e comportamento do tumor, arquiva, processa, analisa as informações e divulga os dados consolidados para os profissionais da saúde.

Os Registros de Câncer de Base Populacional avaliam o impacto que o câncer causa em uma determinada população, através de vários procedimentos estatísticos como: o cálculo da incidência, da mortalidade, das estimativas, do estudo das série temporais, da análise de sobrevida, do georeferrenciamento, entre outros.

CASOS NOVOS DE CÂNCER ESTIMADOS PARA 2000 CANCER Burden in the year 2000.The global picture D.M.Parkin,F.I.Bray,S.S.Devesa European Journal of Cancer 37 (2001)S4-S66 CANCER Burden in the year 2000.The global picture D.M.Parkin,F.I.Bray,S.S.Devesa European Journal of Cancer 37 (2001)S4-S66

MORTES ESTIMADAS POR CÂNCER PARA 2000 CANCER Burden in the year 2000.The global picture D.M.Parkin,F.I.Bray,S.S.Devesa European Journal of Cancer 37 (2001)S4-S66

ESTIMATIVA DA PREVALÊNCIA DE CÂNCER ( % ANO) PARA AMBOS OS SEXOS PARA 2000 CANCER Burden in the year 2000.The global picture D.M.Parkin,F.I.Bray,S.S.Devesa European Journal of Cancer 37 (2001)S4-S66

NÚMERO DE CASOS NOVOS E PREVALÊNCIA DE CINCO ANOS PARA OS QUINZE CÂNCERES MAIS FREQUENTES

INCIDÊNCIA DE CÂNCER DE CÓLON E RETO PADRONIZADA POR IDADE PARA O SEXO MASCULINO

CÂNCER DE PRÓSTATA INCIDÊNCIA E MORTALIDADE EM BRANCOS E NEGROS NO PERÍODO DE 1973 A 1997

INCIDÊNCIA DE CÂNCER DE COLO DO ÚTERO

INCIDÊNCIA DE CÂNCER DE MAMA FEMININA

INCIDÊNCIA DE CÂNCER DE ESTÔMAGO PARA O SEXO MASCULINO

INCIDÊNCIA DE CÂNCER DE PULMÃO PARA O SEXO FEMININO

INCIDÊNCIA DE CÂNCER DE PRÓSTATA

REGISTRO DE CÂNCER DE BASE POPULACIONAL Os RCBPs permitem detectar na população: 1. quais fatores ambientais podem estar relacionados e influenciar na prevalência das neoplasias malignas, 2. quais grupos étnicos são mais afetados, 3. quais os setores da área de cobertura do Registro de Câncer tem maior incidência de neoplasias, 4. quais as tendências da incidência e mudanças no comportamento de alguns cânceres ao longo do tempo, entre outros.

As informações obtidas pelos RCBPs auxiliam na determinação da necessidade de campanhas junto a população para a detecção precoce e prevenção de câncer, como também na avaliação de novas técnicas diagnósticas e pesquisas epidemiológicas (como, por exemplo, estudos de coorte, entre outros).

ESTUDO DE COORTE

ADAMI, J. et al. Int J Cancer, 1999; 80(5):641-5. SUNLIGHT AND NON-HODGKIN'S LYMPHOMA: A POPULATION-BASED COHORT STUDY IN SWEDEN. ADAMI, J. et al. Int J Cancer, 1999; 80(5):641-5. Estudo de coorte nacional (4.171.175 indivíduos; 69.639.237 pessoas-ano). Exposição: trabalho sob luz solar avaliado a partir dos títulos das ocupações referidas no censo. Follow-up da incidência de câncer através do Registro de Câncer da Suécia, ou seja, 10.381 casos de Linfoma não Hodgkin (LNH). Neste estudo, a exposição ocupacional a luz solar não esteve associada com LNH. O tipo de ocupação não foi um índice adequado para a dose biologicamente relevante de luz ultravioleta (UV). Os dados de exposição individual não foram consistentes para avaliação do papel da luz solar com fator relacionado com o surgimento dos Linfomas não Hodgkin.

REGISTRO HOSPITALAR DE CÂNCER Um Registro Hospitalar de Câncer coleta, arquiva e processa os dados de todos os pacientes atendidos no hospital com diagnóstico confirmado de câncer. O Registro Hospitalar de Câncer reflete o desempenho do corpo clínico em relação à assistência prestada aos pacientes, através da avaliação de protocolos terapêuticos e da análise de sobrevida dos pacientes para determinados tipos de cânceres.

As informações do Registro Hospitalar de Câncer são utilizadas na administração do hospital para o dimensionamento da quantidade de profissionais necessários, para a compra de equipamentos e suprimentos, entre outros. E como fonte de dados para pesquisas científicas (como, por exemplo, os estudos de caso-controle, entre outros).

ESTUDO CASO-CONTROLE

Profissionais de Ciências Sociais (OR = 6.1; 1.5, 26.1); AN ANALYSIS OF OCCUPATIONAL RISKS FOR BRAIN CANCER. BROWNSON, et al. Am J Public Health, 1990;80(20):169-72. Estudo de caso-controle (312 casos e 1.248 controles com câncer) identificados no Registro de Câncer do Missouri, de 1984 a 1988.  A classificação da exposição foi baseada nos dados dos prontuários de hospitais. Engenheiros (OR = 2.1; 0.4, 10.3); Profissionais de Ciências Sociais (OR = 6.1; 1.5, 26.1); Gráficos (OR = 2.8; 1.0, 8.3)

MULTIPLE MYELOMA AND WORK IN AGRICULTURE: RESULTS OF A CASE-CONTROL STUDY IN FORLI, ITALY. NANNI et al. Cancer Causes Control, 1998;9(3):277-83. Estudo de caso-controle: Avaliação da relação entre exposição a pesticidas e mieloma múltiplo.  46 casos identificados através do Registro de Câncer de Romagna (1987-90) e 230 controles da população geral (entrevistas).  Foi observado o aumento de risco para mieloma múltiplo entre trabalhadores do cultivo de maçã e pêra (OR = 1,75, CI = 1,05-2,91).

AVAILABILITY AND QUALITY OF INDUSTRY AND OCCUPATION INFORMATION IN THE MASSACHUSETTS CANCER REGISTRY. LEVY, J.; BROOKS, D.; DAVIS, L. Am J Ind Med, 2001;40(1):98-106. A qualidade dos dados da atividade ocupacional em geral é imprecisa e/ou incompleta. A revisão de 1.020 prontuários de casos do Registro de Câncer de Massachusetts, comparando-se a informação da revisão com aquela da rotina de notificação, observou-se, através das informações adicionais nas seções do prontuário que não da folha de rosto, um aumento da percentagem de informação codificável de 63,6 para 80,4% e mais detalhes dos códigos existentes em 15,4% dos casos.

QUALIDADE DA INFORMAÇÃO A qualidade da informação sobre a ocupação nos prontuários dos doentes em geral é imprecisa e incompleta. Em grande parte dos casos, esta informação se refere à última ocupação exercida, e não reflete a história de exposição ocupacional prévia. Além disso, não raramente são assinaladas com expressões como: “aposentado”, freqüente em função da faixa etária dos indivíduos acometidos por câncer, “servidor público”, “industriário”, entre outras, que não dão indicação nem ao menos da última ocupação/exposição do trabalhador.

REGISTRO ESPECIAL DE CÂNCER Um REGISTRO ESPECIAL DE CÂNCER coleta dados de todos os pacientes atendidos no hospital com diagnóstico confirmado de determinado tipo de neoplasia, como por exemplo: * o registro de leucemias e linfomas, * o registro de cânceres gastro-intestinais, * o registro de câncer infantil, e outros. Ou, outras neoplasias de interesse, por serem menos freqüentes na população, sendo necessário o acúmulo de uma grande quantidade de casos, ao longo do tempo com o objetivo de minimizar as flutuações randômicas dos números nos estudos e pesquisas científicas.

Os dados do REGISTRO ESPECIAL DE CÂNCER podem ser utilizados em várias situações, como: na pesquisa etiológica, no levantamento de fatores de risco, e assim, na prevenção primária, na secundária e de muitas outras formas, beneficiando, tanto o indivíduo quanto a sociedade.

Qualidade e Controle de Qualidade das Informações em Câncer É a qualidade dos dados coletados nos prontuários pelos registradores de câncer que garante a qualidade das informações em câncer. A qualidade das informações originadas pelos Registros de Câncer depende, necessariamente, da qualidade dos dados dos prontuários, da representatividade e regularidade das informações coletadas, da atualidade destas, da utilização de critérios padronizados pelos técnicos dos Registros, e da participação de pessoas e instituições relevantes nos processos de vigilância epidemiológica.