AVANÇOS E DESAFIOS DO USO DA ÁGUA DE CHUVA NO SETOR RURAL.

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Transcrição da apresentação:

AVANÇOS E DESAFIOS DO USO DA ÁGUA DE CHUVA NO SETOR RURAL. Mesa redonda 2: GESTÃO INTEGRADA DA ÁGUA DE CHUVA NO SETOR RURAL AVANÇOS E DESAFIOS DO USO DA ÁGUA DE CHUVA NO SETOR RURAL.   Cícero Onofre de Andrade Neto

Revista Brasileira de Saneamento e Meio Ambiente, Ano XVII Nº 51, abr/jun 2009

Prudência ao mostrar as dificuldades e desafios e criticar os avanços no uso da água de chuva em nossa realidade atual, porque o pior seria se nada estivesse sendo feito. A nossa história de esforço em busca do acesso universal à água de boa qualidade no meio rural, de forma socialmente justa, ainda é recente, e a difusão do conhecimento tecnológico e das questões sanitárias ainda é muito deficiente. Contudo os avanços na última década são elogiáveis e, portanto, é necessário avançar nas questões tecnológicas, mas sem interromper as ações e sem perder as conquistas das diretrizes políticas, mantendo o foco no interesse social difuso.

Avanços Cisternas para captar e armazenar água de chuva: há milênios em diversas regiões do mundo, há séculos no Brasil, somente ha décadas é que a população rural pobre teve acesso.

Até 02/08/2012: foram construídas 503 Até 02/08/2012: foram construídas 503.474 cisternas no Brasil com financiamento do MDS. (www.mds.gov.br/segurancaalimentar/acessoaagua/cisternas/ ). no âmbito do Programa 1 Milão de Cisternas, foram construídas 385.047 cisternas rurais. (www.asabrasil.org.br,)   Alguns avanços elogiáveis do P1MC e do P1+2: as diretrizes políticas, voltadas para o retorno social dos investimentos, o fortalecimento da economia local, a valorização da cidadania e a participação efetiva da sociedade civil organizada e do povo; os esforços de formação e mobilização social da população rural para o uso racional da água de chuva (embora carecendo de melhor fundamentação técnico-científica); entre outros aspectos sociais e políticos. Elogiável também os avanços na gestão dos programas, e a implantação do SIG Cisternas.

Desafios Além de consolidar as ações atuais em arranjo institucional mais bem definido para suportar políticas permanentes de aproveitamento e uso racional da água de chuva, mantendo as diretrizes políticas voltadas para a rentabilidade social, acelerar o andamento de implantação para ampliar a cobertura e fixar metas mais ambiciosas, é necessário adequar e desenvolver a tecnologia, aperfeiçoar a transmissão de conhecimento (educação sanitária e ambiental) com base em informações mais bem fundamentadas, e assegurar a qualidade da água, mantendo o marco cultural pelo qual cisterna no meio rural é para água de boa qualidade.

Problemas tecnológicos: 1) usa a mesma tecnologia de construção de cisternas sem questionar suficientemente; 2) adota o mesmo volume para as cisternas em todas as situações, sem considerar o regime pluviométrico local, o numero de pessoas nem a área de captação; 3) não está fazendo, nem divulgando, a correta proteção sanitária (barreiras sanitárias físicas e culturais) da água e não tem dado a devida importância ao uso do tanque de descarte do primeiro milímetro de cada chuva, nem da bomba, na ingênua pretensão de garantir a qualidade da água apenas mediante desinfecção com cloro.

Aspectos construtivos

Dimensionamento do reservatório Função de: Área de captação Regime pluviométrico Perdas na captação Número de pessoas Consumo por pessoa Podem ser estabelecidas tipologias

Proteção sanitária Depende do risco O risco depende, principalmente: das condições de uso (público ou familiar); das condições da superfície de captação (material, situação, facilidade de limpeza, etc); da exposição a contaminantes (localização: rural ou urbana, isolada ou exposta); das condições epidemiológicas da região (doenças endêmicas, higidez ambiental, risco de surto, etc); e da operação e manutenção do sistema. educação sanitária; barreiras sanitárias: descarte das primeiras águas; tomada d’água por tubulação; outras medidas de proteção.

A contaminação atmosférica da água das chuvas normalmente é limitada a zonas urbanas e industriais fortemente poluídas e, mesmo nestes locais, a água de chuva quase sempre tem uma boa qualidade química (dureza, salinidade, alcalinidade, etc) para vários usos, inclusive para diluir águas duras ou salobras. Ademais, após os primeiros minutos de precipitação geralmente a qualidade melhora muito. Na maioria dos locais do mundo, especialmente em áreas rurais, pequenas cidades e bairros de cidades maiores os níveis de poluição e contaminação da atmosfera são baixos e não atingem concentrações capazes de comprometer significativamente a qualidade da água das chuvas, que é a água natural disponível no local de melhor qualidade, salvo raras exceções. Mas sempre há partículas em suspensão no ar, inclusive micróbios, que também sedimentam na superfície de captação

MELO, Luciano R C; ANDRADE NETO, Cícero O de MELO, Luciano R C; ANDRADE NETO, Cícero O de. Um Amostrador Automático Simples para Avaliação da Qualidade da Água de Chuva e para Avaliação Preliminar da Qualidade do Ar. In XXXI Congreso Interamericano de Ingeniería Sanitaria y Ambiental - AIDIS. Santiago, Chile, 12 a 15 de outubro de 2008. Anais ... Santiago: AIDIS, 2008 UFRN

ANDRADE NETO, Cícero O de. Proteção Sanitária das Cisternas Rurais ANDRADE NETO, Cícero O de. Proteção Sanitária das Cisternas Rurais. In: XI SIMPÓSIO LUSO-BARSILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL. 2004, Natal, Brasil. Anais ... Natal: ABES/APESB/APRH. 2004

UFRN - Laboratório de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental.

7º Simpósio Brasileiro de Captação e Manejo de Água de Chuva (2009) Autores: Marina Boldo Lisboa; Marcio Andrade; Henrique de Melo Lisboa

Além da educação sanitária para o correto uso da cisterna, a proteção sanitária da qualidade da água requer basicamente aperfeiçoar os dispositivos de descarte das primeiras águas de cada chuva, a avaliação das novas bombas manuais disponíveis, e sua aplicação. A segurança sanitária de sistemas de captação de água de chuva em cisternas depende da educação sanitária dos usuários e do manejo seguro, mas também depende de um projeto adequado, inspeção regular e manutenção do sistema. Um projeto (desenho do sistema) adequado, que incorpora barreiras físicas de proteção sanitária, e uma boa operação e manutenção, constituem o que há de mais simples e eficaz para proteção da qualidade da água de cisternas. O projeto adequado deve incluir como barreiras físicas de proteção sanitária: um dispositivo para desviar automaticamente as primeiras águas de cada chuva para descarte; cobertura da cisterna que impeça o contato de pessoas, animais e objetos com a água armazenada, e também evite a entrada de insetos e luz; extravasor e ventilação para propiciar a reoxigenação da água; e retirada da água por tubulação (obrigatória em sistemas coletivos). Embora outras medidas de proteção sanitária de cisternas sejam também importantes, sem dúvida os dispositivos automáticos que desviam as primeiras águas de cada chuva para descartar as águas que lavam a atmosfera e a superfície de captação constituem a barreira física mais eficiente. Mas o descarte do primeiro milímetro (um e meio, dois ou três, dependendo do risco) de cada chuva não deve ser confundido com a prática de descartar as águas da primeira chuva do período chuvoso, que também é aconselhável, porque carreiam sujeira acumulada por muito tempo e para excluí-la o desvio de apenas um milímetro de chuva não é suficiente.

Aspectos culturais Além do necessário avanço na transmissão de conhecimentos mais bem fundamentados, há que se ter mais atenção com a séria questão do uso das cisternas como reservatório de água de carros-pipa de procedência duvidosa. O Projeto Cisterna (UFCG, UFPE, UEPB e UFRPE como executoras, e mais o consultor da UFRN) e a EMBRAPA (CPATSA semi-árido), constatou o desvirtuamento cultural ao qual as cisternas estão expostas, porque há séculos “percebidas” na cultura popular como reservatório próprio para captar e armazenar água de chuva, de boa qualidade, ao serem utilizadas indiscriminadamente para armazenar água de carro pipa proveniente de fontes de água não potável, a cisterna passa a ser “entendida” e “percebida” como um  reservatório de água de qualidade duvidosa. O Projeto também comprovou a efetividade das barreiras sanitárias e a inclusão cultural da importância das mesmas, mostrando que é possível criar essas barreiras tecnológicas e de manejo, acessíveis às populações rurais. Estes resultados precisam ser expostos e divulgados em todos os níveis e instancias das ações voltadas para a construção de cisternas e aproveitamento da água de chuva, e transmitidos de forma competente para o saber popular.

É necessária uma mudança (evolução) cultural É necessária uma mudança (evolução) cultural. Cisterna não é uma tecnologia “atrasada”, “de país pobre”, “pra coisa pequena”. Ao contrário, apesar de milenar continua moderna, quando incorpora novos conceitos, materiais, técnicas construtivas, segurança sanitária e melhor aproveitamento. Ademais, é uma tecnologia ecologicamente sustentável e de aplicação difusa socialmente justa. Há um amplo conhecimento tecnológico internacional e nacional que deve ser utilizado de forma mais competente, sobretudo para maximizar a relação benefício/custo e aumentar a segurança sanitária das cisternas.

Os avanços dos últimos dez anos em construção de cisternas rurais no Brasil são elogiáveis, mas já esta passando da hora de discutir de forma competente as questões tecnológicas, envolvendo a academia, outros setores e o saber popular . Sair por aí “carimbando” cisternas com o mesmo volume e a mesma técnica construtiva em todas as situações e, o que é mais importante, sem proteção sanitária adequada, não é o melhor que poderia estar sendo feito.   Porem, há que se avançar no desenvolvimento e adequação da tecnologia, e manter ou acelerar o ritmo das ações, mas sem perder as diretrizes políticas conquistadas, voltadas para a justiça social e a cidadania. Este é o grande desafio

Cícero Onofre de Andrade Neto Universidade Federal do Rio Grande do Norte Departamento de Engenharia Civil Programa de Pós Graduação em Engenharia Sanitária LARHISA - Laboratório de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental cicero@ct.ufrn.br 55 (84) 3215 3775 Ramal 203