Vanda Valle de Figueiredo “O espetáculo da violência e a cena inconsciente” Vanda Valle de Figueiredo
A mídia como objeto de estudo Participa da construção das representações sociais, crenças, percepções, juízos e valores de uma população Possui uma função pragmática orientadora de condutas Pode despertar interesse do público para qualquer tipo de assunto/conteúdo Faz espetáculo da violência e alimenta a cultura do medo Desempenha um papel capital nas campanhas eleitorais Interfere no comportamento de crianças e adolescentes, principalmente nos aspectos sexual, alimentar, social, do uso de álcool e outras drogas. Pode transformar qualquer coisa em objeto de consumo.
A sociedade do espetáculo “Espetáculo” não é algo que se limita à difusão um conjunto de imagens, mas diz respeito a uma relação social entre as pessoas, midiatizada por imagens, e que se encontra estreitamente ligada ao consumo. Guy Debord, 1967
O quê alimenta a dimensão do “espetáculo” na mídia? O espetáculo na mídia se sustentaria a partir da atitude de um público “consumidor” que o retroalimenta? Qual seria essa atitude do público?
Os crimes atentamente acompanhados pela opinião pública, que chamam a atenção pelo excesso de crueza com que foram cometidos e com que são exibidos na imprensa, na internet, na televisão, fazem apelo ao espetáculo.
Como o público “participa” do espetáculo criado em torno do crime? “E nós, o público, tal como o coro da tragédia antiga, acompanhamos, impotentes e emocionados, a progressão do drama, a ela assistimos até o desfecho. Nos posicionamos, sentados em nossa poltrona de espectadores, a acompanhar ansiosamente os progressos da investigação pela televisão.” Susini, 2006
Haveria uma relação entra a cena da mídia e a cena inconsciente? Para a psicanálise faz sentido analisar a cena da mídia mediante o que denominamos como “a outra cena” ou a cena inconsciente. Porque as cenas dos crimes bárbaros, da exibição do terror e da tragédia tocam exatamente num ponto da nossa constituição subjetiva. Esse ponto permanece recalcado, fora da consciência. Nessa instância, inconsciente, permanecem as nossas tendências mais agressivas, que se tornam a fonte de nossa posição de espectadores do grotesco.
“Reflexões para os tempos de guerra e morte” “ A sociedade civilizada, que exige boa conduta e não se preocupa com a base pulsional dessa conduta... se permitiu o engano de tornar maximamente rigoroso o padrão moral, e assim forçou os seus membros a um alheamento ainda maior de sua disposição pulsional” Freud, 1915
Ética e Psicanálise A psicanálise reconhece que há uma crise ética contemporânea, crise no reconhecimento da Lei e portanto do limite ao gozo. A perda de gozo, a impossibilidade de uma satisfação plena da pulsão se dá pela entrada do sujeito na linguagem. Uma vez que a entrada na linguagem, por efeito da Lei, é a condição da participação dos sujeitos no laço social, o que o apelo contemporâneo ao gozo faz é dificultar nosso reconhecimento da Lei e de um desejo marcado pela falta.
Ética e Psicanálise A psicanálise poderia dizer que o compromisso do sujeito com seu desejo, a aceitação da falta, do conflito constitutivo de nossa condição e do saber inconsciente pelo qual o sujeito deve responsabilizar-se podem ter conseqüências éticas.
Obrigada. vanda@uvv.br