DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BUROCRÁTICA À GERENCIAL Luiz Carlos Bresser Pereira (1996) Clarissa Duarte 2009.

Slides:



Advertisements
Apresentações semelhantes
GESTÃO PÚBLICA E SEUS DIFERENTES MODELOS
Advertisements

O PROFISSIONAL DE GESTÃO DE PESSOAS
BUROCRACIA AMBIGÜIDADE DO TERMO:
Entidade da Administração Indireta; Instituída pelo Poder Público;
A administração pública gerencial: estratégia e estrutura para um novo Estado* Luiz Carlos Bresser Pereira** *Texto apresentado à Assembléia Geral Resumida.
JOÃO PAULO DOS REIS VELLOSO ENAP - MARÇO/2006
RESPONSABILIDADE SOCIAL
Curso de Especialização em Gestão Pública (Pós-graduação lato sensu)
Dilemas da burocracia no campo das políticas públicas: neutralidade, competição ou engajamento? Maria Ceci Misoczky.
Profª. Teresa Cristina Barbo Siqueira
– Análise financeira do período 1995 – 2006
Atividades e atos administrativos
Cidadania e governança global – ONGs e outras formas de ação.
Profª Dra. Vera Peroni - PPGEDU/UFRGS
ORGANIZAÇÃO DA ADM PÚBLICA
JOÃO PAULO DOS REIS VELLOSO AGOSTO/2007
Neoliberalismo Prof Vilmar A. Silva.
Estado e desvios institucionais
AVALIAÇÃO DA GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS NO GOVERNO RELATÓRIO DA OCDE
A proposta inicial e as auto-críticas dos anos sessenta e setenta
POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO MUNICIPAL
Prof. Ivã da Cruz de Araujo Aula 04
Gestão da Administração Pública
Fundação Estatal Verdades e Mentiras. Essa afirmação é falsa. A Fundação Estatal está dentro da estrutura do Estado. É uma categoria jurídica da administração.
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Gestão Estratégica de Recursos Humanos no Setor Público e a carreira dos professores Nelson Marconi.
Weber: Dominação legal (Obediência as regras e não a pessoa)
Missão do IMPARH Ser instrumento de apoio à gestão do município de Fortaleza, através de suas atividades de Seleção, Formação e Capacitação de Servidores.
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
UM MODELO ESTRATÉGICO DE REFORMA DA GESTÃO PÚBLICA NO BRASIL: AGENDA, COALIZÃO E IDÉIAS MOBILIZADORAS Fernando Luiz Abrucio.
Estrutura Organizacional da Administração Pública
Prof. Ivã da Cruz de Araujo Aula 03
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL
RESPONSABILIDADE DOS ENTES DA FEDERAÇÃO E FINANCIAMENTO DO SUS
GESTÃO PÚBLICA E SEUS DIFERENTES MODELOS
Planejamento estratégico de gestão pública por resultados no processo de reforma administrativa do estado de Minas Gerais Izabela Moreira Corrêa Seminário:
Políticas Públicas de Saúde: O SUS E A ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA
ANA PAULA LUCENA Ma. Administração Pública
QUAL O SEU PAPEL NA SOCIEDADE?
Definição  Direito Administrativo: “ramo do direito público que tem por objetivo os órgãos, agentes e pessoas jurídicas administrativas que integram a.
CARACTERÍSTICAS DAS AUTARQUIAS
– Análise financeira do período 1995 – 2006
TENDÊNCIAS ATUAIS DO DIREITO ADMINISTRATIVO BRASILEIRO (MSZP)
“ Gestão na Administração Pública: Desafios e Experiências ” Prof. Fernando Gomez Carmona 1.
Roteiro de Aula Convivência A Ordem Econômica e Financeira na CF/88
Organizações Sociais de Cultura. As Organizações Sociais Como surgiu: Surgiu no mandato do ministro Bresser Pereira em 1997, como estratégia central do.
Sociologia – Ens. Médio Prof.º Renan
Administração Pública I
Paradigmas da administração pública
Prof. Paulo Barreto A Teoria da Burocracia. Principais Aspectos 1- A fragilidade e parcialidade tanto da Teoria Clássica como da Teoria das Relações Humanas,
IV Seminário Brasileiro do Transporte Rodoviário de Cargas O “Apagão” Logístico Impedirá a Retomada do Crescimento? José de Freitas Mascarenhas Presidente.
Reforma administrativa do aparelho do Estado Brasileiro
Clarissa Duarte Gigante dos Concursos 2007
Ministério da Cultura.
Servidor como Agente da Ação Estatal
Seminário de Capacitação das Equipes dos Serviços de Atendimento ao Cidadão em matéria de Direitos Humanos Brasília, 20 a 23/06/2006 Seminário de Capacitação.
A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Gestão Pública.
Organizações Sociais e OSCIP’s no Brasil. Antecedentes Análises sobre a crise brasileira como crise do Estado (com início na déc. 70 e evidência nos anos.
BCH - BPP - GOVERNO, BUROCRACIA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.
DIREITO Definição 1. Aquilo que é justo.
DIREITO PÚBLICO Introdução. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Princípios  Legalidade  Moralidade  Interesse público  Impessoalidade  Publicidade  Finalidade.
Alexandre Perles Gazeta A ERA DELFIM UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Faculdade de Ciências e Letras Departamento de Antropologia Política e Filosofia.
Gestão pela qualidade em organizações públicas
MODELOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
O poder do Estado Segundo Max Weber, o Estado é a instituição social que dispõe do monopólio do emprego da força legítima (violência) sobre um determinado.
GESTÃO PÚBLICA Prof. Rodrigo Borges.
Administração Pública  Em sentido amplo: a) Função política (fixação de políticas públicas) b) Função somente administrativa (execução)  Em sentido.
A REFORMA GERENCIAL DO ESTADO BRASILEIRO Faculdade de Ciências e Letras Campus de Araraquara Prof. Msc. Alexandre Gazeta.
A ESTRUTURA DO SETOR PÚBLICO
Transcrição da apresentação:

DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BUROCRÁTICA À GERENCIAL Luiz Carlos Bresser Pereira (1996) Clarissa Duarte 2009

As Três Formas de Administração Pública Administração Pública Patrimonialista - No patrimonialismo, o aparelho do Estado funciona como uma extensão do poder do soberano, e os seus auxiliares, servidores, possuem status de nobreza real. Os cargos são considerados prebendas. A res publica não é diferenciada das res principis. Em conseqüência, a corrupção e o nepotismo são inerentes a esse tipo de administração. No momento em que o capitalismo e a democracia se tornam dominantes, o mercado e a sociedade civil passam a se distinguir do Estado. Neste novo momento histórico, a administração patrimonialista torna-se uma excrescência inaceitável

Administração Pública Burocrática - Surge na segunda metade do século XIX, na época do Estado liberal, como forma de combater a corrupção e o nepotismo patrimonialista. Constituem princípios orientadores do seu desenvolvimento a profissionalização, a idéia de carreira, a hierarquia funcional, a impessoalidade, o formalismo, em síntese, o poder racional-legal. Os controles administrativos visando evitar a corrupção e o nepotismo são sempre a priori. Parte-se de uma desconfiança prévia nos administradores públicos e nos cidadãos que a eles dirigem demandas. Por isso são sempre necessários controles rígidos dos processos, como por exemplo na admissão de pessoal, nas compras e no atendimento a demandas. Por outro lado, o controle - a garantia do poder do Estado - transforma-se na própria razão de ser do funcionário. Em conseqüência, o Estado volta-se para si mesmo, perdendo a noção de sua missão básica, que é servir à sociedade. A qualidade fundamental da administração pública burocrática é a efetividade no controle dos abusos; seu defeito, a ineficiência, a auto-referência, a incapacidade de voltar-se para o serviço aos cidadãos vistos como clientes. Este defeito, entretanto, não se revelou determinante na época do surgimento da administração pública burocrática porque os serviços do Estado eram muito reduzidos. O Estado limitava-se a manter a ordem e administrar a justiça, a garantir os contratos e a propriedade.

Administração Pública Gerencial - Emerge na segunda metade do século XX, como resposta, de um lado, à expansão das funções econômicas e sociais do Estado, e, de outro, ao desenvolvimento tecnológico e à globalização da economia mundial, uma vez que ambos deixaram à mostra os problemas associados à adoção do modelo anterior. A eficiência da administração pública - a necessidade de reduzir custos e aumentar a qualidade dos serviços, tendo o cidadão como beneficiário - torna-se então essencial. A reforma do aparelho do Estado passa a ser orientada predominantemente pelos valores da eficiência e qualidade na prestação de serviços públicos e pelo desenvolvimento de uma cultura gerencial nas organizações. A administração pública gerencial constitui um avanço e até um certo ponto um rompimento com a administração pública burocrática. Isto não significa, entretanto, que negue todos os seus princípios. Pelo contrário, a administração pública gerencial está apoiada na anterior, da qual conserva, embora flexibilizando, alguns dos seus princípios fundamentais, como a admissão segundo rígidos critérios de mérito, a existência de um sistema estruturado e universal de remuneração, as carreiras, a avaliação constante de desempenho, o treinamento sistemático. A diferença fundamental está na forma de controle, que deixa de basear-se nos processos para concentrar-se nos resultados, e não na rigorosa profissionalização da administração pública, que continua um princípio fundamental. Na administração pública gerencial a estratégia volta-se (1) para a definição precisa dos objetivos que o administrador público deverá atingir em sua unidade, (2) para a garantia de autonomia do administrador na gestão dos recursos humanos, materiais e financeiros que lhe forem colocados à disposição para que possa atingir os objetivos contratados, e (3) para o controle ou cobrança a posteriori dos resultados. Adicionalmente, pratica-se a competição administrada no interior do próprio Estado, quando há a possibilidade de estabelecer concorrência entre unidades internas. No plano da estrutura organizacional, a descentralização e a redução dos níveis hierárquicos tornam-se essenciais. Em suma, afirma-se que a administração pública deve ser permeável à maior participação dos agentes privados e/ou das organizações da sociedade civil e deslocar a ênfase dos procedimentos (meios) para os resultados (fins).

Estados absolutistas -Administração patrimonialista Estados absolutistas -Administração patrimonialista. O patrimônio público e o privado eram confundidos. Nesse tipo de administração, o Estado era entendido como propriedade do rei. Estados liberais – Administração pública burocrática clássica (Max Weber). Separação entre o Estado e o mercado (público e privado). Lenta, cara, auto-referida, não atende demanda dos cidadãos. Estados sociais – Estado assume número crescente de serviços sociais. Surge a administração burocrática moderna (racional-legal). O problema da eficiência torna-se essencial. Necessidade de adoção de princípios da administração de empresas privadas. Necessidade de descentralização e flexibilização administrativa. Estados Democráticos de Direito – Administração pública gerencial. A crise do estado leva à crise de sua burocracia e nos anos 80 inicia-se uma grande revolução na administração pública dos Estados centrais em direção a uma administração pública gerencial.

Crises no Estado implicam na necessidade de reformas e reconstrução. Entre 1979 (crise do petróleo) e 1994 o Brasil viveu um período de estagnação da renda per capita e de alta inflação sem precedentes. Em 1994, finalmente, estabilizaram-se os preços através do Plano Real, criando-se as condições para a retomada do crescimento. A causa fundamental dessa crise econômica foi a crise do Estado: 1° momento – crise do regime militar (legitimidade) 2° momento – tentativa populista de voltar aos anos 50 (crise de adaptação ao regime democrático) 3° momento – crise moral (impeachment de Collor) Crise fiscal e financeira – perda do crédito público Crise do modo de intervenção na economia – modelo protecionista Crise da forma burocrática de administrar o Estado – iniciou-se no regime militar (traços patrimonialistas, recrutamento de administradores através de estatais) Depois da CF/88 a crise se agrava – enrijecimento burocrático extremo.

Reformas da AP no Brasil 1936 – reforma burocrática clássica (criação do Departamento Administrativo do Serviço Público DASP em 1936). Administração direta, central, burocrática e hierarquizada. Em 1938 é criada a primeira autarquia – adm. indireta (traço da adm. Gerencial). 1967 – ensaio de descentralização e desburocratização (Decreto Lei 200 de 1967). Tentativa de superação da rigidez burocrática. Programa Nacional de Desburocratização (1979) – ênfase na descentralização (adm. indireta). Entretanto facilitou práticas patrimonialistas (deixou de fazer concursos e de desenvolver carreiras). Contratação de apadrinhados através das empresas estatais. Descentralização (Adm. Indireta) abriu espaço para clientelismo. Constituição de 1988 - retrocesso burocrático dos anos 30 e tentativa de volta ao populismo dos anos 50 ( Capítulo da Administração Pública da CF/88 – Adm. Pública arcaica, extremamente burocrática, centralizada, hierárquica, com priorização da Adm. Direta ao invés da Indireta). Reação ao clientelismo dos anos de ditadura, mas com a afirmação de privilégios corporativistas e patrimonialistas. Desprestígio da AP brasileira. A crise se agrava. 1995 – proposta de administração pública gerencial. Inicia-se no governo FHC.

Servidores na CF/88 Concursos - Capítulo da Administração Pública da CF/88 – Adm. Pública arcaica, extremamente burocrática, centralizada, hierárquica, com priorização da Adm. Direta ao invés da Indireta). Reação ao clientelismo dos anos de ditadura, mas com a afirmação de privilégios corporativistas e patrimonialistas. Desprestígio da AP brasileira. . Instauração de “regime jurídico único” – estabilidade serve para defender a AP e não os funcionários. Trata igualmente faxineiros e professores. . Sistema de concurso público rígido inviabiliza que parte de vagas já existentes sejam abertas para quem já é servidor. Elimina autonomia de autarquias e fundações públicas. É mérito porque dificulta o empreguismo público, mas implica na impossibilidade de promoção interna de servidores. Autarquias, fundações e até empresas de economia mista foram constrangidas a realizar concursos. . Mantidos privilégios como aposentadoria integral sem relação com o tempo de serviço prestado diretamente ao Estado. Eleva custo do sistema previdenciário estatal. Carreiras – estabilidade é característica burocrática. Carreira superada em uma sociedade tecnologicamente dinâmica, mas a CF/88 e os servidores continuam a afirmar que as carreiras (na qual um servidor pode chegar a ganhar até 3 vezes mais que no início da carreira depois de 20 anos de serviço) resolveriam a maioria dos problemas da AP brasileira (MITO porque se prega a instauração de carreiras ao mesmo tempo que as destrói, com a introdução de gratificações de desempenho). DAS (Cargos de Direção e Assessoramento Superior) – Carreiras pessoais flexíveis constituídas por funcionários que formam a elite do Estado (desde que a escolha seja feita por critérios de mérito). Pode ser instrumento estratégico da AP gerencial.

Objetivos da reforma e setores do Estado Objetivos da reforma do Estado de FHC: . Facilitar ajuste fiscal a curto prazo (excesso de quadros) exoneração de funcionários EC 41/ 2003 definição de teto remuneratório para servidores (art. 37 XI) modificação aposentadorias (art. 40) . Tornar a AP mais eficiente (EC 19/98) e moderna (médio prazo), fortalecendo a Adm. Direta (núcleo estratégico do Estado) e descentralizando a AP com a implantação de “agências autônomas” e OS controladas por Contratos de Gestão. Núcleo estratégico – são definidas leis e políticas (Legislativo; Pres. e Min.; Tribunais F, STF e MP) Atividades exclusivas – poder de regulamentação e polícia (polícia, regulamentação, forças armadas, órgãos de fiscalização, SUS, etc.) Serviços não exclusivos – ou competitivos. Estado realiza ou subsidia (Universidades, Hospitais, Museus, Centros de pesquisa) Produção de bens e serviços para o mercado – empresas de economia mista (exploradoras de atividade econômica)