A ESTRUTURAÇÃO E A FORMAÇÃO DO EU A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM.

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Transcrição da apresentação:

A ESTRUTURAÇÃO E A FORMAÇÃO DO EU A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

O bebê humano precisa de cuidados essenciais para o seu desenvolvimento, ele sozinho não pode ter a experiência de existir. No primeiro momento da vida de um bebê, a vivência é de desamparo e de falta de unidade corporal.

Para que um sujeito se constitua, é preciso que tenha alguém que o olhe e veja aí o futuro sujeito que virá.

ESTE FILHO PODE SER PARA SUA MÃE: A criança apodera-se desta imagem constituída no olhar do Outro e faz dela a matriz do que será sua possibilidade de ser ESTE FILHO PODE SER PARA SUA MÃE: Um objeto maravilhoso; Um objeto supérfluo ou algo que ela não deseja; Um objeto onde ela condensa a mágoa dirigida a seu marido ou sua mãe; Um objeto que sobrevém de um mau momento.

É a imagem proposta pelo olhar materno que recobre o naco de carne e constitui o corpo do sujeito a advir.

A imagem – inconsciente – com que a mãe recobre seu filho é decisiva para o seu futuro. É uma marca que ele porta, o enquadre que determina sua posição no mundo pela vida afora.

O filho nasce primeiro numa projeção do Outro; miragem antecipada no seu erotismo.

A conquista do corpo próprio se dá graças a uma antecipação visual da imagem que se sobrepõe à experiência do corpo despedaçado.

A imagem do bebê não existirá, senão pelo efeito de uma representação parental. Seu corpo é, de início, a articulação entre o real do organismo vivo e alguma coisa que vem aí a se incorporar; uma imagem que, pelo efeito do olhar e da voz do Outro, pode aí se conjugar.

À natureza não temos acesso; a realidade é pura representação. Magritte – Condição Humana

“No campo escópico sou olhado, quer dizer, sou quadro “No campo escópico sou olhado, quer dizer, sou quadro. O olhar está no outro e me determina no campo do visível”. Lacan, seminário 11 O mimetismo animal nos ensina sobre como o sujeito se insere no quadro, como encontra um lugar para si no olhar do outro para fisgar o seu gozo.

Isso implica, por um lado, em uma mortificação. Em um primeiro momento, ele é apenas objeto para o Outro. Essa é uma passagem necessária, pois é a partir daí que o infans, aquele que ainda não fala, terá a possibilidade de organizar uma imagem própria.

Mas, assim como é importante ter um lugar na vida desta mãe, é importante, também, que a criança possa sair do lugar de objeto da suposta completude materna.

Como indicador deste tempo, temos o momento jubilátorio em que a criança (seis a dezoito meses), ao “olhar-se no espelho, volta-se para aquele que a segura, a suporta, a sustenta, o adulto, aquele que aí representa o grande Outro, para obter, de alguma forma, seu assentimento. Vira a cabeça e depois retorna à imagem que vê no espelho, como que pedindo para que este Outro ratifique o valor desta imagem.” J. Lacan- Seminário: A Angústia

Do ponto de vista da estrutura do indivíduo, aquilo que Lacan chama "estádio do espelho" assinala um momento fundamental : Primeiramente, a criança toma consciência do seu corpo, concebido como objeto exterior; Num segundo momento, ela tenta agarrar essa imagem, mas descobre que nada há por detrás do espelho: este eu "refletindo-refletido" não remete para qualquer objeto exterior; Por fim, compreende não somente que o outro do espelho é uma imagem, mas também ser, essa imagem, a sua.

"A assunção jubilatória da imagem especular pelo ser ainda submergido na impotência motriz e a dependência da amamentação que é o pequeno homem nesse estádio infans, parecer-nos-á manifestar, desde então, numa situação exemplar, a matriz simbólica onde o eu se precipita numa forma primordial, antes de objetivar-se na dialética da identificação com o outro e da linguagem lhe restituir no universal a sua função de sujeito“ Lacan

A criança percebe na imagem especular uma forma em que antecipa uma unidade corporal que lhe falta: identifica-se com essa imagem. Esta experiência inaugural de reconhecimento se inscreve no inconsciente e permite instituir o outro, o eu e os objetos. A imagem despedaçada do corpo assume uma forma ortopédica que pode se chamar de “eu”. Uma armadura de uma identidade alienante que vai marcar todo o seu desenvolvimento mental.

Mas se por um lado ser objeto do desejo materno é a condição primeira da entrada do sujeito no discurso, na vida, ser tudo para essa mãe representaria para este futuro sujeito um aprisionamento excessivo, uma dificuldade de se ver enquanto eu, separado de sua mãe.

Por isso é necessário um corte. E quem cumpre esta função é o pai Por isso é necessário um corte. E quem cumpre esta função é o pai. O pai, em sua função, vem perturbar a harmonia alienante entre a mãe e o bebê. Toda relação dual, imaginária é sem saída: ela cria um mundo fechado que não suporta a existência de um rival.

A entrada do pai desfaz essa relação imaginária, permite à criança abrir-se ao outro, inscrever-se no universo da cultura e da linguagem. Sem a intervenção do simbólico, sob a forma da lei, a relação imaginária pode tornar-se patológica.

A tradução do desejo da mãe pelo pai introduz na vida do filho um funcionamento pela via do significante. Esta é a operação metafórica que possibilita a articulação da subjetividade no e pelo discurso. A palavra abre a possibilidade de equívocos.

A significação, indicada pelo pai, desloca a criança do lugar de alienação ao gozo materno, e do aprisionamento ao signo de seu olhar, para o lugar de significante do seu desejo. A presença deste significante permite um jogo muito diferente daquele que se faz com as imagens, o jogo simbólico.

O sujeito surge como um dos efeitos deste acesso ao simbólico. O sujeito fica mediado, no registro do simbólico, pela palavra (pronome pessoal, nome próprio etc.).

Essa função paterna é sempre falha em alguma medida, mas seu vigor é fundamental para que a criança não fique abandonada aos caprichos maternos, aprisionada no visgo do olhar e prisioneira do jogo das imagens, sendo lançada no puro desamparo. Se o pai é aquele que livra a criança da ameaça de ser puro objeto a ser devorado pela mãe, a frouxidão dessa função deixará frágil a demarcação do lugar de cada um, e o outro, impedido de se constituir como Outro, ligar da alteridade, de onde pode advir toda autoridade, permanecerá sempre o intruso, invasor e ameaçador.

O NASCIMENTO DA AGRESSIVIDADE HUMANA

QUAL É O PAPEL DA AGRESSIVIDADE NA ECONOMIA PSÍQUICA QUAL É O PAPEL DA AGRESSIVIDADE NA ECONOMIA PSÍQUICA? Nas crianças, a agressividade não deve ser somente vista como manifestação lúdica do exercício de forças, deve ser compreendida de forma mais ampla. Há aí uma primeira captação da imagem, onde se esboça o primeiro momento da dialética das identificações.

A origem fundamental da agressividade não é, para Lacan, como em outros, a frustração. O ponto medular da agressividade estaria focalizado na ruptura da identificação imaginária. Na ordem imaginária não se dá uma distinção entre significante e significado. Tudo o que a questiona, engendra agressividade. A própria identificação narcisista faz parte da agressividade.

A AGRESSIVIDADE, NÓS A CONSTATAMOS FREQUENTEMENTE NA AÇÃO FORMADORA DE UM INDIVÍDUO “Basta escutar a fabulação e as brincadeiras das crianças, isoladas ou entre si, entre os dois e os cinco anos, para saber que arrancar a cabeça e furar a barriga são temas espontâneos de sua imaginação, que a experiência da boneca desmantelada só faz satisfazer.” Lacan

A criança, nessas ocasiões, antecipa no plano mental a conquista da unidade funcional de seu próprio corpo, ainda inacabado, nesse momento, no plano da motricidade voluntária.

A natureza da AGRESSIVIDADE humana está diretamente ligada com a origem da relação com o formalismo de seu eu e dos objetos. Como vimos, o indivíduo humano, para existir, como sujeito, se fixa numa imagem que o aliena em si mesmo no outro, é daí que ele tira a forma de onde se origina a organização passional que ele irá chamar de eu. Essa forma se cristalizará, com efeito, na tensão conflitiva interna ao sujeito, que determina o despertar de seu desejo pelo objeto do desejo do outro.

Num momento arcaico da existência, quando a tradução estabelecida pelo pai do que teria sido o desejo da mãe não foi confirmada delimitando o lugar da criança, ela vive momentos de confusão com a imagem do semelhante. O que sou eu? O que é o outro?

É através da imagem do outro, rival e intruso, que a imagem do homem se ordena. Razão pela qual seu desejo será sempre o desejo do Outro. A indistinção com o parceiro de brincadeiras, o semelhante em torno do qual faz suas primeiras identificações, instala uma guerra onde a existência de um exige anular a existência do outro.

Ou eu existo ou quem tem lugar é o intruso que se confunde com a minha imagem. Ou defendo a minha existência ou sou eliminado pela existência do outro. O reino da violência se inscreve e demarca o território da agressividade humana neste tempo primeiro. Na verdade, a criança exercita uma estrutura humana fundamental no plano imaginário onde é preciso destruir aquele que é a sede da alienação.

Se há um pai, em sua função, haverá a lei organizadora que define e diferencia o lugar de cada um, estabelecendo acordos e tratados de paz. Sempre que a existência subjetiva aí conquistada for respeitada, os incômodos na relação com o outro poderão ser contornados. Mas as barreiras que impedem as manifestações de crueldade e violência serão suspensas cada vez que o lugar de sujeito nos for negado.

A ela porém, devemos oferecer o diálogo. A Agressividade, compreendida como significativa de um desenvolvimento do eu, deve ser tida como sendo de um uso social indispensável, pois ela traz indícios da particularidade de um sujeito. A ela porém, devemos oferecer o diálogo. O diálogo em si parece constituir uma renúncia à agressividade.

Somente através do diálogo a conciliação é possível A conciliação é o ato de pôr em acordo, pessoas em conflito, em discordância. O acordo se faz pela palavra, pelo diálogo entre as partes. Cada lado deve ler a situação segundo seu ponto de vista e, em alguma medida, ceder para que se estabeleça um pacto. Cada um deve reconhecer, escutar e respeitar a posição do outro. Todo diálogo implica no reconhecimento da boa fé do outro, da sua posição de sujeito.

Mas o fracasso da dialética verbal tem comparecido com imensa frequência. Podemos ver que basta o pretexto mais fortuito para provocar gestos e intenções dos mais violentos.

Na época em que vivemos, cada vez mais o sujeito não é reconhecido, pois que, inicialmente, ele não se instalou. Então, sobrevém a violência, o uso exacerbado de drogas, todas as espécies de compulsões e patologias. Temos que analisar estas questões ao lado do declínio da imagem do pai, vivido na atualidade.

No nível do eu, é a validade da presença no mundo de cada um que se encontra discutível, já que ela só poderia ser verificada enquanto se é capaz de altas performances, quer dizer, enquanto a participação no jogo social ou na atividade econômica se encontra efetivamente reconhecida. Na falta da referência, do referente, seja ele ancestral ou não, que permite ao sujeito afirmar sua validade e sua continuidade, seu tônus, a despeito dos avatares de seu destino pessoal, esse reconhecimento vem, evidentemente, a faltar. Simultaneamente o sujeito, ou melhor, o eu se vê exposto, frágil, deprimido, porque seu tônus não está agora organizado, garantido por uma espécie de referência fixa, estável, segura, por um nome próprio, tendo necessidade de ser confirmado incessantemente. (O homem sem gravidade, pág 40)