Filosofia da Linguagem Antiga

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Transcrição da apresentação:

Filosofia da Linguagem Antiga O Crátilo de Platão

As três personagens São inspiradas pelas figuras reais de Sócrates, Hermógenes e Crátilo. Segundo estudiosos do texto platônico, Hermógenes foi um discípulo fiel de Sócrates a quem Platão apreciava mais pelo caráter que pela inteligência. Crátilo foi mestre de Platão antes de Sócrates e era discípulo de Heráclito, cuja doutrina a respeito da mutabilidade das coisas, e levou ao exagero.

Um resumo... O diálogo versa sobre a justeza dos nomes a partir do exame realizado por Sócrates das teses divergentes de Hermógenes e Crátilo, já exauridos por uma discussão que não chega a um acordo. Segundo Hermógenes, os nomes são resultantes de pura convenção, podendo esta ser tanto individual quanto coletiva; para Crátilo, discípulo de Heráclito e mestre de Platão anteriormente a Sócrates, os nomes espelham a natureza das coisas e esta não é senão o constante fluxo. Sócrates é chamado para tentar uma conciliação e termina por apontar para as aporias já mencionadas. Ao final, tudo se passa como se elas fossem a saída mais adequada ante o risco do relativismo contido na tese de Hermógenes – aproximada ao perspectivismo de Protágoras –, bem como frente ao ceticismo decorrente do fluxismo heraclítico defendido por Crátilo. Ou, ainda, tudo leva a crer que a tese supostamente ensejada por Platão e enunciada por Sócrates – a saber, que os nomes espelham a natureza das coisas, sendo esta natureza aquilo que permanece o mesmo e não o fluxo –, também não se mostraria plausível.

LINGUAGEM E CONHECIMENTO NO CRÁTILO DE PLATÃO Maria Aparecida de Paiva Montenegro A argumentação levada a cabo conduz, ao final do diálogo, a um duplo encurralamento: De um lado, os nomes, pensados como imitações da realidade, guardariam significados ambíguos, de modo a poderem significar tanto a imagem de uma realidade que é puro fluxo quanto a de uma que é sempre a mesma (Crátilo 437c). Nesse caso, não haveria um critério legítimo capaz de orientar a demarcação da verdade e, consequentemente, comprometeria a possibilidade mesma do conhecimento; De outro, se os nomes imitam a realidade e são a condição de acesso ao conhecimento da mesma, como ter-se-iam estabelecido os primeiros nomes se aquele que assim os criou não dispunha de nome algum que pudesse dar-lhe a conhecer a realidade que passaria a nomear (Crátilo 438b)? Em resposta a essas aporias, Sócrates propõe que se procure “outras entidades, para além dos nomes, que nos mostrem, sem os nomes, qual dos dois grupos é o verdadeiro (a realidade como fluxo ou como permanência), exibindo de forma clara a verdade dos seres” (Crátilo 438d).

LINGUAGEM E CONHECIMENTO NO CRÁTILO DE PLATÃO O problema que imediatamente decorre de tal suposição é que, em se tornando admissível a possibilidade de acesso às coisas mesmas sem o intermédio dos nomes, o conhecimento passa a ser pensado como processo que pode prescindir da linguagem (Crátilo 438e) e, por conseguinte, deixa de se constituir como uma atividade eminentemente presidida pelo lógos. Estaria Platão tentando apontar para o caráter místico do conhecimento? Ou, então, seria o Crátilo um diálogo incapaz de dar conta das questões que levanta?

LINGUAGEM E CONHECIMENTO NO CRÁTILO DE PLATÃO Ora, como é característico dos diálogos de Platão (Hösle, 2002), o Crátilo nos oferece, senão as respostas, ao menos, um tratamento condigno à sua questão central – qual seja, a justeza dos nomes (orthotês onomatôn) –, lá mesmo onde não esperamos encontrar: no seu contexto dramático, nas passagens aparentemente destituídas de importância. O diálogo tem uma longa parte dedicada às etimologias que, até o presente, tem suscitado em seus comentadores especializados (Goldschmidt, 1982; Barney, 2001; Sedley, 2003) as mais diferentes interpretações.

LINGUAGEM E CONHECIMENTO NO CRÁTILO DE PLATÃO Na visão de Julia Kristeva (1969), Platão tenta conciliar as duas teses postulando que a linguagem é uma criação humana e, neste sentido convencional. Entretanto, ao advir da essência das coisas que representa, torna-se uma obrigação, uma lei para a sociedade. O nome tem então o sentido de lei, costume, uso. Para o filósofo, falar é distinguir-se das coisas exprimindo-as, dando-lhes nomes. Nomear sendo o ato que dá lugar à fala.