O POVO BRASILEIRO VISTO PELO MOVIMENTO NEGRO:

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1 O POVO BRASILEIRO VISTO PELO MOVIMENTO NEGRO:
HISTÓRIA E ATUALIDADE Edson França

2 PECULIARIDADES QUE INCIDIRAM NO PROCESSO HISTÓRICO BRASILEIRO
ÚNICA NAÇÃO DE COLONIZAÇÃO PORTUGUESA NAS AMÉRICAS; - METRÓPOLE POBRE, TERRITORIALMENTE PEQUENA, DE BAIXA DENSIDADE DEMOGRÁFICA E COM HISTÓRICO DE MESTIÇAGEM SECULAR ESTABELECE NO NOVO MUNDO UMA COLÔNIA DE EXPLORAÇÃO; PORTUGAL PIONEIRO NO TRÁFICO TRASATLÂNTICO E NA ORGANIZAÇÃO DE FEITORIAS EM TERRITÓRIO AFRICANO; - POPULAÇÃO INDÍGENA ETNICAMENTE DIVERSA E EM ESTÁGIO TÉCNICO CIVILIZATÓRIO PRÓXIMO DO NEOLÍTICO (NOMANDISMO, ANTROPOFAGIA, BAIXÍSSIMA TÉCNICA AGRÍCOLA, INEXISTÊNCIA DE ESTADO CENTRALIZADO); POVOAMENTO CONCENTRADO PRIORITARIAMENTE NA COSTA MARÍTIMA. A INTERIORIZAÇÃO INICIA DE FORMA SISTEMÁTICA COM A DESCOBERTA DO OURO; CONFLITOS SUCESSIVOS COM INVASORES, ESPECIALMENTE, HOLANDESES, FRANCESES E ESPANHÓIS; - COLÔNIA MAIOR E MAIS RICA QUE A METRÓPOLE, POR ISSO HAVIA RELATIVA AUSÊNCIA DO ESTADO NO COMANDO DA EMPREZA COLONIAL;

3 ALGUMAS DECORRÊNCIAS MESTIÇAGEM GENERALIZADA ENTRE OS TRÊS TRONCOS CIVILIZADORES BRASILEIROS, PORTUGUÊS, ÍNDIO E AFRICANO. SE ESTRUTUROU DE FORMA ASSIMÉTRICA; COM PROPÓSITO POLÍTICO, DE POSSIBILITAR O POVOAMENTO DO TERRITÓRIO COLONIAL E DE AFIRMAR A SUPREMACIA DO COLONIZADOR; - ESCRAVIZAÇÃO INDÍGENA NO INÍCIO DA COLONIZAÇÃO, POSTERIORMENTE, AFRICANA. EM TODO TERRITÓRIO NACIONAL A ESCRAVIDÃO ERA LEGALIZADA; USO BRUTAL E INDISCRIMINADO DA VIOLÊNCIA, PROVOCANDO GENOCÍDIO DE VÁRIOS POVOS INDÍGENAS (SEM INTERESSE COMERCIAL AOS COLONOS, EM RAZÃO DOS COFLITOS GERADOS PELO CHOQUE COM O PROJETO DA IGREJA) E ACIRRANDO A CONTRADIÇÃO ENTRE SENHOR E ESCRAVO AFRICANO E NEGRO; RESISTÊNCIA AO REGIME: AS FORMAS MAIS CONSEQUENTES DE RESISTÊNCIA FORAM FORMAÇÃO DE QUILOMBOS EM TODO TERRITÓRIO NACIONAL; COMPRAS COLETIVAS DE ALFORRIAS, LEVANTES E INSURREIÇÕES; ESSAS RESISTÊNCIAS ERAM FATOS GERADORES DE MEDO, FENÔMENO QUE SEMPRE ESTEVE PRESENTE NO ESCRAVISMO BRASILEIRO - INSTABILIDADE PROGRESSIVA NO REGIME

4 SENTIDO E SUSTENTAÇÃO IDEOLÓGICA DA ESCRAVIDÃO
- OBJETIVO COMERCIAL, MERCADOLÓGICO, OBTENÇÃO DE LUCRO. A ESCRAVIDÃO NASCE E SE CONSOLIDA COMO UM FATOR ECONÔMICO. QUANDO DEIXA DE OFERECER VANTAGENS ECONÔMICAS ÀS ELITES MUNDIAIS, DECLINA ATÉ A MORTE. - INICIALMENTE A ESCRAVIDÃO SE SUSTENTAVA COM ARGUMENTOS ECLESIÁSTICOS. 1. PREDESTINAÇÃO: A MALDIÇÃO DE CAN, NESSA PASSAGEM BÍBLICA CAN – IDENTIFICADO COMO DE PELE ESCURA - E SUA DESCEDÊNCIA FOI AMALDIÇOADO A SERVIDÃO PERPÉTUA PORQUE VIRA A NUDÊZ DE SEU PAI, NOÉ. 2. PENITÊNCIA: ATRAVÉS DO SOFRIMENTO IMPOSTO PELA ESCRAVIDÃO OS “GENTIOS” AFRICANOS TERIAM O PRIVILÉGIO DE SE BATIZAREM, EXPIAREM SEUS PECADOS E SE LIVRAREM DO PAGANISMO

5 INÍCO DO SÉCULO XVIII É MARCO DE GRANDES TRANSFORMAÇÕES TECNOLÓGICAS QUE ABREM LUZES PARA NOVOS QUESTIONAMENTOS E NOVAS IDÉIAS À HUMANIDADE. EXIGEM EXPLICAÇÕES RACIONAIS AOS FENÔMENOS SOCIAIS. O APELO A RAZÃO (OU CIÊNCIA) NEGA OS ARGUMENTOS ECLESIÁTICOS E APROFUNDA A CRISE DA IGREJA. OS TEÓRICOS E FILÓSOFOS DA CLASSE DOMINANTE FORMULAM OS ARGUMENTOS QUE RACIALIZAM A HUMANIDADE E SE CONVENCIONARAM NO DENOMINDADO “RACISMO CIENTÍFICO”; - PRINCIPAIS PRESSUPOSTOS: CLASSIFICAÇÃO HIERÁRQUICA QUE AFIRMA A SUPERIORIDADE BIOLÓGICA E INTELECTUAL DO BRANCO SOBRE AS OUTRAS RAÇAS; DESIGUALDADE RACIAL INATA CONDUZ PARA HABILIDADES, USO DO ESPAÇO FÍSICO, PAPEL SOCIAL E DESENVOLVIMENTOS DIFERENTES. A RAÇA NEGRA É A MAIS INFERIOR DA CADEIA BIOLÓGICA HUMANA COMPARÁVEL A UM ANIMAL. ESSAS “VERDADES CIENTÍFICAS” PREDOMINARAM UNIVERSALMENTE. JUSTIFICARAM A ESCRAVIDÃO, O COLONIALISMO AFRICANO E A MARGINALIZAÇÃO DOS NEGROS EM TODOS OS PAÍSES QUE SE CONCENTRAM

6 ELEMENTOS ENDÓGENOS E EXÓGENOS DE INSTABILIDADE E SUPERAÇÃO DO REGIME ESCRAVOCRATA NO BRASIL
- CONTRADIÇÃO INSUPERÁVEL E CONFLITOS PERMANENTES ENTRE SENHORES E ESCRAVOS; - MÚLTIPLAS RESISTÊNCIAS, PROLIFERAÇÃO DE QUILOMBOS E REDE DE SOLIDARIEDADE ANTI-ESCRAVOCRATA; DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO NA INGLATERRA DEMONSTRA A CONTRADIÇÃO ENTRE ESCRAVIDÃO E ECONOMIA CAPITALISTA; - IDÉIAS ABOLICIONISTAS INGLESAS INVADEM O NOVO MUNDO, SOMADA A FILOSOFIA BURGUÊSA PROPAGADA PELA REVOLUÇÃO FRANCESA, DESLEGITIMA M E ANACRONIZAM O REGIME; - ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO NOS PAÍSES DA AMÉRICA LATINA E CARIBE ABOLICIONISMO NO BRASIL;

7 ABOLICIONISMO NO BRASIL
NÃO SEGUE RECEITA NOVA, RESPONDE AS MESMAS QUESTÕES COLOCADAS AOS PAÍSES QUE DESENVOLVERAM A ESCRAVIDÃO DE AFRICANOS: 1- DEFESA DA PROPRIEDADE PRIVADA – O ESTADO DEVE OU NÃO INDENIZAR A SUBTRAÇÃO DE UM BEM LEGITIMAMENTE ADQUIRIDO; 2- COMO GARANTIR COM A DERROCADA DO REGIME A MANUTENÇÃO DA HEGEMONIA POLÍTICA E ECONÔMICA NAS MÃOS DOS RICOS E DA OLIGARQUIA CONSTITUÍDA; 3- ESTABELECER UM EQUILÍBRIO ÉTNICO FAVORÁVEL AO BRANCO, ESPECIALMENTE EM PAÍSES DE POPULAÇÃO MAJORITARIAMENTE NEGRA. PARA ISSO ENTRA EM CENA A POLÍTICA DE BRANQUEAMENTO – NÃO FOI EXCLUSIVIDADE DO BRASIL;

8 4- GRADUALIDADE NA TRANSIÇÃO DO REGIME
4- GRADUALIDADE NA TRANSIÇÃO DO REGIME. A LEI EUZÉBIO DE QUEIRÓZ, LEI DO VENTRE LIVRE E LEI DO SEXAGENÁRIO CARACTERIZAM ESSA QUESTÃO; 5- ESTABELECIMENTO DO PALCO PARA O DEBATE. TIRAR DAS RUAS, DAS MÃOS DOS ESCRAVOS, NEGROS LIBERTOS E DA MASSA POPULAR E LEVAR AO PARLAMENTO; 6- SUBSTITUIÇÃO DA MÃO DE OBRA ESCRAVA PELA LIVRE; 7- O QUE FAZER COM A MASSA NEGRA LIBERTA, CONSIDERADA PELOS PODEROSOS INIMIGA DA NAÇÃO QUE A HUMILHOU E ESCRAVIZOU. ENTENDIAM QUE OS NEGROS ERA UMA MASSA POPULAR NÃO CONFIÁVEL, A QUALQUER MOMENTO SE VINGARIAM DO AGRAVO SOFRIDO;

9 COMO SE DEU O PROCESSO ABOLICIONISTA NO BRASIL
O ABOLICIONISMO BRASILEIRO FOI UM MISTO DE AVANÇOS E CONSERVADORISMOS, POIS ESTAVA EM CENA UMA LUTA QUE DE UM LADO PRETENDIA MUDAR O REGIME DE TRABALHO E DAR NOVA CONFIGURAÇÃO SÓCIO-ECONÔMICA AO BRASIL, DO OUTRO MANTER OS HISTÓRICOS PRIVILÉGIOS DA CLASSE DOMINANTE FATORES DE AVANÇO SOCIAL: A - PERDA DA LEGALIDADE INSTITUCIONAL; B- MOVIMENTO POPULAR DE MASSA MAIS SIGNIFICATIVO DA HISTÓRIA DO BRASIL, GRANDE ENVOLVIMENTO DE AMPLOS SETORES POPULAR ORGANIZANDO AGITAÇÕES E FUGAS DE ESCRAVOS

10 C- ELABORAÇÃO, ATRAVÉS DE GRANDES ABOLICIONISTAS, NOTADAMENTE JOAQUIM NABUCO E CASTRO ALVES, DE UM DISCURSO ANTIESCRAVISTA QUE AINDA INFLUENCIA POSITIVAMENTE O PENSAMENTO POLÍTICO E SOCIOLÓGICO BRASILEIRO D- RECUSA EM INDENIZAR PECUNIARIAMENTE OS PROPRIETÁRIOS DE ESCRAVOS, NO ENTANTO, OS CAFEICULTORES (PRINCIPAL INTERESSADOS NA MÃO DE OBRA ESCRAVA) FORAM BENEFICIADOS PELAS POLÍTICAS GOVERNAMENTAIS ATÉ FINAIS DOS ANOS VINTE DO SÉCULO PASSADO E- INEXISTÊNCIA DE TENSÕES E GUERRA CIVIL, TAL QUAL, OCORREU NOS EUA E NO HAITI, DE MODO QUE O ABOLICIONISMO BRASILEIRO NÃO FOI UM EVENTO TRAUMÁTICO PARA NAÇÃO, AO CONTRÁRIO, HOUVE MESES DE FESTEJOS

11 FATORES DE PREDOMINÂNCIA CONSERVADORA:
A- DOMÍNIO DO RÍTMO DO PROCESSO NAS MÃOS DA OLIGARQUIA CAFEEIRA CONCENTRADA EM SÃO PAULO, MINAS GERAIS E RIO DE JANEIRO. FATOR QUE PERMITIU CONSTRUIREM AS CONDIÇÕES POLÍTICAS PARA IMPOREM O PROJETO DE NAÇÃO PÓS-ESCRAVISTA EM CONSONÂNCIA COM OS INTERESSES DA CLASSE DOMIMANTE BRASILEIRA; B- SANCIONAMENTO DA LEI DA TERRA COM OBJETIVO DE MANTER A ESTRUTURA FUNDIÁRIA CONCENTRADORA E PRIVILEGIAR O LATIFÚNDIO, CONTER QUALQUER VELEIDADE EM PROPOR REFORMA AGRÁRIA NO BRASIL, EVITAR A PRESENÇA E A POSSE DA TERRA NAS MÃOS DOS NEGROS E AFRICANOS;

12 C- PROJETO DE BRANQUEAMENTO QUE, EM LINHAS GERAIS, CONSISTIU EM: DESAFRICANIZAÇÃO DO PAÍS, QUE CONTAVA COM MAIORIA NEGRA, ATRAVÉS DO EXÍLIO PERMANENTE PARA ÁFRICA (ATUAL BENIN) DE AFRICANOS E NEGROS LIBERTOS SUSPEITOS OU ACUSADOS DE CRIMES OU CONTRAVENÇÕES; INVESTIMENTO POLÍTICO E ECONÔMICO NA IMIGRAÇÃO MASSISSA DE EUROPEUS; INCENTIVO A MISCIGENAÇÃO, NOVAMENTE RECORREM AO USO POLÍTICO DA MESTIÇAGEM (CONTRADITORIAMENTE ATRIBUEM COMO FATO DE DEGENERESCÊNCIA RACIAL); USO DE CONFLITOS PARA EXTERMÍNIO FÍSICO (GUERRA DO PARAGUAI FOI O MAIS EXPRESSIVO EXEMPLO DESSA PRÁTICA); D- SUBSTITUIÇÃO DA MÃO DE OBRA ESCRAVA PELA LIVRE, OU SEJA, DA MÃO DE OBRA NEGRA PELA RECÉM IMIGRADA EUROPÉIA. DE FORMA SISTEMATIZADA, ORGANIZADA O ESTADO COM A PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL PROMOVERAM A EXCLUSÃO DO NEGRO NO MERCADO DE TRABALHO E O MARGINALIZARAM NA SOCIEDADE REPUBLICANA QUE SE ESTRUTURAVA E. INEXISTÊNCIA DE UM PROJETO DE INTEGRAÇÃO DO NEGRO NA SOCIEDADE BRASILEIRA, CONTRADIÇÃO QUE INSPIROU CLÓVIS MOURA A ESCREVER A OBRA “O NEGRO: DE BOM ESCRAVO A MAU CIDADÃO”.

13 RESULTADOS A- FIM DA ESCRAVIDÃO NO BRASIL; B- ATRASO SOCIAL E POBREZA ACUMULADOS NA POPULAÇÃO NEGRA E NÃO BRANCA; C- CRIMINALIZAÇÃO E REMÉDIOS OPRESSORES PARA CONTER A MASSA SOCIAL NEGRA QUE SE REVOLTAVA COM AS CONDIÇÕES DE MISÉRIA E ABANDONO QUE VIVIA; D- SOBREVIVÊNCIA DE SUBJETIVIDADES SUSTENTADAS PELA IDEOLOGIA DOMINANTE DO RACISMO CIENTÍFICO NO REPUBLICANISMO BRASILEIRO QUE PERSISTEM NA ATUALIDADE; E- MANUTENÇÃO E APLICAÇÃO DE UM PROJETO ANTIPATRIÓTA, RACISTA E CONSERVADOR NO BRASIL. RESPONSÁVEL PELA PROFUNDA DESIGUALDADE ENTRE RICOS E POBRES, VIOLÊNCIA, AUTORITARISMO E SUBDESENVOLVIMENTO DO PAÍS;

14 CONSTRUÇÃO DE NOVAS RETÓRICAS CONTRIBUIRAM NA SUSTENTAÇÃO IDEOLÓGICA DO LUGAR SOCIAL DO NEGRO, DA MANUTENÇÃO DO PRIVILÉGIO DA ELITE E DA DESIGUALDADE O PROJETO DA CLASSE DOMINANTE BRASILEIRA APÓS A ESCRAVIDÃO E PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA PREVIA O BRANQUEAMENTO DA SOCIEDADE BRASILEIRA. ESTENDE-SE ATÉ FINAIS DOS ANOS 20 DO SÉCULO PASSADO. ESSE PROJETO FOI APLICADO SOB SUSTENTAÇÃO TEÓRICA DA ELITE INTELECTUAL BRASILEIRA. DESTACADAMENTE: NINA RODRIGUES, OLIVEIRA VIANNA, SILVIO ROMERO, JOÃO BATISTA LACERDA, MONTEIRO LOBATO, EDGAR ROQUETTE PINTO, DENTRE OUTROS; - ARGUMENTOS RACISTA, ANACRÔNICO, OBTUSO E ACIENTÍFICO COMO SUPERIORIDADE RACIAL DO BRANCO; MESTIÇAGEM COMO FATOR DEGENERATIVO DAS RAÇAS; PESSIMISMO QUANTO AO FUTURO DO BRASIL, POIS ESTARÍAMOS FADADOS AO SUBDESENVOLVIMENTO EM RAZÃO DA GRANDE PRESENÇA AFRICANA NO SANGUE NACIONAL, DECLINA;

15 - GILBERTO FREYRE ROMPE COM A LINHAGEM TEÓRICA DOMINANTE
- GILBERTO FREYRE ROMPE COM A LINHAGEM TEÓRICA DOMINANTE. TIRA O PENSAMENTO BRASILEIRO DO ATRASO. ELOGIA A COLONIZAÇÃO PORTUGUESA; PIONEIRAMENTE, CONSIDERA A MESTIÇAGEM COMO ELEMENTO POSITIVO DA NACIONALIDADE BRASILEIRA; VALORIZA A PRESENÇA DO ÍNDIO E DO NEGRO NA FORMAÇÃO DO POVO BRASILEIRO; - PARADOXALMENTENTE, UMA OBRA AVANÇADA PARA O MOMENTO HISTÓRICO DE SEU LANÇAMENTO, TORNA-SE UMA EFICIENTE FERRAMENTA NAS MÃOS CONSERVADORAS DA BURGUESIA E SETORES MÉDIOS BRASILEIROS PARA DE DESTENCIONAR A RELAÇÃO RACIAL E DESLEGITIMAR O PROTESTO ORGANIZADO DA POPULAÇÃO NEGRA

16 A OBRA FREYRIANA, A PARTIR DE CASA GRANDE & SENZALA, ESTABELECEM OS ELEMENTOS TEÓRICOS E IDEOLÓGICOS PARA O MITO DA DEMOCRACIA RACIAL, QUE CONSISTE EM: A- CARACTERIZAÇÃO DA ESCRAVIDÃO NO BRASIL COMPOSTA POR SENHORES BONS E, CONTRADITORIAMENTE, SÁDICOS; ESCRAVOS SUBMISSOS E MASOQUISTAS, DE MODO QUE A RELAÇÃO ENTRE ELES ERA COMPLEMENTAR E HARMÔNICA; B- DIFERENÇA ENTRE AS RAÇAS SE RELACIONA COM A CULTURA, NUTRIÇÃO, HISTÓRIA E NÃO COM A BIOLOGIA. ESSA ASSERÇÃO CONTRADIZ O FUNDAMENTO CENTRAL DO RACISMO CIENTÍFICO, MAS NÃO HARMONIZA AS RELAÇÕES RACIAIS, POIS ATRAVÉS DESSAS DIFERENÇAS É POSSIVEL MANTER OS VELHOS E CONSTRUIR NOVOS ESTERIÓTIPOS; - C- MAIOR CAPACIDADE DO PORTUGUÊS PARA A OBRA COLONIZADORA, MAIS TOLERÂNCIA COM AS DIFERENÇAS E MAIOR PROPENSÃO PARA MISCIGENAÇÃO;

17 D- MISCIGENAÇÃO CONSISTIU EM UM ELEMENTO ESSENCIALMENTE POSITIVO NO BRASIL. ATRAVÉS DELA SURGIU UMA NOVA RAÇA, ADEQUADA A VIDA NÓS TROPICOS, ALÉM DE IMPEDIR A INCIDÊNCIA DE CONFLITOS RACIAIS; BASEADOS NA CONSTATAÇÃO FREYRIANA PASSAM A PROPUGNAR QUE A POBREZA E A MARGINALIDADE DO NEGRO NÃO TEM REFERÊNCIA AO LEGADO DA ESCRAVIDÃO, MARGINALIZAÇÃO E RACISMO - PREGAM A INEXISTÊNCIA DO RACISMO E DOS CONFLITOS RACIAIS E QUE O BRASIL ERA O PARAÍSO DA CONVIVÊNCIA ENTRE AS RAÇAS, AO CONTRÁRIO DOS ESTADOS UNIDOS E DA ÁFRICA DO SUL ONDE O RACISMO SE COLOCAVA DE MANEIRA AGRESSIVA E INSTITUCIONALMENTE. - IGNORAM EVIDÊNCIAS, DESLEGITIMAM TODAS AS DEMANDAS DO MOVIMENTO NEGRO

18 MOVIMENTO NEGRO PÓS-ABOLIÇÃO E OS TRÊS CICLOS DE ACUMULAÇÃO POLÍTICA
O MOVIMENTO NEGRO MODERNO – PRINCIPAL AGENTE NACIONAL DE COMBATE AO RACISMO - SURGE NOS PRIMEIROS ANOS DO SÉCULO XX. APÓS A RESSACA DA ABOLIÇÃO A POPULAÇÃO NEGRA PERCEBEU O ATRASO SOCIAL, EDUCACIONAL, CULTURAL E ECONÔMICO QUE ESTAVA SUBMETIDO, PERCEBEU QUE SÓ A ABOLIÇÃO ERA INSUFICIENTE PARA O PLENO GOZO DOS DIREITOS SOCIAIS E POLÍTICOS. A PARTIR DESSA PERCEPÇÃO SE ORGANIZAM POLITICAMENTE. FRENTE NEGRA BRASILEIRA - SÃO PAULO / 1931 – 1º CICLO A - DESAFIOS IMEDIATOS ASSUMIDOS: LUTA CONTRA OS IDEÁRIOS RACISTAS PRECONIZADOS PELO RACISMO CIENTÍFICO; POLÍTICA DE BRANQUEAMENTO IMPLANTADA A PARTIR DO FINAL DO SÉCULO XIX AINDA EM VIGOR; INTEGRAÇÃO DO NEGRO NA SOCIEDADE BRASILEIRA

19 B- INFLUÊNCIAS TEÓRICAS E POLÍTICAS MARCANTES: A FRENTE NEGRA BRASILEIRA ELABORA UM DISCURSO PIONEIRO PARA O MOVIMENTO NEGRO BRASILEIRO EM RAZÃO DE SE CONSTITUIR NA PRIMEIRA EXPERIÊNCIA DE LUTA POLÍTICA ORGANIZADA DO NEGRO BRASILEIRO. É INFLUENCIADA PELO INTEGRALISMO DE PLINIO SALGADO E PELO PATRIONOVISMO MONÁRQUICO, CORRENTES DE PENSAMENTO PRESENTE NAS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO PASSADO. AS ELABORAÇÕES ACADÊMICAS NÃO INFLUENCIAM O PENSAMENTO DOS PENSADORES NEGROS DA ÉPOCA C- PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS: MOVIMENTO DE MASSA DE EXPRESSÃO NACIONAL, FILIOU MAIS DE 200 MIL PESSOAS NOS SEIS ANOS DE EXISTÊNCIA. NACIONALISTAS, CONSERVADORES E REFRATÁRIOS A QUALQUER CONSTRUÇÃO IDEOLÓGICA IDENTIFICADA COM OS TRABALHADORES IMIGRANTES (ANARQUISMO E COMUNISMO) D- PROPOSTAS: EDUCAR O NEGRO, INCENTIVAR COMPORTAMENTOS SOCIAIS PRÓXIMOS AOS DOMINANTES AO MESMO TEMPO EM QUE SE DISTANCIA DE VALORES OU COMPORTAMENTOS IDENTIFICADOS COM A CULTURA DE MATRIZ AFRICANA, COMO FORMA DE PROVAR A IGUALDADE ENTRE NEGROS E BRANCOS, VOLTA DA MONARQUIA. PRINCIPAIS BANDEIRAS DE LUTAS: ALFABETIZAÇÃO E INCLUSÃO NO MERCADO DE TRABALHO

20 TEATRO EXPERIMENTAL DO NEGRO – RIO DE JANEIRO / 1944 – 2º CICLO
A- DESAFIOS IMEDIATOS ASSUMIDOS: EDUCAÇÃO DO NEGRO, DESMITIFICAÇÃO DO MITO DA DEMOCRACIA RACIAL, INSERÇÃO DO NEGRO NA CULTURA UNIVERSAL, DENUNCIA DO RACISMO, VALORIZAÇÃO DA HERANÇA AFRICANA B- INFLUÊNCIAS TEÓRICAS E POLÍTICAS MARCANTES: O TEN FOI FUNDADO NO PERÍODO DO ENTERRO OFICIAL DO RACISMO CIENTÍFICO, SURGIMENTO DE IDEÁRIOS DEMOCRATIZANTES APÓS A DERROTA DO NAZISMO E DO FASCISMO, DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DO HOMEM. ASSUME UM DISCURSO DE BASE CULTURALISTA, RECEBE INFLUÊNCIA DOS DISCURSOS QUE VOGAM APÓS A SEGUNDA GUERRA, DO PANAFRICANISMO, MOVIMENTO NEGRITUDE, DOS PRINCIPAIS REVOLUCIONÁRIOS QUE CONDUZIRAM POLITICAMENTE A DESCOLONIZAÇÃO DO CONTINENTE AFRICANO E DOS PRIMEIROS ANOS DO MOVIMENTO DE DIREITOS CIVIS NOS ESTADOS UNIDOS;

21 C- PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS: MOVIMENTO SOCIAL APARTADO DAS MASSAS, INTELECTUALIZADO, AFROCENTRADO, QUE NO COMBATE AO MITO DA DEMOCRACIA RACIAL (ENCONTRO HARMÔNICO DAS TRÊS RAÇAS) INTENSIFICA A DENUNCIADO RACISMO E ACIRRA O DEBATE COM FOCO NAS SINGULARIDADES DAS IDENTIDADES. NÃO EXPRESSA UM PENSAMENTO INTEGRACIONISTA, MAS DE COEXISTENCIA ENTRE AS DIFERENÇAS D- PROPOSTAS: CONSTRUÇÃO DE UM ESTADO SOB A ÓTICA DO QUILOMBISMO (COMPÊNCIO TEÓRICO E IDEOLÓGICO, QUE ANTECIPA CARACTERÍSTICAS MULTICULTURALISTA, POR ISSO, PROPÕE UMA NOVA SOCIEDADE QUE ELEVE SOCIALMENTE A RAÇA NEGRA E OUTRAS IDENTIDADES. DISPENSA LUTA DE CLASSE E AFROCENTRIZA O DEBATE). AS PRINCIPAIS BANDEIRAS DE LUTA: INCLUSÃO NO MERCADO DE TRABALHO E NO SISTEMA EDUCACIONAL.

22 MOVIMENTO NEGRO UNIFICADO CONTRA DISCRIMINAÇÃO RACIAL – SÃO PAULO / 1978 – 3º CICLO
A- DESAFIOS IMEDIATOS ASSUMIDOS: COMBATE AOS RESQUÍCIOS DO MITO DA DEMOCRACIA RACIAL, DENUNCIA DO RACISMO EM TODAS SUAS FORMAS DE MANIFESTAÇÃO, PROPOSIÇÃO DE POLÍTICAS DE COMBATE AO RACISMO E PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL, RESSIGNIFICAÇÃO DE MARCOS HISTÓRICOS (ABOLIÇÃO, RESISTÊNCIA ESCRAVA, QUILOMBOS) B- INFLUÊNCIAS TEÓRICAS E POLÍTICAS MARCANTES: O MARCO DA LUTA CONTRA O RACISMO INAUGURAL DO TERCEIRO CICLO SE DÁ EM JULHO DE 1978, EM PLENA DITADURA MILITAR, POR ISSO, INICIALMENTE, O MOVIMENTO NEGRO FOI PROFUNDAMENTE INFLUENCIADO PELAS CORRENTES POLÍTICAS DE ESQUERDA QUE ENFRENTAVAM O REGIME DE EXCEÇÃO IMPOSTO PELOS MILITARES. É INFLUENCIADO PELO MARXISMO, PELA ACADEMIA, PELO MOVIMENTO DE DIREITOS CIVIS NOS EUA E PELO PROCESSO DE DESCOLONIZAÇÃO DA ÁFRICA.

23 C- PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS: RETOMADA DA LUTA DE MASSA, ARTICULAÇÃO COM PARTIDOS, UNIVERSIDADES, SINDICATOS, IGREJAS E MOVIMENTOS SOCIAIS, MAIOR ESCOLARIDADE DA MILITÂNCIA, CAPILARIDADE NACIONAL, FORTE INSTITUCIONALIDADE, GRANDE FRAGMENTAÇÃO, ALTISMO POLÍTICO E INTERNACIONALISMO. D- PROPOSTAS: INSTITUIÇÃO DE ESTRUTURAS GOVERNAMENTAIS DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL, ORDENAMENTO JURÍDICO PARA CRIMINALIZAÇÃO DO RACISMO E PARA RESGATE DE DIREITOS VIOLADOS, INSERÇÃO EM ESPAÇOS DE PODER. PRINCIPAIS BANDEIRAS DE LUTA: ESTATUTO DA IGUALDADE RACIAL, COTAS NAS UNIVERSIDADES, SERVIÇOS PÚBLICOS E NAS GRANDES CORPORAÇÕES, REGULARIZAÇÃO DE TERRAS QUILOMBOLAS, FORTALECIMENTO INSTITUCIONAL DOS ÓRGÃOS GOVERNAMENTAIS DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL, IMPLANTAÇÃO DA LEI /03

24 BIBLIOGRAFIA HISTÓRIA DO MOVIMENTO NEGRO NO BRASIL: DEPOIMENTO AO CPDOC / ORG. VERENA ALBERTI E AMILCAR ARAÚJO PEREIRA – RIO DE JANEIRO: PALAS; CPDOC-FGV, 2007. BLACKBURN, ROBIN. A CONSTRUÇÃO DO ESCRAVISMO NO NOVO MUNDO, ; TRADUÇÃO DE MARIA BEATRIZ DE MEDINA – RIO DE JANEIRO: RECORD, 2003 A QUEDA DO ESCRAVISMO COLONIAL, 1776 – 1848; TRADUÇÃO DE MARIA BEATRIZ DE MEDINA – RIO DE JANEIRO: RECORD, 2002 RIBEIRO, DARCY – O POVO BRASILEIRO: A EVOLUÇÃO E O SENTIDO DO BRASIL – SÃO PAULO: COMPANHIA DAS LETRAS, 1995. SILA, MARTINIANO JOSE. RACISMO À BRASILEIRA – RAÍZES HISTÓRICAS. SÃO PAULO, ANITA GARIBALDI, 2009. FREYRE, GILBERTO. CASA GRANDE & SENZALA: FORMAÇÃO DA FAMÍLIA BRASILEIRASOB O REGIME DA ECONOMIA PATRIARCAL. 25 ED. RIO DE JANEIRO, JOSÉ OLYMPIO EDITORA SOBRADOS E MUCAMBOS: DECADÊNCIA DO PATRIARCADO RURAL E DESENVOLVIMENTO DO URBANO. 2 ED. RIO DE JANEIRO, JOSÉ OLYMPIO EDITORA, 1951. MOURA, CLÓVIS. REBELIÕES DA SENZALA. 4 ER. PORTO ALEGRE, MERCADO ABERTO, 1988. FIGUEIREDO, JOSÉ RICARDO. MODOS DE VER A PRODUÇÃO NO BRASIL. SÃO PAULO, EDUC, CAMPINAS, SP: EDITORA AUTORES ASSOCIADOS, 2004. REIS, JOÃO JOSÉ. REBELIÃO ESCRAVA NO BRASIL: A HISTÓRIA DO LEVANTE DOS MALÊS EM 1835 – EDIÇÃO REVISTA E AMPLIADA. SÃO PAULO: COMPANHIA DAS LETRAS, 2003.