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Ciência e Fé Estrutura do Curso I - Introdução

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Apresentação em tema: "Ciência e Fé Estrutura do Curso I - Introdução"— Transcrição da apresentação:

0 Ciência e Fé Módulo III – Filosofia Medieval e Ciência Medieval
Outubro de 2011 a Fevereiro de 2012

1 Ciência e Fé Estrutura do Curso I - Introdução
II - Filosofia grega e cosmologia grega III - Filosofia medieval e ciência medieval IV - Inquisição e Ciência V e VI - O caso Galileu VII - A revolução científica VIII - Darwin e a Igreja Católica IX - Os Argumentos Cosmológico e Teleológico X - Filosofia da Mente e Inteligência Artificial XI - Milagres e Ciência XII - Desafios ao diálogo entre Ciência e Fé 1

2 Índice Introdução O cristianismo primitivo e o conhecimento grego
Santo Agostinho Ciência Medieval São Tomás de Aquino Conclusão Artigo muito bom sobre a evolução da filosofia medieval: 2

3 Ciência Medieval Boécio e Cassiodoro
Âncio Mânlio Severino Boécio (c d.C.), nascido em Roma logo após a deposição do último Imperador Romano do Ocidente, Rómulo Augusto (476 d.C.) Boécio foi um dos maiores enciclopedistas latinos Deixou ampla obra sobre o “quadrivium” (termo seu), as quarto “artes liberais” de base matemática: álgebra, geometria, música e astronomia Sobreviveram tratados sobre música, aritmética e geometria, traduções e comentários de tratados lógicos de Aristóteles Boécio é considerado o “professor de lógica” da Idade Média até ao séc. XIII Deixou uma forma rigorosa de fazer teologia (ex. “De Trinitate”), conciliada sempre que possível com a razão: “fidem si poteris rationemque conjuge” “A consolação da Filosofia”, obra muito influente em toda a Idade Média Cassiodoro (c d.C.), estadista romano, nascido na Calábria Depois de uma longa vida pública, funda o mosteiro de Vivarium Institutiones Divinarum et Saecularium Litterarum ( ) Obra pedagógica, serviu como programa de ensino para os monges de Vivarium O livro II, uma enciclopédia das “artes”, marcou o ensino monástico medieval Surge mais tarde em obra separada: De Artibus ac Disciplinis Liberalium Litterarum Fontes: Grant, pp Traduções e comentários escritos por Boécio a obras aristotélicas: Categorias (o seu comentário é um importante contributo para a discussão dos universais, ver Gilson, pp ), Da Interpretação, Primeiros Analíticos, Segundos Analíticos, Argumentos Sofísticos e Tópicos, etc. Até ao séc. XIII, altura em que surgem traduções para latim do Organon (completo) de Aristóteles, Boécio é a autoridade em lógica Durante a Idade Média, os manuais escolares (sobretudo dos temas do “quadrivium” e de lógica) estiveram apoiados fortemente no legado de Boécio Ver Gilson, pp A obra mais importante de Boécio, “A consolação da Filosofia”, escrita durante a sua prisão (ver Gilson, pp ): Cassiodoro: “Gesta Theodorici”, _Flavius_Magnus_Aurelius_Cassiodorus_(c_485_-_c_580).jpg Gilson, pp Sobre a queda do Império Romano e o último Imperador do Ocidente, consultar: 3 3

4 Primeira edição impressa das Etimologias – 1472 (Augsburgo)
Ciência Medieval Santo Isidoro, Bispo de Sevilha (c d.C.) Recebe a sua educação (“trivium” e “quadrivium”) na Catedral de Sevilha Papel central na conversão dos visigodos (arianos) ao catolicismo Com a ocupação visigótica da Hispânia (séc. V), as estruturas romanas de educação e cultura estavam em erosão No Quarto Concílio de Toledo (5 de Dezembro de 633), estando presentes todos os Bispos da Hispânia, Isidoro conseguiu: Que todas as catedrais da Hispânia tivessem um seminário O modelo escolar seria o mesmo do da Catedral de Sevilha A sua obra Etimologias (20 volumes) era um compêndio do saber clássico Esse compêndio era uma “colagem” de conteúdos cristãos e pagãos As Etimologias foram muito populares durante nove séculos, até ao século XV Escreveu De natura rerum, obra dedicada ao rei visigodo Sisebuto, sobre astronomia e filosofia natural Santo Isidoro de Sevilha é o patrono dos estudantes A sua obra sobre teologia moral e dogmática apoia-se em São Gregório Magno (Gregório I) e em Santo Agostinho Fontes: “Etimologias”: “Sentenças” de Santo Isidoro, “Sententiarum libri tres” no original Duhem: Primeira edição impressa das Etimologias – 1472 (Augsburgo) 4 4

5 Da Crónica de Nuremberga (1493)
Ciência Medieval São Beda, o Venerável Beda (c d.C.) foi monge dos mosteiros gémeos de São Pedro e São Paulo de Wearmouth-Jarrow (Sunderland e Newcastle, Inglaterra) Teólogo, historiador, filósofo, foi declarado Doutor da Igreja (Leão XIII) As ilhas britânicas nunca foram bem integradas no Império, e são os missionários e os monges quem leva para lá a cultura clássica grego-romana O fundador dos mosteiros, Benedict Biscop (c ), trouxe de Roma uma importante biblioteca, “ad instructionem ecclesiae necessariam” Com base nela, Beda escreve Historia ecclesiastica gentis Anglorum (c. 731) Escreveu três obras sobre o tempo as suas divisões, contendo: Cálculo da data da Páscoa com base na astronomia Ciclos das marés e sua relação com as fases da Lua Nessas obras, Beda defende a tese clássica (grega) da Terra esférica Escreve a enciclopédia De rerum natura, ou “Sobre a natureza das coisas” Da Crónica de Nuremberga (1493) Fontes: Gilson, pp Grant, p. 16. Obras de Beda: De temporibus, De temporum ratione, De ratione computi De rerum natura, ou De natura rerum: As obras completas de Bede, editadas em latim, na edição de 8 volumes do Rev. Giles (Londres, 1843): mid=28 As obras científicas estão no volume VI Sobre Benedict Biscop: Ver ainda Gilson, pp 5 5

6 Manuscriptum Fuldense (c. 831/40)
Ciência Medieval Alcuíno e o “Renascimento Carolíngio” Alcuíno de York (c.730/ d.C.) Figura de proa do “renascimento carolíngio” Formou-se na escola da Catedral de York Convidado por Carlos Magno para ser o mestre da corte carolíngia Carlos Magno ( ) promoveu um importante “renascimento” cultural: Na língua, unificando a escrita através do carolíngio minúsculo Na música, unificando o canto litúrgico e a escrita musical Na arquitectura, criando um estilo próprio (carolíngio) Nas artes decorativas (mosaicos, iluminuras, esculturas, frescos, etc.) Em 782, Alcuíno reorganiza a escola do palácio de Carlos Magno, em Aachen Alcuíno introduz as artes liberais (o “trivium” e o “quadrivium”) e revoluciona o ensino da corte carolíngia Alcuíno foi o mestre de Carlos Magno, e dos seus dois filhos, Pepino e Luís Ele trouxe a cultura latina, preservada em Inglaterra, para o reino Franco Homem de forte fé cristã, convenceu Carlos Magno a abandonar a prática de conversões forçadas (797) Manuscriptum Fuldense (c. 831/40) Fontes: Gilson, pp 6 6

7 De Geometria, Baviera, Séc. XII
Ciência Medieval Silvestre II (c ), o Papa matemático Gerberto de Aurillac nasceu em Belliac (hoje em Saint-Simon, França) 963: entra no mosteiro de São Geraldo de Aurillac : está em Barcelona, onde terá obtido os seus conhecimentos de matemática, astronomia e de cultura árabe a partir de professores árabes 969: está em Roma onde conhece o Papa João XIII e o Imperador Otto I Gerberto é nomeado tutor do futuro Imperador Otto II, filho de Otto I 995: Gerberto parte para Itália para ser o tutor de Otto III ( ) 999: por escolha de Otto III, Gerberto é eleito Papa Enquanto Papa, tomou medidas enérgicas contra a simonia e o concubinato Em 1001, a população de Roma revolta-se contra Otto III e Silvestre II foge para Ravena juntamente com Otto III Contribuições de Gerberto de Aurillac: Adopção da numeração árabe Adopção de um ábaco árabe, que se divulgou em toda a Europa Reintrodução da esfera armilar, desaparecida desde a queda de Roma Escreveu várias obras sobre temas do quadrivium (aritmética, geometria, astronomia e música) Fontes: Imagem: (mosaico na nave central de São Paulo Fora de Muros, Roma) Gravura da obra “De geometria”, de Gerberto de Aurillac: Ver também: James Hannam, “The genesis of Science”, pp De Geometria, Baviera, Séc. XII 7 7

8 Ciência Medieval Anselmo de Cantuária (c. 1033-1109 d.C.)
Nasceu em Aosta (Alpes italianos), monge beneditino, filósofo e teólogo Arcebispo de Cantuária ( ), Doutor da Igreja (Clemente XI, 1720) Defende a visão agostiniana da relação entre fé e razão Procura demonstrar racionalmente a existência de Deus Argumento “a priori”, ou “ontológico”: Definição: Deus é o ser maior que se pode conceber Deus, assim concebido, existe como ideia no intelecto Algo é maior se existir realmente, e não apenas no intelecto Logo, pela definição, Deus existe realmente, e não apenas no intelecto Os argumentos ontológicos, apesar da avalanche de críticas, ainda hoje são defendidos por filósofos Versões famosas do argumento: Descartes, Leibniz, Gödel, Plantinga (1974) «Na verdade, não procuro antes compreender para crer, mas creio para compreender. Pois também creio nisto: “se não acreditar, não compreenderei”» - Proslogion, I Fontes: Citação de Santo Anselmo (Proslogion, I): "Neque enim quaero intelligere ut credam, sed credo ut intelligam. Nam et hoc credo, quia, nisi credidero, non intelligam. " Anselmo cita a famosa frase de Isaías 7, 9: “nisi credideritis, non intelligetis”, “se não acreditar, não compreenderei”. Proslogion (latim): Proslogion (português): Argumento Ontológico de Santo Anselmo: capítulo 2 do Proslogion. Gilson, pp Robert Madoyle, Cap. 10 do “Blackwell Companion to Natural Theology”, “The Ontological Argument”, pp Argumentos Ontológicos: 8 8

9 Ciência Medieval As traduções medievais do “corpus aristotelicum” (séc. XII) Contexto (séculos X e XI): Fim das invasões Viking (últimas incursões no século XI) Prosperidade agrícola e comercial, invenções importantes (ferradura, arado com cunha em ferro) Maturidade teológica: Deus cria a Natureza como entidade auto-operante, uma “machina” seguindo o seu curso normal O “Corpus Aristotelicum” Lógica (“Organon”): o “órgão” que permite “trabalhar” as restantes áreas do saber Até ao século XII apenas chegaram as obras “Categorias” e “Da interpretação” (trad. Boécio) Tudo o resto desapareceu, à medida que cada vez menos pessoas sabiam ler grego (>séc. V) Os Analíticos Posteriores são traduzidos do grego e do árabe no séc. XII Física Metafísica Ética e Política Retórica e Poética E Platão? Durante toda a Idade Média, só estava disponível a tradução de metade do Timeu Fontes: Grant, pp. 15, 16, 24 Duhem: Corpus Aristotelicum (com numeração Bekker): Logic (Organon) (1a) Categories (or Categoriae) (16a) De Interpretatione ("On Interpretation") (24a) Prior Analytics (or Analytica Priora) (71a) Posterior Analytics (or Analytica Posteriora) (100a) Topics (or Topica) (164a) Sophistical Refutations (or De Sophisticis Elenchis) Physics (the study of nature) (184a) Physics (or Physica) (268a) On the Heavens (or De Caelo) (314a) On Generation and Corruption (or De Generatione et Corruptione) (338a) Meteorology (or Meteorologica) (391a) On the Universe** (or De Mundo) (402a) On the Soul (or De Anima) The Parva Naturalia ("Little Physical Treatises"): (436a) Sense and Sensibilia (or De Sensu et Sensibilibus) (449b) On Memory (or De Memoria et Reminiscentia) (453b) On Sleep (or De Somno et Vigilia) (458a) On Dreams (or De Insomniis) (462b) On Divination in Sleep (or De Divinatione per Somnum) (464b) On Length and Shortness of Life (or De Longitudine et Brevitate Vitae) (467b) On Youth, Old Age, Life and Death, and Respiration (or De Juventute et Senectute, De Vita et Morte, De Respiratione) (481a) On Breath** (or De Spiritu) (486a) History of Animals (or Historia Animalium) (639a) Parts of Animals (or De Partibus Animalium) (698a) Movement of Animals (or De Motu Animalium) (704a) Progression of Animals (or De Incessu Animalium) (715a) Generation of Animals (or De Generatione Animalium) Minor works: (791a) On Colors** (or De Coloribus) (800a) On Things Heard** (or De audibilibus) (805a) Physiognomonics** (or Physiognomonica) (815a) On Plants** (or De Plantis) (830a) On Marvellous Things Heard** (or De mirabilibus auscultationibus) (847a) Mechanics** (or Mechanica) (859a) Problems* (or Problemata) (968a) On Indivisible Lines** (or De Lineis Insecabilibus) (973a) The Situations and Names of Winds** (or Ventorum Situs) (974a) On Melissus, Xenophanes, and Gorgias** Metaphysics (980a) Metaphysics (or Metaphysica) Ethics and politics (1094a) Nicomachean Ethics (or Ethica Nicomachea) (1181a) Magna Moralia* ("Great Ethics") (1214a) Eudemian Ethics (or Ethica Eudemia) (1249a) On Virtues and Vices** (or De Virtutibus et Vitiis Libellus) (1252a) Politics (or Politica) (1343a) Economics* (or Oeconomica) Rhetoric and poetics (1354a) Rhetoric (or Ars Rhetorica) (1420a) Rhetoric to Alexander** (or Rhetorica ad Alexandrum) (1447a) Poetics (or Ars Poetica) 9 9

10 Ciência Medieval As traduções medievais do “corpus aristotelicum” (séc. XII) As traduções árabes de textos gregos só foram terminadas no século X A larga maioria foi feita na parte oriental do Islão (sobretudo Bagdade) As traduções entraram na Europa pelo Sul, mas a Reconquista (séc. XI) atrasou o processo Física: predominam as traduções do grego (fontes bizantinas, mais fiáveis) para o latim Physica: 371 manuscritos do grego e 134 do árabe De Caelo: 190 manuscritos do grego e 173 do árabe De Generatione et Corruptione: 308 manuscritos do grego e 48 do árabe Meteorologica: 175 manuscritos do grego e 113 do árabe De Anima: 423 manuscritos do grego e 118 do árabe Importantes tradutores do grego para o latim Séc. VI: Boécio (Roma) Séc. XII: Jaime de Veneza (Constantinopla), Henrique Arístipo (Catânia, Sicília), “Ioannes Hispanicus” e Domingos Gundisalvo (Toledo) Séc. XIII: Roberto Grosseteste (Oxford), Guilherme de Moerbeke (Corinto, Grécia) Importantes tradutores do árabe para o latim Gerardo de Cremona (séc. XII, Toledo) e Miguel Escoto (séc. XIII, Toledo) Fontes: Grant, pp Duhem: Stanford Encyclopedia of Philosophy: Corpus Aristotelicum (com numeração Bekker): Logic (Organon) (1a) Categories (or Categoriae) (16a) De Interpretatione ("On Interpretation") (24a) Prior Analytics (or Analytica Priora) (71a) Posterior Analytics (or Analytica Posteriora) (100a) Topics (or Topica) (164a) Sophistical Refutations (or De Sophisticis Elenchis) Physics (the study of nature) (184a) Physics (or Physica) (268a) On the Heavens (or De Caelo) (314a) On Generation and Corruption (or De Generatione et Corruptione) (338a) Meteorology (or Meteorologica) (391a) On the Universe** (or De Mundo) (402a) On the Soul (or De Anima) The Parva Naturalia ("Little Physical Treatises"): (436a) Sense and Sensibilia (or De Sensu et Sensibilibus) (449b) On Memory (or De Memoria et Reminiscentia) (453b) On Sleep (or De Somno et Vigilia) (458a) On Dreams (or De Insomniis) (462b) On Divination in Sleep (or De Divinatione per Somnum) (464b) On Length and Shortness of Life (or De Longitudine et Brevitate Vitae) (467b) On Youth, Old Age, Life and Death, and Respiration (or De Juventute et Senectute, De Vita et Morte, De Respiratione) (481a) On Breath** (or De Spiritu) (486a) History of Animals (or Historia Animalium) (639a) Parts of Animals (or De Partibus Animalium) (698a) Movement of Animals (or De Motu Animalium) (704a) Progression of Animals (or De Incessu Animalium) (715a) Generation of Animals (or De Generatione Animalium) Minor works: (791a) On Colors** (or De Coloribus) (800a) On Things Heard** (or De audibilibus) (805a) Physiognomonics** (or Physiognomonica) (815a) On Plants** (or De Plantis) (830a) On Marvellous Things Heard** (or De mirabilibus auscultationibus) (847a) Mechanics** (or Mechanica) (859a) Problems* (or Problemata) (968a) On Indivisible Lines** (or De Lineis Insecabilibus) (973a) The Situations and Names of Winds** (or Ventorum Situs) (974a) On Melissus, Xenophanes, and Gorgias** Metaphysics (980a) Metaphysics (or Metaphysica) Ethics and politics (1094a) Nicomachean Ethics (or Ethica Nicomachea) (1181a) Magna Moralia* ("Great Ethics") (1214a) Eudemian Ethics (or Ethica Eudemia) (1249a) On Virtues and Vices** (or De Virtutibus et Vitiis Libellus) (1252a) Politics (or Politica) (1343a) Economics* (or Oeconomica) Rhetoric and poetics (1354a) Rhetoric (or Ars Rhetorica) (1420a) Rhetoric to Alexander** (or Rhetorica ad Alexandrum) (1447a) Poetics (or Ars Poetica) Guilherme de Moerbeke: Traduções do “Corpus Aristotelicum” a partir do grego a pedido de São Tomás de Aquino? Primeira tradução medieval da “Política” (não fora traduzida pelos árabes) Traduziu Héron de Alexandria e Arquimedes 10 10

11 Ciência Medieval Ibn Rushd (1126-1198), ou Averróis
Natural de Córdova, no Al-Andalus, morreu em Marraquexe, Marrocos Fiel seguidor de Aristóteles, escreveu vários comentários à sua obra São Tomás de Aquino chamava-o “O Comentador” Averróis considerava perfeita e completa a obra de Aristóteles O averroísmo teve enorme peso no Ocidente e quase nenhum no Islão Ideias-chave do averroísmo Eternidade do Mundo A alma individual não é imortal O intelecto humano é uno (“monopsiquismo”) Averroístas importantes Sigério de Brabante, professor em Paris, acusado de defender a “dupla verdade” Boécio de Dácia, colega de Sigério, também professor em Paris O averroísmo, pelo que teve de servilismo nocivo, levou Duhem a adoptar esta posição radical: Estátua de Averróis em Córdova Fontes: Duhem, “History of Physics”, artigo na Catholic Encyclopedia: Esta visão de Duhem é muito polémica e contestada: é sabido que existiu ciência e técnica árabe, e muitas técnicas importantes surgiram na Idade Média como inovações árabes trazidas para o Sul da Europa; na sua ânsia de vincar a novidade da ciência medieval cristã, Duhem adopta uma posição demasiado radical; no entanto, há que entender em que é que Duhem se fundamenta para a sua visão tão negativa da ciência árabe: pelo menos nos factos incontestáveis de que: O Islão possui uma teologia voluntarista de fatalidade e submissão à vontade de Deus que não favoreceu o desenvolvimento das condições sociais necessárias ao estabelecimento de organizações puramente científicas, como as universidades medievais: os sábios árabes são a excepção, e não a regra da atitude do Islão face à ciência; dito isto, a história do Islão apresenta períodos de importante mecenato científico, como por exemplo, durante o califado abássida (séc. VIII, ver e o califado de Córdova ( d.C., ver A atitude dos sábios Árabes era, realmente, muito servil face ao aristotelismo: no cristianismo medieval, o aristotelismo foi conciliado com o cristianismo, pelo que a cristandade vai adoptar um aristotelismo muito mais moderado e, curiosamente, dessa forma ver-se livre de vários erros científicos aristotélicos Uma visão menos “dura” sobre a ciência árabe, mas plena de razões pertinentes para o fracasso da ciência no Islão (nomeadamente a influência da “escola” de al-Ash'arī e al-Ghazzālī – Algazel, que negavam as causas segundas, o que minava pela raiz qualquer projecto de criação científica; a “escola” mais “racionalista” de pensadores como al-Kindi e ibn-Rushd – Averróis, cedeu perante o avanço de uma teologia islâmica difícil de compatibilizar com o conhecimento científico), em Hodgson, pp Um bom exemplo de um sábio árabe que se destaca desta visão “dura” de Duhem, al-Haytham e o seu contributo para a óptica: «Não há ciência Árabe (…) eles [os sábios árabes] não acrescentaram nada de essencial às teorias astronómicas (…) Em Física, os sábios Árabes limitaram-se a comentários às afirmações de Aristóteles, sendo por vezes a sua atitude de absoluto servilismo.» - Pierre Duhem 11 11

12 Ciência Medieval As primeiras Universidades (c. 1200 d.C.) Bolonha
Paris (população de cerca de alunos) Oxford Aproximadamente alunos entre 1350 e 1500 Mais de 700 universidades em 1500 Grau de Mestre em Artes: Trivium: Dialéctica (Lógica), Retórica, Gramática As “três filosofias”: Natural, Moral, Metafísica Quadrivium: Aritmética, Geometria, Música, Astronomia Grau de Doutor: Teologia Medicina Direito Fontes: Números: Grant, p. 44. Herrad von Landsberg foi uma abadessa de um convento feminino na Alsácia, em Odilenberg (Hohenburg). A sua obra Hortus Deliciarum era um compêndio do saber científico da altura, escrito numa linguagem não técnica e simplificada, para instrução das noviças. O Hortus Deliciarum, de Herrad von Landsberg ( ) 12 12

13 Ciência Medieval As condenações de Etienne Tempier (?-1279), Bispo de Paris Antecedentes: 1210 Sínodo diocesano (Sens) decreta que as obras de Filosofia Natural de Aristóteles não podem ser lidas, sob pena de excomunhão Âmbito do decreto: Paris (era então Bispo Pedro de Nemours) 1215: a interdição é especificada para a Universidade de Paris 1255: fim da interdição Antecedentes: 1270 Por esta altura, já ninguém ligava ao decreto de Sens, e o averroísmo tinha grande peso em Paris Etienne Tempier, em reunião com vários teólogos, condena treze proposições aristotélicas e averroístas Unidade do intelecto humano Eternidade do mundo Eternidade do género humano, entre outras Alvos? Sigério de Brabante e Boécio de Dácia, figuras de proa do averroísmo parisiense Estes argumentavam que as polémicas proposições filosóficas podiam ser “verdadeiras em Filosofia” Tempier acusava (com alguma razão) os averroístas de defenderem a “dupla verdade” (contraditória) Etienne Tempier Fontes: Sobre a “dupla verdade”: Os averroístas não afirmavam abertamente a tese (logicamente absurda) de que duas afirmações contraditórias (uma de filosofia e outra de fé) podiam ser ambas verdadeiras Os averroístas diziam que as suas polémicas proposições eram legitimadas pelo método filosófico, e portanto, podiam ser verdadeiras em filosofia, mas em caso de conflito com verdades de fé, eles submetiam-se em última instância ao juízo da fé cristã Esta ambiguidade intelectual, a tender para o fideísmo (uma “verdade” aceite em filosofia passava a segundo plano, sob a autoridade de uma verdade contrária, mas de fé) incomodava os seus adversários, nomeadamente Tempier e São Tomás de Aquino 13 13

14 Ciência Medieval As condenações de Etienne Tempier (?-1279), Bispo de Paris 1277 (7 de Março) O Papa João XXI (n. Lisboa, c ) escreve a Tempier, em Fevereiro, preocupado com as controvérsias em Paris Tempier já estava a preparar, com um grupo de consultores, a condenação de 219 teses, que ocorre em Março, pouco depois da carta de João XXI Algumas das condenações pretendem vincar o poder absoluto de Deus: Que nada acontece por acaso, mas que tudo ocorre necessariamente (21) Que a primeira causa [Deus] não poderia fazer vários mundos (34) Que Deus não pode ser a causa de um novo acto [ou coisa] (48) Que Deus não poderia mover os céus num movimento rectilíneo, porque deixaria um vácuo (49) Algumas das condenações visam a astrologia e a adivinhação Algumas das condenações atacam o desprezo que alguns filósofos tinham por teologia ( ) Papa João XXI Fontes: Nota 1: Ao vincar o poder absoluto de Deus, Tempier e os seus consultores afirmam a contingência do Universo: Deus poderia ter criado um universo diferente do nosso; e com a condenação da proposição 34 sobre a pluralidade dos mundos, eles vão ao ponto de admitir o que Aristotóteles sempre negou (por causa da sua teoria da gravidade): que Deus poderia manter em existência simultânea vários mundos diferentes Nota 2: Algumas das condenações de Tempier poderiam visar teses de São Tomás de Aquino, apesar de este se ter envolvido directamente nas disputas contra os averroístas durante a sua regência em Paris ( ). Tempier teria mesmo chegado a investigar São Tomás com uma inquisição individual, na esteira do processo contra Giles de Roma (terminado antes de 28 de Março de 1277) que terminou com a censura de 51 proposições de Giles de Roma, retiradas do seu comentário às Sentenças de Pedro Lombardo. Robert Wielockx alega que Tempier teria recebido pressões da Curia romana para interromper a investigação a São Tomás. Fontes de Wielockx sobre o processo a Giles de Roma e a São Tomás, referidas no artigo da Stanford Encyclopedia: Robert Wielockx. “Autour du procs de Thomas d'Aquin.” In Thomas von Aquin. Werk und Wirkung im Licht neurerer Forschungen, ed. A. Zimmermann, Berlin, 1988. “Procédures contre Giles de Rome et Thomas d'Aquin. Réponse à J.M.M.H. Thijssen,” Revue des sciences philosophiques et théologiques, 83 (1999), pp “A Separate Process against Aquinas. A Response to John F. Wippel,” in: J. Hamesse (ed.), Roma, Magistra mundi. Iteneraria culturae medievalis (Mélanges L.E. Boyle), Louvain-La-Neuve, 1998, pp Manuscrito com as condenações de Tempier: Papa João XXI: Importância para a Física Pluralidade dos mundos (34) Aristóteles negava-a por causa da sua teoria da gravidade; abre-se a via para uma nova teoria Possibilidade teórica do vácuo (49) Aristóteles dizia que o movimento rectilíneo celestial era impossível pois criaria vácuo 14 14

15 Ciência Medieval Cronologia resumida da Universidade de Paris na Idade Média : São Tomás regente da Universidade de Paris; redige: 1200: Reconhecimento papal da Universidade (existiria pelo menos desde 1170 como uma “guilda” – “universitas” – de mestres e alunos erigida em torno de Notre Dame) Início das traduções de Aristóteles : São Tomás de Aquino é aluno de São Alberto Magno em Paris 1277: 219 proposições condenadas por Tempier A pedido do Papa João XXI, Tempier investiga as polémicas na Universidade de Paris e publica uma enorme lista de proposições condenadas De unitate intellectu De aeternitate mundi 1200 1210 1220 1230 1240 1250 1260 1270 1280 1210: Proibição do Sínodo Provincial de Sens 1270: Treze proposições condenadas por Tempier 1252: São Tomás de volta a Paris 1256: Grau de Mestre : São Tomás escreve a Suma contra os Gentios Fontes: Iluminura: encontro de doutores da Universidade de Paris (“From a medieval manuscript of "Chants royaux". Bibliothèque Nationale, Paris”): São Alberto Magno: São Tomás de Aquino: O Sínodo proíbe a leitura pública ou privada das obras de Filosofia Natural de Aristóteles. O âmbito da proibição era local, restringia os mestres e alunos da Faculdade de Artes de Paris. O Bispo Étienne Tempier condena treze proposições aristotélicas e averroístas, entre elas a da unidade do intelecto humano (contra os averroístas), e a da eternidade do mundo : São Tomás escreve a Suma Teológica 15 15

16 Ciência Medieval Buridan e Alberto da Saxónia: uma nova física nasce na Universidade de Paris Para Aristóteles, a velocidade de um corpo em movimento violento era proporcional à força que o movia e inversamente proporcional à resistência ao movimento: Esta relação implicava imediatamente que o vazio (resistência nula, R=0) geraria velocidades infinitas ! Aristóteles explicava o movimento continuado dos projécteis pela propulsão exercida pelo meio (ar) O filósofo e teólogo João Filopono de Alexandria ( d.C) sugere, no seu Comentário à Física de Aristóteles, que o movimento continuado dos projécteis se deve a uma energia impressa ao projéctil pelo propulsor, energia essa que se esgotava ao fim de algum tempo, mesmo sem resistência ao movimento Ibn Sīnā, ou Avicena (c d.C.), desenvolve a ideia: o “mayl” é uma “inclinação” proporcional ao peso do projéctil transferida do propulsor para este, e que é inesgotável na ausência de resistência Jean Buridan (c ) estabelece uma relação matemática correcta para o “impetus”: Alberto da Saxónia ( ), aluno de Buridan, desenvolve a teoria do ímpeto e explica o movimento violento em termos muito semelhantes ao conceito moderno de inércia: A-B: O ímpeto horizontal domina e a acção da gravidade é insignificante B-C: A resistência abranda a velocidade (e o ímpeto horizontal) C-D: Sem ímpeto horizontal, a gravidade gera ímpeto vertical (queda acelerada) Fontes: Edward Grant, pp : João Filopono rejeitou a proposta aristotélica: se o ar é que mantinha a propulsão do projéctil, porque é que não se conseguia colocar uma pedra em movimento pelo simples agitar do ar em torno dela? Importante: para Avicena, Buridan e Alberto, cuja filosofia de fundo ainda é aristotélica, o “mayl” e o “ímpeto” eram a causa do movimento do projéctil (graças ao motor, a causa era “internalizada” no projéctil), e por isso são conceitos distintos da moderna “quantidade de movimento”, que apesar de ter a mesma relação matemática que o “impetus” de Buridan, não é interpretada como a causa do movimento, mas sim uma medida da sua quantidade Ver Grant, p. 114, onde está a explicação de Buridan para a aceleração na queda, como aumentos sucessivos de velocidade por causa de aumentos sucessivos do ímpeto Inspiração teológica de Buridan: «God, when He created the world, moved each of the celestial orbs as He pleased, and in moving them he impressed in them impetuses which moved them without his having to move them any more... And those impetuses which he impressed in the celestial bodies were not decreased or corrupted afterwards, because there was no inclination of the celestial bodies for other movements. Nor was there resistance which would be corruptive or repressive of that impetus.», Questions on the Eight Books of the Physics of Aristotle: Book VIII Question 12, English translation in Clagett's 1959 Science of Mechanics in the Middle Ages, p Texto de Buridan com a definição de ímpeto: «When a mover sets a body in motion he implants into it a certain impetus, that is, a certain force enabling a body to move in the direction in which the mover starts it, be it upwards, downwards, sidewards, or in a circle. The implanted impetus increases in the same ratio as the velocity. It is because of this impetus that a stone moves on after the thrower has ceased moving it. But because of the resistance of the air (and also because of the gravity of the stone) which strives to move it in the opposite direction to the motion caused by the impetus, the latter will weaken all the time. Therefore the motion of the stone will be gradually slower, and finally the impetus is so diminished or destroyed that the gravity of the stone prevails and moves the stone towards its natural place. In my opinion one can accept this explanation because the other explanations prove to be false whereas all phenomena agree with this one.», tradução: Pedersen, Olaf ( ). Early physics and astronomy: a historical introduction. CUP Archive. p. 210; “after leaving the arm of the thrower, the projectile would be moved by an impetus given to it by the thrower (…) and would continue to be moved as long as the impetus remained stronger than the resistance, and would be of infinite duration were it not diminished and corrupted by a contrary force resisting it or by something inclining it to a contrary motion” (QM XII.9: 73ra), Buridan, John: 1509, Subtilissimae Quaestiones super octo Physicorum libros Aristotelis, Paris. Rpr. 1964, as Kommentar zur Aristotelischen Physik, Minerva, Frankfurt a. M. [QM]; Tradução (minha, a partir da tradução para inglês acima): «depois de abandonar o braço do lançador, o projéctil move-se graças a um ímpeto que lhe é dado pelo lançador, e este continuará a mover-se enquanto o ímpeto permanecer mais forte do que a resistência, e seria de infinita duração se não fosse diminuído ou corrompido por uma força contrária que lhe resistisse ou por algo inclinado a um movimento contrário» Grant, sobre Galileu, p. 115: “Consequentemente, Galileu (…) explicou a queda acelerada por meio de um impetus que é conservado e cumulativo, explicação que em pouco diferia da de Buridan”. 16 16

17 Ciência Medieval Campano de Novara e os Elementos de Euclides
Euclides de Alexandria (c. 300 a.C.) é o autor dos Elementos, o tratado matemático e geométrico mais influente de todos os tempos Boécio terá traduzido os Elementos, mas a tradução não sobreviveu c. 1120, Adelardo de Bath traduz os Elementos a partir do árabe Campano de Novara (c ), foi matemático, astrónomo, astrólogo e médico; a sua obra mais famosa é a revisão da tradução de Adelardo Foi capelão dos Papas Urbano IV, Adriano V, Nicolau IV e Bonifácio VIII Obras de Campano de Novara: Elementa [de Euclides], 1255–1259 Theorica planetarum 1261–1264 Computus maior, 1268 Tractatus de sphera, depois de 1268 De quadratura circuli De quadrante Tres circulos in astrolapsu descriptos Tractatus de astrologia indicaria Fontes: Imagens: (Oxyrhynchus papyrus (P.Oxy. I 29) showing fragment of Euclid's Elements) ( , Paris; Detail of a scene in the bowl of the letter 'P' with a woman with a set-square and dividers; using a compass to measure distances on a diagram. In her left hand she holds a square, an implement for testing or drawing right angles. She is watched by a group of students. In the Middle Ages, it is unusual to see women represented as teachers, in particular when the students appear to be monks. She is most likely the personification of Geometry, based on Martianus Capella's famous book De Nuptiis Philologiae et Mercurii, [5th c.] a standard source for allegorical imagery of the seven liberal arts. Illustration at the beginning of Euclid's Elementa, in the translation attributed to Adelard of Bath) (Veneza, 1482; The first page of Euclid's Elements from the Latin edition by Campanus of Novara. Published by Erhard Ratdolt in 1482.) 17 17

18 Ciência Medieval Grosseteste e a ciência experimental
Robert Grosseteste, Bispo de Lincoln (c ) Filósofo, teólogo, matemático, astrónomo 1229/ : professor no convento dos Franciscanos, em Oxford Expõe o método experimental, no comentário aos Analíticos Posteriores Como Aristóteles e Boécio, defende os dois sentidos do método: Indutivo: das experiências às teorias Dedutivo: das teorias às experiências (ex. Elementos de Euclides) Subordinação das ciências à Matemática (“De lineis…”) Contribuições para a Óptica (“De iride”) Obras (aplicações práticas do método experimental): De sphera (astronomia) De luce De accessu et recessu maris De lineis, angulis et figuris * De iride [i.e., do arco-íris] * * Estas obras mostram que Grosseteste conhecia a lei da reflexão e o fenómeno da difracção Fontes: Crombie explica a influência de Aristóteles (e Boécio) na ciência medieval do século XII: p Crombie explica a influência de Aristóteles (sobretudo os Analíticos Posteriores) em Grosseteste: p. 45-ss. “De Luce” traduzida para inglês por Clare Riedel (Marquette University Press, Milwaukee, Wisconsin, 1942): Gravura da obra “De multiplicatione specierum”: pg Detalhes sobre a gravura: A diagram which shows light being refracted by a spherical glass container full of water. Roger Bacon's diagram relating to the scientific study of optics. Title: Opus Majus or De multiplicatione specierum or possibly De natura locorum (?) Author: Bacon, Roger or possibly Grosseteste, Robert Production: England; 13th century Language: Latin The British Library, the holder of the manuscript and producer of the web page on which this image appears, describes the image as: Shelfmark: Royal 7 F. VIII Page Folio Number: f.25 Title of Work: De multiplicatione specierum Author: Bacon, Roger Production: England; late 13th century A. C. Crombie, Robert Grosseteste and the Origins of Experimental Science, Fig. 2 describes this diagram as follows: Diagram illustrating Grosseteste's theory, in De Nat. Loc. (see pp. 122, 149) of the focusing of the sun's rays by a spherical lens; from Roger Bacon's Opus Maius, iv. ii. 2, MS Roy. 7. F. viii, f. 25v.... Grosseteste, De iride, Baur, 1912, p. 74, Cfr. Crombie, p. 119: «This part of optics, when well understood, shows us how we may make things a very long distance off appear to be placed very close, and large near things appear very small, and how we make small things placed at a distance appear as large as we want, so that it is possible for us to read the smallest letters at an incredible distance, or to count sand, or grain, or seeds, or any sort of minute objects. But how this wonedr happens will be explained as follows. The visual ray penetrating through several transparent media of different natures is refracted where they meet, and the parts of it existing in the different media are joined at na angle at those meeting- points. This is clear from this experiment which is set out in the first place in the book De Speculis: if something is put in a vessel and the observer takes up a position so far away that it can no longer be seen, and then water is poured in, whatever was put in will be seen.» 18 18

19 Ciência Medieval Roger Bacon (c. 1214-1294), “doctor mirabilis”
Natural de Ilchester, Somerset, aos treze anos, matricula-se em Oxford ca , mestre na Universidade de Paris ca. 1249: já mestre, terá entrado no “círculo” oxfordiano de Grosseteste 1256: torna-se frade franciscano e deixa de ensinar 1260: um novo estatuto franciscano impede que os frades ensinem sem permissão prévia, mas Bacon será toda a vida um franciscano convicto 1265: Clemente IV, que já era amigo de Bacon, é eleito Papa Clemente IV encomenda uma obra a Bacon, a Opus Majus (1267) → Parte I: obstáculos à verdade Parte II: relação entre filosofia e teologia (a base de todas as ciências) Parte III: linguística, línguas bíblicas, gramática Partes IV, V, VI: matemática, óptica e ciência experimental Parte VII: filosofia moral e ética No séc. XIX, a “tese do conflito” faz dele um “mártir” às mãos da Igreja Bacon deverá ter estado preso ou em prisão domiciliária ( ) As razões são incertas, mas é consensual que não seriam científicas Fontes: Sobre a ciência experimental (trad. para inglês): Diagrama da estrutura do olho e dos seus princípios ópticos: Ver A.C. Crombie, pp para uma apresentação e discussão do legado de Roger Bacon. Crombie, pp , para uma discussão do contributo de Bacon para a óptica e estrutura do olho. Crombie, pp , para uma discussão do contributo de Bacon para a compreensão do fenómeno do arco-íris. Crombie, pp , para uma discussão da relação entre Roger Bacon, Pierre de Maricourt (Petrus Peregrinus), Robert Grosseteste e Vitelo. Crombie, pp , sobre a influência do trabalho de Vitelo em Grosseteste e Bacon. 19 19

20 Ciência Medieval Roger Bacon (c.1214-1294), “doctor mirabilis”
«Quero agora apresentar os princípios da ciência experimental, pois sem experiência nada pode ser suficientemente conhecido. Pois há dois modos de adquirir conhecimento, pelo raciocínio e pela experiência. Raciocinar leva a uma conclusão e faz-nos aceitar a conclusão, mas não torna certa a conclusão, e não remove a dúvida de forma a que a mente possa descansar na intuição da verdade, a não ser que a mente a descubra pelo método da experiência (via experientiae); pois muitos têm argumentos relacionados com o que pode ser conhecido, mas porque não têm a experiência, negligenciam os argumentos, e não só não evitam o que é danoso, como não seguem o que é bom. Pois se um homem que nunca viu um fogo provasse através de raciocínio adequado que o fogo queima e fere as coisas e as destrói, a sua mente não ficaria satisfeita com isso, nem esse homem evitaria o fogo, de forma a que ele pudesse provar pela experiência que aquilo que o raciocínio ensinou. Mas quando ele tem a experiência actual da combustão a sua mente torna-se certa e permanece na plena luz da verdade. Assim, o raciocínio não chega, mas a experiência sim… O que Aristóteles diz, então, de que a demonstração é um silogismo que nos faz conhecer, deve ser entendido se a experiência dele acompanhar a demonstração, e não deve ser entendido como [se tratasse da] mera demonstração.» Opus Majus, VI, I Fontes: Crombie, p Ver ainda a importante nota de rodapé 2, nessa mesma página: «Opus Maius, vi, I, ed. Bridges, ii, Roger Bacon maintained in this chapter that there were two kinds of experience, namely, through the exterior senses and through interior illuminations, and so he held like Grosseteste that absolute certainty about causes was reached only when the human intellect was aided and its conclusions transformed by the Divine light. In ii, 5, ed. Bridges, i, 39, he said ‘philosophy exists through the influence of Divine illumination’.» 20 20

21 Ciência Medieval Guilherme de Ockham (c.1288-c.1348)
Frade franciscano inglês e filósofo escolástico Terá estudado em Oxford entre 1319 e 1321, sem completar o mestrado Em 1323, alguém viajou de Inglaterra para a corte Papal em Avignon, para o denunciar como herege Em 1324, Ockham tem que se deslocar a Avignon para ser interrogado Permanece em Avignon entre 1324 e 1328, e envolve-se em controvérsias Em 1328, foge para Pisa com o seu superior, Miguel de Cesena, e outros Em 1329, sob a protecção do Imperador Luís da Baviera, seguem para Munique Excomungado por ter fugido de Avignon, Guilherme fica em Munique até à sua morte em 1347 Legado: A “navalha de Ockham”: não se devem multiplicar as entidades para lá do necessário A expressão é atribuída a Ockham, mas não surge na sua obra O também chamado “princípio da economia, ou da parcimónia” é muito antigo e comum A sua Suma de Lógica faz dele um dos mais importantes lógicos medievais Por negar os universais, Ockham é considerado o pai do nominalismo * Céptico acerca das causas finais: “todas as causas são imediatas” Céptico acerca da eficácia da razão em Teologia: tendia para o fideísmo Fontes: A.C. Crombie, pp Ockham formulou textualmente (sem simbologia matemática) as (hoje chamadas) Leis de De Morgan: Sobre o nominalismo de Ockham, há quem o classifique, não como nominalista, mas como conceptualista, ou terminalista (ver distinções na Catholic Encyclopedia e na Stanford Encyclopedia of Philosophy) Período de Ockham em Avignon e controvérsias: 1.2 Avignon (1324–28) While in Avignon, Ockham stayed at the Franciscan convent there. It has sometimes been suggested that he was effectively under “house arrest,” but this seems an exaggeration. On the contrary, he appears to have been free to do more or less as he pleased, although of course he did have to be “on hand” in case the investigating commission wanted to question him about his writings. The investigation must not have demanded much of Ockham's own time, since he was able to work on a number of other projects while he was in Avignon, including finishing his last major theological work, the Quodlibets. It should be pointed out that, although there were some stern pronouncements that came out of the investigation of Ockham, his views were never officially condemned as heretical. In 1327, Michael of Cesena, the Franciscan “Minister General” (the chief administrative officer of the order) likewise came to Avignon, in his case because of an emerging controversy between the Franciscans and the current Pope, John XXII, over the idea of “Apostolic poverty,” the view that Jesus and the Apostles owned no property at all of their own but, like the mendicant Franciscans, went around begging and living off the generosity of others. The Franciscans held this view, and maintained that their own practices were a special form of “imitation of Christ.” Pope John XXII rejected the doctrine, which is why Michael of Cesena was in Avignon. Things came to a real crisis in 1328, when Michael and the Pope had a serious confrontation over the matter. As a result, Michael asked Ockham to study the question from the point of view of previous papal statements and John's own previous writings on the subject. When he did so, Ockham came to the conclusion, apparently somewhat to his own surprise, that John's view was not only wrong but outright heretical. Furthermore, the heresy was not just an honest mistake; it was stubbornly heretical, a view John maintained even after he had been shown it was wrong. As a result, Ockham argued, Pope John was not just teaching heresy, but was a heretic himself in the strongest possible sense, and had therefore effectively abdicated his papacy. In short, Pope John XXII was no pope at all! Clearly, things had become intolerable for Ockham in Avignon. 21 21

22 Ciência Medieval Pierre de Maricourt (fl. 1269), “Petrus Peregrinus”
Autor do melhor exemplo de uso do método experimental no séc. XIII Carta de Pedro Peregrino de Maricourt a Sigério de Foucaucourt, soldado, acerca do Íman; terá sido escrita por volta de 1269 Maricourt foi o primeiro a aplicar o termo “pólo” num íman Conteúdo: Como identificar os pólos de um íman Propriedades da magnetite Efeito magnetizador da magnetite sobre o ferro Leis da atracção e repulsão magnética Aplicação dos conceitos a bússolas “secas” e “húmidas” Sugestão de uma máquina de perpétuo movimento Primeira edição impressa: 1558, Augsburgo (ed. Achilles Gasser) William Gilbert ( ) reconhece a sua dívida a Maricourt Gilbert publica em 1600 a sua importante obra, De magnete A medalha Petrus Peregrinus é atribuída, hoje em dia, pela European Geosciences Union (EGU) a quem se destacar por contribuições científicas no campo do magnetismo Fontes: Texto da “Carta sobre o Íman”: Crombie, p. 208 sobre o “De magnete”, de Pierre de Maricourt: “The work described in De Magnete is the best known example of the use of the experimental method in the thirteenth century”. William Gilbert: 22 22

23 Ciência Medieval Os “calculadores” de Merton College, Oxford
Activos no segundo quartel do século XIV Thomas Bradwardine (c ) William Heytesbury (c /3) Richard Swineshead (fl. c ) John Dumbleton (fl. c ) Distinguiram a cinemática da dinâmica, e focaram-se a primeira Descobriram o teorema da velocidade média, no contexto do movimento uniformemente acelerado: «As fontes até hoje publicadas provam, sem dúvida, que as principais propriedades cinemáticas dos movimentos uniformemente acelerados, ainda [hoje] atribuídos a Galileu nos textos sobre física, foram descobertos e demonstrados pelos académicos de Merton College… As qualidades da física Grega foram substituídas, pelo menos para os movimentos, por quantidades numéricas que reinaram na ciência Ocidental desde então. O [seu] trabalho foi rapidamente difundido por França, Itália, e outras partes da Europa. Quase imediatamente, Giovanni di Casale e Nicole Oresme encontraram forma de representar os resultados geometricamente, introduzindo a ligação entre geometria e o mundo físico que se tornou num segundo hábito característico do pensamento Ocidental...» - Clifford Truesdell Fontes: Grant, pp Texto de William Heytesbury, com a descrição do teorema da velocidade média (Regule solvendi sophismata, 1335), cfr. Grant, p. 119: “Porque quer ela [ou seja, a latitude ou aumento de velocidade] comece em zero graus quer em algum outro grau [finito], cada latitude, desde que termine num grau finito, e desde que seja adquirida ou perdida uniformemente, corresponderá ao seu grau médio [de velocidade]. Assim, o corpo em movimento, adquirindo ou perdendo essa latitude uniformemente durante algum determinado período de tempo, percorrerá uma distância exactamente igual à que percorreria em igual período de tempo se se movesse uniformemente com o seu grau médio [de velocidade].” Nota: na ausência de notação matemática, e numa época em que a álgebra não estava muito desenvolvida, o teorema é explicado textualmente. 23 23

24 Ciência Medieval Nicole Oresme, Bispo de Lisieux (c. 1320-1382)
Formula a demonstração geométrica do teorema da velocidade média Na obra “Sobre as Configurações de Qualidades e Movimentos” (1350) A velocidade está nas abcissas e o tempo nas ordenadas: A área do triângulo CBA é igual à área do rectângulo AFGB Compare-se com a mesma demonstração, feita por Galileu Galilei em 1638 → Ao contrário de Galileu, Oresme nunca passou da demonstração geométrica à sua aplicação a problemas reais, como ao problema dos corpos em queda Fontes: Grant, pp Miniatura de Oresme: Demonstração geométrica de Oresme: Demonstração geométrica de Galileu: jpg da sua obra “Discorsi e dimostrazioni matematiche, intorno à due nuove scienze” (1638, Leiden, Holanda), p. 173. 24 24

25 Ciência Medieval Nicole Oresme, Bispo de Lisieux (c. 1320-1382) v t
Quando em escolástica se discutiam as qualidades ou formas acidentais, usavam-se os termos intensio vs. extensio, ou latitudo vs. longitudo Na sua obra “Tratado da forma latitudinal”, Oresme introduz a representação em sistemas de coordenadas ortogonais: latitudo = ordenadas, longitudo = abcissas “Latitudo uniformis” é uma linha paralela às longitudes (abcissas) Mostrou que o espaço percorrido por um ponto em velocidade constante corresponde à área v x t t v Fontes: Miniatura de Oresme: Páginas da obra “Tractatus de latitudinibus formarum”: 25 25

26 Ciência Medieval Buridan e Oresme sobre a rotação da Terra
Jean Buridan, no seu comentário ao De Caelo, sugere que os fenómenos celestes podem ser explicados com a Terra parada e os céus em rotação, ou inversamente, com a Terra em rotação e os céus parados Sugeriu que seria mais simples se a Terra girasse, em vez dos céus No entanto, apesar desta intuição, e devido às suas convicções físicas (aristotélicas), rejeitou a rotação da Terra: Oresme, comentando o De Caelo (1377), rejeita a rotação da Terra, mas dá argumentos em contrário: Se a Terra rodasse, arrastaria todas as coisas terrestres com ela, incluindo o ar Se a Terra rodasse, uma flecha lançada na vertical cairia na vertical (movimento composto) A rotação diária da Terra far-se-ia a velocidades bem menores que as rotações celestes Copérnico aproveitou estes argumentos na sua “Sobre as Revoluções dos Orbes Celestes” (1543) Oresme menciona o milagre de Josué (10, 12-14): seria mais simples para Deus parar a Terra «É mais fácil mover um corpo pequeno do que [um] grande. Mas as coisas não são todas iguais, porque os corpos terrestres, pesados, não estão adaptados ao movimento. Seria mais fácil mover água do que terra; e ainda mais fácil mover ar; e ao ascendermos assim, os corpos celestes são, pela sua natureza, os mais fáceis de mover.» Fontes: Vários, “Nicole Oresme”, artigo na Catholic Encyclopedia: Duhem, “History of Physics – The Earth’s motion – Oresme”, artigo na Catholic Encyclopedia: Miniatura de Oresme: Grant, pp Milagre de Josué (cap. 10, vs ): «12 No dia em que o SENHOR entregou os amorreus nas mãos dos filhos de Israel, Josué falou ao SENHOR e disse, na presença dos israelitas: «Detém-te, ó Sol, sobre Guibeon; e tu, ó Lua, sobre o vale de Aialon.» 13 E o Sol deteve-se, e a Lua parou até o povo se ter vingado dos seus inimigos. Isto está escrito no Livro do Justo. O Sol parou no meio do céu e não se apressou a pôr-se durante quase um dia inteiro. 14 Nem antes nem depois houve um dia tão longo como aquele em que o SENHOR obedeceu à voz de um homem, pois o SENHOR combatia ao lado de Israel. 15 Depois disto, Josué voltou para o acampamento de Guilgal, com todo o Israel.» Fonte: 26 26

27 Conclusão Condições contextuais para a Revolução Científica (cfr. Edward Grant) Traduções Durante os séculos XII e XIII o Ocidente cristão fez a tradução da ciência e da filosofia natural greco-árabe para latim, sem a qual não haveria grande parte do material de ensino para os currículos preparatórios das universidades medievais. No início do século XIII, em Paris, Oxford e Bolonha, foram fundadas as primeiras universidades, pouco depois de concluída a maioria das traduções; o seu currículo preparatório (Bacharel e Mestre em Artes) incluía Lógica, Filosofia Natural, Geometria, Aritmética, Música e Astronomia. Os graus de Doutoramento: Direito, Medicina e Teologia. Universidades Nas universidades medievais, não era possível obter o grau de Doutor em Teologia sem o grau de Mestre em Artes. Este requisito produziu gerações de teólogos-filósofos, cujo trabalho teológico exigia uma sólida competência nas Artes. Estes teólogos-filósofos consideravam essa formação essencial para o exercício da Teologia. Teólogos- filósofos Edward Grant não omite o papel de Bizâncio no preservar da ciência e filosofia natural grega, mas aponta algumas razões para o não florescimento da ciência no Oriente cristão e para o pouco impacto que teve no Ocidente esse imenso acervo cultural de conhecimento grego (pp ) Como refere Grant (p. 205), os teólogos-filósofos resistiram à tentação de criar uma “ciência cristã”, ou seja, não usavam a Bíblia para dirimir questões filosóficas ou de ciência natural, apelando à autoridade divina 27 27

28 Conclusão Porque falhou a Ciência noutras culturas? (cfr. Toby Huff, Edward Grant) O problema da ciência árabe Como é que uma cultura tão rica em ideias científicas não floresceu? Falta de estruturas académicas autónomas e “neutras” (livres do poder político e religioso) As “madrassas” servem o fito de preservar a tradição do Islão: a Sharia (lei), os Hadiths (ditos do Profeta), a recitação do Corão e outras áreas do saber religioso islâmico Os professores do Islão podiam estudar, em privado, o “saber estrangeiro” (p. ex.: a filosofia grega), e transmiti-lo de forma particular e individual a certos alunos seus, mas não o ensinavam de forma generalizada e sistemática Os livros do “saber estrangeiro” podiam ser preservados nas bibliotecas das “madrassas”, mas para uso exclusivo e privado dos professores Nunca houve uma tradição académica de conciliação da filosofia grega com o Corão, ou de defesa filosófica da teologia islâmica: essa conciliação era tida como impossível Todavia, os hospitais islâmicos representaram um progresso civilizacional importante Contexto filosófico e teológico desfavorável: Voluntarismo de Alá: o Deus do Islão não está “limitado” pela razão (cfr. Bento XVI, 2006) Al-Gazali ( ) ou Algazel: afirma que a pesquisa da verdade filosófica ou científica é perigosa; a única verdade sólida, fora do Corão e da tradição, é a demonstrada pela Lógica Fontes: Secção “The arresting of arabic science”, na obra “The rise of early modern science”, de Toby E. Huff, pp Grant também explica as diferenças, em termos de atitude face ao conhecimento grego, adoptadas pelo Islão e pela Cristandade (pp ): Velocidade de adaptação: o cristianismo adaptou-se lentamente, durante 3 séculos, à cultura grego-romana; o Islão conquistou o seu espaço vital pela força das armas Separação entre autoridade espiritual e poder temporal: com o ensinamento de Jesus (“Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”), os cristãos iniciaram o seu percurso histórico como cidadãos integrados no Império Romano, respeitando o poder temporal e a autonomia entre Igreja e Estado; segundo Grant, isto permitiu a aceitação inicial da filosofia grega (a da sociedade na qual os primeiros cristãos se moviam) e séculos mais tarde a autonomização do saber universitário Institucionalização da filosofia natural: segundo Grant, os árabes tiveram extraordinário domínio das ciências exactas, mas sem institucionalizarem o seu ensino, e mais grave ainda, sem adoptarem de forma generalizada uma filosofia natural compatibilizada com o Islão; segundo Grant, sem filosofia natural própria, a prática das ciências exactas no Islão não tinha grande futuro, enquanto que a sólida filosofia natural da Idade Média cristã, mesmo que mais pobre na prática das ciências exactas, tinha os fundamentos filosóficos necessários à Revolução Científica Desafios filosóficos da teologia cristã, maiores que os da teologia islâmica: conceitos como os da cristologia, trindade, incarnação, transubstanciação, etc., requeriam uma sólida filosofia para serem explicados teologicamente Ver ainda: Discurso de Bento XVI no Encontro com os representantes das ciências, na Aula Magna da Universidade de Regensburg, Terça-feira, 12 de Setembro de 2006: xvi_spe_ _university-regensburg_po.html Excerto relevante acerca da diferença entre a cristandade e o Islão no que toca à racionalidade em Deus: “No sétimo colóquio (διάλεξις – controvérsia) publicado pelo Prof. Khoury, o imperador aborda o tema da jihād, da guerra santa. O imperador sabia seguramente que, na sura 2, 256, lê-se: «Nenhuma coacção nas coisas de fé». Esta é provavelmente uma das suras do período inicial – segundo uma parte dos peritos – quando o próprio Maomé se encontrava ainda sem poder e ameaçado. Naturalmente, sobre a guerra santa, o imperador conhecia também as disposições que se foram desenvolvendo posteriormente e se fixaram no Alcorão. Sem se deter em pormenores como a diferença de tratamento entre os que possuem o «Livro» e os «incrédulos», ele, de modo surpreendentemente brusco – tão brusco que para nós é inaceitável –, dirige-se ao seu interlocutor simplesmente com a pergunta central sobre a relação entre religião e violência em geral, dizendo: «Mostra-me também o que trouxe de novo Maomé, e encontrarás apenas coisas más e desumanas tais como a sua norma de propagar, através da espada, a fé que pregava».[3] O imperador, depois de se ter pronunciado de modo tão ríspido, passa a explicar minuciosamente os motivos pelos quais não é razoável a difusão da fé mediante a violência. Esta está em contraste com a natureza de Deus e a natureza da alma. Diz ele: «Deus não se compraz com o sangue; não agir segundo a razão – «σὺν λόγω» – é contrário à natureza de Deus. A fé é fruto da alma, não do corpo. Por conseguinte, quem desejar conduzir alguém à fé tem necessidade da capacidade de falar bem e de raciocinar correctamente, e não da violência nem da ameaça... Para convencer uma alma racional não é necessário dispor do próprio braço, nem de instrumentos para ferir ou de qualquer outro meio com que se possa ameaçar de morte uma pessoa...».[4] Nesta argumentação contra a conversão através da violência, a afirmação decisiva está aqui: não agir segundo a razão é contrário à natureza de Deus.[5] E o editor, Theodore Khoury, comenta: para o imperador, como bizantino que cresceu na filosofia grega, esta afirmação é evidente; mas não o é para a doutrina muçulmana, porque Deus é absolutamente transcendente. A sua vontade não está vinculada a nenhuma das nossas categorias, incluindo a da razoabilidade.[6] Neste contexto, Khoury cita uma obra do conhecido islamita francês R. Arnaldez, onde este assinala que Ibn Hazm chega a declarar que Deus nem sequer estaria vinculado à sua própria palavra e que nada O obrigaria a revelar-nos a verdade. Se fosse a sua vontade, o homem deveria inclusive praticar a idolatria.[7]” Sobre Algazel: 28 28


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