Religião, Modernidade e Desencantamento Prof. Júlio Paulo T. Zabatiero.

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Transcrição da apresentação:

Religião, Modernidade e Desencantamento Prof. Júlio Paulo T. Zabatiero

 Tempo Pré-Moderno  Densidade metafísica  Controle teológico e político  Tópico, cumprimento da vontade divina  Subsume o secular ao sagrado  Céus desafiam a terra

 Tempo Moderno  Densidade histórico- ontológica  Controlado, econômica e tecnologicamente  Utópico, teleológico;  Absorve o E(e)terno, laiciza o sagrado  Domina o “homem”, que domina o espaço

 Espaço Pré-Moderno  Local-Regional  Baixa mobilidade  Conflito entre Nobres e “Nações”  Territorial: delimitado pela nobreza  Campo predomina sobre a cidade  Homogeneidade cultural-religiosa local

 Espaço Moderno  Eurocêntrico  Vencido pela mobilidade/velocidade  Globalizador  Territorial: delimitado cultural/economica- mente  Cidade predomina sobre o campo  Heterogeneidade

 Mundo Moderno  Comercial  Industrial  Financeira  Urbanização  Nuclearização da família  Individualização da pessoa  Mercado onipresente...  Mundo Pré-Moderno  Agrícola  Troca  Rural  Família extensa  Comunidade acima da pessoa  Nobreza e Deus onipresentes...

 No mundo pré-moderno o estado era pessoal e oni-abarcante; a lei era divino-natural – direito e moral unificados;  Na Modernidade: O Estado se despersonaliza, burocratiza e regulamenta; separa-se da sociedade civil e vive em tensão com ela; O Direito é constitucional, a lei é positiva, implanta a vigilância na identidade das pessoas e desacopla o direito da moral; Como veremos em um próximo encontro, cria-se tensão com as normas religiosas e o lugar da religião na esfera pública é questionado e reduzido.

 Na Europa pré-moderna, a filosofia era uma “sub-divisão” da teologia – * a revelação determinava os limites da razão, * a teologia fornecia os critérios de verdade; e * impunha à racionalidade uma atmosfera teístico-transcendental derivada da ortodoxia “cristã”; * por outro lado, a ortodoxia se construiu predominante a partir da apropriação do pensamento de Aristóteles na magistral síntese ontoteológica de Tomás de Aquino;

 Na Europa moderna, a filosofia se desliga da teologia e a razão da revelação (um processo que se consuma no século XIX), embora tenham se desenvolvido correntes filosóficas que mantinham espaço para a fé religiosa e que reconheciam o substrato cristão de seus conteúdos principais;  Em termos gerais, porém, o título de um dos livros de Kant fornece o tom do pensamento moderno em relação à fé – “a religião dentro dos limites da razão”;

 As principais características da cultura filosófica moderna podem ser assim descritas:  (1) uma concepção mecanicista do universo (que substitui o Universo denso de conteúdo dos tempos pré-modernos), incluindo o planeta Terra e todos os seres nele viventes – mesmo o corpo humano passa a ser concebido como máquina – um organismo-máquina, por assim dizer, anômalo, pois busca e produz sentido;

 (1) Essa concepção mecanicista possibilita o surgimento e o desenvolvimento das ciências: * autônomas em relação à revelação e à filosofia, * o predomínio da metodologia empirista (ciências da natureza acima das ciências humanas), * a matematização e formalização do pensamento científico, * a mentalidade nomológica – o universo (e a vida humana) é “regido” por leis que a ciência deve construir e dominar, a fim de tornar a vida humana melhor, e, por fim, * o desenvolvimento da técnica (tecnologia), que passa a ser o modo predominante da relação humana com o mundo em sua totalidade;

 (2) Como conseqüência da concepção mecanicista, apoiada pelos movimentos de reforma teológica e institucional do cristianismo, promoveu-se o desencantamento do mundo (que estudaremos melhor no próximo encontro), e a virada antropocêntrica da cultura: * o ser humano não é mais poroso, submetido a forças espirituais incontroláveis, mas se torna impermeável, senhor e sujeito da vida e história, * desenvolveu-se uma ética centrada e fundada na liberdade humana, desvinculada do dever para com Deus, e * a noção de dignidade da pessoa, fazendo do indivíduo a base dos direitos e a fonte da legitimidade das leis;

 (3) Por fim, construiu-se o que se convencionou chamar de civilização, noção que fez dos tempos pré- modernos tempos de barbárie, tempos sub-humanos, sem as luzes da razão (daí a Idade Média ter sido chamada de a Idade das Trevas). A civilidade é: * desenvolvimento das boas-maneiras e da cortesia (comportamento da corte que se populariza e universaliza: não cuspir em público, não arrotar, não peidar, não comer em pratos comuns...), * desenvolvimento da privacidade e da intimidade, que fazem da família nuclear e sua casa o centro da vida emocional, * letramento e educação formal, disciplina pessoal, valorização da produtividade, senso de decoro, respeito às leis...

 Pré-Modernidade  Teológica - Eternidade  Racionalidade religiosa  Confissão  Individuação subsumida à família e comunidade  Feudalizante (desigualdade humana legitimada)  Absorção ao “urbi et orbi” – súdito de Deus e do Rei

 Modernidade  Histórica – passado  Racionalidade técnico- instrumental  Disciplinarização  Individuação e identificação  Democratizante (desigualdade humana deslegitimada)  Absorção do objeto – produto de consumo

 Sujeito Moderno  Centrado  Sujeito da História  Conquistador  Produtor  Corpo e emoções racionalizados  Vigilante e punitivo  Individualista  Autônomo (em relação a Deus, Estado...)

 Identidade Moderna  Etnocêntrica e Nacionalista  Ontológica  Civilizatória  Individualizada e individualizante  Mecanicista  Vigilante (espaço da Lei, da Moral e da religião)