AMAZÔNIA E A CONSTRUÇÃO NAVAL ARTESANAL “OS CONSTRUTORES DE BARCOS DO BAIXO-TOCANTINS” ROBERTO PINA OLIVEIRA Coordenador Geral da Cooperativa de Trabalhadores.

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Transcrição da apresentação:

AMAZÔNIA E A CONSTRUÇÃO NAVAL ARTESANAL “OS CONSTRUTORES DE BARCOS DO BAIXO-TOCANTINS” ROBERTO PINA OLIVEIRA Coordenador Geral da Cooperativa de Trabalhadores da Construção Naval Artesanal de Igarapé-Miri - COOTRACONAI PARÁ – AMAZÔNIA - BRASIL

AMAZÔNIA E A CONSTRUÇÃO NAVAL ARTESANAL A condição geográfica da Amazônia, de ser uma das maiores hidrográficas do mundo, com seus rios, igarapés e lagos a recortar o território desde o litoral Atlântico rumo ao Pacifico, na imponência do rio Amazonas sob o regime das águas, como também de seus afluentes de integração entre o Norte e o Sul do Brasil, impuseram a navegação fluvial e marítima como uma forma de transporte fundamental na vida amazônica, um dos principais meios de locomoção desde a colonização até a modernidade.

O barco é ainda hoje um dos meios de transporte mais utilizados na Amazônia; Em parte, ainda é um dos mecanismos que determinam as relações de tempo e espaço de nossas sociedades locais, ditando as distancias a locomoção das pessoas e as possibilidades de circulação dos bens materiais; Ditando as possibilidades de acesso as diversas instituições sociais, e não rara as oportunidades, sendo a principal atividade de reprodução socioeconômica local, constitutivo da formação de uma artesania de construção naval.

A frota de barcos artesanais na Amazônia possui mais de 700 mil embarcações, mantidas por uma verdadeira indústria de construção naval. Esta indústria encontra-se dispersa nas várias micro-regiões geograficamente propícia à navegação na Amazônia; No Estado do Pará, destaca-se, entre outras, a região do Baixo Tocantins particularmente em municípios de herança cultural histórica: Abaetetuba, Cametá, Igarapé-Miri e Oeiras do Pará. Esta indústria é responsável por movimentar grande parte da economia de nossos municípios. E deve ser associada a geração de trabalho, emprego e renda, turismo, saúde, pesca, educação, cultura... em vista o desenvolvimento local;

Essa prática cultural secular consolidou uma categoria de trabalhadores da construção naval artesanal, “os construtores de barcos” que apresenta três seguimentos: carpinteiros navais, calafates e pintores. CARPINTEIRO NAVAL: Trabalhador que utiliza a madeira de forma a beneficiar e moldar peças em regime artesanal para construção de barcos. CALAFATE: Trabalhador que atua após o barco está montado e emparedado, necessitando de calafeto ou seja de uma vedação que é feita com algodão, óleo de linhaça e zarcão em toda a sua estrutura obstruindo a entrada de água. PINTOR NAVAL: Trabalhador responsável pelo toque final da beleza do barco, onde o mesmo é pintado com diversas cores e identificado com um nome em sua maioria regional.

Estado do Pará – Mapa do Baixo Tocantins

Principais municípios para a atividade da construção naval artesanal Cametá Igarapé-Miri Abaetetuba

O setor artesanal da construção naval é uma importante atividade econômica da região do Baixo Tocantins; No entanto as condições impostas pela baixa capacidade em: Investimentos produtivos; Em capital humano; E principalmente pela forma de organização da produção; Articulada pelo capital mercantil impossibilitam a expansão do potencial produtivo do setor, bem como, de um desenvolvimento local mais justo socialmente.

Os trabalhadores da construção naval artesanal trabalham em sua maioria em regime de diária, ou como proprietários de pequenos estaleiros (unidades de produção) e tiram seu sustento exclusivamente da construção naval artesanal embora uma pequena parte também tem outras atividades como a agricultura familiar. A forma de remuneração é variada, geralmente baixa, predominando, na construção naval, o elevado número de operários que recebem por dia, o que demonstra a inconstância no que diz respeito a oferta de trabalho e renda.

Do mesmo modo a empreitada parece ser a forma de trabalho mais utilizada na atividade extra principal fonte de renda; Cerca de 27% dos trabalhadores respondem que outros membros da sua família também trabalham na construção naval, o que reforça a tese da importância social da atividade na região; Um tipo de consciência ambiental parece estar presente, pois a grande maioria rejeita a retirada indiscriminada da madeira, sugerindo práticas visando a preservação da floresta.

O setor é constituído por proprietários de pequenos estaleiros e por trabalhadores autônomos que, detentores de um fabuloso acervo intelectual tácito para a construção de embarcações, conseguem suprir importante parcela da demanda naval; Principalmente por embarcações fluviais destinadas a produção pesqueira, com grandes possibilidades para a geração de renda e emprego local e regional, mas que, todavia essas possibilidades para rentabilidade dos estaleiros e de socialização das riquezas geradas parecem estar sendo limitadas pela baixa capacidade de investimentos em instalações fixas (prédios, maquinas e equipamentos);

e em capital humano, como também por práticas de articulação da produção por capitais mercantis que, aparentemente, na relação da estrutura da formação do preço, de apropriam de uma parcela substancial da renda gerada, inviabilizando a expansão do setor produtivo, limitando as condições de ampliação da capacidade produtiva e inovativa dos produtores artesanais;

A Construção Naval Artesanal é uma das mais conhecidas e necessárias atividades econômicas tradicionais que historicamente compõe a realidade sócio-econômica amazônica, embora de extrema importância devido desde épocas mais remotas até nossos dias ser o principal meio de transporte dos ribeirinhos, produtores, indústria, comerciantes, vendedores de iguarias, pescadores, trabalhadores rurais da agricultura familiar, povos indígenas... Ainda hoje não foi reconhecida pelos órgãos de fomento do desenvolvimento.

Os construtores de barcos da Amazônia, transportam o material de construção, os remédios, os alimentos, os alunos, os doentes, a produção da agricultura familiar... Mas no entanto não tem nem uma espécie de financiamento para esses trabalhadores que necessitam de inclusão produtiva ; São portadores de conhecimento tácito repassado de geração em geração pela herança cultural de seus pais, dos chamados “mestres”; Capital x Ciência x Realidade

Produção do Município de Igarapé-Miri

Cametá

Igarapé-Miri