A evolução histórica da CI e sua relação com a Biblioteconomia e outras subáreas UFMG – ECI Fundamentos Teóricos da Informação Professor: Carlos Alberto Ávila Araújo 05 de abril de 2010
a) Cristina Ortega – Relações históricas entre Biblioteconomia, Documentação e CI Dimensões envolvidas entre essas áreas: históricas (épocas distintas), geográfico-culturais (diferentes países), profissionais, tecnológicas e, por fim,epistemológicas, Estudos e práticas distintas – ora independentes, ora em conflito, ora em situações de dominação e/ou assimilação
1. Biblioteconomia Surge com as primeiras evidências de organização de documentos segundo seus conteúdos Primeiras coleções: 3000 a.C., Ebla (organização sistemática) 2000 a.C., representações dos documentos para sua recuperação Séc III a.C., Alexandria – tentativa de abrigar a totalidade do conhecimento humano registrado
Idade Média, religião – bibliotecas para preservação da cultura greco-romana Séc XIII – bibliotecas das universidades e grandes coleções da nobreza Até então, bibliotecas, arquivos e museus eram praticamente a mesma entidade, pois lidavam com todos os tipos de documentos Imprensa, 1440: primeira grande modificação, tirou da biblioteca tarefa de reproduzir os documentos Séc XVII, conceito de biblioteca pública moderna (acervos gerais, acesso gratuito) – marca a Modernidade da atividade, e não o conjunto de processos 1627, Naudé: primeiros princípios da Biblioteconomia moderna Termo “Biblioteconomia” pela primeira vez em 1839 – arranjo, conservação e administração de bibliotecas
2. Bibliografia Atividade de organização dos conteúdos dos documentos Primeiras bibliografias relevantes – séc XV, Gesner; Tritheim, séc XVI; catálogos de bibliotecas; precursores das bibliografias nacionais Elaboração de bibliografias – origem da Documentação
Catalogação (Código Nacional, França, 1791; “91 regras” em 1841; Jewett, 1850, centro nacional de bibliografia, catálogo coletivos dos acervos); classificação (Dewey, 1876; Cutter, 1901); fichas padronizadas 1850, importância dos periódicos, necessidade de tratamento para recuperação (antes, modelo monográfico para catalogação e classificação) Essa tarefa passou a ser feita pelos documentalistas ALA, 1876 – análise de assunto de artigos de periódicos e criação de índices coletivos Biblioteca deixou de tratar parte da literatura, reduziu-se à custódia de documentos (daí fraco crescimento intelectual e ênfase no burocrático)
2.1. Divergências com a Biblioteconomia Até então, ambas inseparáveis (mesmas fichas, CDD, etc) Bibliografia (Documentação), e também Arquivologia, queriam fazer análises de conteúdo mais profundas Biblioteconomia “desviou” atenção da análise e representação de documentos para a criação e disseminação de bibliotecas públicas (Iluminismo, Mercantilismo, Rev. Industrial – democratização da cultura) – função “educativa”
Documentalistas adotaram técnicas da Biblioteconomia e as aperfeiçoaram Segmentação das associações: 1908, grupo sai da ALA e cria a SLA (depois representarão a Documentação, com a ADI em 1937, e a CI, com a ASIS&T, 1968) Por quatro séculos, Biblioteconomia e Bibliografia foram quase sinônimos; aí, cisão, e esta precursora da Documentação Nela, pessoas de outras áreas Maior preocupação: conteúdos dos documentos
3. Documentação Contexto: atividade dos documentalistas simultânea à das bibliotecas públicas Final séc XIX, Otlet e La Fontaine: Documentação (no lugar do que antes era a Bibliografia, e precursor da CI) Projeto universalista: armazenar e representar todo o conhecimento humano; necessidade de cooperação internacional 1895, I Conferência Internacional de Bibliografia – criação do IIB (pioneiro na área de informação), alterado para IID em 1931 e para FID em 1938
Criação da CDU, tentativa de RBU, centros de informação científica, fichas Em 1934, 16 milhões de entradas Crítica às bibliotecas: políticas de seleção, resistência às inovações, não prestação de serviços de informação Promoção da paz – bases técnicas e também políticas Obras: Otlet 1934, Frank 1946, Bradford 1947, Briet 1951 No Brasil: 1899 um membro; 1900 adoção da CDU; 1911 Serviço de Bib e Doc; rechaçada após 1930 pela influência dos EUA Atualmente, FID reestruturado, 1992, Consórcio CDU, 1995 Resolução de Tóquio
4. A Biblioteconomia nos EUA, no final do séc XIX Divisão de interesses entre as bibliotecas públicas (expansão, ex: rurais) e os processos documentários (inovações, microfilmagem) Influência Univ. Chicago, déc 1930, centro intelectual: deslocamento do foco dos processos técnicos para a função social da biblioteca Butler, 1933: não referencia gestão, técnicas, tecnologia, nem Cutter, Dewey, Bliss Documentalistas envolvidos mais com organização e serviços de biblioteca – movimento das bibliotecas especializadas, influência européia após 1930
Oposição a Chicago, interesse por tecnologia: MIT, Bush, 1945 França, pós I Guerra: bibliotecas públicas (infl. EUA) mas também serviços especializados (infl. Otlet); grande divisão entre bibliotecários e especialistas - CDIs Europa início séc XX: pesquisa em organização da informação, mas patamar tecnológico e guerras não permitiram avanço Pós II Guerra: volta o interesse pela tecnologia; aporte de engenheiros; versão mais atualizada de conceitos da FID da déc de 1930 Méritos: preservação e acesso; deméritos; apego às tradições e dificuldade de constituição científica
5. A Ciência da Informação Contexto de separações, entre Biblioteconomia especializada e Documentação, entre Biblioteconomia generalista e Documentação – fragilidade para a CI Contexto dos CDIs na França, mediacentes nos EUA CI vista como ameaça pelos bibliotecários Ao mesmo tempo, inclusão de elementos da CI nos currículos de Biblioteconomia nos EUA, desde déc 1960
Pinheiro, características da CI: interdisciplinaridade, social, tecnologia, papel da informação na sociedade; começou com informação científica, depois ampliou para outras Adoção do termo já em 1958,com a criação do IIS; em 1968, mudança da ADI para ASIS&T; depois, escolas de Biblioteconomia Saracevic: processos (criação, organização, distribuição, etc), aspectos comunicacionais, representação (classificação e indexação) e funcionamento dos Sis Wersig: CI como ciência pós-moderna
5.1. Disciplinas correlatas Informatologia: Suécia, 1962 Informatika (URSS, Mikhailov): estudo da estrutura da informação científica (distinta do trabalho com o leitor, ação pedagógica) No ocidente, ambiguidade do termo e, depois, queda do regime socialista Recuperação da informação, EUA (Europa Documentação), tecnologia
6. Síntese Biblioteconomia: origem com conservação, depois organização e, depois, acesso 1850, ruptura com Bibliografia (periódicos), surgimento da Documentação, preocupação com o conteúdo dos documentos e em diferentes suportes Opção pelas bibliotecas públicas e predomínio da Univ. Chicago Outra ruptura na década de 1950 com a tecnologia computadorizada
Parte do conflito B e CI – continuidade do conflito entre Documentação e Biblioteconomia Nos EUA, rejeição à Documentação, rápida adesão ao termo CI; na França e Espanha, ainda hoje, Documentação é um termo forte No Brasil, infl. EUA, pouco impacto da Documentação, adesão rápida à CI Hoje, perspectiva de integração: acúmulo das práticas da Biblioteconomia, das técnicas desenvolvidas pela Documentação e dos avanços epistemológicos da CI
b) Eduardo Dias – Biblioteconomia e CI: natureza e relações Grande área B&CI, na qual atuam: bibliotecários, cientistas da inf, documentalistas, arquivistas, indexadores, etc Ameaça de pessoas vindas de outras áreas – convivência difícil Gorman, 1992: “um grande problema é essa pseudo-disciplina perniciosa e sem sentido chamada CI” Instituições: bibliotecas e centros de análise de informação (bibliotecas especializadas, incluem profissionais que geram infs novas)
1.Biblioteconomia Atividades: desenvolvimento de coleções, classificação, catalogação, referência, pesquisa para recuperação, administração Como librarianship, origem na Antiguidade: organizar e acessar infs contidas em documentos (abordagem intuitiva) Sistematização e reflexão, ciência (library science): Dewey como precursor (método científico), início com Univ. Chicago déc 1930 (pesquisa e pós-graduação)
2. Documentação Objetivo: apresentar ao especialista a literatura existente em seu campo É a biblioteconomia exercida em áreas especializadas do conhecimento Outros tipos de documentos que não o livro: periódicos, relatórios, patentes, etc Origem: movimento bibliotecários EUA, saíram da ALA para a criação da SLA; motivo: métodos da ALA insuficientes para resolver os problemas dos bibliotecários especializados
Na Europa, dois problemas: controle bibliográfico (registro mundial, objetivo não alcançado) e classificação para bibliotecários especializados (CDU) Nesse grupo europeu surge o termo Muito usado conjuntamente com o nome da área especializada Nos EUA, pouco usado e decaiu após CI No Brasil, baixas após mudança do IBBD para Ibict; centros de documentação mudaram nome Atividades em bibliotecas especializadas e em SIRs, com funções de indexação e disseminação, fora das bibliotecas, podendo ser centralizado numa instituição Biblioteconomia-técnica aplicada a uma área especializada
3. Ciência da Informação Termo usado na Inglaterra desde 1958 (IIS), nos EUA a partir de 1962 (GIT) Visões: uso de computadores em SIs; abordagem sistêmica (adm, pjto e avaliação); estudo teórico das propriedades da inf; parte da B&CI voltada para a pesquisa (Biblioteconomia e Arquivologia como disciplinas aplicadas)
Outra visão: a que trata da inf científica (cientista trabalhando na biblioteca processando inf em benefício dos colegas) Outra visão: comunicação de significados Outros negam CI – Houser, 1988: “Não existe uma comunidade de cientistas da inf. Na verdade, não há qualquer justificativa para a existência de um novo ramo da ciência a que chamar CI” Grande diferença para biblioteconomia: inf com que lidam (especializada ou não) CI origem com tratamento da inf especializada, que começa na Biblioteconomia com as bibliotecas especializadas, passa pelos centros de documentação
c) Tefko Saracevic – CI: origem, evolução e relações Três características: interdisciplinar por natureza; ligada inexoravelmente à TI; parrticipante da sociedade da inf (dimensão humana) Origem pós-II Guerra, V. Bush 1945 – problema (explosão informacional) e solução (ajuste tecnológico) Governos e empresas, programas estratégicos – C&T, inf como insumo
Wersig e Nevelling, 1975: responsabilidade social Recuperação da informação: testes experimentais, realizações práticas, causas, efeitos, variáveis (déc. 50 e 60) Resultado: produtos e serviços Principal responsável pelo desenv da CI Déc 60 – conceitos e subáreas (teoria da informação, usuários, bibliometria Déc 70, questão cognitiva, usuários
1. Relações interdisciplinares Biblioteconomia: efetivo uso dos registros (campos diferentes com forte relação interdisciplinar) Computação: complementares (algoritmos que transformam informações) C. cognitivas: modelos para as inovações Comunicação: fenômeno e processo
2. Pressões sobre a CI Imperativo tecnológico: relação H/M questão não resolvida, ponto fraco, CI tem oscilado (busca de equilíbrio) Critérios de eficácia, relevância, qualidade Ecologia informacional: os vários atores e seu isolamento na cadeia A necessidade da CI: os problemas existem, independente do campo
d) Relações entre Biblioteconomia, Arquivologia, Museologia e CI História das instituições B,A,M – relação com cultura, escrita, colecionismo Primeiro desafio: preservação e transmissão para as gerações futuras Com as instituições, criação de procedimentos e técnicas – base para as futuras disciplinas Saberes específicos: livro/leitura, administração pública, exposições/arte
Modernidade: institucionalização acadêmica – segundo desafio: organização Biblioteconomia: catalogação, classificação (CDD), vertentes “cientificista” (Dewey) e “humanista” (Butler) Arquivologia: o conceito de fundo (1841), o manual dos holandeses, arquivos permanentes, records management, arquivística integrada (Québec)
Museologia: “defensores” e “detratores” do museu, a legitimação do Estado, o ICOM (1947), a Nova Museologia (1984) CI: precursores (1940), definições (1960) Primeira integração: Unesco Segunda integração/terceiro desafio: o acesso Perspectivas de integração: NTCI; usuários; das instituições para os fluxos; o conceito de informação