CAP. 9 – O QUE PODEMOS CONHECER?

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Transcrição da apresentação:

CAP. 9 – O QUE PODEMOS CONHECER?

Relatividade. Mauritis C. Escher,1953. “Três planos de gravitação agem aqui Verticalmente uns sobre os outros. Três superfícies terrestres, vivendo em cada uma delas seres humanos, intersectam-se em ângulo reto. Dois habitantes de mundos diferentes não podem andar, sentar-se ou ficar em pé no mesmo solo, pois sua concepção de horizontal e vertical não se conjuga. Eles podem, contudo, usar a mesma escada. Na escada mais alta das aqui apresentadas, movem-se, lado a lado, duas pessoas na mesma direção. Todavia, uma desce e a outra sobe. É claramente impossível um contato entre ambas, pois vivem em mundos diferentes e não sabem, portanto, da existência uma da outra.” Será que tudo que vejo é mesmo real? O que é o real?

1. O ato de conhecer O campo de investigação filosófica que abarca as questões sobre o conhecer chama-se teoria do conhecimento. Costuma-se definir conhecimento como o modo pelo qual o sujeito se apropria intelectualmente do objeto. Entendemos por entendimento o ato ou o produto do conhecimento. O ato do conhecimento diz respeito à relação que se estabelece entre o sujeito cognoscente e o objeto a ser conhecido. O produto do conhecimento é o que resulta do ato de conhecer.

2. Os modos de conhecer A intuição É um conhecimento imediato – alcançado sem intermediários -, um tipo de pensamento direto, uma visão súbita. Por isso, inexprimível. É também um tipo de conhecimento impossível de ser provado ou demonstrado. A intuição é importante por possibilitar a invenção, a descoberta, os grandes saltos do saber humano. Expressa-se de diversas maneiras:

a) A intuição empírica é o conhecimento imediato baseado em uma experiência que independe de qualquer conceito. Pode ser: Sensível – percebemos pelos órgãos dos sentidos (odor do café) Psicológica – experiência interna imediata de nossas percepções, emoções, sentimentos e desejos. b) A intuição inventiva é a intuição do sábio, do artista, do cientista, ao descobrirem soluções súbitas, como uma hipótese fecunda ou uma inspiração inovadora. c) A intuição intelectual procura captar diretamente a essência do objeto. (René Descartes)

Conhecimento discursivo Precisa da palavra, da linguagem. É abstrato. As ciências em geral baseiam-se em abstrações para estabelecer as leis: ao concluir que o calor dilata os corpos, são abstraídas as características que distinguem cada corpo para considerar apenas os aspectos comuns àqueles corpos, ou seja, o “corpo em geral”, enquanto submetido à ação do calor. O conhecimento se faz pela relação contínua entre intuição e razão, vivência e teoria, concreto e abstrato.

3. A verdade Verdade e veracidade: suponhamos que alguém me diz que há um lado da Lua que nunca é visto da Terra. Se eu lhe perguntar: “Isto é verdade?”, a indagação pode ter dois sentidos. O primeiro é se meu interlocutor está me dizendo uma verdade ou se está mentindo. Nesse caso, trata-se da veracidade, que nos coloca diante de uma questão moral: o indivíduo veraz é o que não mente. O segundo sentido é epistemológica. Quero saber se a informação de meu interlocutor é verdadeira ou falsa. Para tanto indago se a proposição é verdadeira ou falsa, se já foi comprovada.

Verdade e realidade: a verdade do conhecimento diz respeito a uma proposição que pode ser verdadeira ou falsa. Ex.: quando afirmamos “Este colar é de ouro”, a proposição é falsa quando se trata de uma bijouteria. Mas se nos referimos a coisas (um colar, um dente) só podemos afirmar que são reais, e não verdadeiras ou falsas.

O falso ou verdadeiro não estão na coisa mesma, mas no juízo, no valor de verdade ou falsidade de uma proposição. Ao beber o líquido escuro que parecia café, emito os juízos: “Este líquido não é café” e “Este líquido é cevada”. Portanto, a verdade ou falsidade existe apenas quando afirmamos ou negamos algo sobre uma coisa, e esses juízos correspondem à realidade. Um juízo verdadeiro é aquele que corresponde aos fatos. Será que podemos conhecer as coisas como elas são de fato?

4. Podemos alcançar a certeza? A certeza é o resultado de nossa adesão ao que consideramos verdadeiro. O DOGMATISMO a) O dogmatismo do senso comum Designa as certezas não questionadas do nosso cotidiano. O mundo muda, os acontecimentos se sucedem e o dogmático permanece petrificado nos conhecimentos dados de uma vez por todas. Teme o novo e não raro tenta impor aos outros seu ponto de vista. Quando atinge a política assume um caráter ideológico e abre caminho para a doutrina oficial do Estado ou do partido único, com todas as decorrências como censura e repressão.

Do ponto de vista religioso, chamamos dogma à verdade fundamental e indiscutível de uma doutrina. Na religião cristã, de acordo com o dogma da Santíssima Trindade, as três pessoas (Pai, Filho e Espírito Santo) - não são três mas apenas um. Não importa se a razão não consiga entender que Deus é ao mesmo tempo uno e trino, porque esse princípio tem como fundamento a revelação divina e, portanto, deve ser aceito pela fé. b) O dogmatismo filosófico Não tem o sentido pejorativo atribuído ao dogmatismo sem crítica do senso comum. A filosofia dogmática serve para identificar os filósofos que estão convencidos de que a razão pode alcançar a certeza absoluta.

O CETICISMO O cético conclui nos casos mais radicais que o conhecimento é impossível. Mesmo que seja impossível encontrar a certeza, não se deve abandonar a busca da verdade. Para Pirro (séc . IV-III a.C.) a atitude coerente do sábio é a suspensão do juízo e, como consequência prática, a aceitação com serenidade do fato de não poder discernir o verdadeiro do falso. Além do aspecto epistemológico, essa postura tem um caráter ético, porque aqueles que se prendem a verdades indiscutíveis estão fadados à infelicidade, já que tudo é incerto e fugaz. No Renascimento, o filósofo francês Michel de Montaigne retoma o ceticismo ao contrapor-se às certezas da escolástica e à intolerância.

David Hume (séc. XVIII) admite o ceticismo ao reconhecer os limites muito estreitos do entendimento humano. Pondera que estamos subjugados pelos sentidos e pelos hábitos, o que reduz as nossas certezas a simples probabilidade. Para Hume, a crença é o conhecimento que não se pode comprovar racionalmente, mas é aceito com base na probabilidade. Já a crença religiosa depende de uma verdade revelada por Deus e é aceita sem contestação. Dentre os brasileiros, o filósofo Oswaldo Porchat Pereira é um representante do neopirronismo. Para ele, nossa visão do mundo não passa de uma racionalização precária, provisória, relativa.

5. Teorias sobre a verdade O critério da evidência É verdadeira a proposição que corresponde a um fato da realidade, tal qual ele se mostra a nós. O critério para identificar o verdadeiro é a evidência, que é a visão intelectual do real. Os mestres da suspeita O racionalismo confiante de que há um mundo objetivo a ser desvendado pela razão começou a sofrer abalos. No final do século XIX e começo do XX, diversos filósofos intensificaram as críticas ao conceito de verdade como representação e correspondência.

A expressão “mestres da suspeita” foi cunhada pelo filósofo francês Paul Ricoeur (1913-2005) para designar os pensadores Marx, Nietzsche e Freud. Segundo Ricoeur, foram esses três pensadores que suspeitaram das ilusões da consciência. Marx: a ideologia Quando esteve na Inglaterra, conheceu de perto a situação deplorável do operariado. Elaborou então sua teoria materialista, segundo a qual as ideias devem ser compreendidas a partir do contexto histórico da comunidade em que se vive, porque elas derivam das condições materiais, no caso, das forças produtivas da sociedade. Percebeu também as contradições que surgem entre essas forças produtivas e as relações de produção.

As ideias vigentes são de fato parciais e relativas, porque representam as ideias da classe dominante como verdades universais. Para Marx esse conhecimento que aparece de forma distorcida é a ideologia, ou seja, um conhecimento ilusório que tem por finalidade mascarar os conflitos sociais e garantir a dominação de uma classe, impedindo que a classe submetida desenvolva uma visão do mundo mais universal e lute pela autonomia de todos. b) Nietzsche: o critério da vida Friedrich Nietzsche (1844-1900) procedeu a um deslocamento do problema do conhecimento. O conhecimento não passa de interpretação, de atribuição de sentidos, sem jamais ser uma explicação da realidade.

Para Nietzsche, o conhecimento resulta de uma luta. Ao perguntar que sentidos atribuídos às coisas fortalecem nosso “querer viver” e quais o degeneram, questiona os valores para distinguir quais nos fortalecem vitalmente e quais nos enfraquecem. c) Freud e o inconsciente Segundo Freud (1856-1939), fundador da psicanálise, desmente as crenças racionalistas de que a consciência humana é o centro das decisões e do controle dos desejos, ao levantar a hipótese do inconsciente. Diante de forças conflitantes, o indivíduo reage, mas desconhece os determinantes de sua ação. Caberá ao processo psicanalítico auxiliá-lo na busca do que foi silenciado pela repressão dos desejos.

Para a psicanálise, todos os nossos atos trazem significados ocultos que podem ser interpretados. Usando uma metáfora, poderíamos dizer que a vida consciente é apenas a ponta de um iceberg, cuja montanha submersa simboliza o inconsciente. Há vários tipos de sondagem do inconsciente, mas, para Freud, os sonhos constituem o caminho privilegiado, que ele procura desvendar pelo método da associação livre.

6. A verdade como horizonte No correr da história humana, existiram diversas maneiras de compreender o que é a verdade. A verdade continua como um propósito humano necessário e vital, que exige a liberdade de pensamento e o diálogo, para que os indivíduos compartilhem as interpretações possíveis do real.