Dinâmica Familiar: os Filhos, continuidade e inovação Cristina Sá Carvalho
A capacidade educativa da família , na perspectiva cristã «deve ser um espaço onde o Evangelho é transmitido e desde onde este se irradia». PAULO VI, Evangelii nuntiandi n.71. Como? O amor vivido como doação e entrega. Os filhos como objectivo primordial do projecto familiar partilhado. A transmissão da fé como tarefa central dos pais cristãos, respeitando sempre a autonomia das pessoas e promovendo a sua liberdade. A educação em valores cristãos, como aspecto essencial da tarefa educativa e desenvolvimental. Javier Elzo.
A função da família
A Mãe Comportamento: DAR - RECEBER Conflito - Desmame Crise – Êxito: CONFIANÇA Protegido e seguro Crise – Fracasso: DESCONFIANÇA Retraído, desprotegido, abandonado; medroso. Virtude: ESPERANÇA Formação do Aparelho Psíquico - ID 0 – 12 meses A Mãe
Os PAIS 1ª Infância 12 – 36 meses Comportamento: DOMINAR, PROTEGER, LARGAR, DEIXAR Conflito - Educação da higiene: controlo dos esfíncteres (reter, largar) e da mãe. Crise – Êxito: AUTONOMIA Independente, Explorador, Desenvolvido Crise – Fracasso: VERGONHA, Dúvida Controlado, Superprotegido, Medroso, Imaturo. Virtude: FORÇA DE VONTADE Formação do Aparelho Psíquico - Ego 1ª Infância 12 – 36 meses Os PAIS
As bases da saúde mental Comportamento: FAZER, REPRODUZIR, FAZER DE CONTA, BRINCAR (função simbólica) Curiosidade sexual, prazer de manipular. Conflito: Complexo de Édipo. Identificação com papel sexual. Crise – Êxito: INICIATIVA - Imaginação, Vivacidade, actividade; - Orgulho nas suas capacidades. Crise – Fracasso: CULPA - Inibição, falta de espontaneidade, considerar-se mau. Virtude: TENACIDADE Formação do Aparelho Psíquico - Super – Ego, pela interiorização das normas sociais. 2ª Infância 3 a 6 anos A FAMÍLIA NUCLEAR As bases da saúde mental
Comportamento: Norma social como o aceitável Comportamento: Norma social como o aceitável. FAZER COISAS, COMPETIR, FAZER COISAS, JUNTOS. Conflito: Sublimação (adiar prazer) e pudor. Apaziguamento Crise – Êxito: DILIGÊNCIA - Empreendedor, Trabalhador; Gosto por realizar, participar e competir. Crise – Fracasso: INFERIORIDADE - Preguiçoso, sem iniciativa; evita a competição. Sentir-se inferior e medíocre. Virtude: COMPETÊNCIA, INDÚSTRIA Formação do Aparelho Psíquico Adiar, reencaminhar a energia psíquica. Investir em objectos socialmente aceites: estudo, a arte. Idade Escolar 6 a 12 anos A FAMÍLIA ALARGADA VIZINHOS, COLEGAS (escola)
Adolescência Comportamento : SER IGUAL A SI PRÓPRIO, PARTILHAR Conflito: Relações heterossexuais. Crise – Êxito: IDENTIDADE. Saber quem é e o que quer da vida. Segurança, independência, projecto vocacional. Capaz de aprender muito. Integrar a sexualidade. Crise – Fracasso: SUBMISSÃO, CONFUSÃO; INSEGURANÇA. - Não saber o que se quer. Não se saber situar face ao trabalho, à sociedade, à sexualidade. VIRTUDE: LEALDADE a si mesmo e aos outros Formação do Aparelho Psíquico: Resolver regressão e fixação e recapitular e integrar comportamento dos estádios anteriores. Formar a personalidade Adolescência Os AMIGOS como uma segunda família: Poder afastar-se mantendo-se ligado
Ter uma família própria Comportamento: ENCONTRAR-SE E PERDER-SE NO OUTRO Crise – Êxito: INTIMIDADE - Capacidade de amar e de se entregar. Sexualidade enriquecedora. Vínculos sociais estáveis e abertos. Crise – Fracasso: ISOLAMENTO - Dificuldade em se relacionar. Relações sem autenticidade, efémeras, problemáticas, instáveis. VIRTUDE: AMOR, AFILIAÇÃO Jovem Adulto AMIGOS, NAMORADOS, COLEGAS Ter uma família própria
Os FILHOS e os SUBORDINADOS Comportamento: FAZER SER CUIDAR DE Crise – Êxito: GENERATIVIDADE - Produtivo e criativo - Projectado no futuro Colaborante e educativo com as novas gerações Crise – Fracasso: ESTAGNAÇÃO Improdutivo, acabado. Preocupado. Virtude: PRODUÇÃO, CUIDADO Adulto Os FILHOS e os SUBORDINADOS EDUCAR
3ª Idade Comportamento: SER PELO QUE SE FOI ENCARAR O NÃO SER Crise – Êxito: INTEGRIDADE Aceitar a sua existência como algo valioso. Satisfeito com a vida, reconciliado com os projectos não realizados. Crise – Fracasso: DESESPERO Considera a sua vida como um tempo perdido, impossível de recuperar. Temer a morte. Virtude: SABEDORIA 3ª Idade A HUMANIDADE
A crise da família
Família Fragilidade Divórcios e separações Descida da taxa de nupcialidade Aventura extra conjugal Aborto União de facto Monoparental Recasadas reconstruídas ….
A separação entre pais e filhos U. Bronfenbrenner 1. Escolhas vocacionais dos pais que os removem de casa 2. Aumento do número de mães trabalhadoras 3. Escalada crítica da taxa de divórcio 4. Aumento rápido das famílias monoparentais 5. Declínio da família alargada 6. Evolução do ambiente físico da casa: isolamento 7. Substituição dos adultos pelos pares 8. Isolamento das crianças face ao mundo do trabalho 9. Insulação/alienação das escolas face à sociedade
Crise da função educativa Família Incapacidade para transmitir cultura e valores Individualismo Sem normas convincentes Culturas Mudança contínua e profunda Imaturidade da maturidade adulta Torna difícil prever o futuro Confusão Pós-figurativa, pais filhos; Figurativa, entre pares; Pré-figurativa, filhos pais.
«Uma coisa que me impressiona é o modo como os pais obedecem aos filhos.» Eduardo, Duque de Windsor Família
«A adolescência tornou-se um período de lazer e de espera forçada com poucas responsabilidades e nenhum contacto útil com os adultos.» The Carnagie Council of Adolescent Development Família Culturas
Sem entrada na vida adulta Uma cultura Juvenilizada J. Bruner Sem entrada na vida adulta E. Morin Sem modelos M. Mead De troca de papéis P. Ramsey
A característica fundamental das sociedades ocidentais é a de, pela primeira vez, existir um espaço para uma geração intermédia que tem poder para propor novas formas de conduta. Comprova-se que os adultos – pela complexidade das suas tarefas e abstracção crescente das suas funções – são cada vez mais incapazes de fornecer modelos de conduta indentificatórios para as crianças, mas esses modelos são necessários para a construção de um sistema de valores que considere as mudanças sociais e culturais permanentes. Jerome Bruner
Cultura adolescente Uma cultura de tédio e lazer E. Morin Uma qualidade única: GRUPOS que não têm papel na inserção social e, por isso, aniquilam a vontade de entrar na vida da sociedade «adulta». Cultura adolescente Uma cultura de tédio e lazer
não tem igual na história.» « A nossa geração conhecerá um fim curioso no sentido em que não terá sucessores. … os jovens devem enfrentar um mundo sem modelos, sem precedentes … Não há um pai, um professor, um homem de leis, um médico, um operário tão hábil quanto sejam que possa servir de modelo a indivíduos que conheceram uma infância tão diferente da sua. A solidão dos jovens não tem igual na história.» M. Mead, La Fossé des Génèrations, 1971.
« A nossa é a única cultura em toda a história da vida humana neste planeta em que os mais velhos da tribo perguntam aos membros mais novos quais são as regras tribais e os padrões de comportamento que se devem seguir.» P. Ramsey
Incapacidade para transmitir cultura e valores As crianças aprendem sistemas de valores na cultura de pares, horizontal, porque a estrutura vertical não tem tempo nem intensidade. G. MacDonald Família Incapacidade para transmitir cultura e valores Individualismo Os adolescentes e as crianças estão a desaparecer do campo de acção dos adultos, não porque se rebelam mas porque os adultos não estão lá. Os formadores da sabedoria são os pares. R. Bly
Família Sem normas convincentes Imaturidade da maturidade adulta Os adolescentes não têm oportunidade de aprender e treinar a avaliação e o julgamento com modelos: aprendem apenas anedoticamente, com imagens fragmentadas e histórias emocionais, sem argumentos lógicos. M.Devries As linhas entre infância e idade adulta apagaram-se, de modo que muitos sujeitos de 30 ou 40 anos se portam como adolescentes. Sem claros ritos de passagem, os adolescentes têm dificuldade em lidar com as expectativas de tomar decisões adultas num mundo de juvenophilia, que retira a saudável protecção que crescer requer. M. Devries
Absentismo pedagógico Educação Família conflitual Silêncio adulto Família nominal
Absentismo pedagógico Educação Família conflitual Silêncio adulto Família nominal Mesmo nas famílias em que os pais investem adequadamente na EDUCAÇÃO os resultados não estão de acordo com as necessidades porque os adolescentes partilham com os seus pares a ideia e a experiência de que estão sós e são um grupo à parte, impenetrável e isolado.
Consequências
Choque com as regras: DIREITOS transmissão de valores Sem correcta relação LIBERDADE INDVIDUAL e PRINCÍPIO DA REALIDADE: permanência da omnipotência infantil e do PRINCÍPIO DO PRAZER … IMEDIATO! Choque com as regras: DIREITOS Interrupção da transmissão de valores Moralidade da VERGONHA Egocentrismo Ausência de sentido da responsabilidade gravemente Atinge porque é cognitivo «Onde é que está o mal?»
O hóspede inquietante
Os jovens, contagiados profundamente na sua profunda insegurança Num mundo sem história, sem filosofia nem religião, só há técnica: mas a técnica não tem um fim, não produz sentido, não revela a verdade. Uma «cultura de técnica» nega os valores, corrói o conceito de indivíduo, a identidade, a liberdade, o sentido, mas também a natureza, a ética, a política, a religião, a história: tudo aquilo de que se nutre a sustentação do futuro. Os jovens, contagiados profundamente na sua profunda insegurança e condenados à deriva existencial, desistem de viver porque já não há um «nós» motivacional, e as formas de produção da consciência tornam-se ritos de crueldade e violência. U. Galimberti
Um exemplo: a vida no gang que faz de família Autoridade, regras estritas, punição, valores partilhados conflito incerteza Sem adultos Sem educação Determinado por um grupo que não é maduro, Não tem SABER nem EXPERIÊNCIA para decidir. Insegurança Medo Reactividade As «formas de produção da consciência» A primeira e única solução é a violência.
Pais e professores não conseguem compreender esta geração e, por isso, parece que só os publicitários percebem os seus interesses: a cultura da ansiedade e do consumo que a acalma. A sua afirmação central não é existencial, mas um INCÓMODO CULTURAL que resulta de um vazio cultural interno: os jovens hospedam um niilismo que esvazia o existir e anula o futuro.
INSATISFAÇÃO = PROBLEMAS Tarefa central face à família Responsabilização difícil, sem treino Procura da Independência Encoraja autonomia Leva à mudança de estatuto Maturação física e intelectual Ambivalência e FADIGA Medo Desenvolvimento pessoal O mito individualista Crise parental MODELOS INSATISFAÇÃO = PROBLEMAS O papel dos pais
AUSÊNCIA Diversidade social Controlo e tolerância Conservadorismo e tensão Abandono, incapacidade e aceitação do desvio Machado Pais, 1993 Dificuldade comum: AUSÊNCIA Não se pode viver adaptativamente sem memória. Não há memória sem intimidade.
O papel dos educadores formais E a paróquia também A Escola devia ser um lugar de vida. Proporcionar encontro com outros adultos: ESCOLHAS Persecução de fins pessoais: INTEGRAR-SE, DESENVOLVIMENTO Preparação para a vida profissional 2º lugar nas preocupações, 1º na relação com os pais E ainda, o espaço CASA-ESCOLA: o mundo, como ele é. O papel dos educadores formais
Um problema adicional
A mentalidade «DELEGAR» NOS OUTROS A EDUCAÇÃO dos filhos Também na educação RELIGIOSA Escola Especialistas Catequese
As origens dessa mentalidade No Estado – separar os indivíduos para conseguir uma submissão mais fácil ao seu poder e influência; aumentar consumo. Na Igreja – o paradigma tridentino: uma concepção intelectualista da catequese como instrução religiosa. isentos Pais incapazes
MAS a família actual tem grandes possibilidades e recursos para educar
«Porque, e isto todos os sociólogos e estudiosos da família acabam, finalmente, por admitir, a família não morreu, como vaticinou, no início da década de 70, David Cooper. Ao contrário, é um plebiscitado objecto de desejo. Os inquéritos são formais e repetitivos até à saciedade. Inquiridos os cidadãos sobre as coisas que consideram importantes na vida, entre a família, o trabalho, o tempo livre, os amigos, a política e a religião, inquérito após inquérito a família aparece destacada na primeira posição.» J. ELZO, La voz de los adolescentes. Madrid, PPC, 2008, p.73.
Mesmo os da família atípica ou disfuncional Recursos da família Mesmo os da família atípica ou disfuncional Amor Intimidade Confiança Conhecimento Uma audiência cativa
Família, ambiente educativo Ser escutado, conhecido Ter Modelos Participar No contexto de uma educação global Amar os pais, ser amado
Trabalhar com as famílias RESPONSABILIZAR — MOTIVAR — ACOMPANHAR
Para construir COMUNIDADE Para tomar consciência da responsabilidade educativa Para interiorizar e reforçar as motivações Para não andarem sozinhos Acompanhar Motivar Responsabilizar Para construir COMUNIDADE
Tarefas indispensáveis EDUCAR com amor inteligente Educar na presença de Deus Educar a consciência moral e a relação com Deus: ser uma pessoa madura e articulada Com coragem Com determinação Com generosidade Com ideias e acções Colocando os filhos em primeiro lugar COM AJUDA
qualidade do amor conta «Eis o meu Filho muito amado» Educação Parental Porque a qualidade do amor conta Ajudar os pais a: - Assumir a educação dos filhos; Educar personalidades firmes e maduras, saudáveis e activas, conscientes e participantes, felizes e realizadas; Lidar com as instâncias educativas subsidiárias: escola, catequese, … Reestruturar /reforçar o seu núcleo familiar de uma forma cooperativa; DESENVOLVER UM PROJECTO EDUCATIVO e levá-lo por diante.
É preciso crescer bem
Os adolescentes «Os adolescentes e os jovens dizem-se livres, mas estão atados à família, à escola, ao grupo de amigos, à moda, aos artefactos informáticos, colados ao telemóvel, com a obrigação de se divertirem… Perante a necessidade vivencial de estarem sempre ocupados, incitados, solicitados, “em movimento”, sentem pavor da solidão, do aborrecimento, do silêncio.» J. ELZO, La voz de los adolescentes
Educar os adolescentes: uma geração entregue a si mesma «Os filhos distinguem bem, por outro lado, liberdade e respeito pela sua autonomia, do desinteresse, supostamente justificado por uma atitude de tolerância passiva. Pedem proximidade no que diz respeito à sua autonomia, carinho sem se sentirem pressionados, orientação sem conversas recriminatórias ou protectoras. Os filhos estar-lhes-ão agradecidos, silenciosamente agradecidos, na maior parte das vezes. Inclusive compreensivos quando errarem». J.Elzo
Garantir a continuidade e a inovação
Um projecto educativo familiar Desenvolver a competência pessoal: incentivá-los para que sejam autónomos, que saibam abrir caminho na vida, que possam voar com as suas próprias asas. Aprender a racionalidade: o uso da razão na vida quotidiana, para sair do âmbito da simples opinião ou gosto pessoal e acostumar-se ao confronto sério com a realidade. Fazer a justa distinção entre «o dinheiro como valor e o valor do dinheiro». Encontrar equilíbrio entre a tolerância e permissividade familiar e a necessária «intolerância e solidariedade».
Um projecto educativo familiar Cultivar a «espiritualidade», entendida como «superação do meramente material, da procura do bem-estar individual ligado à posse de bens materiais, à divinização do dinheiro, à procura de uma identidade mais rica, mais profunda, mais humana. Ir mais além dos valores finalistas (pacifismo, tolerância, ecologia, exigência de lealdade, etc.) para dar importância aos instrumentais (o esforço, a responsabilidade, o compromisso, a participação, etc.), para passar dos bons desejos ideais ao efectivo comportamento comprometido.
Os nossos adolescentes Educar com diálogo Educar para a liberdade Col 2, 7 O FUTURO DA SOCIEDADE