Os pais fundadores da etnografia

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Transcrição da apresentação:

Os pais fundadores da etnografia Franz Boas

Etnografia: surge quando o pesquisador percebe que deve ele mesmo realizar as observações para a sua pesquisa; Fim da separação de tarefas: observação (viajante, missionário, administrador) e análise/interpretação Laplantine, p. 75

O tempo dos eruditos Os fundadores da etnografia Confiavam nas informações trazidas pelos viajantes, as quais estavam carregadas de juízos de valor e imprecisões Observação in locu, registro e análise das informações pelo mesmo pesquisador

Condições de estudo diferentes das existentes anteriormente; Pesquisador vive na sociedade estudada: antropologia ao ar livre; Exemplos da nova orientação de pesquisas: Rivers, povo Toda da Índia (1901); Radcliffe-Brown, ilhas Andaman (1906-1908); Selingman, Sudão (1909-1910); Malinowski, ilhas Trobriand, Etc Laplantine, p. 76

Franz Boas (1985-1942)

Franz Boas Primeiros trabalhos de campo: final do século XIX, entre os Kwakiutl e os Chinook de Colúmbia Britânica (Canadá); Abordagem “microssociológica”: “No campo, ensina Boas, tudo deve ser anotado: desde os materiais constitutivos das casas até as notas das melodias cantadas pelos Esquimós, e isso detalhadamente, e no detalhe do detalhe” Laplantine, p. 77 Evolucionistas: busca da versão mais verdadeira de um mito X Boas: registrar todas as versões existentes

Franz Boas Cada sociedade é uma totalidade autônoma, considerada nos seus próprios termos; Um costume não pode ser retirado do seu contexto, sob o risco de perder o seu sentido; Pluralidade de culturas como tendo valor intrínseco; Elaboração de monografia: descrição científica de uma microssociedade, apreendida em sua totalidade e considerada em sua autonomia teórica; Laplantine, p. 78

Boas considera (. ) que não há objeto nobre nem indigno da ciência Boas considera (...) que não há objeto nobre nem indigno da ciência. As piadas de um contador são tão importantes quanto a mitologia que expressa o patrimônio metafísico do grupo. Em especial, a maneira pela qual as sociedades tradicionais, na voz dos mais humildes entre eles, classificam suas atividades mentais e sociais deve ser levada em consideração. Laplantine, p. 78

Franz Boas Importância do conhecimento da língua do grupo estudado; Crítica ao método comparativo: a comparação deveria ser limitada a um pequeno território definido; “As limitações do método comparativo em antropologia” (1896) Método histórico: buscar as causas que levam à formação dos conceitos; estudo detalhado dos costumes em sua relação com a cultura total; Investigação de sua distribuição nas tribos vizinhas;

Franz Boas Crítica à busca dos evolucionistas de leis gerais; Obras: artigos e comunicações variados; Não elaborou uma grande teoria sistematizadora; Preocupação mais voltada para a descrição detalhada dos fatos observados; Laplantine, p. 79

Difusionismo americano ou particularismo histórico Rejeição do evolucionismo; Dominou a antropologia durante a primeira metade do século XX; A antropologia deve estar baseada no trabalho de campo; Cada cultura tem uma história particular. Para compreender a cultura, é necessário reconstruir a história de cada grupo; Não há culturas superiores nem inferiores (relativismo cultural). Cada cultura deve ser compreendida nos seus próprios termos, e não a partir dos valores da cultura do antropólogo. Influência de Boas: formou a primeira geração de antropólogos americanos (Kroeber, Lowie, Herskovits, Benedict, Mead) Gilberto Freyre

Crítica ao determinismo biológico: Heterogeneidade existente no interior das “raças” (...) Todas as grandes raças são tão variáveis, e as características funcionais das linhagens hereditárias que as compõem, tão diversas, que se podem encontrar linhagens familiares semelhantes em todas as raças (...) Franz Boas, p. 60.

Crítica ao determinismo geográfico: a geografia apenas limita as formas culturais, não as determina: (...) A falta de produtos vegetais no Ártico, a ausência de pedras em extensas áreas da América do Sul e a escassez de água no deserto (...) limitam de modo claro as atividades do homem. Por outro lado, pode-se também mostrar que, numa dada cultura, a presença de condições geográficas favoráveis talvez ajude o desenvolvimento de traços culturais existentes (...) Franz Boas, p. 61.

Crítica ao determinismo geográfico: As condições geográficas se impõem apenas quando a cultura torna a sua utilização importante (ex: descoberta do uso do carvão, possibilidade de se processar minérios, invenção de papel feito de celulose, etc.); O mesmo meio ambiente irá influenciar a cultura de maneiras diferentes, de acordo com os bens culturais dos povos; As condições geográficas podem estimular atividades culturais, mas elas não têm força criativa: O mais fértil solo não cria agricultura; as águas navegáveis não criam navegação; um abundante suprimento de madeira não produz edificações de madeira. Franz Boas, p. 61

Desse modo, é infrutífero tentar explicar a cultura em termos geográficos, pois não conhecemos sequer uma cultura que tenha se desenvolvido como resposta imediata às condições geográficas; sabemos apenas de culturas influenciadas por elas. (...) As relações espaciais dão apenas oportunidade para o contato; os processos são culturais e não podem ser reduzidos a termos geográficos. Franz Boas, p.62

Crítica ao determinismo econômico: Condições econômicas podem facilitar ou dificultar a expressão de traços culturais, mas não determinam a sua forma específica; Quando as condições econômicas não permitem que os homens tenham tempo livre para realizar trabalhos artesanais, a atividade artística não pode florescer; uma vida nômade imposta por necessidades econômicas e que não disponha de meios de transporte impede a acumulação de grandes volumes de propriedades. Inversamente, lazer e estabilidade de localização favorecem o aumento da produção artesanal e o desenvolvimento da atividade artística, mas não criam o tipo particular de artesanato ou de estilo artístico. Franz Boas, p. 63

Esta apresentação, com circulação interna e para fins exclusivamente didáticos, foi elaborada a partir de seleção das seguintes fontes, a quem cabem os créditos pelas informações aqui veiculadas: Berger, M. Bronislaw Malinowski e Franz Boas Boas, F. Antropologia cultural. Editado por Celso Castro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2010. Eriksen, F; Hylland, T. História da antropologia. Petrópolis: Vozes, 2010. Laplantine, F. “Os pais fundadores da etnografia – Boas e Malinowski”. In: ______. Aprender antropologia. São Paulo: Brasiliense, 2007, p.75-79.