O dever pessoal de cuidar da saúde: exigência para os indivíduos

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Transcrição da apresentação:

O dever pessoal de cuidar da saúde: exigência para os indivíduos M. Patrão Neves

O dever pessoal de cuidar da saúde afirmação revolucionária não exprime apenas o desejo e o interesse que cada um de nós tem em gozar de boa saúde, mas sim o dever que nos compete de procurarmos ser e mantermo-nos saudáveis. não procede de modo comum, atribuindo responsabilidades no âmbito da saúde aos seus tradicionais actores, mas antes aos utentes desses cuidados de saúde. a afirmação de que temos o “dever” de cuidar da nossa saúde constitui testemunho de um novo paradigma na prestação dos cuidados de saúde de interpretação equívoca dever moral dever jurídico De que natureza é o “dever pessoal de cuidar da saúde”?

O dever pessoal de cuidar da saúde 1. Do reconhecimento do “paciente como pessoa” à afirmação da “pessoa doente como parceira” 2. Da definição dos “direitos do doente” ao estabelecimento dos “deveres” da pessoa doente 3. Expressões do dever pessoal de cuidar da saúde

Do reconhecimento do “paciente como pessoa” à afirmação da “pessoa doente como parceira” tradicionalmente o doente adopta uma atitude passiva de entrega total ao médico que é assim chamado a agir em prol da restauração da saúde. com a cientificização da medicina o doente mantém a sua tradicional passividade a qual, todavia, já não é apenas expressão da confiança, mas também do temor pelo distante, da ansiedade pelo desconhecido e ainda da solidão pelo abandono e do sofrimento pelo anonimato.

Do reconhecimento do “paciente como pessoa” à afirmação da “pessoa doente como parceira” a pessoa doente não deixa de ser pessoa por estar doente unidade dignidade igualdade assunção da autonomia simetria das relações redução da passividade

Do reconhecimento do “paciente como pessoa” à afirmação da “pessoa doente como parceira” profissionais de saúde e pessoa doente partilham uma única e mesma finalidade: a restauração da saúde tornam-se parceiros de um mesmo projecto o doente colabora activamente no seu processo terapêutico; o profissional de saúde promove o estatuto de pessoa do doente

Da definição dos “direitos do doente” ao estabelecimento dos “deveres” da pessoa doente necessários para que a pessoa doente se mantenha pessoa 1. O doente tem direito a ser tratado no respeito pela dignidade humana 2. O doente tem direito ao respeito pelas suas convicções religiosas, filosóficas e políticas 3. O doente tem direito a receber os cuidados apropriados ao seu estado de saúde, no âmbito dos cuidados preventivos, curativos, de reabilitação e terminais 4. O doente tem direito à prestação de cuidados continuados 5. O doente tem direito a ser informado acerca dos serviços de saúde existentes, suas competências e níveis de cuidados 6. O doente tem direito a ser informado sobre a sua situação de saúde 7. O doente tem o direito de obter uma segunda opinião sobre a sua situação de saúde 8. O doente tem direito a dar ou recusar o seu consentimento, antes de qualquer acto médico ou participação em investigação ou ensaio clínico 9. O doente tem direito à confidencialidade de toda a informação clínica e elementos identificativos que lhe respeitam 10. O doente tem direito de acesso aos dados registados no seu processo clínico 11. O doente tem direito à privacidade na prestação de todo e qualquer acto médico 12. O doente tem direito, por si ou por quem o represente, a apresentar sugestões e reclamações

Da definição dos “direitos do doente” ao estabelecimento dos “deveres” da pessoa doente necessários para que a pessoa doente se se torne parceira do profissional de saúde 1. O doente tem o dever de zelar pelo seu estado de saúde 2. O doente tem o dever de fornecer aos profissionais de saúde todas as informações necessárias 3. O doente tem o dever de respeitar os direitos dos outros doentes 4. O doente tem o dever de colaborar com os profissionais de saúde 5. O doente tem o dever de respeitar as regras de funcionamento dos serviços de saúde 6. O doente tem o dever de utilizar bem os serviços de saúde e de evitar gastos desnecessários

Da definição dos “direitos do doente” ao estabelecimento dos “deveres” da pessoa doente a salvaguarda dos direitos garante o estatuto de pessoa do doente e confere-lhe autonomia a assunção dos deveres compromete o doente como parceiro do processo terapêutico e atribui-lhe responsabilidade os direitos e deveres das pessoas doentes contribuem para o estabelecimento de relações simétricas com os profissionais de saúde

Expressões do dever de cuidar da saúde da pessoa doente da pessoa saudável: a quem este dever se impõe primeiramente como expressão de um interesse pessoal como expressão de um interesse social desenvolvimento pela educação

O dever de cuidar da saúde: acepção ampla protecção da saúde e/ou prevenção da doença precaução em relação à doença reflexão sobre a doença participação na assistência à doença assunção da mortalidade

O dever de cuidar da saúde: acepção restrita domínios por que se pode estender modalidades por que se pode exercer natureza que pode assumir

O dever de cuidar da saúde: domínios a que se estende manifestação influenciada por factores externos origem endógena (interna) origem exógena (externa) patologias unidade psico-somática omissão de aquisição de hábitos saudáveis persistência de comportamentos de risco O dever pessoal de cuidar da saúde é proporcional ao poder para a condicionar na sua manifestação e evolução

O dever de cuidar da saúde: modalidades por que se exerce pessoais do homem das instituições acções inter-pessoais O dever pessoal de cuidar da saúde não se exerce apenas por uma acção individual porque esta exige ser contextualizada e potencializada por iniciativas institucionais

O dever de cuidar da saúde: sua natureza auto-estima e dignidade da pessoa moral jurídico dever solidariedade e respeito em relação aos outros O dever pessoal de cuidar da saúde é eminentemente moral excepto quando o seu não cumprimento atinge negativamente outros, vindo então a ser ratificado como dever jurídico

O dever de cuidar da saúde: exigência para os indivíduos se este dever pessoal é proporcional ao poder individual, exige que façamos tudo o que estiver ao nosso alcance se este dever pessoal se articula com as iniciativas institucionais, exige que nos empenhemos nas suas acções de promoção da saúde se este dever pessoal pode assumir uma expressão jurídica, exige manter-se como responsabilidade moral E o dever pessoal de cuidar da saúde é sempre avaliado no contexto de uma vida, enquanto via de realização de si e de dignificação dos outros, de perfectibilização do Homem

Obrigada