Inflação e energia escura

Slides:



Advertisements
Apresentações semelhantes
A Astronomia do Século XXI
Advertisements

Rosana de Oliveira Gomes COSMOLOGIA E RELATIVIDADE (FIS2012)
L. Elcio Abdalla aula 4 uarta aula História térmica do universo Por quê perturbar? Teoria relativística de perturbações cosmológicas Gauges Perturbações.
Observatório Nacional – ON Pos Graduação de Astronomia Ministério da ciência e tecnologia - MCT A aceleração do Universo Maria Aldinêz Dantas Rio de Janeiro.
Sistemas Realimentados
Origem do Universo.
O “Campo k” e a k-Essência
Controle Digital Prof. Cesar da Costa 5.a Aula – Transformada Z.
Alexandre Suaide Ed. Oscar Sala sala 246 ramal 7072
Marcia Moura Edifício Oscar Sala – ramal 6837
Marcia Moura Edifício Oscar Sala – ramal 6837
Cosmologia Laerte Sodré Jr. IAG/USP 14/09/2004.
Dark Energy in the Universe
1 Desafios das Cosmologias com Escalonamento Miguel Quartin Junho de 2006 astro-ph/
SEMANA NACIONAL DO LIVRO E DA BIBLIOTECA TECNOLOGIA E INFORMAÇÃO: CIÊNCIA TRANSFORMANDO A SOCIEDADE 14 de novembro de 2006 Thyrso Villela OPINIÃO: UM NOBEL.
A face oculta do Universo
SISTEMAS LINEARES II Prof. Marlon.
Assimetria do Universo
Radiação cósmica de fundo, flutuações primordiais e Inflação
supergravidade ou gravitação quântica gravitação eletromagnética forte t < s , T > 1032 K ERA DE PLANCK supergravidade ou gravitação quântica.
A Descoberta da Radiação Cósmica de Fundo e suas Conseqüências
II – ESTRUTURA ESTELAR 1: - Generalidades 2: - Definição de Estrela
Estrutura Atômica Aula 1.
Dinâmica do Universo Carlos Machado João Sá José M. Silva
NASCIMENTO E ESTRUTURA DO UNIVERSO
Física de Partículas e o Universo
Física de Partículas e o Universo
Teoria da Produção Em cada momento no tempo existe um conjunto de técnicas produtivas, ou tecnologias, que permite produzir determinado produto, a partir.
Prof. Roberto Cristóvão
Teorema do Confronto   Se não pudermos obter o limite diretamente, talvez possamos obtê-lo indiretamente com o teorema do confronto. O teorema se refere.
Termodinâmica dos Buracos Negros Vivianni C. de S. Santos e Francisco de A. Brito Universidade Federal de Campina Grande Centro de Ciências e Tecnologia.
Cosmologia Observacional Charla II
O QUE SÃO O BIG-BANG, A ENERGIA E A MATÉRIA ESCURAS?
Teorema de Rolle e Teorema do Valor Médio
Neutrinos de Dirac vs neutrinos de Majorana Teoria
Afinal, qual é a forma do Universo?
Ciências da Natureza Enem 2012
DISCIPLINA TELETRANSMITIDA
1 - Equações Diferenciais Ordinárias
A geografia do universoraul abramo - cientec A Geografia do Universo. Raul Abramo Dep. de Física Matemática - Instituto de Física - USP
Matéria e Energia Escuras, Buracos Negros
Objetivo Nosso objetivo é desenvolver uma proposta de aula simples, utilizando alguns recursos do software graphmatica (na verdade o utilizaremos apenas.
A CONCEPÇÃO MATERIALISTA E DIALÉTICA DE MUNDO
Equações diferenciais ordinárias de segunda ordem
Controle Linear II.
Perguntas e respostas.
Aula-6 Teoria da Relatividade Restrita II
Capítulo 2 Energia em Processos Térmicos:
Aula-8 Fótons e ondas de matéria III
A vida em fragmentos Biologia de populações em habitats limitados Roberto Kraenkel IFT-UNESP junho de 2008.
Bruno da Silva Leonardo Romano Matheus Tahara
Equação de Ondas em 3 dimensões
BIG BANG E A EXPANSÃO DO UNIVERSO
Processo de Radiação A problemática do estudo de antenas consiste em calcular o Campo Elétrico e o Campo Magnético no espaço provocado pela estrutura da.
Estrutura eletrônica dos átomos
O Modelo Cosmologico Standard
Cosmologia: Background e Perturbações
Explicando o universo Denise Godoy.
Ana Cecília Soja Maio Mecanismos de Transporte de Energia - Principais Mecanismos: - condução; - convecção; - radiação. Todos eles são dependentes.
Evolução do Universo Jovem
ASTROFÍSICA – EXPLICANDO O UNIVERSO
1 Estudos de Transições de Fase em Modelos Hadrônicos Dr. JOÃO BATISTA DA SILVA Dr. JOÃO BATISTA DA SILVAUAE/CES/UFCG CAMPUS CUITÉ.
Curso de Ventos Estelares Marcelo Borges Fernandes
Origem do Universo.
O UNIVERSO INVISIVEL. Edwin Hubble (1889 – 1953) O Universo em expansão.
UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA LABORATÓRIO DE MECÂNICA DOS FLUIDOS ME36L – TRANSFERÊNCIA DE CALOR 1 PROF.
Maratona cósmica Painel: “Linguagens da criação” Bruno Dias Fátima, 2012.
Hidrodinâmica Aula 09 (1 0 Sem./2016) 1. O Teorema do Momentum 2.
UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA LABORATÓRIO DE MECÂNICA DOS FLUIDOS ME36L – TRANSMISSÃO DE CALOR I PROF.
Hidrodinâmica Aula 11 (1 0 Sem./2016) 1. As relações de energia 2.
Transcrição da apresentação:

Inflação e energia escura erceira aula Inflação e energia escura História térmica do universo Modelos de Friedmann abertos e fechados Problemas com os modelos de Friedmann: horizontes, homogeneidade, curvatura... Possível solução: inflação Energia escura: evidências observacionais Acelerando o universo Modelos de inflação e energia escura Vantagens e desvantagens dos modelos

3.1 História térmica do universo 15 Gy 3.2 K 10-3 eV 300 Ky 3000 K 1 eV 1100 Desacoplamento 50 Ky 3.104 K 10 eV 104 Rad.  Matéria 100 s 1010 K 1 MeV 1010 Nucleosíntese 10-11 s 1 TeV 1015 K 1013 Unif. eletrofraca 3.1 história térmica do universo 3.1 História térmica do universo tempo temperatura energia redshift

3.2 o papel da curvatura espacial 3.2 Modelos de Friedmann abertos e fechados: o papel da curvatura espacial A métrica de Friedmann-Robertson-Walker é, em tempo comóvel: A primeira equação de Friedmann é: Usamos a equação de continuidade (ver aula passada) para obter a dependência da densidade em função do fator de escala: termo de curvatura decai mais devagar, ~ a -2 Portanto, o termo de curvatura se torna progressivamente mais importante se o universo é dominado por radiação, ou por poeira!

Se K≠0 e Ω~1 hoje, como explicar Problema!!! 3.2 o papel da curvatura espacial É útil definir a densidade crítica, para a qual o universo seria plano: Dividindo a densidade pela densidade crítica, obtemos o parâmetro de densidade: O parâmetro de densidade é o indicador da curvatura espacial: Se K≠0 e Ω~1 hoje, como explicar Problema!!! que 1-Ω era, no passado, um número tão insignificante??? A discussão acima mostra que, se o universo de fato tem sido dominado por poeira ou por radiação, então W =1 é um ponto instável: se W >1, então W cresce com o tempo; se W <1, então W diminui com o tempo; e se W =1 , permanece constante. E Exercício: mostre que, se tivéssemos hoje W0 =0.9 , então o parâmetro de densidade teria os seguintes valores no passado:

Estatística de LSS/simulações W = 1.0 ±0.3 3.2 o papel da curvatura espacial Observações do parâmetro de densidade Dinâmica de galáxias e aglomerados: 0.15 < Wm < 0.4 SÓ MATÉRIA EM GALÁXIAS E AGLOMERADOS! Idades de aglom. glob./galáxias em z~2-3: Wm < 0.6 Evolução de aglomerados: Wm ~ 0.3 RCF: W = 1.0 ±0.08 Estatística de LSS/simulações W = 1.0 ±0.3 Portanto, de duas uma: ou a curvatura é hoje importante, mas era inicialmente insignificante e só na nossa era ela se tornou tão importante quanto o resto da matéria (mas... por quê??) ; ou então, as observações e a interpretação da RCF e da estatísica da distribuição de galáxias realmente estão indicando que, por algum motivo, a curvatura foi suprimida e permanece insignificante.

3.3 Os problemas dos modelos de Friedmann de poeira e radiação. Vimos que os modelos de Friedmann de Big Bang dominados apenas por poeira (w=0) e radiação (w=1/3) acumulam alguns pontos nebulosos: O problema do horizonte: o universo visível hoje engloba uma região imensa, onde regiões que nunca haviam estado em contato antes se encontram. E o que verificamos é que essas regiões causalmente desconexas são formidavelmente parecidas. Em particular, a RCF vindo de direções opostas desde distâncias gigantescas têm a mesma temperatura, apesar de nunca ter estado em contato anteriormente (pelo menos isso é o que o modelo de poeira+radiação diz). O problema da curvatura: a densidade do universo é hoje misteriosamente próxima à densidade crítica, ou seja, W  1 . Mas se a curvatura não for exatamente igual a zero, esse valor é instável e deveria crescer ou diminuir muito rapidamente. Seria uma coincidência fantasmagórica se as condições iniciais do universo foram ajustadas precisamente para que só na era atual W tivesse um valor próximo da unidade. O problema da origem das inomogeneidades: o modelo de Big Bang simples não dá qualquer dica de como ou por quê surgiram as flutuações iniciais de densidade e pressão que posteriormente cresceram para formar as estruturas visíveis do universo. Nem diz por que essas flutuações têm uma amplitude constante (~ 10 -5) nas mais distantes regiões do universo.

3.4 A solução: inflação (expansão acelerada) 3.4 a panacéia inflacionária 3.4 A solução: inflação (expansão acelerada) A idéia da inflação é a seguinte: suponha que, nos seus primórdios, o universo passou por uma fase durante a qual a expansão era acelerada, ou seja: Por exemplo, podemos ter um fator de escala: Essa fase acelerada seria provocada por alguma forma de matéria cuja equação de estado seria: Mas... o que isso resolve?

O problema da curvatura (ou o problema de W) : 3.4 a panacéia inflacionária O problema da curvatura (ou o problema de W) : A primeira equação de Friedmann (de novo): Se a forma de matéria que domina o universo tem p>>1, a densidade de energia dessa matéria decai muito mais devagar do que o termo de curvatura, No limite p  ∞ , a densidade é constante e o termo de curvatura decai exponencialmente: Portanto, o efeito de uma era inflacionária é suprimir a curvatura. Todos os modelos mais realísticos de inflação prevêem uma era inflacionária longa o suficiente tal que hoje a curvatura é completamente insignificante. Ou seja, a inflação prevê W=1.

O problema do horizonte. 3.4 a panacéia inflacionária O problema do horizonte. Considere, por simplicidade, a era da radiação (matéria ultra-relativística) e assuma que a curvatura já foi “para o espaço”. Sem inflação, teríamos: Agora suponha que entre os instantes ta e tb, a evolução do universo não foi determinada por matéria ultra-relativística, mas sim por uma outra forma de matéria que provoca expansão acelerada. Temos então: a(t) ta tb

t tb ta O horizonte de partículas fica, neste caso: 3.4 a panacéia inflacionária O horizonte de partículas fica, neste caso: E Exercício: verifique! Se tb >> ta (ou seja, se a fase inflacionária dura bastante), e se p>>1, então o segundo termo é muito maior que o primeiro (que é o horizonte num universo dominado apenas por radiação). O efeito da inflação sobre o cone de luz passado é o seguinte: t tb ta

A origem das perturbações 3.4 a panacéia inflacionária A origem das perturbações Como veremos em detalhe nas próximas aulas, a inflação é um excelente mecanismo de criar de partículas a partir do vácuo. O mecanismo funciona do seguinte modo: durante a inflação os pares virtuais, que existem em todos os lugares e a todos os instantes como consequência das relações de incerteza da mecânica quântica, sofrem um “arrasto” causado pela expansão acelerada do universo. Alguns desses pares são separados e se convertem em pares reais. Essas partículas aumentam a densidade de energia em alguns locais, dando assim origem às regiões mais densas que darão partida ao processo de formação de estruturas. Em resumo: a inflação explica por que o universo é tão homogêneo em grandes escalas (problema do horizonte), elimina o problema da curvatura e, ainda por cima, fornece um mecanismo quântico de geração das inomogeneidades primordiais que deram origem à estrutura do universo.

3.5 energia escura 3.5 Energia escura A inflação resolve os problemas dos modelos simples de Friedmann, propondo que houve uma era de expansão acelerada nos primórdios do universo. Mas talvez essa não tenha sido a única era de expansão acelerada: há fortes indícios do que HOJE o universo estaria entrando num novo período de aceleração! A causa dessa expansão acelerada é comumente denominada energia escura. Esses indícios são: As observações de Supernovas Ia O espectro da radiação cósmica de fundo (RCF) As medidas de matéria aglomerativa (associada a galáxias) As observações de número de aglomerados em função do redshift A idade de estrelas a aglomerados globulares

3.5 energia escura P.J.E. Peebles Supernovas Ia SN1997ff Wm=1, WL=0

3.5 energia escura RCF

Combinando Supernovas, RCF e LSS: 3.5 energia escura Combinando Supernovas, RCF e LSS:

a densidade de energia é muito próxima da densidade crítica 3.5 energia escura TODAS as observações astronômicas e astrofísicas são consistentes com um universo onde: a densidade de energia é muito próxima da densidade crítica a matéria aglomerativa (bárions + CDM) perfaz menos de 35% dessa densidade de energia total alguma forma de matéria que causa aceleração perfaz mais de 60% da densidade de energia total.

3.6 Como obter aceleração: modelos cosmológicos 3.6 modelos de aceleração cósmica 3.6 Como obter aceleração: modelos cosmológicos Podemos combinar as equações de Friedmann e obter: Portanto, é claro o que temos de fazer: formular algum tipo de matéria que tenha: A solução mais lembrada para a energia escura é a constante cosmológica, ou energia de vácuo, L. Como sua densidade de energia é obviamente constante, sua equação de estado é w=-1 . A vantagem dessa solução é que ela é simples. A desvantagem, é que ela sofre de três probleminhas: 1. A densidade de energia de vácuo necessária para ajustar as observações é da ordem de (1 meV) 4, ou seja vááááááárias ordens de magnitude abaixo das escalas de energia do Modelo Padrão. 2. É um mistério a razão pela qual L esperou até a era atual para começar a dominar a dinâmica do universo. 3. Não dá para “ligar” nem “desligar”  inflação não termina!

V(f) f Hubble “drag” Potencial Campo escalar canônico: 3.6 modelos de aceleração cósmica pequeno Equação de movimento Há uma outra possibilidade: campos escalares. f V(f) Campo escalar canônico: Hubble “drag” Potencial energia potential Se a energia cinética for << do que a => “slow roll” : Com o slow- roll, f funciona como uma L que decai no tempo: V(f) <--> L

Vamos tentar uma solução do tipo: 3.6 modelos de aceleração cósmica Exemplo explícito: o modelo “power-law inflation” (potenciais exponenciais) Devemos substituir esse modelo nas equações de Friedmann e de Klein-Gordon: Vamos tentar uma solução do tipo: Examinando as equações acima, somos levados a considerar o campo escalar: Substituindo essas expressões nas equações acima, obtemos:

Resolvendo em função de p, obtemos: 3.6 modelos de aceleração cósmica Resolvendo em função de p, obtemos: Portanto, determinamos que existe uma solução para o caso de potenciais exponenciais que é dada por: Em resumo: basta escolher os parâmetros do potencial de tal forma que p>>1, para obter uma solução inflacionária. Basta que o campo escalar domine o background para que a solução acelerada seja válida (há outra solução, claro, mas ela é um transiente). Esses modelos são populares tanto em inflação quanto em energia escura.