CALDEIRA, Liliam Cristina - UFMS GORNI, Doralice A. Paranzini - UEL

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Transcrição da apresentação:

CALDEIRA, Liliam Cristina - UFMS GORNI, Doralice A. Paranzini - UEL ENSINO SEMIPRESENCIAL NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: LEITURAS DO COTIDIANO ESCOLAR CALDEIRA, Liliam Cristina - UFMS GORNI, Doralice A. Paranzini - UEL

Procedimentos desenvolvidos Origem desse estudo Dissertação defendida 2006 que analisou, por meio de um estudo de caso, se a EJA concretizada no contexto educativo corresponde ao que preconizam as políticas públicas para essa modalidade de ensino. Procedimentos desenvolvidos retomada do desenvolvimento da EJA; análise documental; entrevistas semi-estruturadas; observação do cotidiano escolar; análise dos dados (a partir de documento e do campo).

Objetivo desse recorte Apresentar as análises acerca das concepções de educadores e educandos sobre a experiência de EJA vivenciada. A configuração semipresencial Presenciais: estudos coletivos (aula) e individuais (dúvidas) 25%. Não presenciais: auto-estudo 75%. Sobre o cenário Marcas do improviso, do silêncio, da provisoriedade - tão próximos à informalidade.

Pontos de ancoragem

Sujeito – Cultura O homem é uma série de relações ativas, no qual, se a individualidade tem a máxima, importância, não é todavia o único elemento a ser considerado. Ele transforma-se continuamente com as transformações das relações sociais e também porque nega o homem geral – dialética. (GRAMSCI, 1966) Os mesmos homens que estabelecem as relações sociais de acordo com sua produtividade material produzem também os princípios, as idéias, as categorias, de acordo com suas relações sociais (MARX, 2001). A cultura cria formas especiais de comportamento, muda o funcionamento da mente, constrói andares novos no sistema de desenvolvimento do comportamento humano. No curso do desenvolvimento histórico [...] criam novas formas de comportamento, especificamente culturais. (VYGOTSKY, 1984).

Educação escolar - Aprendizagem - EJA É a exigência da apropriação de conhecimento sistematizado por parte das novas gerações que torna necessária a existência da escola. (2003) Aprendizagem é uma dimensão da prática social vivenciada pelo sujeito. (Vygotsky, 1984) O sujeito aprende em relação social, ou seja, no mundo. Logo, estar no mundo é estar num constante aprender e esse aprendizado é socialmente mediado, no curso de suas atividades o homem produz significado e muda o curso das atividades. (Vygotsky, 1984) Cada jovem e adulto que chegam à EJA são náufragos ou vítimas do caráter pouco público de nosso sistema escolar. (ARROYO, 2005)

A perspectiva dos sujeitos Focos: concepção de EJA; sujeitos; relação professor-aluno; ensinar e aprender.

Experiência educacional satisfatória devido aos seguintes fatores: Concepção de EJA Experiência educacional satisfatória devido aos seguintes fatores: há menos problemas com indisciplina; é menos cansativo; há a possibilidade de ver mudanças imediatas na vida dos alunos como (emprego, elevação da auto-confiança, etc.);

Concepção de EJA Aqui é mais gostoso. O maior medo do professor hoje em dia é a indisciplina. Em outra modalidade é difícil, você não consegue, você sofre junto porque você vê aquela gritaria, você não consegue passar para eles.(P12) Eles estão aí, atentos e com aquela vontade de aprender. Eles vêm quantas vezes quiserem aqui para a mesa da gente e sendo no individual você dá aquela atenção. O número de alunos não é tão grande como em outras escolas. P12 Esse ensino do supletivo você não aprende muita coisa porque é uma coisa bem mais rápida, já num colégio assim normal onde você já freqüenta cinco aulas num período assim maior, você aprende explicações bem melhor das coisas.A19

Concepção de EJA Estou buscando o meu diploma de primeiro grau, para mim poder dar continuidade ao segundo grau, para poder fazer um cursinho, para prestar um vestibular, para entrar numa faculdade. Vai ser uma fase que eu vou ter que passar, então é melhor numa escola assim bem rápido, um supletivo, vou rever tudo, não vou ter base para fazer um vestibular para fazer um cursinho porque o ensino público é muito ruim, não dá base para nada. A7 Eu tô atrasado, vou terminar aqui. No caso, as escolas ensina mais, tem diploma que vale mais pra entrar nas firmas, no caso aqui eles já não valoriza tanto[...] você não aprende aqui não. A7. Se quiser passar de ano e se quer aprender, tem que fazer força por si mesmo, ou não vai para frente. Então, fica difícil, até para as pessoas mais velhas também, mais difícil ainda. A modalidade desse tipo de ensino é bom, mas não é como na escola. A10

Sobre os sujeitos e relação que estabelecem calcada no afeto e confiança; o aluno “vai” até o professor; o professor é o amigo, o orientador; professores experientes que gostam do que fazem; o aluno traz as marcas da exclusão; o aluno sabe o que quer.

Relação professor-aluno Relação de igual para igual. O aluno vê o professor como um orientador, como um amigo que está disposto a tirar suas dúvidas. O professor vê no aluno um cidadão com vontade de vencer. Aqui para eles é a solução, ele vê no professor uma solução. (P3) Eu acho que noventa por cento são carinhosos com os professores. Então, está maravilhoso é um ambiente gostoso para trabalhar. (P2) É uma atividade totalmente diferente. É gratificante ter os alunos com interesse, aquela vontade que eles têm de aprender. É gostoso a gente sentir entre os alunos a necessidade do estudo e há necessidade desse estudo para essa população que ficou tão defasada. P2

Sobre o professor da EJA Tem que ser uma pessoa que goste. Nós somos professores mais antigos com mais experiência, mas tem os novos também que estão se adaptando muito bem. Todos os professores do EJA são dedicados, compreendem o aluno, têm paciência, porque a gente tem que ter muito cuidado de falar com o aluno. (P1) Eu acho que eu sou uma amiga, filha, às vezes mãe do aluno. Você tenta levar, dar a mão, o tempo todo você está assim: querendo passar para eles, dar forças. Porque às vezes são muito pessimistas, negativos. Você tem que estar sempre reanimando, dando forças.(P2) Tem professor que é meio fechado, não é muito de conversar [...] que do jeito que você chega na sala, ele dá a apostila, você estuda e vai embora. Não conversa, não pergunta. Eu pergunto, mas fico meio assim de perguntar, porque eles não conversam com a gente. A11 Você estimula, fala: tantos outros passaram por aqui com dificuldades como as suas ou maiores e.. eles já passaram por aqui. Eu acho que é essa a característica do professor da EJA, sabendo que ele não vai pegar um aluno pronto, preparado, mas um aluno para que passar pela escola. Isso ajuda o aluno a pensar que ele vai chegar até o final, sim.(P8)

Sobre o educando da EJA O aluno chega à escola com muita vergonha, muito retraído e ao passar pela disciplina ele começa a perceber que o professor se interessa pelo o que ele faz. (P3) Tem aluno que faz muito tempo que não estuda e volta a estudar, então encontra aquela dificuldade de interpretação, de leitura, em todas as áreas. Mas a gente nota assim: tem uma dificuldade tremenda para começar. (P5) Na minha área são cinco apostilas e quatro provas, quando eles estão na terceira apostila já está bom. Eles vão descobrindo o modo de estudar. A gente ensina a estudar. (P5)

Sobre o ensinar e o aprender o professor não é quem ensina; o professor orienta para o auto-didatismo; processo de pouco diálogo sobre o conhecimento trabalhado; a aprendizagem se restringe ao espaço escolar.

Sobre ensinar e aprender Os professores poderiam explicar melhor, porque eles dão a apostila, você faz e te dão dois trabalhos e logo entregam a prova, não explicam nada. Você lê e revê o que você tem que guardar por aquilo. Então, se fosse explicado seria bem melhor. A18 Eu acho que eles deviam globalizar mais as matérias. Ensinar história em português, ensinar ciências em português. Eles usam uns textos que não tem muito a ver. Pode ter diálogo com o aluno ensinando fazer isso, ensinando a fazer aquilo e aquilo outro, porque você acaba numa coisa ensinando muitas coisas. Você pode pegar um texto de história do Brasil e dizer: a gente vai fazer agora interpretação de texto, com texto de outra matéria e assim você vai estar criando um vínculo entre as matérias. A6 Deveria ter mais informação tanto nos livros, quanto no oral. O professor devia falar mais com os alunos, dar uma informação mais adequada, mais básica também assim, pra ajudar melhor. Tem muito aluno que não entende.

Sobre ensinar e aprender Tem professor que não explica bem a matéria, porque é à base de apostila. Então, eu acho que deveria explicar mais para a gente saber. [...] então acho que a professora deveria explicar mais, em vez de dar a apostila, ela deveria dar a apostila e explicar o conteúdo. [...] se quiser passar de ano e se quer aprender, tem que fazer força por si mesmo, ou não vai para frente. E, então, fica difícil, até para as pessoas mais velhas também, né, mais difícil ainda [...] A modalidade desse tipo de ensino é bom, mas não é como na escola. Por causa que aqui eles não explica nada. Eles dá a apostila assim e: “Estuda”. Mas estudar o quê? - “Lê”. Elas num fala nada. Aí você lê, faz a prova e do nada você já passa. A7 “eu já sei somá, sei tudo”, de A10

Grupo cultural com elementos singulares e universais - não falamos de um sujeito abstrato, mas um adulto inserido num grupo determinado: aqueles que construíram suas vidas alheias à escola e que retornam a ela depois de constituírem família, atividades de trabalho, se inserirem em grupos religiosos e desenvolverem projetos particulares na vida. Sujeitos que compartilham um “certo lugar social” e aprendem a partir da relação que estabelecem com a cultura.

“A tarefa pedagógica da escola é ampliar nos jovens alunos a sua condição de humanos”. FREIRE