Realismo e Relações Internacionais

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Transcrição da apresentação:

Realismo e Relações Internacionais

Realismo e Relações Internacionais “O Estado é um gladiador em combate perpétuo” [Arenal: 1990:110] 1. Revendo conceitos Anarquia – ausência de autoridade política, supranacional, capaz de coordenar, mediar, as ações do atores do sistema. Atores Estatais - aqueles que tem características estatais (soberania, monopólio legítimo de força, autonomia para escolha de orientações políticas e econômicas, população e território sobre sua tutela)

Realismo e Relações Internacionais Balança de Poder – Entendida como uma situação de simetria de poder entre unidades estatais que lhes cria uma situação de equilíbrio. Capabilities – Capacidades internas de um Estado. Aquilo que em seu conjunto auxilia na determinação do poder de um Estado. Dilema de Segurança – Um Estado X começa a se armar tendo em vista sua própria proteção e, conseqüentemente, sua auto-preservação. Os demais Estados no sistema internacional adotam uma postura agressiva em relação ao primeiro e também comecem a adquirir armas.

Realismo e Relações Internacionais High Politics – temas considerados de maior importância pelos atores internacionais dentro da agenda internacional. Geralmente high politics se associam às questões de segurança e interesses estratégicos. Poder – Nas abordagens realistas poder é a variável predominante nas relações entre os atores internacionais. Poder não só determina o comportamento dos atores estatais, que segundo os realistas é condicionado pela busca incessante de incremento de poder, como também é uma característica inerente deles. Soberania – Qualidade de ser soberano. Nas RI’s é a qualidade do poder político de um Estado, que não está submetido a nenhuma autoridade superior. Soberania é a suprema, independente autoridade final. É o atributo de um Estado que se refere aos

Realismo e Relações Internacionais seus direitos de exercer, completamente, jurisdição sobre seu próprio território. 2. Três linhas teóricas fundamentais Teorias de 1ª. Imagem: Derivadas dos pensamentos de Hobbes e Maquiavel Pressuposto básico: Natureza do homem é egoísta e má e o recurso a força é algo inevitável Para Maquiavel, política é diferente de bem comum, ética ou bem-estar, ela é a busca incessante pelo poder.

Realismo e Relações Internacionais O Estado não pode abrir mão do poder pois, caso o faça, ele se extinguirá. Para Hobbes, o Estado é um sistema normativo que garante e gere a liberdade humana. Para isso, possui monopólio legítimo de força de forma a manter seu próprio poder e tornar eficaz sua regulação. Daí deriva-se a lógica de que o realismo é estato-cêntrico, ou seja, é em torno das relações entre Estados que se configura o sistema internacional.

Realismo e Relações Internacionais Teorias de 2ª. Imagem: 4 pressupostos básicos do Realismo: 1) Estados são os principais e mais importantes atores no sistema internacional. Estado é portanto a unidade de análise chave. Deste modo, o estudo das ri’s é o estudo das relações entre essas unidades. Obs: Demais atores não alcançam status de ator independente. 2) O Estado é um ator unitário ou como diria Viotti, o Estado é ‘encapsulado por um dura concha metafórica’ [1991:06]. O Estado se projeta no mundo como unidade integrada e as divergências internas devem ser resolvidas pelo governo de forma autoritária. A voz da nação tem que ser somente uma.

Realismo e Relações Internacionais No realismo não há interesses nacionais difusos ou contraditórios entre governo e sociedade. Desta forma, os Estados tem uma e somente uma política em cada assunto particular. 3) O Estado é essencialmente um ator racional. O processo de tomada de decisão envolve: i) determinação e articulação das ações com os objetivos nacionais; ii) avaliação das capacidades disponíveis; iii) avaliação das possibilidades de se alcançar estes objetivos mediante alternativas; iv) análise de custos e benefícios de cada alternativa – lógica do minimax. Duas críticas derivadas dessa lógica: a) racionalidade de todas as decisões do Estados e; b) informações e conhecimento

Realismo e Relações Internacionais Necessários à tomada de decisão. Afinal, ri’s se dão entre comunidades humanas e, portanto, as ações nem sempre são passíveis de previsibilidade. 4) Agenda do Estado tem, em seu topo, a questão da segurança nacional. Por isso, a agenda é hierarquizada, ou seja, as questões de segurança tem primazia sobre todas as outras. O ambiente internacional é conflitivo, portanto, os focos dos estudos dos realistas são: i) a estabilidade/instabilidade do sistema internacional; ii) se a utilização de força é solucionadora de conflitos; iii) como se dá a preservação e/ou a violação da integridade territorial.

Realismo e Relações Internacionais Em um sistema sem uma autoridade superior capaz de coordenar as ações das unidades, o poder é o último arbítrio. Equilíbrio de poder, que é o que impede um Estado de ser hegemona, é a única forma de regular o sistema internacional. Para Arenal, outras questões se acrescentam ao “credo” realista: 1) a política, assim como a sociedade em geral, é governada por leis objetivas que têm suas raízes na natureza humana (retorno à 1ª. imagem). O progresso humano começa com o entendimento dessas leis; 2) os realistas crêem na possibilidade de desenvolver uma teoria racional que reflete, ainda que de forma imperfeita,

Realismo e Relações Internacionais estas leis objetivas. 3. Histórico do desenvolvimento do pensamento realista 1939 “Twenty Years’ Crisis” de E. H. Carr e o primeiro ataque à corrente idealista. Para Carr, até então, no campo das RI’s, prevaleceu o desejo ao invés do pensamento, generalização ao invés de pensamento. Idealismo não preocupou com os eventos que ocorreram no período e sim com o que se buscava alcançar no futuro. Desenvolvimento dos estudos que avaliavam as relações causa/efeito – note a centralidade da questão da guerra/paz.

Realismo e Relações Internacionais O realismo assume que seu ponto não é o que o mundo deveria ser e sim como ele de fato é. 3 pilares fundamentais realistas em Carr: 1) a história é uma seqüência de causas e conseqüências, cujo curso é agarrado não pela imaginação mas pelo esforço intelectual”; 2) a teoria realista “não cria prática, mas é criada pela prática”; 3) as políticas internacionais “não são uma função da ética, entretanto, essa ética é uma função de política, e a moral é o produto do poder” Princípios morais servem à conduta dos indivíduos e não às expressões e ações dos governos.

Realismo e Relações Internacionais 1948 “Politics among Nations” de Hans Morgenthau. Política poder ser abordada de duas maneiras: a) ordem moral e racional podem ser criadas a partir de um conjunto de princípios morais universalmente aceitos ou; b) tratar os eventos políticos como resultado de forças inerentes à natureza humana. Relações Internacionais são um meio onde há forças subjacente produzindo comportamento (passagem à 2ª. imagem). História Externa do pensamento de Morgenthau: i) emergência dos EUA como potência. Prática (política dos EUA) precisa ser comprovada por bases acadêmicas para justificar o confronto com a URSS; ii) reverência geral à ciência nos EUA. Assim se

controlaria o fenômeno internacional e as práticas nessa arena; iii) a influência de pensadores imigrantes europeus que buscavam entender os eventos que mudaram suas vidas. 6 princípios da teoria de Morgenthau: 1) políticas são governadas por leis objetivas que têm sua origem na natureza humana; 2) há como se criar um guia a respeito disso e este guia, baseado no conceito de interesse, deve ser definido em termos do conceito de poder. Poder é o centro e as considerações éticas são de pouca valia. Ainda que nem todas as decisões política sejam perfeitamente racionais haverá um equilíbrio racional provocado pela balança de poder;

Realismo e Relações Internacionais 3) a forma e natureza do poder não são fixas mas variam com o meio onde o poder é exercido. Poder é uma categoria fluida porém a objetividade do interesse político pode servir como ponto de partida universal para compreender os eventos; 4) não se aplica a ação do Estado valores morais; política tem mais relação com prudência que com ética; 5) A moral é particular a varia de acordo com os interesses nacionais. Entretanto, qualquer ordem internacional pressupõe uma substancial dose de consenso geral, não havendo poder desmedido;

Realismo e Relações Internacionais 6) há autonomia da esfera política. Para os realistas clássicos, soberania é característica do Estado e a história é cíclica, ou seja, é sempre a articulação feita pelo jogo de forças, que sempre tende ao equilíbrio (bases do realismo defensivo). As alianças se dão por interesses egoístas e a guerra é uma manifestação natural uma vez que a força é seu elemento constitutivo. “poder político é uma relação psicológica entre aqueles que o exercem e aqueles sobre os quais é exercido. Ele dá ao primeiros o domínio sobre certos atos dos segundos através da influência que os primeiros exercem na mente dos segundo” (Arenal:136)

Realismo e Relações Internacionais Direito Internacional para os realistas é letra morta. A lei que predomina é a do mais forte. A diplomacia praticada é a impeditiva visto que os Estados atuam no meio internacional de modo a aumentarem seu poder e a impedir que os demais façam o mesmo [lógica do “self-help system”). O desarmamento é impossível. Interesse nacional identifica-se com a sobrevivência do Estado, ou seja, proteção de sua identidade física, política e cultural contra os ataques dos demais. Três tipos de política básicas nas RI’s: i) política do status quo (conservação de poder); ii) política imperialista (incrementar poder) e; política de prestígio (demonstrar poder).

Realismo e Relações Internacionais Para Shwazenberger as regras de conduta que predominam nas ri’s são: armamentismo, isolacionismo, diplomacia do poder e guerra. Realismo nega o progresso e o equilíbrio de poder é a única forma de manter uma certa ordem no sistema. Debate com os Behavoristas nos anos 1950 incrementou as metodologias utilizadas pelos realistas. Críticas Internas ao realismo: 1) Sistema estatal e internacional não podem ser vistos como estanques de forma a não considerar a relação entre meio doméstico e internacional;

Realismo e Relações Internacionais 2) O caráter “eurocêntrico” das concepções tradicionais; 3) O não entendimento da dinâmica de construção de Política Externa e da separação de condutas de comportamento do Estado interna e externamente; 4) Se o Estado atua com base no interesse nacional, que já é segundo Hoffman difícil de determinar, seria possível traçar e antecipar a atuação do Estado no cenário internacional; 5) O poder é antes um instrumento que um fundamento político (Cot e Munier). Os realistas excluem outras importantes variáveis e outros aspectos da conduta dos atores nas ri’s.

Realismo e Relações Internacionais 4. Neo-realismo ou teorias de 3ª. imagem Surge como uma reação ao transnacionalismo e vem no sentido de reafirmar a tradição realista na análise dos fenômenos internacionais. O transnacionalismo propunha questionar: i) o protagonismo dos Estados nas ri’s; ii) a separação entre meio interno e internacional; iii) a preponderância das políticas de poder e dos assuntos estratégicos na agenda internacional. Declara ainda, que a excessiva importância do poder bélico e do dilema de segurança acabam por impedir o equilíbrio o sistema, gerando assimetria de poder.

Realismo e Relações Internacionais Neo-realismo incorpora as críticas metodológicas realizadas pelos behavioristas ao realismo clássico. 1979 Waltz com seu “Theory of International Politics” inaugura o neo-realismo ou realismo estrutural. A primeira evolução em relação ao realismo clássico é a associação entre as variáveis poder, capacidades, assuntos estratégicos com a questão econômica. Incorporaram as discussões de hegemonia e regimes em suas análises postulando que os regimes econômicos internacionais são incorporações do poder estrutural no sistema internacional.

Realismo e Relações Internacionais Para os neo-realistas ainda que o sistema internacional continue sendo anárquico, essa anarquia só não é completa porque a economia condiciona um país, impondo assim limites ao exercício da soberania. Waltz critica a lógica clássica de que o sistema internacional seja o somatório das capacidades individuais de cada Estado. Se assim fosse, não haveria como o próprio sistema se auto-regular o que é um contra-senso. A discussão neo-realismo e transnacionalismo se deu nas seguintes questões: i) na preocupação primordial com as questões de segu

Realismo e Relações Internacionais rança física; ii) a cooperação é resultado de cálculos racionais de custo/benefício mas que tendem a ser para os neo-realistas muito mais difíceis de ocorrer do que o self-help; iii) ênfase nos ganhos absolutos mais que relativos; iv) economia versus segurança; v) os neo-realistas focam mais na capacidade do Estado que nas intenções políticas; vi) para os transnacionalistas as instituições seriam capazes de mitigar a anarquia internacional. PPC de Waltz – 1) O Sistema Internacional é anárquico; sempre foi e sempre será; 2) As unidades principais, ou seja, os Estados, tem papéis semelhantes no cenário internacional; 3) a estrutura internacional se pauta nas relações de poder.

Realismo e Relações Internacionais Os Estados sempre buscam manter o status quo, visando portanto o equilíbrio da BP. Por isso, essa corrente ganhou a alcunha de Realismo defensivo. Realismo Ofensivo (Mearsheimmer) – Não nega os pressupostos básicos de Waltz. Todavia, aponta que a lógica de ação dos atores não é o equilíbrio e a ação defensiva mas a busca pelo incremento de poder. Sua discussão gira em torno da lógica da busca pela hegemonia no cenário internacional. Haveria 4 situações em termos de polaridade: a) unipolaridade que segundo ele é uma situação teórica hipotética; b) a bipolaridade, mais estável das situações; c) a multipolaridade – balanceada ou

Realismo e Relações Internacionais equilibrada e desbalanceada ou desequilibrado. Discute a impossibilidade da hegemonia pela ação do “poder parador da água”. A ação do unipolar seria pela política do impedimento, ou seja, atuaria como offshore balancer toda vez que surgisse um potencial líder (hegemona) regional. 5. Perguntas 6. Agradecimentos