Disciplina de Nutrição/ UNIFESP Unidade Curricular: Oncologia Clínica

Slides:



Advertisements
Apresentações semelhantes
Serviço de Gastroenterologia da Santa Casa Ribeirão Preto
Advertisements

Patologia e dietoterapia nas enfermidades músculo-esqueléticas I
Nutrição – aspectos gerais
Nutrição: Prevenção e Indução do Câncer Monitora Andressa Michels Monitora Ester Zoche Orientadora Profa Tatiana Roman.
DOENÇA INTESTINAL INFLAMATÓRIA
SISTEMA DIGESTÓRIO.
Trabalho de Biologia Tema: Alimentação Saudável
ALUNOS: SUZETE SIDINEIDE FÁTIMA Cézer Claudia
COMBATE A FOME 6°B.
Alimentação.
NUTRIÇÃO E CANCRO Flora Correia Serviço de Endocrinologia do H.S. João
Professor Cristofer A. Masetti
Sistema Digestivo Digestão – é o conjunto de transformações químicas e mecânicas às quais os alimentos são sujeitos e desdobrados em substâncias mais simples.
Vírus Márcia Regina Garcia.
A Nutrição no Câncer de Cabeça e Pescoço
Dietoterapia Aula 5 Nínive Pinto.
SAÚDE É um estado caracterizado pela integridade anatômica, fisiológica e psicológica; pela capacidade de desempenhar pessoalmente funções familiares,
O corpo humano e a sobrevivência: Funções vitais e doenças
SAÚDE NUTRICIONAL DA MULHER
ALIMENTOS FUNCIONAIS.
Resposta do organismo ao jejum e ao trauma
CÂNCER e seus fatores de risco
Monitoria de Bioquímica e Laboratório Clínico
NUTRIÇÃO NO DIABETES MELLITUS Ana Cristina Dias de Vasconcelos
Orientação Nutricional
BOCA,ESÔFAGO E ESTÔMAGO
Terapia Nutricional Enteral
VALORES NUTRICIONAIS. Confira aqui:
II Curso de Aperfeiçoamento em TN
TERAPÊUTICA NUTRICIONAL EM ONCOLOGIA
AULA 6 DIABETES E DESNUTRIÇÃO 3º MEDICINA 2003.
VESÍCULA BILIAR A vesícula biliar é um saco membranoso, em forma de pêra, situado na face inferior do fígado (lado direito). É um órgão muscular no qual.
Alimentação Saudável e Combate ao Tabagismo
Acompanhamento da Nutrição Parenteral e suas complicações
Profª Letícia Lazarini de Abreu
SÍNDROME METABÓLICA Esta síndrome é um grupo de alterações clínicas, que podem decorrer de uma dieta inadequada, atividade física insuficiente e uma evidente.
Bases da Terapia Nutricional
TRIGLICERÍDEOS MONITORES:
ALIMENTOS E SAÚDE Profa Mariana Tarricone Garcia
Cardiopatias Congênitas
Avaliação Nutricional
DESEQUILÍBRIO DE ALIMENTAÇÃO
Avaliação Nutricional
AVALIAÇÃO CLÍNICA-NUTRICIONAL DE IDOSOS
PLANEJAMENTO DE CARDÁPIOS PARA IDOSOS
ESTEATOSE.
OBESIDADE Docente: Karla Tonini.
ABORDAGEM NUTRICIONAL NA LITÍASE RENAL
Bioquímica da digestão dos ruminantes
Luigi Gratton, MD 6ª Semana Conversas sobre bem-estar.
Ciências Naturais 9.º ano
Câncer.
NUTRIÇÃO NA INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA
NUTRIÇÃO E DIETOTERAPIA
NUTRIÇÃO E DIETOTERAPIA
NUTRIÇÃO E DIETOTERAPIA
CONTINUAÇÃO Guias alimentares
Nutrição Enteral e Parenteral
Gastroenterologia Clínica
Nutrição - Doenças Hepáticas
Diarreia em crianças FUPAC – Araguari Curso de medicina.
Prof. Luciene Rabelo Bioquímica e Metabolismo dos Carboidratos.
Casos Clínicos Prof. Luciene Rabelo.
A Saúde do corpo Saúde e alimentação.
Componente Curricular: Educação Física Hidratação Professor Irapuan Medeiros de Lucena.
Atendimento ao Consumidor e Rotulagem
DIETAS ENTERAIS CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BELO HORIZONTE - UNIBH
Patologia e Dietoterapia nas Enfermidades Pancreáticas Nutti.MSc Maria de Lourdes Marques Camargo Nutrição/UBM.
Análise microbiológica de alimentos Produtos lácteos fermentados
Transcrição da apresentação:

Disciplina de Nutrição/ UNIFESP Unidade Curricular: Oncologia Clínica NUTRIÇÃO E CÂNCER Prof. Clarissa Demezio Disciplina de Nutrição/ UNIFESP Unidade Curricular: Oncologia Clínica

CÂNCER Conjunto de mais de 100 doenças que ocorrem quando há um crescimento desordenado de células que invadem os tecidos e órgãos, podendo espalhar-se para outras regiões do corpo INCA, 2008

CARCINOGÊNESE Um processo frequentemente descrito em 3 fases destintas: 1- Iniciação  transformação da célula por interação de substâncias químicas, radiação ou vírus; 2- Promoção  as células iniciadas se multiplicam para formar um tumor discreto; 3- Progressão  a célula atinge um fenótipo completamente maligno com capacidade de invasão tecidual e metástase.

CARCINOGÊNESE Causas: Físicas (agentes químicos e radiações) Viral Genéticas Fatores ambientais e dietéticos Alterações no DNA celular

As dietas contém ambos inibidores e intensificadores da carcinogênese. Apesar dos mecanismos exatos serem desconhecidos, a nutrição pode modificar o processo de carcinogênese em qualquer estágio. As dietas contém ambos inibidores e intensificadores da carcinogênese.

DIETA E RISCO DE CÂNCER Aumento da ingestão calórica → relacionado com risco de câncer de mama, cólon, fígado Aumento da ingestão de gordura → relacionado com risco de câncer de mama, cólon, próstata, pâncreas, endométrio Aumento da ingestão de proteína (carne) → relacionado com risco de câncer de cólon e próstata Shils, 2003

DIETA E RISCO DE CÂNCER Aumento da ingestão de bebidas alcóolicas → relacionado com risco de câncer de cavidade oral, laringe, esôfago e fígado Alimentos defumados e fritos → relacionados com risco de câncer de esôfago e estômago Nitratos, nitritos, nitrosaminas e alimentos conservados em sal → relacionados com risco de câncer de estômago Shils, 2003

DIETA E RISCO DE CÂNCER Preparo de alimentos em altas temperaturas (frituras, grelhados) → relação com risco de câncer de estômago e intestino Aumento da ingestão de frutas e hortaliças → diminuem o risco de câncer de pulmão e estômago Aumento da ingestão de fibras → relacionado com prevenção do câncer de cólon, reto, mama e ovário Shils, 2003

DIETA E RISCO DE CÂNCER Soja e câncer de mama: Estudos epidemiológicos sugerem que a soja quando administrada desde a infância, pode diminuir o risco de câncer de mama; Estudos in vitro e em animais → a genisteína (isoflavona da soja) pode promover a proliferação do tecido mamário, contra-indicando o uso da soja em mulheres pós menopausa e com risco de desenvolver ca de mama. Messina and Wu, 2009; Messina and Wood, 2008.

CAQUEXIA DO CÂNCER Causas: Anorexia devido a fatores anoréticos produzidos pelo tumor ou hospedeiro; Dor e/ou obstrução do trato digestório; Agressão da terapia anticancerosa; Alterações no metabolismo intermediário

CAQUEXIA DO CÂNCER Citocinas pró-inflamatórias responsáveis pela caquexia: TNF-α (fator de necrose tumoral) IL-6 (interleucina 6) IL-1 (interleucina 1) IFN-γ (interferon γ) PIF (fator indutor de proteólise)

CAQUEXIA DO CÂNCER Fatores que contribuem para a caquexia: 1- Redução da ingestão alimentar: Anorexia Náuseas Vômitos Alteração do paladar 2- Efeitos locais do tumor: Odinofagia Má absorção intestinal Disfagia Saciedade precoce Obstrução gástrica Cuppari, 2005

CAQUEXIA DO CÂNCER Manifestações clínicas: Anorexia Anemia Perda tecidual Hipoalbuminemia Atrofia muscular Hipoglicemia Miopatia Lactacidemia Perda de tecido adiposo Hiperlipidemia Atrofia de órgãos viscerais Intolerância à glicose Cuppari, 2005

DESNUTRIÇÃO NO CÂNCER A desnutrição proteico- calórica promove o aumento da morbidade e mortalidade em pacientes oncológicos. Perda de peso em diferentes tumores: Mama e hematológicos: leve (31 a 40%) Pulmão, cólon e próstata: moderada (48 a 61%) Pâncreas e estômago: severa (83 a 87%) Fonte: Adaptado de Bloch, A, 1998

ALTERAÇÕES METABÓLICAS Metabolismo de energia: A perda de peso é proveniente de um balanço energético negativo ↓ na ingestão de energia ↑ no gasto energético

ALTERAÇÕES METABÓLICAS Metabolismo de carboidratos: Anormalidades no metabolismo dos CH: desequilíbrio entre glicólise anaeróbica () e respiração oxidativa ()  consumo de glicose para a obtenção de ATP  produção de ácido lático Por isso a célula cancerosa utiliza preferencialmente glicose como substrato energético

ALTERAÇÕES METABÓLICAS Metabolismo de carboidratos:  na produção da glicose (gliconeogênese);  da utilização de glicose; Intolerância à glicose; Resistência à insulina.

ALTERAÇÕES METABÓLICAS Metabolismo de proteínas: Quebra persistente de proteínas musculares;  na síntese das frações proteicas no músculo;  da síntese hepática de proteínas.

ALTERAÇÕES METABÓLICAS Metabolismo de lipídeos: Aumento da lipólise; Diminuição da lipogênese; Hiperlipidemia.

EFEITOS DO TRATAMENTO 1- Quimioterapia: Náuseas e vômitos (+ comuns); Mucosite, queilose, glossite; Esofagite; Anormalidades de paladar; Diarréia; Constipação; Balanço nitrogenado negativo (perda proteica)

EFEITOS DO TRATAMENTO 2- Radioterapia: Cabeça e pescoço  dor de garganta, mucosite, xerostomia, destruição severa de gengiva e dentes, paladar e olfato alterados, anorexia  perda de peso; Tórax  esofagite, estenose esofágica, disfagia; Abdômen  gastrite aguda, enterite, náusea, vômito, diarréia, anorexia, mal absorção de carboidratos, gorduras e eletrólitos; Irradiação corporal total  todos os sintomas agudos mencionados.

EFEITOS DO TRATAMENTO Enterite por radiação: Íleo e jejuno são os + suscetíveis, seguidos pelo cólon transverso, sigmóide e reto; Fase aguda: - Anorexia, náuseas, vômitos, cólicas abdominais, diarréia aquosa, perda de peso; - Má absorção de água, gorduras, sais biliares (diarréia), carboidratos, cálcio, magnésio, ferro e vit. B12. Fase crônica: - Além dos sintomas citados, podem ocorrer obstrução intestinal, fístulas, abcessos.

EFEITOS DO TRATAMENTO Enterite por radiação: Tratamento dietoterápico  controlar a diarréia e prevenir a perda de peso:  lactose , gordura, fibras, glúten; Terapia nutricional enteral ou parenteral → nos casos em que a ingestão via oral for contra-indicada.

AVALIAÇÃO NUTRICIONAL Consumo alimentar: anamnese alimentar, recordatórios, questionários de frequência alimentar. Indicadores antropométricos: peso, altura, IMC, dobras cutâneas. Indicadores bioquímicos: albumina plasmática, índice creatinina altura, balanço nitrogenado.

INTERVENÇÃO NUTRICIONAL Os principais objetivos do tratamento nutricional no câncer são: Prevenir a desnutrição Reduzir os efeitos adversos da terapia anti-tumoral Melhorar a qualidade de vida ESPEN, 2006

ORIENTAÇÕES GERAIS 1- Anorexia: Reforçar a necessidade de um bom estado nutricional; Aumentar o fracionamento das refeições; Aumentar a densidade calórica das refeições.

ORIENTAÇÕES GERAIS 2- Alteração do paladar: Substituir os alimentos poucos tolerados pelos de maior preferência; Melhorar a apresentação das preparações; Evitar alimentos muito quentes ou gelados.

ORIENTAÇÕES GERAIS 3- Xerostomia: Ingerir líquidos em pequenas quantidades em maior número de vezes; Avaliar a necessidade de uso de saliva artificial; Estimular o consumo de balas de limão, hortelã e gomas sem açúcar; Introduzir mais molhos, caldos, sopas na dieta.

ORIENTAÇÕES GERAIS 4- Náuseas e vômitos: Aumentar o fracionamento das refeições; Evitar ingestão de líquidos durante as refeições

ORIENTAÇÕES GERAIS 5- Mucosite, estomatite, odinofagia: Evitar alimentos irritantes (ácidos, condimentos picantes, secos, duros, etc); Evitar preparações muito quentes ou geladas; Indicar terapia nutricional em casos graves.

ORIENTAÇÕES GERAIS 6- Diarréia: Insistir na ingestão de líquidos para evitar a desidratação; Dar preferência aos alimentos ricos em fibras solúveis (aveia, maçã, banana, etc); Evitar lactose, sacarose e gordura.

ORIENTAÇÕES GERAIS 7- Obstipação: Aumentar a ingestão de líquidos, dando preferência aos sucos laxativos; Dar preferência aos alimentos ricos em fibras insoluveis (frutas, verduras, etc)

ORIENTAÇÕES GERAIS Quando o fim da vida está muito próximo, muitos pacientes oncológicos requerem somente pequenas quantidades de comida e água para reduzir a fome e a sede. ESPEN, 2006

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ESPEN: Non-surgical oncology: Clinical Nutrition (2006) 25, 245–259 WAITZBERG, D.L. Câncer. In:______ . Nutrição enteral e parenteral na prática clínica. Rio de Janeiro: Editora Atheneu, 2002. CUPPARI, L. Câncer. In:______ . Nutrição clínica no adulto. São Paulo: Editora Manole, 2005. Messina, M.J, Wood, C.E. Soy isoflavones, estrogen therapy, and breast cancer risk: analysis and commentary. Nutrition Journal, 2008. Messina, M.J, Wu, A.H. Perspectives on the soy breast cancer relation. Nutrition Journal, 2009.