O perfil profissional docente e desafios emergentes para a educação intercultural e inclusiva no Brasil Reinaldo Matias Fleuri (IFC – CAPES/CNPq)

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Transcrição da apresentação:

O perfil profissional docente e desafios emergentes para a educação intercultural e inclusiva no Brasil Reinaldo Matias Fleuri (IFC – CAPES/CNPq)

Diretrizes Educacionais no Brasil Objetivo fundamental: formação dos estudantes para a cidadania engendrar o conhecimento da realidade social a formar atitudes de civilidade a compreensão dos direitos e de responsabilidades autonomia, a criticidade e a criatividade corresponsabilidade e participação social Os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997) priorizam a formação dos estudantes para a cidadania como o objetivo fundamental e estruturante da prática docente. Nesta acepção, a professora e o professor são interpelados a mobilizar os estudantes a engendrar o conhecimento da realidade social, bem como a formar atitudes de civilidade, no sentido de motivar a compreensão dos direitos e de responsabilidades, desenvolver a autonomia, a criticidade e a criatividade, alimentando a corresponsabilidade e participação social.

Diretrizes Educacionais no Brasil Trabalho docente com a pluralidade cultural: entender e valorizar as diferenças combater a discriminação promover a inclusão das pessoas com necessidades especiais reconhecer capacidades e necessidades de aprendizagem de cada estudante realizar adaptações didáticas participar ativamente dos processos educacionais em condições de igualdade de oportunidades e de reciprocidade entre educandos e com os educadores As políticas educacionais brasileiras também vêm enfatizando, nas últimas décadas, a importância do trabalho docente com a pluralidade cultural, no sentido de entender e valorizar as diferenças, combatendo a discriminação, bem como a promover a inclusão das pessoas com necessidades especiais no contexto escolar, o que implica em reconhecer capacidades e necessidades de aprendizagem de cada estudante, assim como realizar adaptações didáticas para que possam participar ativamente dos processos educacionais, em condições de igualdade de oportunidades e de reciprocidade entre educandos e com os educadores (FLEURI, 2012).

Diretrizes Educacionais no Brasil FUNÇÃO DOCENTE: conduzir processos pedagógicos no sentido de promover as aprendizagens inerentes à formação para a cidadania ao desenvolvimento da consciência crítica inclusão social e educacional da diversidade humana e cultural Os princípios definidos pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n° 9.394/1996), os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), bem como os diferentes dispositivos legais que instituem as diretrizes para a educação nacional, conferem grande importância à função docente de conduzir processos pedagógicos, no sentido de promover as aprendizagens inerentes à formação para a cidadania, ao desenvolvimento da consciência crítica e à inclusão social e educacional da diversidade humana e cultural.

Perfil dos docentes brasileiros Pesquisas nacionais UNESCO (2004) INEP (2009) GESTRADO (2010) IPM (2010) Pesquisa internacional TALIS (2008 e 2013) Os resultados das pesquisas nacionais da UNESCO (2004), INEP (2009), GESTRADO (2010), IPM (2010), acerca do perfil dos docentes brasileiros, bem como a pesquisa internacional TALIS, 2008 (OECD, 2009) e 2013 (OECD, 2014a; 2014b), trazem informações importantes para discutir os desafios emergentes na prática educacional escolar, particularmente no que se refere à formação para a cidadania e ao desenvolvimento de processos pedagógicos interculturais de inclusão sócio-educacional, na medida em que oferecem informações sobre as características e diferenças da prática profissional dos docentes brasileiros.

Perfil dos docentes brasileiros Predomínio de mulheres, de adultos, casados, com família nuclear, de classe média baixa. Concentram-se no Sudeste e no Nordeste Vários sem formação superior e com contratos precários Formação e atuação no sistema público de ensino Metade tem contrato de quarenta horas semanais e trabalha em uma só escola. Muitos trabalham em mais de uma escola e têm sobrecarga de trabalho Metade está pouco ou nada satisfeita com as condições profissionais A grande maioria opta por se manter neste exercício profissional. Com base nestas pesquisas, podemos perceber que a categoria dos docentes brasileiros é constituída por um público eminentemente feminino, adulto, casado, com família nuclear, de classe média baixa. A distribuição geográfica das professoras, dos professores, no território brasileiro é desigual, concentrando-se em maior número no Sudeste e no Nordeste. Também as condições institucionais de formação e atuação profissional são bastante diferentes, com forte incidência de professoras e professoras sem formação superior e com contratos precários, situação que é mais grave nas regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste. A maioria foi formada e atua no sistema público de ensino. Embora mais da metade tenha contrato de quarenta horas e trabalha em uma só escola, há um número significativo que trabalha em mais de uma escola e tem sobrecarga de trabalho. Contudo a grande maioria se dedica quase exclusivamente à atividade em sala de aula. Apesar de metade estar pouco ou nada satisfeita com as condições profissionais, a grande maioria opta por se manter neste exercício profissional.

Perfil dos docentes brasileiros Dificuldades de interagir com os estudantes com seu contexto familiar e social, se dedicar aos trabalhos didáticos. A vivência sociocultural dos docentes se limita a atividades didáticas é condicionada pela comunicação de massa tem pouca experiência artística tênue acesso à imprensa escrita ou à comunicação interativa. Em tais condições, as professoras e os professores, principalmente os de baixa renda, sentem dificuldades de interagir com os estudantes e com seu contexto familiar e social, bem como de se dedicar aos trabalhos didáticos. Também sua vivência sociocultural se limita a atividades didáticas, é condicionada pelos meios de comunicação de massa ou por associações religiosas, com pouca experiência artística e tênue acesso à impressa escrita ou à comunicação interativa.

Perfil dos docentes brasileiros Concordam com de Diretrizes da Educação Nacional: valorizam a formação para a cidadania, para a criticidade e criatividade menor preocupação com a preparação técnica para o mercado de trabalho. Consideram indispensáveis apoio da família a boa relação dialógica entre educador e educandos. Exprimem abertura aos problemas juvenis ao uso de novas tecnologias de informação na escola, desde que não suplante a relação interpessoal. De modo particular, chamou-nos a atenção a significativa manifestação de concordância dos docentes com as diretrizes estabelecidas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (1997) e pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996). Nesta direção, valorizam a formação para a cidadania, para a criticidade e criatividade, e manifestam menor preocupação com a preparação técnica de seus estudantes para o mercado de trabalho. Consideram indispensáveis fatores de aprendizagem o apoio da família e a boa relação dialógica entre educador e educandos. Exprimem abertura aos problemas juvenis como os da droga, sexualidade e violência, bem como ao uso de novas tecnologias de informação na escola, desde que não suplante a relação interpessoal.

Docentes brasileiros: Tensões noção “generalista” x perspectiva “particularista” da relação entre os contextos nacional e locais perspectiva do Estado-Nação, X a construção de significados a partir dos contextos regionais e locais = trabalho pedagógico a partir do conhecimento da origem cultural dos estudantes, como forma de valorizar a produção cultural nacional. Com base em estudos que realizamos recentemente (FLEURI, 2013) e a partir desta referência do perfil docente no contexto brasileiro, detectamos alguns focos de tensão no exercício da profissão docente nas escolas brasileiras. Ao buscar promover o conhecimento da realidade social, bem como trabalhar com a diversidade cultural dos estudantes, as professoras e os professores revelam uma tensão entre uma noção “generalista” e uma perspectiva “particularista” da relação entre os contextos nacional e locais. Verifica-se no ideário dos professores e das professoras a predominância de uma perspectiva do Estado-Nação, ou seja, entende-se a diversidade cultural a partir na perspectiva de nação única, à qual se subalternizam os contextos históricos, geográficos e culturais regionais e locais. Esta concepção é questionada por parte das professoras e dos professores que priorizam a construção de significados a partir dos contextos regionais e locais. Neste sentido, muitos pensam em orientar seu trabalho pedagógico a partir do conhecimento da origem cultural dos estudantes, como forma de valorizar a produção cultural nacional.

Docentes brasileiros: Tensões A interação com os estudantes é um dos principais desafios Tensão entre valorização dos saberes trazidos pelos estudantes e por suas comunidades ( “senso comum”) necessidade de se transmitir os saberes escolares (pressupostamente verdadeiros e universais) Contradição nos significados e nas lógicas dos saberes Lógica da “oposição”(um tipo de saber tende a sujeitar o outro, ou a ser subjugado pelo outro) x Lógicas de “complementariedade” ou de “reciprocidade” (um tipo de saber pode ser fator de potencialização do outro) = compreensão imprecisa do contexto e do processo histórico induz as iniciativas de crítica e resistência a sustentarem a sujeição Entretanto, o perfil docente indica que a interação com os estudantes é um dos principais desafios enfrentados pelas professoras e pelos professores no seu cotidiano. A própria carência de estudos críticos sobre o trabalho pedagógico com a diversidade cultural no Brasil indica um trabalho ainda embrionário com a problemática intercultural. Soubemos, pelos citados estudos do perfil profissional docente, que a maioria dos docentes desacredita nos valores da juventude que pretendem formar. Além disso, verifica-se uma forte tensão, no imaginário que orienta a prática dos docentes, entre a valorização dos saberes trazidos pelos estudantes e por suas comunidades de pertencimento (tidos como “senso comum”) e a necessidade de se transmitir os saberes escolares (pressupostamente verdadeiros e universais). A contradição aparece não só nos significados dos dois tipos de saberes, mas principalmente nas lógicas segundo as quais a relação entre estes saberes é entendida. Parece predominar uma lógica da “oposição”, segundo a qual, fatalmente, um tipo de saber tende a sujeitar o outro, ou a ser subjugado pelo outro. Porém, esta relação entre saberes também é vista, ambivalentemente, segundo lógicas diferentes, como a de “complementariedade” ou de “reciprocidade”, que tornam possível entender como um tipo de saber pode ser fator de potencialização do outro. Estas mesmas lógicas problematizam a interpretação “bipolar” das relações sociais, abrindo perspectivas de superação das estratégias de poder, bem como da compreensão imprecisa do contexto e do processo histórico, redundantes na estereotipia relacional “dominador-dominado”. Esta perspectiva, aliás, induz as próprias iniciativas de crítica e resistência à sujeição a sustentarem o tipo de relação que combatem.

Docentes brasileiros: Tensões Formação do comportamento moral e afetivo Estilo mais liberal + dificuldades de trabalhar com a complexidade do processo de formação de atitudes. = os docentes tendem a enfrentar de modo estereotípico as questões vividas pelos estudantes e por suas comunidades. A estreita vivência cultural e estética dos docentes decorre em parte de suas limitações socioeconômicas Assim, embora poucos docentes ainda assumam posições repressivas e muitos declarem um estilo mais liberal, no que diz respeito à formação do comportamento moral e afetivo, parece que têm dificuldades de trabalhar com a complexidade do processo de formação de atitudes. Sem uma vivência cultural e estética variada, sendo fortemente influenciados pelas mensagens e pela lógica dos meios hegemônicos de comunicação de massa, os docentes tendem a enfrentar de modo estereotípico as questões vividas pelos estudantes e por suas comunidades, mesmo quando se dispõem a discutir temas de violência, droga e sexualidade, ou a trabalhar com diferentes linguagens e gêneros textuais ou artísticos. A estreita vivência cultural e estética das professoras, dos professores, em grande parte pode estar ligada às limitações socioeconômicas que agravam a vida da maioria dos docentes brasileiros.

Docentes brasileiros: desafios Formação para a cidadania e criticidade Poucos assumem as conquistas legais e políticas, como cidadão e profissional A atividade docente se limita ao trabalho em sala de aula, exercido de modo burocrático e cartorial Os processos de avaliação docente e de gestão escolar, são vistos e assimilados como atividades formais desconectadas do aprimoramento crítico e criativo da prática educacional. O desafio de se trabalhar pedagogicamente com a formação para a cidadania e criticidade junto aos estudantes e suas famílias se encontra fortemente relacionado ao modo como a professora e o professor se compreende e vive como cidadão e profissional. Poucos são os docentes que compreendem e assumem as conquistas legais e políticas que lhes garantem o direito de condições institucionais para exercer o trabalho educacional de modo participante, cooperativo e criativo. A maioria entende que a atividade docente se limita ao trabalho em sala de aula, exercido de modo burocrático e cartorial. Da mesma forma que os processos de avaliação docente e de gestão escolar, mesmo quando propostos numa perspectiva participante, são vistos e assimilados como atividades formais desconectadas do aprimoramento crítico e criativo da prática educacional.

Docentes brasileiros: desafios Gestão e condução pedagógica Poucos assumem a construção e a gestão do projeto político pedagógico na escola as atividades de interação com a comunidade de formação continuada Muitos resistem a assumir a dimensão participante, crítica e criativa de seu trabalho pedagógico = Dicotomia entre dimensão pedagógica e a dimensão sociocultural do trabalho educativo formação para a cidadania e criticidade e a formação científica e tecnológica Os resultados das pesquisas sobre o perfil docente indicam que a maioria das professoras e dos professores não assimila como dimensão potencializadora de seu trabalho pedagógico a construção e a gestão do projeto político pedagógico na escola, bem como as atividades de interação com a comunidade e de formação continuada, já fortemente reconhecida pelas políticas educacionais vigentes. E, da mesma forma que resiste a assumir a dimensão participante, crítica e criativa de seu trabalho pedagógico, pela dicotomia que estabelece entre a dimensão pedagógica e a dimensão sociocultural de seu trabalho, o docente também entende a formação para a cidadania e criticidade de forma oposta à formação científica e tecnológica. Dimensões estas que, na perspectiva da política educacional brasileira, devem ser interligadas e mutuamente fecundantes.

Docentes brasileiros: Tensões Formação para autonomia e criticidade Demanda de uma formação cidadã crítica e participante X noção burocrática, disciplinar de prática educacional = processos de subjetivação e de interação entre os educandos assumidos como “recursos pedagógicos” desqualifica a dimensão proativa dos diferentes “sujeitos” educacionais e socioculturais A figura de “heróis” simboliza interesses hegemônicos, escamoteando a participação ativa dos setores subalternizados na construção social “educar e cuidar” = caráter domesticador ou assistencialista desperdício do potencial criativo da interatividade das novas tecnologias democratização da gestão curricular e da prática escolar cotidiana, enquadrada numa perspectiva de administração burocrática e hierárquica. Os docentes se defrontam com o complexo desafio de promover a formação dos estudantes para autonomia, criticidade e criatividade, também porque vivem a tensão entre, de um lado, a demanda política e legal de uma formação cidadã e profissional, numa concepção crítica, criativa e participante e, de outro lado, a noção burocrática, cartorial, disciplinar e subalternizante de prática educacional legada em sua formação e prática profissional. Neste dilema, reconhecem o potencial educativo dos processos de subjetivação e de interação entre os educandos, sentindo-se todavia impelidos a captura-los segundo teorias hegemônicas, assimiladas superficialmente. Ao entender estes processos de interação entre os estudantes, bem como entre estes e os educadores, como “componentes curriculares” ou “recursos pedagógicos” (numa ótica disciplinar), desqualifica a dimensão proativa e protagonística de uns e de outros como “sujeitos” educacionais e socioculturais. A promoção da criatividade e da autonomia dos estudantes como “sujeitos” implica, aliás, a valorização de seus imaginários e de suas iniciativas na criação de múltiplos e originais significados em suas atividades. O protagonismo ficaria, deste modo, reservado a figuras de heróis, utilizadas ideologicamente pelos diferentes regimes nacionalistas para simbolizar interesses hegemônicos, que de fato escamoteiam a participação ativa dos setores subalternizados na construção e coesão social. Nesta contextura, mesmo entendendo a indissociabilidade entre “educar e cuidar”, estas dimensões da prática educacional dificilmente superam o caráter domesticador ou assistencialista inerente às relações de sujeição. Até mesmo a utilização de novas tecnologias nos processos educacionais desperdiça o potencial criativo da interatividade por elas agenciada. Da mesma forma, se vive o paradoxo na valorização da democratização da gestão curricular e da prática escolar cotidiana, enquadrada numa perspectiva de administração burocrática e hierárquica.

Docentes brasileiros: desafios Promover a diversidade sociocultural : desafio pedagógico. por se enredar em disputas sectárias por subsumir os diferentes sujeitos e significados socioculturais sob a égide da lógica colonial do Estado-Nação ou de progressão curricular disciplinar A perspectiva da homogeneidade social e linearidade histórica é colocada em cheque pela atenção aos processos e às necessidades de “aprendizagem” dos diferentes sujeitos Isto implica a reorganização da prática social e educacional que contemple a complexidade, a fluidez institucional requerida pela participação ativa de todos os sujeitos educacionais. A própria intenção manifestada pela maioria dos docentes brasileiros no sentido de promover a formação política dos estudantes e de respeitar e promover a diversidade sociocultural permanece ainda como um grande desafio pedagógico. Tanto por se enredar em disputas sectárias, como a que configura como oposição entre consciência e militância políticas, quanto por subsumir os diferentes sujeitos e significados socioculturais sob a égide da lógica colonial persistente na hegemônica concepção de Estado-Nação ou de progressão curricular linear, homogênea, sequencial, ou seja, disciplinar. Esta perspectiva epistemológica caraterizada pela homogeneidade social e linearidade histórica é colocada em cheque pela atenção aos processos e às necessidades de “aprendizagem” dos diferentes sujeitos, mais do que aos de “ensino”, tal como propugnam os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997). Isto implica a reorganização da prática social e educacional que contemple a complexidade e a fluidez institucional e curricular requerida, inclusive, pela presença ativa de estudantes com superdotação ou com limitações de capacidades de aprendizagem.

Conclusão Educação intercultural e inclusiva: Desafios socioculturais, políticos, econômicos, pedagógicos e epistemológicos, marcados por dispositivos de saber e de poder subalternizantes e excludentes Demandam a formulação de categorias e o desenvolvimento de processos educacionais que permitam compreender as questões vividas pelos estudantes e por suas comunidades, promover a dimensão participante, crítica e criativa do trabalho pedagógico considerando a complexidade, a complementariedade e reciprocidade da interação entre os diferentes sujeitos e respectivos contextos culturais Em suma, as professoras e os professores brasileiros se deparam em seu cotidiano de trabalho escolar com desafios socioculturais, políticos, econômicos, pedagógicos e sobretudo epistemológicos, marcados por dispositivos de saber e de poder subalternizantes e excludentes. O enfrentamento de tais desafios demandam a formulação de categorias e o desenvolvimento de processos educacionais que permitam compreender de modo consistente e crítico as questões vividas pelos estudantes e por suas comunidades, bem como promover a dimensão participante, crítica e criativa do trabalho pedagógico e da formação dos estudantes, considerando a complexidade, a complementariedade e reciprocidade da interação entre os diferentes sujeitos e respectivos contextos culturais que constituem os processos sociais e educacionais.

Referência MEC/INEP. Perfil profissional docente no Brasil: metodologias e categorias de pesquisas. Brasília: INEP, 2015 (no prelo) Com prazer continuarei a conversa através do email: fleuri@pq.cnpq.br PERFIL PROFISSIONAL DOCENTE NO BRASIL: METODOLOGIAS E CATEGORIAS DE PESQUISAS   Resumo Este estudo compara e analisa as pesquisas recentes sobre o perfil dos professores e das professoras de Educação Básica no Brasil, formulando críticas e sugestões para o desenvolvimento de instrumentos de pesquisa para a atualização do perfil docente brasileiro. O primeiro capítulo descreve os Estudos do perfil das professoras e dos professores no Brasil realizados na última década (2004-2014). Expõe sinopticamente os relatórios de cinco surveys, focalizando seus objetivos e as concepções dos sujeitos da pesquisa, bem como dos temas focalizados e das metodologias utilizadas. O segundo capítulo tece uma Análise comparativa dos Estudos do perfil das professoras, dos professores, no Brasil. Ao detalhar – transversalmente aos surveys realizados – e analisar as categorias constitutivas dos traços do Perfil Profissional Docente, discute e problematiza estas categorias. O terceiro capítulo expõe e analisa as Metodologias de pesquisa utilizadas nos estudos recentes sobre o perfil profissional docente das professoras e dos professores no Brasil. Com base no estudo do conjunto de quesitos propostos nos questionários utilizados nos surveys estudados, elabora um quadro conceitual crítico das categorias constitutivas do perfil profissional docente, indicando as categorias dos quesitos cuja formulação nos questionários estudados apresentam relativa consistência, bem como as categorias que necessitam ser reformuladas e as que precisam ser criadas. Palavras-chave: Docentes, perfil profissional, survey, metodologia de pesquisa, Professores brasileiros, educação básica