A ideia de ciência ao longo da história

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Transcrição da apresentação:

A ideia de ciência ao longo da história Idade Média

Ciência medieval A Idade Média herdou dos antigos o conceito de ciência. Uma constante no pensamento medieval é assegurar ao conhecimento religioso o caráter de ciência. Para os primeiros medievais, convencidos por sua fé, o conhecimento obtido pela ciência sagrada é mais certo, uma “iluminação”. A baixa Idade Média foi marcada por um renascimento cultural promovido pela redescoberta da cultura grega aristotélica, pelo avanço nos estudos e pesquisas dos fenômenos naturais, pelo surgimento de um espírito de dúvida e de crítica. O desenvolvimento do conceito de ciência na Idade Média pode ser dividido em três etapas:

1ª Etapa (ss. VI-IX) – Época tardo-romana. Viveu a dissolução do império e a constituição dos reinos bárbaros. Com uma orientação mais pedagógica, prosseguiu a tradição greco-romana. A classificação dos saberes continuou na forma do Trivium (Gramática, Retórica e Dialética) e do Quadrivium (Aritmética, Geometria, Música e Astronomia). Boécio foi um dos principais representantes do período.

1ª Etapa (ss. VI-IX) – Época tardo-romana. Boécio tinha como proposta filosófica fazer uma síntese de Platão e Aristóteles. Seguindo o Estagirita adotou a definição de ciência como conhecimento certo, sistemático e causal. Esta noção perdurou durante todos os séculos medievais embora com diversas interpretações acerca dos saberes que seriam científicos.

1ª Etapa (ss. VI-IX) – Época tardo-romana. Boécio compreendeu claramente a conexão entre a noção de ciência e a questão metodológica. Em sua obra De Trinitate intentou introduzir a Teologia no quadro dos saberes científicos justificando a pertinência de uma “ciência de Deus”. Seguindo Aristóteles admitiu que as ciências se diversificam segundo seus objetos materiais e formais.

1ª Etapa (ss. VI-IX) – Época tardo-romana. Para ele há três grandes classes de entes: Os naturais (naturalia): entes físicos e materiais de nossa experiência. Os matemáticos ou inteligíveis (intelligibilia): não dependem da matéria. Os espirituais ou intelectivas (intellectibilia): imateriais. Três métodos A física naturaliter: experiencial. A matemática disciplinabiliter: axiomática. A teologia intellectualiter: metafísica.

2ª Etapa (ss. X-XII) – Apogeu do monacato. A maior novidade foi a incorporação do corpus grego-árabe, resultado do grande movimento de traduções iniciado no final do século XI. O movimento acadêmico de Chartres representou um segundo renascimento cultural do medievo e tem como tarefa reorganizar a estruturação do conhecimento. Diferente da etapa anterior, mais pedagógica, nesta época já se encontra um esboço de epistemologia e distinções dos saberes.

2ª Etapa (ss. X-XII) – Apogeu do monacato. A questão dos universais: Posto que o conhecimento científico é universal e necessário, a pergunta é como se forma e como se valida um conhecimento deste tipo, já que nossa experiência imediata é singular e contingente. Realistas (Platônicos – Guilherme de Champeaux): os universais são entidades metafísicas. Realistas moderados (Aristotélicos - Abelardo): são categorias lógico-linguísticas válidas que fazem a mediação entre o mundo do pensamento e o mundo do ser. Nominalismo (Roscelin de Compiègne): são meros nomes, emissão de vocábulos (flatus vocis).

2ª Etapa (ss. X-XII) – Apogeu do monacato. Hugo de São Vitor representou o maior esforço sistematizador do século XII. Ao final do século XII podemos considerar que há uma tradição em relação a classificação da ciência que: Por um lado indica a ampliação epistemológica do século XII com relação aos anteriores. E por outro mostra as limitações de um pensamento que não havia recebido o corpo greco-árabe em sua totalidade.

3ª Etapa (ss. XIII-XIV) – Período escolástico. Esta época foi marcada pela centralização científica nas universidades. Durante o século XII as antigas escolas adquiriram um notável florescimento, como consequência do renascimento cultural dessa época. A difusão da instituição universitária na Europa Ocidental durou mais de um século. Inicialmente, as mais importantes foram as de Paris e Oxford, famosas por seu ensino de lógica e de teologia, e a de Bolonha, pelo ensino de direito civil e eclesiástico.

3ª Etapa (ss. XIII-XIV) – Período escolástico. A universidade medieval ocidental “não foi um lugar de reprodução do saber: foi um lugar de produção de saber, um espaço de pesquisa e de confrontação. [...] um lugar de poder diante dos outros poderes”. (LIBERA, Alain de. A filosofia medieval. São Paulo: Edições Loyola, 1998. p. 368.) Neste ambiente universitário apareceu pela primeira vez, de forma explícita, a questão epistemológica. Essa discussão se coloca em relação a polêmica aristotélica.

3ª Etapa (ss. XIII-XIV) – Período escolástico. Os alicerces da escolástica começaram a se estabelecer com a gradual redescoberta do corpus central das obras filosóficas de Aristóteles. Seus textos de lógica chegaram a Europa por meio das traduções árabes no início do século XII e em meados do século XIII os textos de moral e política se popularizaram. Traduções do árabe para o latim e posteriormente do grego para latim. Transformações nos cursos de artes das universidades no Norte da Europa.

3ª Etapa (ss. XIII-XIV) – Período escolástico. O Estagirita foi negado e até proibido pelos papas nas universidades de arte e teologia. As Faculdades de Artes desconsideraram as proibições e continuaram seus estudos aristotélicos. O papa Gregório IX, em uma bula em 13 de abril de 1231, afirmou não se preocupar mais em impedir a leitura das obras aristotélicas, mas em expurgar os erros de seus livros, por isso estabeleceu uma comissão para analisar os livros naturais do Filósofo. Aristóteles foi acolhido pela universidade medieval em um momento de mudança, da busca da ciência pela ciência, da filosofia em seu sentido mais clássico, voltada para o saber racional. O Filósofo era capaz de responder as questões ou problemas da sociedade medieval.

3ª Etapa (ss. XIII-XIV) – Período escolástico. Tomás de Aquino, o mais importante aristotélico cristão, considerou a ciência como o conhecimento certo demonstrado a partir das causas, sendo a metafísica a mais elevada de todas. Insistiu na distinção das ciências conforme seu objeto formal. A teoria da ciência escolástica, em geral, diferencia o objeto material, ou conjunto real que é objeto de investigação, do objeto formal ou específico a estudar. Ex. o homem é objeto material de várias disciplinas, mas enquanto organismo é objeto formal da biologia humana.

Fatores constitutivos da ciência medieval A tradição greco-romana: aristotélica, estóica e romana. Práticas pedagógicas. A visão cristã: distinção de ciência divina e saberes profanos. Hierarquia dos saberes. O desenvolvimento efetivo dos saberes: leis próprias de evolução. A recepção teórica da ciência antiga (corpus aristotelicum) A prática científica se desenvolveu de acordo com as possibilidades reais e interesses teóricos. A elaboração teórica foi lenta e trabalhosa.

Para consultar... CELINA A. LÉRTORA MENDOZA, “El Concepto y la Clasificación de la Ciencia en el Medioevo (ss. VI-XV)”, em LUIZ ALBERTO DE BONI (org.). A Ciência e a Organização dos Saberes na Idade Média, Porto Alegre, Edipucrs, 2000, p.57-83. http://books.google.com.br/books?id=ePX_NgzFDgEC&pg=PA7&hl=pt-BR&source=gbs_toc_r&cad=4#v=onepage&q&f=true REALE, Giovanni ; ANTISERI, Dario. História da filosofia: Antiguidade e Idade média. São Paulo: Paulus, 1990.