A FILOSOFIA DA RELIGIÃO ENTRE OS SABERES DA RELIGIÃO Prof. Helder Salvador.

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Transcrição da apresentação:

A FILOSOFIA DA RELIGIÃO ENTRE OS SABERES DA RELIGIÃO Prof. Helder Salvador

O fato religioso pode ser abordado por todos os saberes humanos ou sociais, cada um a partir do que lhe é próprio. A reflexão filosófica é particular, mas necessária para enriquecer os outros acessos, pois evita os desvios causados por uma compreensão insuficiente da experiência religiosa e de suas manifestações ou linguagem.

História das Religiões (perspectiva histórica) Nível científico: estudos analíticos de diferentes perspectivas Sociologia da Religião (perspectiva sociológica) Estudo Positivista do Religioso: Ciências da Religião Psicologia da Religião (perspectiva psicológica) Nível fenomenológico: estudo sistemático e Global Fenomenologia da Religião Reflexões normativas Sobre o religioso Filosofia da Religião Teologia

A história das religiões A história das religiões é descritiva (geográfica e cronologicamente) quando mostra fatos religiosos concretos, que foram deixados ou transmitidos pelo ser humano. A lista pode abranger os monumentos, os ritos, as obras de arte, os textos e seus conteúdos (Deuses, leis, teodicéia, ética, etc...) e tudo mais que apareça como expressão religiosa.

Também há uma história analítica, que examina as causas desta ou daquela manifestação religiosa, seu contexto cultura, suas influências sobre outros acontecimentos etc... O historiador pode, por sua vez, estabelecer uma tipologia das religiões (por exemplo: religiões étnicas ou fundadas, politeístas ou monoteístas, etc.) ou comparar uma com a outra, em geral ou em alguns de seus aspectos.

O objeto material da história das religiões é, então, o conjunto dos fatos religiosos em si mesmos ou comparados enquanto manifestações da cultura humana. Assim o método pode ser descritivo, analítico ou comparativo.

Sociologia da religião Tal ciência ficou célebre com Émile Durkheim ( ), em especial por sua obra As formas elementares da vida religiosa, de 1912, na qual o autor estabelece que a religião é uma forma fundamental de coesão social.

O ponto de partida da sociologia da religião é a suposição de que os fenômenos religiosos falam da realidade social e, simultaneamente, que a tradição geradora de mitos e ritos é coletiva. Em outras palavra, o fenômeno religioso é essencialmente comunitário e, portanto, repercute na sociedade como tal. É um contra-senso falar de religião individual. Mesmo as religiões místicas (as que mais destacam a experiência pessoal do sagrado) são fatos sociais, aglutinam grupos e são partícipes de uma cosmovisão comunitária (há uma mística cristã como pode haver uma mística hindu).

À sua maneira, as crenças religiosas cristalizam-se em grupos, comunidades (igrejas, irmandades, ordens, seitas etc.) com um impacto social inevitável. A religião tem que ver, por outra parte, com a ordem social, à qual pode legitimar ou criticar. A questão do poder não é alheia à sociologia da religião, já que os “bens da salvação” podem ser manipulados por diferentes especialistas (magos, sacerdotes etc.) ou classes sociais.

O aspecto social da religião é inevitável. O sociólogo deve partir da história da religião, mas o objetivo de sua ciência é a manifestação social dos acontecimentos religiosos.

Psicologia da religião Os fatos religiosos são, também, o espelho da psique humana. Sem o ser humano não há experiência religiosa. Por isso é necessário distinguir. A psicologia da religião parte do pressuposto de que o sentimento religioso é uma elaboração do Eros básico do ser humano. Eros entendido como um impulso inicial e fundamental ligado ao desejo e suas manifestações ou frustrações. Existem duas vertentes na psicologia da religião.

uma marcada por Sigmund Freud ( ) e seus seguidores, que interpretaram a experiência religiosa como um produto (sobretudo negativo) de conflitos ancestrais (algo equivalente à infância da humanidade, em comparação à do indivíduo). Um desses conflitos – o complexo de Édipo – radicaria na sublimação do originário pai assassinado. Para apagar as marcas do crime e expiá-lo, o ser humano criou leis de incesto e exogamia, sublimou a imagem do pai na figura do totem e na festa totêmica (repetição ritual e libertadora do assassinato do pai). A origem da religião não seria mais do que uma ilusão, similar ao sono, ao delírio, à neurose obscessiva, seria o reino do imaginário por excelência. Deus ocuparia o lugar de um imaginário “pai onipotente”. Interessam, do ponto de vista da religião, os estudos de Sigmund Freud Totem e tabu (1913), e Moisés e moniteísmo (1939).

outra vertente á aquela expressa por Carl Gustav Jung ( ), psicólogo suíço que se afastou em 1913 da linha freudiana. Sua perspectiva de estudo do fenômeno religioso é positiva. Um de seus pressupostos é o do “inconsciente coletivo”, mais arcaico do que o inconsciente individual; é uma espécie de memória ancestral, de sedimentação das vivências da primeira humanidade e que se formaliza em profundas marcas psíquicas: os arquétipos (animus/anima; o puer aeternus ou jovem/donzela, com sua contraparte, o herói; o sábio; o Si Mesmo e seu correlato, o divino). Os arquétipos do inconscientes seriam a fonte, tato dos sonhos como dos mitos da religião. De maneira que essa associação tem para ele um papel positivo: os mitos, como os sonhos, têm um papel estabilizador na constituição da personalidade. As obras de Jung relativas à religião são: Psicologia e religião ocidental e oriental; Introdução à essência da mitologia; Resposta a Jó, e, especialmente, Transformação do símbolo e da libido.

Fenomenologia da religião A fenomenologia estuda a intencionalidade (essência) dos fatos religiosos, o que significam. A fenomenologia parte necessariamente dos fenômenos religiosos (fatos, testemunhos, documentos) contudo, explora especificamente seu sentido, sua significação para o ser humano específico que expressou ou expressa esses mesmos fenômenos religiosos.

A fenomenologia da religião localiza os fenômenos religiosos no seu contexto vivencial e cultural, e assim entender melhor o que significam. Ressaltar a vivência do outro implica numa redução do próprio juízo de valor do estudioso; é o que Husserl chama de “redução eidética” (=suspensão do juízo próprio em favor da intenção do ser humano religioso) ou uma epoché. É uma atitude fundamental quando se quer partir dos fatos religiosos em sua função existencial e não da interpretação de quem os estuda.

A fenomenologia da religião estuda; o sentido das expressões religiosas no seu contexto específico ; sua estrutura e coerência e sua dinâmica (desenvolvimento, afirmação, divisões etc.).

Teologia A teologia parte do dado da fé; por isso, pretende falar a partir de Deus, a partir da relação que ele estabelece com o ser humano. Ainda que seja comum falar de teologia somente em relação ao judeu- cristianismo (cuja fonte é a Bíblia), pode-se estender o conceito a qualquer religião, à medida que existe um trabalho especulativo gerado na experiência da fé, isto é, um trabalho feito a partir da própria fé e não de outro lugar.

A teologia, enquanto ciência, “utuliza” os dados da fé (da revelação), mas se fundamenta na razão. Seu ponto de partida é a experiência de fé, mas seu método é racional : uma coisa é, por exemplo, a vivência da esperança escatológica; outra é a análise e a conceitualização da esperança (escatologia0. No primeiro caso, a Bíblia é a palavra pela qual Deus fala; no segundo, é a fonte de dados para entender racionalmente o alcance de tal experiência religiosa.

Filosofia da Religião A filosofia da religião tenta esclarecer a possibilidade e a essência formal da religião na existência humana. Em outras palavras, estuda a consciência do homem e de sua autocompreensão a partir do absoluto enquanto atingível pela inteligência. A filosofia da religião é uma reflexão realizada com a única ajuda da razão, sendo seu objeto a religião e as condições em que esta é possível.

Da mesma maneira que o ato filosófico não fundamenta a existência humana, mas tenta esclarecê-la, assim também a filosofia da religião não fundamenta, nem inventa a religião, mas tenta esclarecê-la, servindo-se das exigências propriamente filosóficas. A filosofia da religião tematiza a abertura do homem para o mistério que o envolve de maneira positiva, aceitando-o, ou de maneira negativa, rejeitando-o. Tematiza, pois, a relação do homem com o “santo” ou “numinoso” no horizonte da autocompreensão humana.

Hegel ( ) pode ser considerado o precursor moderno da filosofia da religião com suas obras: A fenomenologia do espírito; Enciclopédia das ciências filosóficas; Lições de filosofia da religião. São importante também os seus antecedentes em Kant ( ): Crítica da Razão Pura. Também foi importante o impulso dado por Schliermacher ( ) e Schelling no século XIX, assim como a contribuição de Paul Ricoeur (1913) e Henry Duméry com sua obra Crítica e Religião (1957).

O objeto da filosofia da religião é a religião. Mas a religião pode ser objeto da filosofia ? O que se entende por religião? O que se entende por filosofia?

 A filosofia da religião (estudo do conteúdo racional e especulativo do fato religioso) e sua abordagem se distingui do outros saberes da religião:  da história das religiões (estudo descritivo mostrando fatos religiosos concretos, que foram deixados ou transmitidos pelo ser humano),  da sociologia da religião (estudo dos fluxos entre as formas religiosas e as estruturas sociais),  da psicologia da religião (estudo da significação psíquica e comportamental do fato religioso no indivíduo)  a fenomenologia da religião (estudo sistemático do fato religioso nas manifestações e expressões sensíveis, ou seja, do comportamento humano, com a finalidade de apreender o significado profundo)  e da teologia ( exploração metódica dos conteúdos da fé cristã, que visa elaborar respostas às questões levantadas na existência humana).