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O desenvolvimento das ciências e da filosofia no séculos XVI, XVII e inicio do XVIII Prof. Ricardo Feijó.

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1 O desenvolvimento das ciências e da filosofia no séculos XVI, XVII e inicio do XVIII Prof. Ricardo Feijó

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3 René Descartes (1596-1650)  Na primeira metade do século XVII, a filosofia de Descastes constitui outro pilar da ciência moderna com aspectos bem distintos do empirismo inglês.  O sistema de Descartes apresenta duas características distintivas: o mecanicismo e o racionalismo.

4 O mecanicismo  O mundo é formado por corpos que interagem na colisão.  O movimento de partículas e o impacto entre elas definem qualquer sistema físico.  Mesmo sistemas mais complexos, como os seres vivos, funcionam da mesma maneira que os processos exibidos na natureza inorgânica.  Os indivíduos, portanto, são semelhantes a máquinas e o mesmo método científico da Física pode ser aplicado à Biologia.

5 A árvore do conhecimento  As ciências humanas, como a ciência moral e a política, fazem parte da árvore comum do conhecimento, em que as raízes são a Metafísica, o tronco a Física e os galhos e ramos constituem as demais ciências.

6 O racionalismo  Do ponto de vista do método, em seu racionalismo Descartes acredita que o exercício da razão humana assegura a certeza do conhecimento científico.  Qualquer indivíduo tem o poder de julgar e distinguir o falso do verdadeiro pelo uso do bom senso ou razão.  Enquanto o caminho da verdade em Bacon radica na observação criteriosa, Descartes procura assegurar-se dela no uso da razão. Como conseqüência, sempre que os homens conduzem seu pensamento pelas mesmas vias e consideram as mesmas coisas chegam a um resultado igual.  Há uma única verdade e, sendo assim, boa parte das disputas filosóficas de sua época deve-se a uma má escolha do método de investigação.

7 A dúvida metódica  O bom caminho consiste em refutar tudo o que for apenas provável. Trata-se do método da “dúvida metódica” que certamente não pode negar tudo já que o próprio eu não é negado, pois o ato de pensar garante a nossa existência (“penso logo existo”).  Percorrer tal caminho leva Descartes à rejeição de quase todo o conhecimento acadêmico a sua época, considerado por ele mera especulação.  Então o filósofo vai a procura do raciocínio simples dos homens no mundo prático e nos negócios cotidianos.

8  Tendo estudado autores consagrados de sua época, ele agora se aventura no “livro do mundo”, a fim de viajar, ver cortes e exércitos, freqüentar todo tipo de gente e recolher diversas experiências.  Depois de refletir sobre todas as suas experiências, ele percebe que o pensamento das pessoas é extravagante e muito condicionado pelos costumes de cada um.  Descartes resolve olhar a si próprio e recorrer apenas à força do seu espírito.  Somente a evidência conquistada por nós mesmos é válida e contra ela se opõem os preconceitos da tradição acadêmica.

9  A razão, portanto, aparece no esforço da mente isolada e todos os processos técnicos e sociais devem ser pensados, planejados e controlados por ela.

10 O método cartesiano prende-se a quatro preceitos básicos: 1. Acolher apenas coisas verdadeiras e indubitáveis, que não possam ser postas em dúvida. 2. Todos os problemas são reduzidos a partes elementares, de modo a se decompor analiticamente a realidade. 3. O conhecimento parte dos objetos simples, e só após o pleno conhecimento deles pode-se investigar objetos compostos complexos. 4. Todas as soluções possíveis para um problema devem ser enumeradas e analisadas uma a uma.

11 O papel da experiência em Descartes  O método de Descartes expressa-se, portanto, com base em axiomas tidos como auto-evidentes para a construção de um raciocínio analítico e dedutivo, criteriosamente embasado numa rigorosa lógica matemática.  A mente humana busca conhecer a verdade decompondo analiticamente o problema.  Descartes não concede posição destacada à observação empírica na compreensão dos fenômenos naturais, o que o afasta do empirismo de Bacon e o aproxima de concepções apriorísticas da ciência.  Isto não quer dizer que nenhum papel possa ser atribuído ao experimento empírico em seu sistema.  Em alguns casos, a experiência conta na seleção de soluções particulares do problema, mas ela é tão-somente um instrumento adicional de análise ao lado dos recursos fornecidos pela própria razão.

12 O legado de Descartes  O sistema de Descartes mantém pontos de contato com a tradição escolástica, inclusive em sua ênfase em questões religiosas.  No entanto, ele forneceu também elementos para a gestação da ciência moderna ao praticar metodicamente a dúvida no desenvolvimento do pensamento científico.  Suas idéias marcaram o pensamento filosófico ocidental, em especial destacamos sua influência em pensadores como Spinoza e Locke.  No âmbito da ciência natural deu contribuições expressivas ao desenvolvimento de ramos da Física, como a óptica geométrica, e da Matemática, tendo criado a Geometria Analítica, uma das bases matemáticas da Física moderna.

13  A crença cartesiana de que a linguagem matemática é a forma universal do raciocínio empregado em qualquer investigação científica haveria, por certo, de permear toda a ciência natural a partir do século XVII e especialmente no século seguinte, quando a matemática conhece grande impulso em seu desenvolvimento.  O pensamento de Descartes influenciou o Iluminismo francês do século XVIII, mas na época dele as maiores referências para a ciência inglesa eram, de fato, o empirismo de Bacon e agora o novo sistema de Newton.  O racionalismo, com sua crença na apreensão direta da verdade, é contraposto, em território britânico, principalmente ao método newtoniano de se fazer ciência. Veremos adiante que tal método influenciou profundamente o nascimento da Economia como ciência afetando particularmente o pensamento de Richard Cantillon e Adam Smith.

14 Isaac Newton (1642-1727)  Inaugurou um estilo intermediário entre a tradição aristotélica e o empirismo baconiano.

15 O método de Newton  O estilo de Newton foi se firmando a partir do imenso sucesso alcançado por sua Física em explicar e prever fatos empíricos já conhecidos e propor soluções bastante satisfatórias aos problemas colocados pela tecnologia da época.  O método de Newton não ficou confinado apenas nas ciências naturais e também serviu como modelo para a investigação social.  Logo veremos a descrição pormenorizada desse método, por enquanto se explica como ele surge na prática de Newton.

16 Kepler e Newton  Kepler havia descoberto as três leis que comandam o movimento dos planetas pela mera análise dos dados de Tycho Brahe. Tais leis tinham, portanto, um caráter puramente empírico, não se revestindo de algum princípio teórico que descrevesse os movimentos dos corpos ou explicasse a natureza das órbitas planetárias.  Muito jovem, Newton tinha desenvolvido, a título de exercício matemático, uma explicação física do movimento dos planetas na hipótese da existência de um sistema de forças centrais unindo os planetas ao Sol, que decaem com o quadrado da distância que os separam do Sol.

17  Quando se lança essa hipótese, pode-se deduzir, com alguma competência matemática, as três leis de Kepler. De início, Newton não deu muita importância a esse achado, mas depois, em fase madura de sua vida, percebeu, junto com os colegas cientistas, as implicações de sua descoberta.  Os fatos descritivos da dinâmica dos planetas, que haviam sido estudados empiricamente por Kepler, são por Newton enquadrados em um sistema teórico fundamental construído com base em poucas premissas. A lei da atração gravitacional e a lei da ação e reação são princípios que dão conta de toda a multiplicidade de fenômenos astronômicos já conhecidos.  E mais, os movimento dos corpos na superfície da Terra também são explicados pelos mesmos princípios da Dinâmica, rompendo a separação aristotélica, mantida por Galileu, entre o mundo translunar das estrelas e o mundo sublunar em que vivemos.

18 Descrição do método de Newton  O sucesso do empreendimento de Newton conferiu ao seu método um valor de paradigma para todas as ciências e isto se impregnou fortemente no ambiente acadêmico inglês.  No que consiste o método newtoniano?  No plano meramente formal, ele é muito assemelhado à descrição aristotélica de ciência.  Newton aplicou o método aristotélico nos resultados empíricos de Kepler. Identificou os princípios da mecânica e da atração universal dos corpos e provou matematicamente como a órbita elíptica e outras conclusões keplerianas decorrem deles.

19 Ciência e tecnologia  Não cabe aqui discorrer sobre as realizações da ciência newtoniana, mas vale dizer que seu sucesso também esteve associado à solução de importantes problemas práticos da época. Basta examinar a ordem em que as questões teóricas são tratadas na obra máxima de Newton, os Princípios matemáticos da filosofia natural, de 1687, para se perceber sua relação com questões práticas.  Newton procurou não apenas resolver problemas empíricos isolados, mas também construir uma sólida base teórica para a solução, por meio de métodos gerais, do conjunto de problemas físicos suscitados pelo desenvolvimento da tecnologia

20 Problemas técnicos tratados nos Princípios de Newton

21  No prefácio dos Princípios, Newton chama atenção para o fato de que a mecânica aplicada e a descrição das máquinas simples já tinham sido tratadas por outros e que seu objetivo não era “discutir os vários ofícios e resolver problemas particulares, mas discorrer sobre a natureza e sobre os fundamentos matemáticos da Física”.  Como a obra é apresentada na linguagem matemática abstrata da geometria, seria difícil encontrar nela referências diretas às exigências técnicas das quais acreditamos os problemas por ele resolvidos derivam-se.

22  No entanto, a simples inspeção dos temas abordados em cada capítulo demonstra que o núcleo central dos Princípios consiste exatamente nos problemas técnicos de sua época. Assim é que, no primeiro livro da obra, é feita uma exposição detalhada das leis gerais do movimento de corpos sujeitos à ação de forças centrais fornecendo um método geral para a solução dos problemas mecânicos.

23  O segundo livro é dedicado ao movimento dos corpos num meio resistente, resolvendo problemas fundamentais de balística, im­portante para a artilharia pesada.  A quinta seção do segundo livro é dedicada ao fundamento da hidrostática, ao problema dos corpos flutuantes e ao problema da compressão de gases e líquidos submetidos a pressões, todos com aplicação na construção de navios, canais, bombas d’água e sistemas de ventilação.  A sexta seção do mesmo livro trata do problema do movimento do pêndulo num meio resistente, que facilitaria depois a construção de relógios. A hidrodinâmica dos fluxos de líquidos por meio de tubos é tratada na seção seguinte, com importante aplicação para a construção de canais, eclusas e bombas d’água.  O terceiro livro dos Princípios lida especificamente com as questões referentes ao movimento dos planetas e às anomalias do movimento da Lua, com aplicação para a astronomia e o movimento das marés. Ambas de importância vital para a navegação.  Esse breve perfil dos Princípios mostra a coincidência entre os temas teóricos e as exigências tecnológicas da época.

24  O método newtoniano consiste em identificar uma ordem natural subjacente a fenômenos aparentemente caóticos construída a partir de um pequeno número de princípios básicos muito bem fundamentados.  Destarte, mostra-se que o complexo mundo dos fenômenos observados pode ser ordenado pelo encadeamento de raciocínios lógicos que se desdobram das premissas iniciais como implicação.

25 Diferenças entre os métodos de Newton e Aristóteles  A questão que separa Newton de Aristóteles diz respeito a como se chega aos princípios e ao status ontológico quanto ao conteúdo de sua verdade.  Aristóteles se apóia numa visão platônica a firmar a verdade dos princípios no mecanismo de revelação (nous ou “olhar intelectual”) que vê a verdade dos princípios na memória retida dos objetos.  Definitivamente essa não é a interpretação de Newton. O grande físico obteve os princípios de seu sistema apoiado no debate com seus contemporâneos, no legado da investigação de autores que o antecederam e, sobretudo, graças a sua imensa genialidade. Participa também os aspectos místicos em sua formação intelectual. De fato, há muitos elementos imponderáveis na descoberta newtoniana dos princípios científicos, que não podem ser logicamente reconstruídos

26 O misticismo de Isaac Newton.  John M. Keynes arrematou, em leilão, uma caixa contendo papéis com anotações de Newton à época em que escrevera os Princípios. Keynes conta-nos que o conteúdo desses papéis revela uma mente envolta em questões de alquimia e esoterismo, muito em voga na época.  O eminente físico brasileiro Mário Schemberg afirma, entre outras coisas, que Newton considerava o espaço o “sensório de Deus” e que a idéia de atração gravitacional pode ter sido inspirada nas antigas crenças esotéricas dos poderes de amor e ódio, que corresponderiam a forças atrativas e repulsivas, respectivamente.

27 Newton e a experimentação  É certo que Newton foi observador meticuloso de fenômenos particulares. Ele fazia experiências de laboratórios, por exemplo, incidindo um feixe de luz por um prisma, e observava o movimento dos astros.  Mas não foram tais observações que nele despertaram diretamente a descoberta dos princípios. Além do mais, muito do que se diz sobre Newton hoje se sabe que se trata de mito.  Não está provada a veracidade da narrativa sobre a queda da maça de uma árvore, que lhe teria revelado a existência da gravidade.  Enquanto no método de Bacon a observação empírica meticulosa está na base da ciência, em Newton os fatos empíricos aparecem como ilustração ou como comprovação aposteriori da teoria.

28 Newton e a ontologia  Muito embora carregue consigo um enorme poder preditivo dos fenômenos físicos, a ciência de Newton não se propõe a alcançar a verdade última das coisas; como na lei da atração gravitacional, que é apenas postulada.  Newton sabia se tratar de uma hipótese forte que poderia com o progresso da ciência vir a ser mais bem explicada, como de fato o foi com o desenvolvimento da Física moderna.  O que importava era o fato de que os eventos observados poderiam ser obtidos retrospectivamente a partir da ação dos princípios teóricos. E que a construção teórica conferia uma ordem harmônica aos fatos físicos observados. Além do mais, a teoria teria um cem número de importantes aplicações tecnológicas.

29 Newton versus Descartes  O sistema de Descarte difere bastante da visão de Newton. Este último não acredita que as forças da razão possam assegurar a verdade do conhecimento. Adicionalmente, há outros aspectos que os separam.  Newton não compartilha a visão mecanicista do universo tal como aparece em Descartes. Embora também ele aceite o papel das colisões, concebia que muitos processos físicos dependeriam de outros fatores além do movimento e colisão de partículas.  Newton acreditava em uma explicação do movimento com base na hipótese da “ação à distância” entre os corpos, enquanto o sistema teórico do francês só permitia a ação por contato.

30  Os corpos interagem apenas empurrando ou puxando uns aos outros. Newton não considerava plausível que um sistema complexo como um organismo animal pudesse funcionar em analogia às engrenagens de uma máquina.  Ele refutava o modelo do universo enquanto um relógio, embora o seu sistema também estivesse fortemente carregado de relações deterministas.  O sistema cartesiano identificava espaço com matéria e não permitia a existência de espaços vazios, mantendo, portanto, a velha crença aristotélica na ausência de vácuo. Newton aceitava o vácuo.  A lista de diferenças entre eles poderia se ampliar muito mais.

31 Conclusão  Necessita-se de uma sólida compreensão do desenvolvimento das ciências naturais até o século XVIII, e de suas diferentes bases filosóficas e metodológicas, a fim de situar-se o nascimento da Economia científica.

32 Novas idéias sobre a política e a sociedade

33 Um paradigma para a economia  Localizamos três importantes tradições científicas consolidadas no início do século XVIII, associadas aos nomes de Bacon, Descartes e Newton. Embora os problemas que deram origem a elas digam respeito à explicação de fenômenos naturais, os métodos científicos e a visão filosófica geral que emergem, de modo diferenciado, em cada uma das tradições funcionaram também como paradigmas da ciência social e da Economia em particular.

34 Novos tempos  A influência das ciências naturais só foi possível porque paralelamente ao avanço da ciência natural uma nova visão da sociedade foi sendo elaborada desde o início do período histórico do Renascimento.  A decadência da estrutura feudal e a negação do poder da Igreja abalaram a imagem da sociedade como uma comunidade de fiéis, onde caberia a cada um desempenhar funções específicas pré- determinadas.  O entusiasmo geral provocado pelo avanço do conhecimento tecnológico favorecia um novo tipo de visão enaltecedora do poder do intelecto humano em conhecer a realidade e dominar a natureza.

35  Ao mesmo tempo, o homem como cordeiro submisso à Igreja é substituído pelo homem dotado de vontade própria, repleto de paixões e muitas vezes movido por impulsos não muito éticos. É quando surge os modelos teóricos descritivos da sociedade que procuram dar conta de sua origem e coesão sem pressupor a componente moral e religiosa.

36 Coesão social sem o pressuposto moral  Embora sem a mesma presença anterior de elementos de sociabilidade trazidos pela autoridade da tradição religiosa, a vida social não se degenera em caos.  Há que se identificar os mecanismos que garantiriam a coesão social no contexto moderno de homens livres e pensantes. Surgem então as primeiras interpretações da política do novo Estado que substitui o poder eclesiástico.

37 Nicolau Maquiavel (1469-1527)  Propôs uma ciência política de caráter positivo, que examina sistematicamente os mecanismos pelos quais um ditador impõe a ordem entre homens egoístas e pérfidos  Para Maquiavel a eficácia do comandante em atender a um objetivo visado passa por um cálculo racional. O domínio da situação depende das estratégias do poder em seguir recomendações práticas, como as que constam na sua obra O Príncipe. Os caprichos pessoais, que poderiam levar à destruição mútua de todos, são neutralizados pelo poder do Estado.

38 A teoria política de Maquiavel.  O quadro traçado por Maquiavel procura ser realista ao conceber uma natureza humana egoísta e falar em ações necessariamente cruéis que deveriam ser praticadas pelo soberano. Isso, no entanto, não se constitui em um juízo de valor da parte dele.  Não se pode concluir que seu intento seja o de afrontar a moralidade, pois ele não se prende a uma ética deontológica construída em consideração a princípios de bem e mal.

39  Maquiavel segue a ética teleológica em que o julgamento da conduta é feito em termos das suas conseqüências práticas em alcançar o fim a que se destina. Com ele, as ações humanas em sociedade passam a ser julgadas como procedimentos técnicos análogos às medidas requeridas para o domínio da natureza.  O Estado é visto pela ótica de um naturalismo que o assimila a um organismo vivo cuja saúde depende da eficácia dos remédios aplicados.

40 A Arte da Guerra (1520)  Explica em detalhes os procedimentos efetivos para a aquisição, manutenção e uso de uma força militar. Parecido com as reflexões em política.

41 Thomas Hobbes (1588-1679)  A tendência de interpretar o conjunto da vida social como estando submetido a certos mecanismos lógicos, semelhantes às regularidades dos fenômenos físicos, é mantida e até reforçada no século XVII.  Hobbes tenta compreender a sociedade comparando-a a uma máquina. Seu pensamento político mantém pontos de contato com o modelo de Maquiavel, como a imagem realista da natureza humana e a necessidade de um governo forte para a acomodação de interesses particulares.

42 Leviatã, de 1651  Obra máxima de Hobbes  Foi dedicada a Galileu. Conceitos físicos são utilizados para descrever a natureza humana, quando Hobbes distingue movimentos vitais de movimentos voluntários do homem.  Os primeiros são os processos automáticos de operações vitais como digestão e respiração.  Estes últimos dizem respeito à ação voltada ao atendimento de desejos e aversões.  Tudo o que contribui para a satisfação de desejos é um bem, ao passo que coisas que produzem aversão os homens as denominam de mal. Assim, os conceitos éticos de bem e mal são redefinidos em termos de coisas que são e não são agradáveis aos homens.

43 O Contrato Social  A sociedade de Hobbes é um organismo artificial inteiramente análogo a um organismo biológico. É uma criação artificial que se contrapõe a um “estado natural”.  Este último descreve uma situação de guerra de todos contra todos, alimentada pela competição, pela desconfiança e pelo desejo de glória individual. A partir dela, os homens movidos pelo medo e ansiando por uma vida mais confortável são levados, em vontade própria, a firmar um pacto social.  Assim, o estado emerge de uma convenção, no momento em que um conjunto de indivíduos concorda em estabelecer o contrato social.

44 Sociedade e economia como máquinas  Hobbes concebe a sociedade como organismo artificial, modelo que é reforçado pelo mecanicismo de Descartes que viveu à mesma época. Como mecanismo automático, a sociedade estava sujeita a leis de funcionamento. Leis também condicionam a esfera econômica, e justificam políticas antiintervencionistas. Tinham, portanto, também um caráter normativo.  A influência do espírito cartesiano transborda o pensamento econômico. Com base na idéia de lei social, Hobbes defendeu a liberdade de comércio.

45 Dudley North  Escreveu em 1651 os Discursos sobre o Comércio  Assevera que quando o método cartesiano é aplicado às questões comerciais chega-se a um conhecimento da economia como um sistema mecânico fundado em verdades claras e evidentes, em que os preços se fixam, por si só, em cada mercado e a riqueza advêm espontaneamente sem a intervenção do Estado.

46 John Locke (1632-1733)  A visão da sociedade que iria prevalecer no século XVIII, época do nascimento da Economia como ciência, afasta-se, no entanto, do racionalismo e mecanicismo cartesianos sob as influências marcantes da obra de Locke da qual destacamos o Ensaio sobre o Entendimento Humano e os Dois Tratados sobre o Governo.  As idéias de Locke repercutiam as aspirações da classe burguesa e ele é considerado o filósofo da Revolução Gloriosa, que em 1688 estabeleceu a monarquia constitucional na Inglaterra, bem como um dos precursores do Iluminismo, movimento intelectual que comandou a Revolução Francesa.

47  Locke também é considerado o pai do liberalismo que se impôs completamente na cena inglesa do século XIX.  Locke segue a trilha de seus antecessores Bacon e Hobbes, mas critica Descartes em aspectos essenciais.  Como Bacon, ele exalta o poder dos sentidos como fonte do conhecimento e repudia os vestígios platônicos da visão de ciência em Aristóteles com suas crenças em verdades inatas.  De Hobbes, Locke retém o modelo individualista que explica o poder instituído a partir de um acordo livremente estabelecido entre os indivíduos e selado por um contrato social.  No entanto, Locke demonstra uma preocupação maior em resguardar a liberdade individual contra a tirania do poder. Lança então a tese de que a natureza reserva aos homens certos diretos como os de integridade física e propriedade.

48  Seguindo Descartes, Locke também confia no poder da razão de transformar o mundo, porém ele fornece uma outra interpretação dela.  A razão não é busca de princípios internos ao pensamento individual obtidos na decomposição analítica dos fenômenos em seus elementos básicos.  Ela consiste, mais propriamente, em um dom potencializado pela observação empírica. Locke critica o racionalismo de Descartes, que interpreta ainda reter resquícios escolásticos da crença de idéias inatas e verdades auto-evidentes, e se aproxima da tradição empirista de Bacon.

49 Locke e o empirismo  Locke não aderiu a um empirismo radical, embora Locke em muito tenha contribuído para a difusão do empirismo fora da Inglaterra.  O empirismo havia se consolidado no século XVIII graças ao extraordinário avanço das ciências, mas foi o método da física newtoniana e não o de Bacon que se tornou o paradigma do pensamento filosófico em ciência.  Locke desfrutou da amizade de Newton e com ele apercebeu-se que grande parte de nossas idéias não se poderia comprovar, pois elas provem de um conhecimento intuitivo.

50  Podemos demonstrar as conseqüências matemáticas dos princípios da Física e chegar a certas conclusões de aplicação empírica, mas o princípio em si mesmo, uma vez bem estabelecido, não se pode contestá-lo.  Outras idéias se colocam acima da razão humana e só podem ser assentidas pela fé, como as crenças religiosas.

51 Sociedade e Estado em John Locke  O modelo de sociedade política de Locke assemelha-se também ao de Hobbes mantendo dele afastamento em pontos específicos.  Em seus Dois Tratados sobre o Governo, ainda aplica os conceitos de “estado natural” de homens livres e iguais, precedendo o aparecimento do poder, e a idéia de que o poder se legitima pelo consentimento.  Mas o pacto social não é pensado como um antídoto para acabar com a situação de guerra de todos contra todos, já que em Locke no estado de natureza o homem não é o lobo do homem, embora não se encontre aí a visão idílica do bom selvagem popularizada por Rosseau.

52  Sem aderir a concepções extremas do caráter do homem no estágio pré-social, Locke argumenta que o pacto social é fruto da conveniência dos homens se submeterem a um poder central a fim de preservarem a vida e a propriedade.  Se o Estado aparece para preservá-lo, é importante encontrar uma justificativa para o direito de propriedade. Neste tocante, Locke envereda suas reflexões passando às considerações econômicas.  O Estado não interfere na distribuição de riquezas, pois é o trabalho individual que confere a cada um seus direitos de propriedade, que engloba também os direitos de herança. O fim da vida social é produzir a maior quantidade possível de coisas úteis, mas a produção deve-se deixar a cargo dos interesses particulares.

53  Dando continuidade à ética teleológica de Maquiavel e Hobbes, Locke busca ainda um fundamento hedonista para a justificativa moral da conduta. Bem e mal são definidos pelo prazer e pelo mal que a conduta propicia ao indivíduo. Tal modelo ético iria depois resultar no utilitarismo de J. Bentham, seguido pela maioria dos filósofos éticos ingleses entre o fim dos setecentos e o século seguinte.

54 Idéias econômicas de Locke  Em teoria econômica, Locke tece consideração sobre o valor dos bens. Seu fundamento está no trabalho humano. Contrariamente à versão menos enfática de William Petty, o trabalho é mais importante que o próprio preço das terras na determinação do valor dos bens.  No ensaio de 1691, intitulado Considerações sobre a Queda do Juro e a Elevação do Valor da Moeda, Locke indica claramente sua compreensão dos mercados como um mecanismo impessoal em que operam a oferta e a demanda e onde os preços estabelecidos não poderiam ser consistentemente alterados por medidas legais. O próprio juro do dinheiro seria determinado por uma taxa natural de mercado.

55 A visão do século XVIII  Há no início do século XVIII um consenso em torno da interpretação da política, da sociedade e mesmo da economia como esferas naturais.  Uma importante questão que se colocava à época era em como conciliar a visão da sociedade composta por indivíduos auto-interessados com o comportamento ético presumidamente atribuído ao homem pelos filósofos moralistas ou éticos.  Aceitando todos os preceitos da análise de Locke, um grupo de filósofos ingleses ataca a visão pessimista de Hobbes e tenta mostrar que o auto- interesse não é a princípio incompatível com a benevolência.

56  Entre ele podemos citar Shaftesbury, Tucker e Hartley.  Passando ao largo das particularidades individuais, todos defendem a possibilidade de reconciliação entre a conduta altruística e a busca da satisfação individual.  Porque, sendo o homem um animal social, as preocupações com o interesse próprio e com o interesse comum se confundem, de modo que ao se trabalhar pelo incremento da felicidade pública aumenta também o quinhão da felicidade individual.  O argumento filosófico principal deles consiste em mostrar que o comportamento humano tem sempre uma componente de benevolência, não sendo, portanto, um comportamento genuinamente egoísta. Os filósofos éticos procuram enfraquer a tese do homem auto-interessado e egoísta, reconciliando-o com a moral.

57 Bernard Mandeville (1670-1733)  O escritor holandês publica um poema em 1705 em que busca demonstrar por meio de uma fábula que não é necessário descartar o comportamento puramente egoísta para se derivar a partir dele resultados benéficos para a sociedade.  A obra Fábula das Abelhas trás em seu subtítulo um resumo da fórmula encontrada por Mandeville: vícios privados, benefícios públicos.

58 A Fábula das Abelhas  Nesta obra Mandeville supõe a existência de um mecanismo na sociedade pelo qual os vícios privados, ao se somarem, convertem-se em benefícios públicos.  O argumento é o de que a luxúria humana, ao lado da vaidade e da inveja, é socialmente útil na medida em que gera demanda efetiva, encorajando a produção de bens e com isso empregando toda sorte de trabalhadores.

59  A fim de ilustrá-lo, conta a estória de “uma grande colméia, repleta de abelhas, que viviam com luxo e comodidade” e que a partir de um certo momento resolve se moralizar. Conseqüentemente “à medida que minguaram o orgulho e o luxo... fecharam fábricas inteiras” e... “Todas as artes e ofícios foram abandonados”. A colméia, ao se moralizar, entrou em franca decadência econômica.  Como lição da estória, Mandeville escreve que “ser famoso na guerra e, ainda, viver comodamente, sem grandes vícios, é uma vã utopia radicada no cérebro. A fraude, o luxo e o orgulho devem existir, enquanto recebemos seus benefícios”.

60 Modelo individualista de sociedade  Mandeville reforça o modelo individualista de sociedade, mostrando a precariedade dos argumentos morais na explicação da sociabilidade dos homens nas economias de mercado. As suas idéias, no entanto, escandalizaram a opinião da época e não foram seguidas pelos mais importantes filósofos morais do século XVIII.  Mandeville não nega que os homens são naturalmente dotados de algum senso moral, mas ele não considera que a plena moralidade seja uma pré-condição para a vida social

61 A emancipação da economia  A obra de Mandeville teve um papel decisivo para emancipar o pensamento econômico da época da moralidade e permitir assim a consideração de um subsistema social autônomo que constitui uma ordem econômica formada por uma coleção de indivíduos buscando seu auto-interesse e governados pela lei da oferta e demanda.  A ordem social ora era pensada como uma criação artificial dos homens, como na tradição hobbesiana, ora como uma entidade natural ou até divina.  Newton também via o desígnio de Deus na ordem natural.  Os economistas do século XVIII acreditavam todos na ordem natural dos fenômenos econômicos

62 A ordem natural dos fenômenos sociais  Mercer de la Rivière, membro da escola de economistas franceses conhecida como Fisiocracia, afirma textualmente que a “ordem natural e essencial da sociedade” não é fruto do trabalho do homem, mas é instituída por Deus.  Smith talvez tenha enxergado o desígnio do criador na ordem econômica, enquanto Hume era céptico da presença divina na ordem.

63  Não importa se a interpretação de cada qual é ou não carregada de conotação religiosa; todos aceitam a existência de uma ordem natural subjacente à sociedade e à economia.  Se ela existe, os homens em sociedade estão sujeitos a leis naturais do mesmo modo em que na natureza física os fenômenos submetem-se a leis físicas.  Os fisiocratas acreditam que a produção e a distribuição dos bens são efetuadas de acordo com leis fixas da natureza e que os problemas de distribuição devem ser lidados como se enfrenta os problemas da Física.


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