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A história social – questões gerais

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Apresentação em tema: "A história social – questões gerais"— Transcrição da apresentação:

1 A história social – questões gerais
A história social – questões gerais. (Drª Zélia Lopes da Silva (Assis, 28/5/2004 ) Em 1994, fiz um balanço sobre o percurso da historiografia brasileira na área de “história social”, indicando, na ocasião, algumas questões intrigantes quando se pretendia demarcar o percurso do debate neste campo. Diria que aquelas avaliações ainda não perderam a sua força, embora tenha ficado ainda mais complexo com os vários rearranjos e incorporações nas análises, de teóricos antagônicas entre si e distinto do paradigma originário. 1- A primeira das questões sinalizava para o “movediço” campo conceitual no qual se inseria os diversos tipos de fenômenos inscritos na rubrica “história social”. Ali aparecia o movimento operário e as rebeliões prisionais, os linchamentos, o movimento estudantil e de mulheres, saques e quebra-quebras. A pergunta era: como pensar algumas dessas manifestações coletivas, a partir do marxismo, referencial paradigmático que se constitui em sua negação? Essa corrente informou análises expressivas neste campo, confundindo-se tais investigações com a própria vertente teórica que lhes deu suporte. Antes de avançar, repassemos o próprio conceito visto por pesquisadores como Maria Isaura Pereira de Queiroz.

2 O conceito de > “movimentos sociais”
“Os termos “movimentos sociais” supõem consciência dos problemas vividos numa estrutura sócio-econômica e política injusta – a consciência sendo constituída justamente da percepção e do conhecimento dessa estrutura e de seus efeitos, mesmo que sob um modo de percepção religioso” (p.1- entrevista) (Essa definição foi dada para reafirmar que o cangaço não tinha esse perfil. Era mais uma resposta à miséria). Maria Isaura Pereira de Queiroz, no livro História do Cangaço, conceitua os “movimentos sociais” da seguinte maneira:

3 A história social – questões gerais
Voltando a questão inicial, diria que a análise de alguns desses fenômenos sequer encontra amparo no âmbito desse paradigma marxiano que colocava o operário fabril como seu protagonista e o sujeito condutor do processo revolucionário. Essa perspectiva informou as reflexões acadêmicas e direcionou o caminho das lutas no campo das esquerdas por muito tempo. O aparecimento de outros sujeitos em cena > não rompeu com esse pressuposto que manteve sua primazia no âmbito das investigações por muito tempo, uma vez que ainda aparecia investido da missão de condutor do processo revolucionário. Assim pensavam os intelectuais de esquerda, até mesmo aqueles que passaram a contestar certas leituras do marxismo e o chamado socialismo real, como os ingleses integrantes da “new left”, a exemplo de Christopher Hill, E. Hobsbawm, E. P Thompson.

4 A história social – questões gerais
2. O deslocamento do debate, fruto de enfrentamentos e discordâncias dos comunistas europeus com os soviéticos > deu origem ao interesse por questões/fenômenos inscritos no âmbito da resistência individual e da revolta > inscrevendo outros sujeitos e suas ações, fora do âmbito fabril, na categoria de “movimentos sociais”. Essa reviravolta abriu espaço para estudos das multidões em cena e para fenômenos qualificados de “pré-politico”, ocorridos no campo, em experiências históricas distintas, com foco, por exemplo, no “banditismo social” ocorridos no México, no Brasil e, em outros países, mais remotamente. Avaliação que tinha em vista à construção de alternativas políticas envolvendo a aliança operário-camponês, motivados pelas inquietações políticas da AL, em clara influência das revoluções na China e em Cuba.

5 Redefinições teóricas
A crise aberta no campo das esquerdas pela insurreição na Hungria e a busca de alternativas políticas conduziram os pesquisadores, notadamente os ingleses, à volta ao passado; isso significou a descoberta dos fenômenos do campo, como o “banditismo social”, como já foi mencionado e, também, redefinições teóricas de categorias como “classe” e “luta de classes”, reviravolta que desloca, já naquele momento (1959), segundo De Decca , o operário fabril do centro das investigações e da condição de sujeito único do processo revolucionário.

6 O caminho do debate Assim, o percurso historiográfico da história social no Brasil, acompanha com certo atraso esse debate e foi empurrado pela luta contra a ditadura e pelos movimentos sociais emergentes. Os seus estudos, entre os historiadores tem inicio nos anos 1970 e vem no rastro da institucionalização da chamada História Social, inicialmente preocupada com os fenômenos sociais urbanos, em particular, com as manifestações operárias, provenientes do mundo do trabalho fabril. As preocupações assentam-se em questões suscitadas com o golpe de 1964 que deu origem a mudanças de enfoque historiográfico e recolocou em questão a história brasileira, autoritária e excludente, com foco nas elites. Portanto, trazem as marcas do engajamento político dos intelectuais nos embates da conjuntura.

7 Os movimentos sociais no Brasil – a trajetória do debate
Foi nesse contexto que os estudos sobre os segmentos populares ganharam relevância, evidenciando as dificuldades enfrentadas por tais segmentos — do campo e da cidade — para expressar os seus interesses e descontentamentos, mesmo no decurso da República, que continuou tratando as suas demandas, com a mesma intolerância e violência dos períodos iniciais.

8 Os movimentos sociais no Brasil – a trajetória do debate
Sem canais legitimados nas próprias instituições republicanas para expressar tais interesses, quando o fizeram foram interpretados como elementos dissolventes e destruidores da ordem pública, já que a própria carta republicana estabelecia a distinção entre cidadãos ativos e passivos, o que definia uma clara hierarquia para a plenitude dessa atuação, indicando a não superação de concepções que continuavam reiterando a ausência de um “povo”, na base da sociedade brasileira. Tal compreensão pautava-se pelos parâmetros definidos para a nação, a partir do modelo liberal à moda americana, que se apoiava no entendimento do preceito de liberdade, que nos cânones modernos, significava o direito privado de ir e vir.

9 Os movimentos sociais no Brasil trajetória do debate
como informa Marco Antonio Villa, em Canudos. O campo em chamas figura como um tema quase esquecido da História do Brasil; quando é citado, aplica-se a ele a categoria de “messianismo”, epíteto que desqualifica a luta de milhares de sertanejos na defesa de uma nova ordem social. Explica o autor que cem anos depois de serem exterminados pelo Exército Brasileiro, Antonio Conselheiro — Antonio Vicente Mendes Maciel — e os principais líderes de Belo Monte, ainda são considerados fanáticos e loucos. Exemplo disso, são os “levantes” e manifestações populares nos primeiros anos da República, como a guerra entre as Forças Armadas e os seguidores de Antonio Conselheiro, no sertão da Bahia, entre os anos de 1894 a 1896 e a revolta da vacina, em 1904, na própria capital federal. Essa revolta contra a vacina, assumiu na produção especializada, o estatuto de protesto urbano que colocou em xeque as desventuras autoritárias da política de saúde pública republicana. Já Canudos, quando foi lembrado ficou circunscrito a uma rápida menção nas análises mais gerais sobre esses anos. Ou, VILLA, Marco A. Canudos.O campo em chamas. São Paulo: Brasilienese, 1982(?)

10 Os novos sujeitos em cena
Assim, refletir sobre o aparecimento desses novos sujeitos, homens e mulheres, na cena brasileira e na historiografia, na área de História, no final dos anos 70 pode ser feito a partir de dois grandes eixos: 1) os movimentos sociais, que emergiram a)de forma organizada ou não e vinculados alguns à instituições formais tais como: partidos, sindicatos e associações e se expressaram a partir de protestos em espaços públicos, por meio de greves, quebra-quebras, e ainda, as rebeliões prisionais, que ocorreram nos espaços fechados como as prisões. 2) O outro eixo voltou-se para o estudo da resistência de sujeitos, contra situações que violavam os seus direitos elementares de sobrevivência e que foi detectada na esfera da vida privada ou no âmbito das relações de trabalho, nem sempre visíveis nos circuitos mais amplos da vida social.

11 A pluralidade dos movimentos sociais
Do ponto de vista conceitual, a primeira dificuldade a enfrentar foi a pluralidade desses movimentos sociais que emergiram em manifestações distintas e díspares, envolvendo sujeitos de múltiplas vivências como os escravos, os trabalhadores fabris, os presos, as mulheres, os anônimos da multidão envolvidos em saques e quebra-quebras. Enfim, os desclassificados e excluídos de quaisquer benefícios oferecidos pela sociedade que manifestaram a sua exclusão pela simples presença incômoda, nos espaços públicos, mendigando o pão de cada dia, mas que podem integrar movimentos de protestos, já que fazem parte da vulnerável plebe despojada de quaisquer direitos. Como equacionar essas diferenças e quais as possibilidades de aproximação entre eles? E, também, esclarecer em que contexto o interesse por seu estudo tornou-se possível.

12 OS MOVIMENTOS SOCIAIS CHEGAM A CENA PUBLICA E A ACADEMIA
Assim, os movimentos sociais urbanos explodiram no cenário público, e também, na academia no final dos anos de 70. Porém, essa trajetória de pesquisa NÃO COMEÇOU NA ACADEMIA. Os primeiros estudos sobre os operários brasileiros foram originários de seus próprios quadros de militantes e trouxeram a marca dessa inserção. Posteriormente, o deslocamento das reflexões para o mundo acadêmico reafirmou esse alinhamento, como bem lembrou Hobsbawn*, até mesmo em aspectos que se constituíam em suas limitações e alvo de críticas daqueles militantes, tendência essa evidenciada em vários países. * HOBSBAWN, Eric. Mundos do Trabalho.

13 Os estudos sobre os operários
Embalados por sinais que evidenciavam certa abertura política, esses estudos sobre questões sociais emergiram no cenário acadêmico resultante de certa esperança de retomada da democracia no país, e junto com ela, uma outra história que recuperasse a dimensão plural das vivências dos brasileiros e não apenas das elites que haviam dirigido os destinos do país desde sempre. Entre os cientistas sociais o interesse pelo assunto apareceu ainda nos anos 60.

14 Na área de História, a história operária, ganhou destaque nessas reflexões ainda sob a influência do ideário marxista, que mantinha a mística de serem tais sujeitos — enquanto classe — investidos na missão de condutores do processo revolucionário, idéia tributária do debate que buscava compreender o golpe de 1964 e o fracasso da tão sonhada revolução, nos anos subseqüentes. Afinal, as indagações que circulavam eram muitas, seguindo outros caminhos, distintos das abordagens das ciências sociais.

15 Os primeiros trabalhos sobre os operários no campo da História
Assim, no campo da História, os primeiros trabalhos enfocando os movimentos sociais e a história operária, datam do início dos anos de 1980, E ESTÃO INTIMAMENTE ARTICULADOS ÀS TEMÁTICAS DESENVLVIDAS NO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UNICAMP, criado em 1976 que se voltam para aspectos diversos das vivências das classes populares, no campo e na cidade. As primeiras defesas produzidas naquele programa discutem o mundo trabalho durante o século XIX (BARREIRO, J.C.), e aspectos diversos da experiência operária, de finais do século XIX a década de 70 do século XX.

16 A história dos operários – os primeiros trabalhos
Como mencionado, embora também enfoquem o século XIX, uma parte significativa aborda diferentes aspectos da história operária, do período inicial da República aos anos 30 do século XX, em diversas partes do Brasil, tais como: o movimento operário do Rio de Janeiro, de Juiz de Fora/MG, de Pernambuco e São Paulo. Este último estado foi bastante contemplado nas pesquisas, em parte como uma decorrência do acervo Edgar Leuenroth, que concentrava farta documentação — a imprensa operária — das várias correntes políticas que organiza os trabalhadores, notadamente, em São Paulo.

17 A História operária – a primeiras pesquisas
Essas pesquisas abordaram aspectos múltiplos das relações de trabalho, entre diferentes categorias e abrangem o processo de trabalho na indústria têxtil paulista (Ribeiro, 1988), às manifestações públicas dos operários, através de greves, que se posicionam sobre as diretrizes que interferem nas relações interclasses, com a definição da legislação trabalhista no início dos anos 30 (SILVA, 1990); a vida operária fora da fábrica (GUZZO DECA, 1987), o perfil dos trabalhadores em serviços (CRUZ, 1990), o papel da mulher na sociedade e no mundo do trabalho (RAGO, 1985), e também, a questão operária dos anos 70 (MARONI, 1982).

18 A classe operária chega à academia
Essas pesquisas da área de História, diferentemente do que ocorria entre as ciências sociais — que se preocupavam com a fragilidade ou não dessa classe, a heterogeneidade de sua formação e a precária participação política na cena brasileira (*) —, se encaminharam no sentido de tentar compreender o tipo de formação dessa classe operária, o seu modo de vida, suas aspirações políticas, e as lutas travadas ao longo de sua existência. (*)Nessa perspectiva podemos identificar as pesquisas de Leôncio Martins Rodrigues, José Albertino Rodrigues, Maria Hermínia Tavares de Almeida, entre tantos outros.

19 As abordagens... Além dos enfoques diferenciados, é importante assinalar que nessas abordagens os marcos sobre a história operária que foram definidos em antes e depois de 1930 foram abandonados; evidencia-se, em contrapartida, a postura crítica em relação a tal recorte que passava por certa descaracterização da experiência operária sob orientação das correntes libertárias, vistas como desagregadoras da própria classe, pelo excessivo caráter econômico de suas demandas, e pelo radicalismo de sua atuação no espaço público, com ênfase na ação direta. Além disso, há também a desmistificação de 1922, data de fundação do Partido Comunista do Brasil, como o marco re-orientador das lutas operárias, e uma contundente crítica a visão do “partido-consciência”, que informava as análises dos cientistas sociais, sobre o movimento operário brasileiro.

20 As influências.... Esses trabalhos acompanhando o debate internacional tiveram múltiplas inspirações e, alinhamentos políticos, embora inicialmente, a leitura das obras de Michelle Perrot e Hobsbawm — notadamente Rebeldes Primitivos e alguns dos textos posteriormente publicados em Mundos do Trabalho — tenham sido fundamentais para alguns pesquisadores. Esses autores expuseram suas pesquisas na UNICAMP no final dos anos 70, trazendo contribuições significativas, ao alargar o debate para além do mundo fabril. Em suas reflexões, apontaram, entre outros aspectos, os limites de estudos que ficassem circunscritos ao movimento operário, tomando as posições de uma parcela da classe pelo seu conjunto, ou ainda, o estudo de suas instituições, tais como sindicatos e partidos.

21 Redefinições teóricas
Porém, em meados da década de 80, as influências foram outras. A leitura dos autores que integraram o grupo socialismo ou barbárie, e também, as obras de Michel Foucault e E. P. Thompson tiveram uma importância enorme nas reflexões de pesquisadores desse final de década, diferentemente daqueles anteriormente citados, indicando divergências políticas que traziam subjacentes as rupturas decorrentes das avaliações negativas em relação aos caminhos tomados pelo chamado socialismo real, desencadeados pelas rebeliões nos países do Leste europeu que culminaram na invasão da Hungria pela União Soviética. A partir daí houve paulatino afastamento de temários antes consagrados como objetos de reflexão.

22 Os balanços feitos pela historiografia brasileira esclarecem pouco em relação a tais questões, já que o foco é a afirmação das “crises de paradigmas” diversos sem maiores detalhamentos. Nessa direção podemos arrolar reflexões de Claudio Batalha, autor que ganhou projeção nesse tipo de balanço e nos estudos sobre o “mundo do trabalho”. Informa o autor que as avaliações feitas nos últimos anos sobre o que se produziu a respeito da história operária indicam, além de certo lamento, o desinteresse de pesquisadores e do público, em relação ao assunto que saiu de foco com a emergência de muitas crises — de paradigmas, do socialismo, do sindicalismo — que marcaram o final dos anos 1980 e início dos 90.

23 As avaliações historiográficas
Claudio Batalha, descontando os exageros e omissões, indicou, igualmente, os caminhos dessa produção(*), informando que a década de 1980 foi um período de grande prestígio, mas também de perda de interesse ou glamour, e de pulverização da história do trabalho. Ao mesmo tempo, observa que as suas fronteiras tornaram-se difusas com sua diluição na história urbana, história das mulheres e, também, ampliam-se os seus recortes cronológicos para os séculos anteriores e para a atualidade. (*)BATALHA, Cláudio. A Historiografia da classe operária no Brasil: Trajetória e tendências. In: FREITAS, Marcos Cezar (Org.). Historiografia Brasileira em Perspectiva. São Paulo: Contexto, 1998, p ; História do Trabalho: um olhar sobre os anos 90. História. São Paulo: Editora UNESP, v. 21, p , 2001.

24 As avaliações historiográficas
Na mesma medida, observa Batalha, consolida-se a crítica aos limites da produção centrada no eixo Rio/São Paulo, na análise da História do trabalho, discussão aberta com o livro História da Indústria e do trabalho no Brasil (das origens aos anos vinte), de Victor Leonardi e Francisco Foot Hardman (FOOT, F. LEONARDI, V. História da Indústria e do trabalho no Brasil (das origens aos anos vinte). São Paulo: Global, 1982).

25 A análise de Claudio Batalha
Mesmo assim, Batalha* ainda detecta um certo vigor, ao sinalizar para a continuidade das pesquisas, apesar de reconhecer a pulverização dos enfoques, com temas cada vez mais específicos. Em texto publicado em 2001, na revista História, chega a duvidar da dimensão das crises assinaladas, considerando-se a ampliação das pesquisas para outros estados do país, as inovações no uso de (novas) fontes e o tratamento inovador na abordagem dos mesmos materiais, que indicam a vitalidade desse campo de reflexão e não o contrário. Ao avaliar os questionamentos feitos, indica o texto Escravidão, cidadania e história do trabalho no Brasil,publicado em 1998*, de Silvia Lara, que rediscute a periodização que define a história do trabalho a partir de 1888. *BATALHA, Cláudio. História do Trabalho: um olhar sobre os anos 90. História. São Paulo: Editora UNESP, v. 21, p , 2001.

26 Os questionamentos de Silvia Lara -1998
Sílvia H. Lara* questiona os marcos dessa história que costuma iniciar no final do século XIX ou nas primeiras décadas do século XX, e é identificada com a história do trabalho livre, o que contém um elemento de exclusão ao deixar de fora o trabalhador escravo. Em relação a esse aspecto, cabe ressaltar que tal questionamento não é novo e já fora abordado no texto “Instituições, trabalho e lutas de classe no Brasil do século XIX”, de J. C. Barreiro, publicado em 1987 pela Revista Brasileira de História (colocar o trecho), embora a autora não faça nenhuma menção. *(LARA, Sílvia H. Escravidão, cidadania e história do trabalho no Brasil. São Paulo: Projeto História, PUC/SP, v. 16, p , 1998.)

27 Os questionamentos de Silvia Lara -1998
Essa demarcação, segundo Lara, ocorreu inicialmente no campo da historiografia da transição que se propôs estabelecer uma teoria explicativa para a “passagem” do mundo da escravidão — composto de seres coisificados — para o universo do trabalho livre assalariado, no qual poderíamos encontrar sujeitos históricos. Ou seja, nessa versão radical o negro escravo desaparece da história, e o imigrante europeu ocupa o seu lugar. Essa perspectiva é reiterada nas análises mais amplas, de historiadores, de cientistas sociais e de sindicalistas, tornando “a história dos trabalhadores no Brasil cativa de uma ruptura radical”.

28 Os questionamentos de Silvia Lara -1998
Esse deslocamento se desdobra para as análises das lutas dos trabalhadores que tem como protagonistas apenas os imigrantes brancos e europeus, firmando-se a convicção que não existiam “trabalhadores nacionais” no mercado formal de trabalho. Essa suposição não corresponde aos resultados das pesquisas atuais que identificam esses trabalhadores em funções que exigiam pouca qualificação, como carregadores (nas feiras e nos portos), ou trabalhando nos serviços públicos como varredores de rua, lixeiros, ou ainda, nos trabalhos pesados nas fábricas, como bem demonstram George R. Andrews, no livro Negros e brancos em São Paulo , e Carlos José Ferreira dos Santos em Nem tudo era italiano. São Paulo e pobreza ( ) o que é possível inferir que tenham participado em algum momento nas mobilizações políticas que ocorreram em diferentes categorias, algumas delas provavelmente com a presença de negros, como era o caso dos serviços de limpeza pública na cidade de São Paulo, e também, como estivadores no porto de Santos. - ANDREWS,

29 Balanço crítico sobre as exclusões historiográficas
Acrescentaria. Ao voltarmos nossa atenção para o trabalhador do campo, as exclusões e silêncios são contundentes. O mesmo poder-se-ia dizer, naquele momento (1998), em relação à participação política da mulher na cena brasileira que sequer era mencionada nas análises mais gerais, e se tornaram tão invisíveis quanto os negros que desapareceram” da história republicana. Essa situação, na atualidade, inverteu-se, com os vários trabalhos que abordam tanto a presença da mulher no cenário brasileiro quanto dos negros, nas múltiplas dimensões de suas vidas.

30 Os trabalhos sobre os afrodescendentes
Em relação aos homens e mulheres negros, os trabalhos enfocando diversos aspectos de suas vivências enquanto cidadãos da república são cada vez mais freqüentes. Eles cobrem um espectro espacial amplo, que vai de norte a sul do país e não apenas concentrado no eixo Rio/São Paulo. Nessas regiões, as pesquisas já mapearam as vivências negras, recuperando suas lutas pela sobrevivência e inclusão no mundo dos brancos, suas práticas culturais , lúdicas e religiosas, promovidas por instituições próprias que organizaram a comunidade e serviram de biombos e deram suporte aos negros para resistir contra o fardo de seu passado escravo e os preconceitos que “os tornaram invisíveis”, e cidadãos de segunda classe.

31 As pesquisas sobre os afrodescendentes no período republicano
Os textos já conhecidos são significativos e podemos citar alguns, a saber: José Murilo de Carvalho, em “Os bestializados. A república que não foi”, que embora trate de questões mais amplas, aborda a presença do negro na cidade do Rio de Janeiro, inclusive participando ativamente de manifestações de rua, como a revolta da vacina.

32 As pesquisas sobre os afro-descendentes
Além dele, temos o artigo de Mônica Velloso, As tias bahianas tomam conta do pedaço (1990); e de outra área: Claudia Matos, Acertei no milhar. Malandragem e samba no tempo de Getúlio (1982). Em São Paulo: O livro de Jeffrey Andrews, Negros e brancos em São Paulo (1998); MORAES, José Geraldo Vinci de. Metrópole em Sinfonia. História, cultura e música popular na São Paulo dos anos 30. São Paulo: Estação Liberdade, 2000; QUINTÃO, Antonia Aparecida. Irmandades negras: Outro espaço de luta e resistência. ( ). São Paulo: Annablume/FAPESP, 2002; Carlos José Ferreira dos Santos. Nem tudo era italiano. São Paulo e Pobreza ( ). São Paulo: Annablume/FAPESP, 1998; e de outras áreas os mais conhecidos: BASTIDE, R. – A imprensa negra do estado de São Paulo. Estudos Afro-Brasileiros. São Paulo: Perspectiva, p , 1973; Iêda. M. Britto. Samba na cidade de São Paulo ( ): um exercício de resistência cultural. São Paulo: FFLCH/USP, 1986; FERNANDES, Florestan. A integração do negro à sociedade de classes. São Paulo: Dominus/Editora da USP, 1965.

33 As pesquisas sobre as mulheres
Já os pesquisadores que tratam a participação política das mulheres, no decorrer da República, têm se dedicado aos períodos mais recentes da história brasileira, com ênfase nos anos 60, talvez pelo seu intenso envolvimento nas manifestações de protesto contra a ditadura, e inserção na guerrilha, desafiando os mitos em relação à fragilidade feminina.

34 As pesquisas sobre as mulheres
Porém, essas investigações não ficaram restritas apenas aos temas da atualidade. Vários trabalhos abordaram diferentes aspectos da história e da vida das mulheres, merecendo destaque o livro História das mulheres no Brasil (1997), organizado por Mary Del Priori(*), por reunir textos de vários autores que vêm estudando questões diversas envolvendo o mundo feminino, do período colonial à atualidade, em espaços distintos do país. (*)DEL PRIORI, M. (Org.) História das mulheres no Brasil. São Paulo: Editora UNESP/Contexto, 1997.

35 As pesquisas sobre as mulheres
As lutas travadas pelas mulheres brasileiras, do século XIX aos anos 40 do século XX foram abordadas por June E. Hahner, no livro Emancipação do sexo feminino. A luta pelos direitos da mulher no Brasil (*), no qual a autora discute, a partir de extensa pesquisa em variada documentação, a trajetória e a luta percorrida pelas mulheres brasileiras visando sua emancipação, tais como: o direito aos estudos, inclusive universitário, ao exercício de qualquer profissão, e ao voto, reivindicações consideradas fundamentais para sua emancipação, e conquista da cidadania plena. (*)HAHNER, June E. Emancipação do sexo feminino. A luta pelos direitos da mulher no Brasil Florianópolis: Editora Mulheres, 2003.

36 As pesquisas sobre as mulheres
A lista de estudos já é significativa, da mesma forma a existência de grupos organizados de pesquisadores que militam em diversas frentes, em fóruns diversos, e em diferenciados níveis pelo Brasil afora, inclusive com imprensa própria, como é o caso de Cadernos Pagu que se encontra no Scielo, Editoras específicas (Mulheres/SC). Os temas pesquisados são variados, voltando-se para aspectos diversos e, também, as especificidades de situações decorrentes das atividades desempenhadas pelas mulheres tais como: a imprensa feminina, estudos dedicados a categorias até não pesquisadas como as domésticas, as mulheres cientistas e os sindicados criados e dirigidos por mulheres, como em Ibitinga/SP redefinindo as relações de trabalho no setor de bordados. Os enfoques teóricos são diversos. As autoras transitam por teóricos e paradigmas distintos, certamente influenciadas por concepções que se beneficiaram com as mudanças no campo historiográfico que trouxeram as questões de gênero para o centro do debate.

37 Considerações finais Enfim, creio ter retraçado os caminhos do debate, feito pela historiografia, nos últimos anos sobre as pesquisas no campo da historia social e no seu âmbito os movimentos sociais no Brasil. É digno de nota os deslocamentos de enfoques teóricos, pouco explorados nesses balanços. Ariscaria dizer, apesar do núcleo dessa reflexão ser de 2004, que a trajetória das pesquisas não apresenta modificações significativas, apesar dos estudos estarem ampliados para todo o Brasil, fruto da expansão dos programas de Pós-Graduação na área de História, em diversos estados brasileiros, trazendo novas abordagens de aspectos e de categorias de trabalhadores, temas e fontes diversas até então não investigados.

38 Considerações finais Porém, em alguns programas há linhas de pesquisa que se dedicam aos estudos de temáticas vinculadas à história social, subordinadas ao título genérico de “mundos do trabalho”, como é o caso da UNICAMP/SC envolvendo sujeitos diversos e suas práticas políticas e culturais. Esse grupo tem uma produção sistemática e dinâmica, com participação em fóruns distintos, inclusive na ANPUH, mantendo a revista Mundos do Trabalho( feita pela Programa de Pós-Graduação de UFSC), cuja origem é o Grupo Temático, institucionalizado na ANPUH. 2. No Rio Grande do Sul também o temário tem sua vitalidade, a partir de autores que continuaram a desenvolver suas pesquisas, com foco de irradiação a partir da própria Pós-Graduação. Esse GT agrega pesquisadores que promovem atividades diversas, além dos encontros acadêmicos, com produções coletivas como a elaboração do Dicionário do Movimento Operário, a partir dos Estados brasileiros. Já foi publicado pela Perseu Abramo o primeiro volume relativo ao Rio de Janeiro, a 2ª parte de responsabilidade de Claudio Batalha.

39 A autora (Zélia Lopes da Silva)Assis, maio de 2011
Considerações finais A mesma questão projetou-se nas pesquisas que enfocam as questões de gênero, como já assinalei anteriormente. Nesses temas surgidos inicialmente no âmbito da história social e, posteriormente, deslocados para “história cultural”, “história das mulheres”, as imagens como fontes ganharam projeção, em especial a caricatura, não por modismo mas porque elas estão presentes na imprensa que deu suporte aos próprios movimentos sociais ao longo do tempo. A autora (Zélia Lopes da Silva)Assis, maio de 2011

40 Bibliografia BATALHA, Cláudio. História do Trabalho: um olhar sobre os anos 90. História. São Paulo: Editora UNESP, v. 21, p , 2001. BRITES, Jurema. Afeto e desigualdade: gênero, geração e classe entre empregadas domésticas e seus empregadores. cadernos pagu (29), julho-dezembro de 2007: CARVALHO, José Murilo de. O Rio de Janeiro e a República. Revista Brasileira de História. São Paulo: ANPUH/Marco Zero, v. 5, nº 8/9, p , 1984/1985. COSTA, Emília Viotti da. A nova face do movimento operário na Primeira República. Revista Brasileira de História, São Paulo: ANPUH/ Ed. Metodista, v. 2, nº 4, p , 1982. CRUZ, Heloisa de Faria. Trabalhadores em serviços. Dominação e resistência. São Paulo São Paulo: Marco Zero/CNPq, 1990. DECA, Maria Auxiliadora Guzzo. A vida fora das fábricas. Cotidiano operário em São Paulo.( ). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

41 Bibliografia  DECCA, Edgar S. de. Quaresma: Um relato de massacre Republicano. Anos 90, Porto Alegre/RS: Ed. La Salle, nº 8, p , 1997. DEL PRIORI, M. (Org.) História das mulheres no Brasil. São Paulo: Editora UNESP/Contexto, 1997. FAUSTO, Boris. Conflito Social na República Oligárquica: A greve de Estudos Cebrap, São Paulo: Ed. Brasileira de Ciências Ltda, nº 10, p , 1974. FOOT, F. LEONARDI, V. História da Indústria e do trabalho no Brasil (das origens aos anos vinte). São Paulo: Global, 1982. GOMES, Ángela de Castro – A invenção do trabalhismo. São Paulo: Vértice, Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1996. HAHNER, June E. Emancipação do sexo feminino. A luta pelos direitos da mulher no Brasil Florianópolis: Editora Mulheres, 2003.

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