SELECÇÃO DA INFORMAÇÃO

Slides:



Advertisements
Apresentações semelhantes
TEXTO JORNALÍSTICO NOTÍCIA.
Advertisements

Resumo e Síntese.
Letramento: um tema em três gêneros
Teste de Software.
Escola Superior de Educação
Não há factos em si, exteriores ao indivíduo; O papel do investigador não é estabelecer nem descobrir um conjunto de factos, mas sim observar atentamente.
Comentário e Dissertação
Marketing - O que é? “O Marketing é o conjunto de métodos e meios de que uma organização dispõe para promover, nos públicos pelos quais se interessa, os.
Linguagem na Contemporaniedade:as várias maneiras de se comunicar
Textos jornalísticos informativos
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO I Paulo Neto
INTELIGÊNCIA EMOCIONAL
Textos Jornalísticos Notícia/ Reportagem.
Fonte: LAGE, Nilson. Estrutura da Notícia. São Paulo: Ática, 2004
Categorias da narrativa
Parágrafos de Introdução
O gênero notícia: reconhecimento e elaboração
Composição: Luis Reis / Haroldo Barbosa
A experiência de escrever e ler é uma experiência rica e complexa. Exige habilidade e conhecimento básico: entender a língua, o assunto, certas entrelinhas.
Comunicação Social – RP 7ºSem Redação em Relações Públicas III
Professora: Rosana Santos
Notícia O QUE É UMA NOTÍCIA?
Newsmaking e Gatekeeper
Artigo:. O jornalismo contemporâneo necessita de boas fontes e umas das melhores, hoje, são as Assessoria de Imprensa. Não existe jornalismo sem fonte.
2EE117 Economia e Política da Regulação Os Aspectos Financeiros da Regulação Económica Hélder Valente 1.
Piaget: linguagem e as operações intelectuais
MARIA INÊS CORRÊA MARQUES UNEB GD/ DIDÁTICA-DEDC- I 2011/2
A NOTÍCIA Notícia é a expressão de um fato novo, que desperta o interesse do público a que um jornal se destina. Gênero textual tipicamente jornalístico,
REQUISITOS EXIGIDOS DOS QUE INTERAGEM COM OS CLIENTES
Sistema de Comando em Operações
De onde tirar as ideias?.
OS MODELOS O modo de implementação do trabalho de projecto, como metodologia de aprendizagem tem sido objecto de várias aproximações que se centram em.
É veiculada em jornais escritos e falados, em revistas e na Internet;
II Encontro Internacional De Turismo Da Unotur
1 - CONSUMO DE INFORMAÇÃO E CONFIGURAÇÃO DA AGENDA ENTRE USUÁRIOS DO MENÉAME Jan Alyne Barbosa Cibercomunica
Immanuel Kant
Newsmaking e a construção da notícia
Introdução do Jornalismo UFOP Marcelo Freire
INICIAÇÃO À DOCÊNCIA PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA
O Caráter Motivacional da Gestão de Recursos Humanos
SOCIOLOGIA SOCIO Indivíduo membro da sociedade; Associado; Parceiro; SOCIEDADE Reunião de indivíduos que vivem sob leis comuns; Associação de pessoas com.
ESTILOS E GÊNEROS DISCURSIVOS
Elaboração da pesquisa científica: 4 fases
Categorias da Narrativa Sistematização
Perguntas de Modelação
PUBLICIDADE.
Técnicas de Comunicação em Público Catarina Duff Burnay 2012/203.
Estrutura física da revista
Aula 11 – Ensino Fundamental II 9ª Série/Fase
A GESTÃO COMO UM PROCESSO DE ESCOLHAS O universo da Tomada de Decisão
Textos dos media Maria Serafina Roque
O RELEASE E OS GÊNEROS JORNALÍSTICOS
Livro 4 Avaliação de Desenvolvimento Sustentável: Princípios na Prática.
A GESTÃO COMO UM PROCESSO DE ESCOLHAS O universo da Tomada de Decisão
NOÇÕES DE METODOLOGIA DAS CIÊNCIAS SOCIAIS
MARKETING POLÍTICO.
A notícia.
Algumas teorias do jornalismo
REDAÇÃO - Prof.ª Sarah Araujo
Definição do tema é o assunto que se quer desenvolver
Jornal-mural, cartazes e folderes: linguagens populares de comunicação
Teorias do Jornalismo. Itens do trabalho jornalístico  Pontos fixos de observação  Divisão do trabalho no interior do jornal  Hierarquia profissional.
NOTÍCIA É um fato atual com interesse geral
Dicas para entrevistas
A NOTÍCIA Português 2015/2016.
Texto utilitário A Notícia.
Comunicação Social Jornalismo Teoria do Jornalismo Profª Luiza Lusvarghi.
4 Fases na formação de novos educadores.
ADMINISTRAÇÃO INTERDISCIPLINAR
FOLDER PUBLICITÁRIO.
Transcrição da apresentação:

SELECÇÃO DA INFORMAÇÃO

Bombardeamento de informação bruta Obrigação, sentida pelo jornalista, de seleccionar, SENÃO é o leitor que o exclui.

GATEKEEPING 1947 – Kurt Lewin publicou um estudo sociológico sobre as decisões domésticas Os produtos circulam por canais que contêm áreas de portão. Comparou este sistema ao processo informativo: cabe a um indivíduo ou a um grupo poder decidir se deixa passar a informação ou se a bloqueia.

GATEKEEPING (CONT.) 1950 - David White publicou, na revista Journalism Quarterly, o primeiro estudo sistematizado sobre os gatekeepers da informação Estudo: observação de Mr. Gates durante uma semana de Fevereiro de 1949 Objectivo: verificar se o trabalho dos jornalistas assentava numa clara manipulação orquestrada com intentos específicos ou se se fundamentava numa lógica coerente, linear e inocente

GATEKEEPING (CONT.) Verificações: 90% dos despachos das agências eram eliminados por Mr. Gates. White não conseguiu descortinar um critério claro para a rejeição ou selecção das notícias, parecendo-lhe que o processo era arbitrário e subjectivo. RESULTADO: possibilitou determinar, com clareza, as linhas fundamentais esquemáticas do processo de escolha do que é ou não noticiável

NEWSMAKING Os valores-notícia vêm responder à questão: Que acontecimentos são susceptíveis de gerar notícia?

NEWSMAKING (CONT.) Nuno Crato identifica 3 grandes critérios: (1) actualidade: o tempo que medeia a ocorrência e a transmissão do acontecimento deve ser muito curto. Satisfaz o dito jornalístico “as notícias devem servir-se frescas”. Os jornalistas devem ter cuidado com a procura desenfreada e obsessiva da informação. Pode conduzir a dois erros: a) a pressa pode levar à superficialidade dos assuntos, impedindo a sua profundidade; b) a novidade pode servir como chamariz para assuntos sem interesse.

NEWSMAKING (CONT.) (2) significado social: um acontecimento só deve ser divulgado, caso ele próprio e as suas implicações tenham importância para a sociedade. Quando se fala no significado social, é necessário também alertar para o reverso da medalha, visto que a Comunicação Social hoje é também uma criação de novas realidades.

NEWSMAKING (CONT.) (3) Interesse do público – varia de acordo com: a) a sua emotividade; b) a sua formação cultural específica; c) os seus conhecimentos da actualidade ou distância psicológica.  

NEWSMAKING (CONT.) A conjugação destes três critérios permite a definição de quatro tipos de imprensa: (1) imprensa informativa – os três critérios estão presentes, mas em diferentes proporções e não obrigatoriamente regulares. Apela-se mais à reacção racional do leitor e faculta-se-lhe material informativo que lhe permite inteirar-se dos acontecimentos importantes.

NEWSMAKING (CONT.) (2) imprensa sensacionalista – o significado social é preterido a favor do interesse. Joga-se mais com a reacção emocional do leitor, secundarizando-se a informação mais intelectualizada. Os temas que envolvem sangue e crime servem de entretém. Mais típica de épocas de turbulência e agitação social.

NEWSMAKING (CONT.) (3) imprensa mexeriqueira – o significado social é descurado, colocando-se, no patamar da prioridade noticiosa, o interesse do leitor. Dá conta da vida privada do jet set, de pormenores caricatos e desprovidos de real significado social, retirando-lhes a vertente sanguínea. Mais característica de épocas de acalmia social.

NEWSMAKING (CONT.) (4) imprensa de opinião política – a actualidade dita a noticiabilidade. A informação actual sofre um tratamento tendencioso.

Critérios de Noticiabilidade – Mauro Wolf Estes critérios articulam-se dentro de dois limites: (1) a cultura profissional do jornalista; (2) a organização do trabalho e dos processos produtivos.   O acontecimento, para ser noticiável, terá que obedecer a três requisitos: (1) ser reconhecido como notável; (2) ser passível de tratamento jornalístico; (3) ser organizado e tratado dentro de um contexto espácio-temporal planificado pelo meio de comunicação.

Critérios de Noticiabilidade (cont.) Existem 5 tipos de critérios: (1) Substantivos – dizem respeito ao conteúdo da notícia; (2) Relativos à disponibilidade do material e ao produto informativo; (3) Relativos ao próprio meio de comunicação social – relacionados com as especificidades de cada meio informativo e com as suas restrições espácio-temporais; (4) Relativos ao público – têm a ver com a imagem que o jornalista concebe do seu público; (5) Relativos à concorrência – ligados à relações que os órgãos de comunicação social estabelecem entre si.

Critérios substantivos Articulam-se em dois factores: a importância e o interesse da notícia.   A importância pode ser determinada a partir de quatro variáveis: (1) Grau e nível hierárquico dos indivíduos envolvidos – quanto mais o acontecimento disser respeito a pessoas e países de elite, mais possibilidade terá de vir a ser notícia (Galtung e Ruge); (2) Impacto sobre a nação e sobre o interesse nacional – equivalente ao significado social do acontecimento (Nuno Crato) e à significatividade (Galtung e Ruge). Associado a esta variável está o valor-notícia da proximidade geográfica e da afinidade cultural.

Critérios substantivos (cont.) (3) Quantidade de indivíduos envolvidos no acontecimento – quanto mais elevado for o número de indivíduos envolvidos num acontecimento ou quanto maior for a presença de figuras públicas, de “grandes nomes”, maior será a sua visibilidade. Liga-se directamente ao factor da afinidade cultural e da proximidade geográfica – existe uma correlação negativa entre a proximidade ou status de uma nação e a negatividade do acontecimento. O. s.: um desastre que envolva um número limitado de pessoas mas que ocorra nas proximidades apresenta maiores probabilidades de vir a tornar-se notícia do que um desastre que provoque mais vítimas mas que ocorra geograficamente mais distante.

Critérios substantivos (cont.) (4) Continuidade – os acontecimentos para os quais se vislumbra uma duração prolongada – julgamentos, campanhas eleitorais – são alvo de noticiabilidade, dando-se-lhes cobertura desde início, desde os primeiros episódios.

Critérios substantivos (cont.) O interesse da história está ligado às imagens que o jornalista possui do seu público e ao valor-notícia que Golding e Elliott definem como “capacidade de entretenimento”. São interessantes as notícias que, baseadas no interesse humano, dão conta de situações insólitas, invulgares, de pequenas curiosidades que atraem o público.

Critérios substantivos (cont.) Herbert Gans refere quatro categorias usadas para identificar os acontecimentos que respondem a este requisito de noticiabilidade:   histórias de gente comum encontrada em situações invulgares, ou histórias de gente famosa surpreendida no dia-a-dia da sua vida privada; histórias em que se verifica uma inversão de papéis – filho que toma conta dos irmãos, assumindo o papel dos progenitores; o homem que mordeu o cão; histórias de interesse humano; histórias de feitos excepcionais e heróicos.

Critérios relativos à disponibilidade do material e ao produto informativo (1) brevidade – de acordo com um dito jornalístico, as notícias devem ser como as saias de uma mulher: suficientemente compridas para cobrir o essencial e suficientemente curtas para reter a atenção. Deve-se limitar as notícias aos seus aspectos manifestamente mais óbvios. (2) ideologia da notícia – tem a ver com a consonância com os ditos jornalísticos: “bad news is good news”; são noticiáveis em primeiro lugar os acontecimentos que representam uma infracção, uma ruptura com a ordem normal, um desvio; quanto mais negativo for um acontecimento maior será o seu valor noticioso.

Critérios relativos à disponibilidade do material e ao produto informativo (cont.) (3) actualidade – as notícias devem referir-se a acontecimentos o mais possível em cima do momento da saída da publicação ou da transmissão do noticiário. Podemos citar três critérios relativos à actualidade: a) actualidade interna – medida a partir das concepções de actualidade do jornalista; b) tabu da repetição – um acontecimento repetitivo ou semelhante a outros é insuficientemente noticiável; c) concorrência – delineia-se a actualidade de acordo com as definições de actualidade dos jornais concorrentes.

Critérios relativos à disponibilidade do material e ao produto informativo (cont.) (4) qualidade da história Gans distinge 5 critérios de qualidade: a) acção – quanto melhor um acontecimento ilustre visualmente uma acção/movimento mais possibilidade reúne de se transformar em notícia: b) ritmo – nos casos em que a notícia é desprovida de acção, há que recorrer a certas técnicas de exposição: recurso a verbos de movimento, injecção de vivacidade no texto, alternância entre frases curtas e longas, início das frases pelo mais importante, etc.; c) carácter exaustivo – fornecer todos os pontos de vista sobre um certo assunto; d) clareza da linguagem – prática de uma escrita simples, directa e sem rodeios nem floreados; e) standards técnicos mínimos: recurso às fontes de informação para credibilização do texto, comprovação da veracidade dos factos, etc.

Critérios relativos à disponibilidade do material e ao produto informativo (cont.) (5) equilíbrio (balance) – consiste em contrabalançar, em termos quantitativos, assuntos de uma certa índole com os de uma índole diferente, de modo a conseguir um todo mais representativo dos diversos quadrantes da vida social.

Critérios relativos ao meio de comunicação Tem a ver com a frequência e com o formato.   Frequência – quanto mais a frequência de um acontecimento se assemelhar à frequência do meio de comunicação, maior será a noticiabilidade do acontecimento. A informação radiofónica privilegia acontecimentos narrados em pouco tempo, visto estarem mais em conformidade com os ritmos produtivos da organização do trabalho. Formato – diz respeito aos limites espácio-temporais do produto informativo. As notícias só se tornam idóneas quando são estruturadas narrativamente: introdução, desenvolvimento e conclusão.

Critérios relativos ao público O jornalista não deve somente oferecer conteúdos que satisfaçam os anseios informativos do seu público, deve também despertar-lhe o interesse por assuntos dotados de significado social e importância.   Gans distingue três categorias: (1) as notícias que permitem uma identificação por parte do público; (2) as notícias de serviço; (3) as non-burdening stories – notícias ligeiras que não sufocam o leitor com demasiados pormenores. Existe, também, o aspecto da protecção da notícia, ou seja, factos que provocariam o pânico colectivo, traumas, ansiedade no público ou feririam a sua sensibilidade ou os seus gostos não devem ser alvo de cobertura informativa.

Critérios relativos à concorrência De acordo com Herbert Gans, a situação de competição conduz a três tendências: (1) à ânsia pelo alcance do almejado scoop, do furo informativo, que distingue o meio informativo relativamente aos seus rivais; (2) a vigilância recíproca leva a que as notícias sejam escolhidas com base nas expectativas de selecção noticiosa dos rivais; (3) a vigilância recíproca abre caminho a inibições e retracções nas inovações na selecção das notícias.

Critérios de Noticiabilidade – Galtung e Ruge 1. Frequência; 2. Amplitude; 3. Clareza; 4. Significatividade; 5. Consonância; 6. Carácter inesperado;

Critérios de Noticiabilidade – Galtung e Ruge (cont.) 7. Continuidade; 8. Composição; 9. Referência a pessoas da elite; 10. Referência a nações de elite; 11. Personalização; 12. Negatividade.

Exercício “Dois executivos de uma cadeia de televisão norte-americana assistiam a três telejornais ao mesmo tempo. 
Uma das notícias do dia relatava um incêndio num orfanato em Staten Island. 
Após o final da reportagem, um dos executivos lamentava-se, porque uma televisão concorrente tinha melhores imagens na sua reportagem. 
“As chamas deles são mais altas que as nossas”. 
Mas o outro executivo respondeu. “Sim, mas a nossa freira chorava mais alto que as outras”. DIAMONG, Edwin (1975), The Tin Kazoo: Television, Politics and the News. MIT Press, XI