Algumas Considerações sobre a Biologia Evolutiva do Estresse Social Disciplina de “Evolução do Comportamento” Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo - USP João Paulo Correia Lima Psicólogo

Apresentação do Problema 1.- razões do trabalho: atividade profissional de psicólogo clínico, área da Psicossomática e mestrado na área de stress social e neuroimunomodulação. “Porque o estresse social estressa?” 2.- uma das maiores fontes de estresse das pessoas tem como origem as nossas relações sociais. Estas relações consomem a maior parte dos nossos esforços adaptativos. Na maior parte do tempo da vida das pessoas, suas relações com os outros ocupam os principais postos na listagem de preocupações, levando, muitas vezes, a situações de estresse com os seus conseqüentes clínicos. 3.- Isso foi claramente expresso por Freud: “a oposição entre Psicologia Individual e Psicologia Social ou Coletiva - que à primeira vista pode parecer muito profunda - perde grande parte de sua significação se a submetermos a um exame mais detido. A Psicologia Individual se limita, certamente, ao homem isolado e investiga os caminhos pelos quais o mesmo tenta alcançar a satisfação de seus impulsos, mas só muito poucas vezes e sobre determinadas condições excepcionais lhe é dado prescindir das relações de indivíduo com seus semelhantes” (1921 – Psicologia das Massas e Análise do Ego). Como sistematizou Freud, as pessoas entram em nossa vida de três modos: a) como objeto b) como auxiliar c) como obstáculo d) como modelo.

4.- a posição de Freud é extremamente valiosa, mas... A pergunta... 4.- a posição de Freud é extremamente valiosa, mas... Como isso nos permite alcançar os dados fisiológicos das reações de estresse que permeiam os quadros clínicos tão freqüentes e o que Biologia Evolutiva teria a acrescentar?

Penso que essa seja a Biologia Evolutiva, conforme passarei a expor: 5.- conceito de ligação para apreciar o que os instrumentos psicanalíticos podem nos oferecer em termos de análise dos conflitos e satisfação dos impulsos que permeiam nossas relações com os demais e as reações de estresse, precisamos vincular as teorias dos modelos clínicos e os modelos fisiológicos de stress, mas para isso precisamos de uma ponte, uma ligação. Penso que essa seja a Biologia Evolutiva, conforme passarei a expor:

6.- o estresse... “estressor” ou “agente estressor” é todo estímulo que provoca no organismo um esforço adaptativo. Esse esforço pode ser produtivo ou não. “Estresse” é o processo pelo qual o esforço adaptativo se dá. “a vida é especialmente um processo de adaptação às circunstâncias em que subsistimos (...) O segredo da saúde e da felicidade reside no ajustamento bem sucedido às condições desse mundo (...); o preço do malogro, nesse grande processo de adaptação é constituído pela doença e infelicidade” (SELYE, 1965).

porque um estímulo ou situação social pode representar um estressor? 7.- stress social como modalidade de estímulo que solicita o esforço adaptativo do organismo (químicos, radiativos, mecânicos, etc.). A pergunta então é: porque um estímulo ou situação social pode representar um estressor?

8.- comportamento filogeneticamente determinado 8.1.- Comportamentos que sofreriam pressões evolutivas surgem por solucionar um problema de importância para a sobrevivência e competência reprodutiva do organismo, aumentando-lhe esses índices. Desse modo, passaria essa característica comportamental para sua descendência. 8.2.- Para que um comportamento ou equipamento comportamental seja considerado como uma expressão filogenética, é necessário que preencha as seguintes características: - pouca ou nenhuma variação entre os elementos da espécie - não ser condicionável - ser transcultural e ser encontrado em diversos pontos do planeta - aparecer mesmo em isolamento. 8.3..- é o estresse uma reação filogenética? A filogenia da maioria dos animais sugere ter dotado os organismos de uma “prontidão energética” – uma reação fisiológica – para otimizar reações do referido organismo em circunstâncias onde está sendo ameaçado ou algo de importância corre perigo, por ter seu acesso ou fornecimento interrompido. Algo de valor biótico está em jogo. Essa prontidão energética inespecífica parece ter colaborado de modo bastante eficiente às espécies em sua tarefa de sobreviver e reproduzir-se. 8.4.- é a socialidade um comportamento filogeneticamente determinado?

8.4.- é a socialidade um comportamento filogeneticamente determinado?  a chave para a compreensão da socialidade é a relação custo x benefícios das inteirações entre os indivíduos, pois... INDÍVÍDUOS EM ASSOCIAÇÃO AGEM NO SENTIDO DE MINIMIZAR CUSTOS E MAXIMIZAR BENEFÍCIOS. Os custos e benefícios da associação entre indivíduos seriam distribuídos em: - auxílio na evitação de predação - alimentação - acesso à parceiros - acesso à ajuda para cuidados com a prole - termorregulação - transmissão de doenças

Sistemas Sociais: O coração dos sistemas sociais está nas interações entre indivíduos. Esta interação está baseada em: a) atributos específicos dos indivíduos: macho, fêmea, velho ou jovem, importante ou não, forma que a elicia, por exemplo, cópula ou ameaça. b) qualidade e intensidade desta interação: intensa, moderada, leve e duração no tempo. RELAÇÕES: quando a mesma interação é repetida entre indivíduos, uma relação se desenvolve. Estas, por sua vez, podem formar redes de interações e relações, o que forma uma estrutura social. - a socialidade tem as quatro características de uma expressão filogenética? - a socialidade favorece a sobrevivência e/ou a competência reprodutiva?

9.- Conclusões Os elementos de socialidade e a reação de estresse são fixados filogeneticamente nas espécies sociais por apresentar uma contabilidade custo-benefício favorável, assim como dotá-las de um modo mais eficaz de enfrentamento de dificuldades. Visto isso, deduz-se:  qualquer situação que ameace comprometer a posição social do indivíduo ou a natureza dos seus vínculos com seus iguais, uma vez que essas relações são importantes recursos de sobrevivência, ativará uma reação de estresse, visando ativar recursos energéticos de modo a que o organismo possa protegê-las.  as relações sociais podem ativar no organismo reações adaptativas intensas, pois permeiam quase todas as nossas ações e esforços. Nas espécies sociais, como o ser humano, não há como garantir uma competência reprodutiva ou sequer sobreviver, sem uma boa e firme rede de apoio social, uma vez que essa foi a estratégia adotada por essas espécies. desta forma, o estresse social é um elemento fortemente enraizado em nossa biologia e merece intensa atenção e cuidado, justificando sua posição como fonte de conflitos e do alto índice de manifestações psicopatológicas. Pode-se, inclusive, anunciar o princípio de que quanto mais social for uma espécie, quanto mais alto seu índice de socialidade, maior será o poder estressor de ameaças para a rede social do organismo e maior a probabilidade de que o mesmo venha a sofrer de doenças e transtornos relacionados ao estresse. Com isso assentado, fica claro que qualquer medida curativa ou profilática que não leve esses fatos em conta, terá diminuídas suas probabilidades de sucesso. Obrigado!