EDUCAÇÃO NA PERSPECTIVA CRÍTICO-REPRODUTIVISTA

Slides:



Advertisements
Apresentações semelhantes
ENEF 2008: Da competência Técnica ao Compromisso Político
Advertisements

Educação e Educação Escolar
Os três estados do capital cultural Pierre Bourdieu
AS INSTITUIÇÕES TOTAIS
As Teorias Críticas do Currículo
Na espécie humana temos o ser masculino e o ser feminino
PEDAGOGIA 3ºPNA PROFª GIANE MOTA
Profª Simone Cabral Marinho dos Santos
OS CONHECIMENTOS PRÉVIOS PARA A ELABORAÇÃO DO PLANO DE DISCIPLINA
O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO PONTO DE VISTA EMANCIPADOR
Disciplina: Educação Formal e Não-Formal 3º ano Psicologia 2007
Ms. Edimar Sartoro - O ESTADO DA ARTE DA PESQUISA SOBRE O FRACASSO ESCOLAR ( ): UM ESTUDO INTRODUTÓRIO Ms. Edimar.
Reprodução Cultural e Reprodução Social
Currículo e Formação Docente
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO PROFº CLAUDIO BARBOSA
Para onde vai a educação? Tradução de Ivette Braga,
SOBRE A NATUREZA E ESPECIFICIDADE DA EDUCAÇÃO
Prof. Ivan Claudio Guedes
REDE DE ENSINO ESTADUAL
Profª. Ermelinda Nóbrega de Magalhães Melo
Karl Marx.
Plano de Trabalho Docente
EDUCAÇÃO E CULTURA Aula de 09/05/2012.
O Currículo e as Teorias Críticas
EDUCAÇÃO Não há uma única forma de Educação, nem um único modelo – esta ocorre em diferentes espaços e ambientes sociais ( na família, meios de comunicação,
Educação.
Fundamentos Sócio Antropológicos da Educação
Fundamentos Socioantropológicos da Educação
OS OBJETIVOS E CONTEÚDOS DE ENSINO
TENDÊNCIAS FILOSÓFICAS
O comportamento é uma manifestação do maneirismo e é inteiramente capturado pelos critérios incidentais da arena pública.
Perspectivação Económico-Ética da Educação
Educação na Sociedade Informática
NÃO ME CONCEBO EDUCADORA SE NÃO FOR INVESTIGADORA. A SALA DE AULA É UM ESPAÇO RIQUÍSSIMO DE POSSIBILIDADES DE APRENDIZAGEM. O APROVEITAMENTO DO QUE SUCEDE.
(in Aparelhos Ideológicos de Estado Louis Althusser)
PLANEJAMENTO ESCOLAR Importância e significado do planejamento escolar
História nas atuais propostas curriculares
Introdução a Questão Social
1 Filosofia Grupo ESCOLA TÉCNICA FEDERAL DE GOIÁS COORDENAÇÃO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA  PROF.: JOSÉ LUIZ LEÃO  TURMA  - Djalma.
Metodologia Ensino e Estágio de Língua Portuguesa III
1º Encontro da família 2015 Escola Profissional São José
A sociologia e a educação: alguns conceitos e teóricos básicos
SÓCIO POLÍTICO Preocupada com a função social da Educação Física que se pratica na escola. Procura compreender o ser humano em sua totalidade e ainda.
Perspectivas atuais do Trabalho Pedagógico OTP 7
Capital cultural Criado por P. Bordieu e J. C. Passeron na década de 1960 para explicar as oportunidades muito desiguais de sucesso escolar segundo a classe.
POSITIVISMO Doutrina filosófica de Augusto Comte ( ), segundo a qual a verificação pela experiência é o único critério da verdade. (Mini Dic. Aulete.
Sociologia Clássica e Educação II
Psicologia Escolar Professora: Bárbara Carvalho Ferreira.
A socialização O modo como os indivíduos aprendem e recriam habilidades, conhecimento, valores, motivos e papéis adequados à sua posição em um grupo ou.
Sociologia Clássica e Educação
AS TEORIAS DA EDUCAÇÃO E O PROBLEMA DA MARGINALIDADE
Karl Marx e F. Engels Marx ( ) Engels ( )
O homem e a cultura - Leontiev
RAÍZES A RELAÇÃO ESCOLA-SOCIEDADE
A escola: reprodução da sociedade de classe
A Didática e as tarefas do professor (LIBÂNEO, 2012, pp )
Max Weber e a educação.
Marx e a educação.
Karl Marx e o materialismo histórico
O «Estado» em Karl Marx. Segundo O’Connor, o estado é empurrado a assumir um compromisso crescente em termos de «despesas pelo capital social» (infraestruturas,
Uma contribuição à teoria do desenvolvimento infantil Aléxis N. Leontiev Uma contribuição à teoria do desenvolvimento infantil Aléxis N. Leontiev.
CURSO: LICENCIATURA EM FÍSICA DISCIPLINA: DIDÁTICA PROFESSORA: Giovana G. Albino TEORIAS DA EDUCAÇÃO Dermeval Saviani.
O problema da marginalidade
As bases do pensamento de Marx
A escola como agente de socialização
Saberes docentes.
Aula 8 - A teoria de Karl Marx Karl Marx ( ) As bases do pensamento de Marx Filosofia alemã Socialismo utópico francês Economia política clássica.
Aulas 3 e 6 Instituições Sociais
Transcrição da apresentação:

EDUCAÇÃO NA PERSPECTIVA CRÍTICO-REPRODUTIVISTA Profª Drª Gisele Masson Departamento de Educação Universidade Estadual de Ponta Grossa UEPG

Pierre Bourdieu 1930-2002 França Jean-Claude Passeron 1930 França onisur.files.wordpress.com/2008/12/bourdieu.jpg thamyleca.files.wordpress.com/2009/03/

Obra: Os Herdeiros (1964) Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron A escola reproduz as desigualdades sociais em forma de desigualdades escolares. Os estudantes mais favorecidos devem ao meio de origem os hábitos, as atitudes, os saberes e um savoir-faire, gostos e um bom gosto.

Obra: Os Herdeiros (1964) Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron O sistema educativo perpetua o privilégio. A igualdade de oportunidades não promove a superação das desvantagens dos alunos das classes trabalhadoras. Compreendem que a instituição escolar dissimula por trás de sua aparente neutralidade a reprodução das relações sociais e de poder vigentes: encobertos sob as aparências de critérios puramente escolares, estão critérios sociais de seleção dos indivíduos para ocupar determinados postos na vida.

Obra: Os Herdeiros (1964) Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron O acesso ao ensino superior é o resultado de uma seleção escolar que acontece ao longo do percurso escolar, de acordo com a origem social dos alunos. De todos os fatores de diferenciação, a origem social é aquele que mais fortemente se faz sentir sobre os estudantes.

Obra: Os Herdeiros (1964) Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron Os sucessos e os fracassos dependem de orientações precoces que são produtos do meio familiar. Os estudantes de origem burguesa manifestam maior segurança na escola. Em qualquer domínio cultural os hábitos culturais de classe e os fatores econômicos acumulam os seus efeitos.

Obra: Os Herdeiros (1964) Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron A influência do privilégio cultural transmite-se de forma indireta. Para as camadas mais desfavorecidas a escola continua a ser a única via de acesso à cultura. Entendem que não há qualquer possibilidade de romper com as estruturas de reprodução e afirmam que as teorias pedagógicas são uma cortina de fumaça que procura ocultar o poder reprodutor do sistema que está nas mãos dos educadores.

Obra: Os Herdeiros (1964) Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron Os estudantes só são formalmente iguais face à aquisição da cultura, mas na realidade diferem através de todo um conjunto de conhecimentos adquiridos no meio de origem. Discordam do discurso dominante segundo o qual a conquista de uma “escola para todos”, de caráter igualitário, tornaria possível a realização das potencialidades humanas.

Obra: Os Herdeiros (1964) Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron A cultura da elite é mais parecida com a cultura da escola. Para uns a aprendizagem da cultura da elite deve ser conquistada, mas para outros é uma herança.

Obra - A reprodução: elementos para uma teoria do sistema do ensino Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron Escrita em 1970

Christian Baudelot 1938 - França Roger Establet 1938 - França http://elias.ens.fr/~baudelot/ cafepedagogique.net

Obra: L’École Capitaliste en France (1971) Christian Baudelot e Roger Establet Ao longo de todo o percurso escolar, verifica-se uma oposição – o Secundário Superior (SS), frequentado pelos filhos das classes dominantes, e o Primário Profissional (PP), frequentado pelos filhos das classes dominadas. Assim, o objetivo da escola não é unificar mas dividir. A escola distribui os indivíduos nos diferentes postos de trabalho. A base real sobre a qual funciona a escola é constituída pela divisão da sociedade em duas classes antagônicas.

Obra: L’École Capitaliste en France (1971) Christian Baudelot e Roger Establet Do ponto de vista da burguesia, a escola é democrática, contudo, ela reforça a relação de dominação de uma classe sobre a outra. Para aqueles que abandonam a escola, depois do ensino primário ou profissional, não existe apenas uma escola. Existem escolas distintas, com propósitos distintos.

Obra: L’École Capitaliste en France (1971) Christian Baudelot e Roger Establet A divisão social do trabalho promove percursos de formação distintos. O ensino primário e o profissional não dão acesso ao secundário nem ao superior, mas ao mercado de trabalho, ao mundo da produção material. Na escola primária ocorrem divisões porque esta não é unificadora. Ela divide a massa escolarizada em duas seções distintas e opostas.

Obra: L’École Capitaliste en France (1971) Christian Baudelot e Roger Establet Tal processo resulta em dois aspectos: a) assegura uma repartição dos indivíduos em pólos opostos da sociedade; b)desempenha uma função política e ideológica de inculcação da ideologia burguesa. Na escola primária, é a partir da linguagem escolar que se realiza a ideologia burguesa, não só através dos seus conteúdos manifestos, mas também através das práticas coercitivas que impõe.

Obra: L’École Capitaliste en France (1971) Christian Baudelot e Roger Establet A escola limita-se a reproduzir ou a perpetuar as desigualdades sociais já existentes (família de origem). As crianças são desiguais quando ingressam na escola porque antes de aí entrarem foram submetidas à ação de diferentes fatores. O que determina a estrutura do aparelho escolar e as consequências dos diferentes percursos individuais é a divisão da sociedade em classes.

Samuel Bowles 1939 - EUA Herbert Gintis 1940 - EUA

Obra: Schooling in Capitalist Society (1976) Samuel Bowles e Herbert Gintis Consideram que o capitalismo requer uma força de trabalho competente e disciplinada, requisitos esses que não podem ser satisfeitos adequadamente através das instituições socializadoras tradicionais, como a família ou a Igreja. O sistema de educação de massa atende as necessidades da sociedade capitalista. Assim, as transformações educativas são “respostas à transformações das estruturas econômicas associadas ao processo de acumulação de capital”.

Obra: Schooling in Capitalist Society (1976) Samuel Bowles e Herbert Gintis A educação massiva torna-se um meio importante no inculcamento de valores  e comportamentos necessários ao trabalho. As relações entre professores e alunos reproduzem as relações existentes no mundo do trabalho entre patrões e funcionários.

Obra: Schooling in Capitalist Society (1976) Samuel Bowles e Herbert Gintis A desigualdade de escolarização reproduz a divisão social do trabalho. Essa divisão é reproduzida de geração em geração, através da escola. O sistema educativo dá a ideia de promover e desenvolver a igualdade de oportunidades com o conjunto de crenças cuja reprodução é assegurada através da inculcação deliberada dos conceitos modernos de justiça distributiva.

Obra: Schooling in Capitalist Society (1976) Samuel Bowles e Herbert Gintis É na escola, segundo eles, que os indivíduos aprendem a pontualidade, o respeito pela autoridade (extra familiar), a responsabilidade em relação ao cumprimento de tarefas, a questão da recompensa, sendo ela também responsável pela preparação dos alunos ao sistema de produção.

Obra: Schooling in Capitalist Society (1976) Samuel Bowles e Herbert Gintis Diferentes conhecimentos (no que se refere à quantidade e qualidade), habilidades diferentes (para o comando ou para a obediência), tornando legítima a cultura dominante e preparando de modo diferenciado para o trabalho de acordo com a classe social, com a raça e também com o gênero. Toda democratização da educação é ilusória.

Louis Althusser 1918-1990 Argélia e França

Obra: Aparelhos ideológicos de Estado (1970) Louis Althusser Os aparelhos ideológicos do Estado não podem ser confundidos com o aparelho repressivo do Estado. O aparelho de Estado (AE) compreende: o governo, a administração, o exército, a polícia, os tribunais, as prisões, etc, que constituem o que chamamos de aparelho repressivo de Estado. Repressivo indica que o aparelho em questão funciona através da violência.

Obra: Aparelhos ideológicos de Estado (1970) Louis Althusser Os aparelhos ideológicos do Estado se apresentam sob a forma de instituições distintas e especializadas: AIE religiosos AIE escolar AIE familiar AIE jurídico AIE político AIE sindical AIE de informação AIE cultural

Obra: Aparelhos ideológicos de Estado (1970) Louis Althusser Enquanto que o aparelho repressivo do Estado pertence inteiramente ao domínio público, a maior parte dos aparelhos ideológicos do Estado remete ao domínio privado. A diferença fundamental é que o aparelho repressivo do Estado funciona através da violência ao passo que os aparelhos ideológicos do Estado funcionam através da ideologia.

Obra: Aparelhos ideológicos de Estado (1970) Louis Althusser O aparelho do Estado funciona tanto através da violência como através da ideologia. A repressão dos aparelhos ideológicos do Estado é bastante atenuada, dissimulada, ou mesmo simbólica. Os aparelhos ideológicos do Estado podem não apenas ser os meios mas também o lugar da luta de classes.

Obra: Aparelhos ideológicos de Estado (1970) Louis Althusser Apesar da diversidade dos aparelhos ideológicos do Estado há uma função comum que é reproduzir as relações sociais de produção. O aparelho ideológico escolar é dominante porque constitui o instrumento mais acabado de reprodução das relações de produção de tipo capitalista.

Obra: Aparelhos ideológicos de Estado (1970) Louis Althusser Tese 1: A ideologia representa a relação imaginária dos indivíduos com suas condições reais de existência. Tese 2: A ideologia tem uma existência material.

REFERÊNCIAS ALTHUSSER, L. Aparelhos ideológicos de Estado. 4. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1989. BAUDELOT, C.; ESTABLET, R. L'École Capitaliste en France. Paris: Maspero, 1971. BOURDIEU, P. PASSERON, J.-C. Les héritiers: les étudiants et la culture. Paris: Minuit, 1964. ______. A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1975. BOWLES, S. GINTIS, H. Schooling in capitalist America: educational reform and the contradictions of economic life. New York: Jegan Paul, 1976.