A imaginação e seu desenvolvimento na infância

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Transcrição da apresentação:

A imaginação e seu desenvolvimento na infância Conferência 5 A imaginação e seu desenvolvimento na infância

Para a velha psicologia associacionista cuja explicação para o funcionamento de todas as atividades psíquicas era a das combinações associativas das impressões acumuladas anteriormente, a imaginação era um enigma insolúvel, pois a imaginação cria imagens, idéias, fundamentalmente novas. Nesta velha psicologia também se reduzia a imaginação a outras funções. (p. 107-108)

Ribot: dividia a imaginação em dois tipos: imaginação reprodutora (uma função da memória de caráter associativo; ex.: se surge uma imagem no campo mental, sem motivo aparente, esta provavelmente tem relação com alguma imagem que vi anteriormente – paisagem) e imaginação criativa (caso mais complicado). (p. 108)

Imaginação criativa: novas imagens ou idéias que não existiam na consciência nem na experiência passada. Teoria associacionista explica tal fenômeno afirmando que estas surgem pela combinação de elementos que não são novos em si. Wundt e Ribot afirmam que a imaginação é capaz de criar numerosas combinações novas de elementos anteriores, mas não é capaz de criar nenhum elemento novo. (p. 109)

Wundt e Ribot: méritos: mostraram que os processos da imaginação eram condicionados pelos sentimentos. Ex.: sonhos: não são produtos do acaso, mas estão relacionados com toda a experiência de quem os sonha. As idéias mais fantásticas reduzem-se a combinações de elementos conhecidos. Esses psicólogos descobriram o substrato real da imaginação: a conexão desta com a experiência anterior, com as impressões acumuladas. (p. 109-110)

Mas não respoderam à questão: o que constitui a base da atividade da imaginação? Respondiam a esta questão afirmando que a nova combinação surge por pura casualidade. Os sonhos são uma combinação casual, uma estrutura absurda que parece ser carente de sentido, mas que do ponto de vista da análise é completamente determinada (Wundt). A fantasia do homem está limitada pelas possibilidades de combinações. (p. 111)

Por outro lado, entende-se que a imaginação criativa não se confunde com a memória, mas segundo Vigotski, a velha psicologia, assim como era incapaz de explicar o devir do pensamento, o nascimento de uma atividade racional orientada para um fim, também o era para explicar como surge a imaginação criativa. (p. 112)

Das contradições desta doutrina surgiu a decisiva divisão da psicologia em causal e descritiva e intuitiva. A psicologia intuitiva, converteu o problema em postulado (segundo expressão de Goethe): quando era preciso explicar como surge a atividade criativa na consciência, respondia-se que a imaginação criativa é própria da consciência, a consciência é criativa (princípio criativo; a priori, no sentido kantiano). (p. 112)

Se a psicologia associacionista reduz a imaginação à memória, os intuitivistas procuravam mostrar que a própria memória nada mais é do que um caso particular da imaginação (qualidade consciência). (p. 113). Nesta perspectiva a percepção também é entendida como um caso particular da imaginação (uma imagem figurada da realidade, criada pela mente, que toma a impressão exterior como ponto de apoio e que deve sua origem e surgimento à atividade criativa da própria cognição – “construção da realidade”; cada um cria para si (um)a realidade).

A controvérsia entre o idealismo e o materialismo no problema da imaginação, assim como no do pensamento, reduzia-se à questão de se a imaginação era uma propriedade primária da cognição ou se a própria imaginação deve ser interpretada como uma forma complexa da consciência desenvolvida, como uma forma superior de sua atividade. Equívoco: tomar como original a atividade reprodutora da consciência.

Para Wundt era impossível relacionar a impressão de casamento com dor de dente, por exemplo, mas para Vigotski a imaginação ao se desenvolver dá saltos muito mais audazes e liga coisas muito mais díspares. No final da vida Wundt reconhece a fantasia como fundamento da arte. (p. 113)

O idealismo equivocou-se ao atribuir à consciência uma atividade criativa primária, incluindo a imaginação entre as atividades primárias da consciência, que segundo Drish, Bérgson e outros vitalistas e intuitivistas são próprias da consciência desde o seu nascimento. (p. 114). Mas o primeiro a afirmar que a imaginação é primária, presente desde o princípio na consciência infantil foi Freud: dois princípios regulam a atividade psi na criança: o do prazer e o da realidade.

No princípio a criança está completamente emancipada da realidade, está submersa no prazer (Freud). A consciência da criança seria um tipo de consciência visionária ou alucinatória, com vistas a servir os desejos da criança. (p. 115) Idéia desenvolvida por Piaget: o primário é a atividade da imaginação ou do pensamento não dirigido para a realidade (egocentrismo: transição entre a imaginação e o pensamento realista). (p. 115)

Piaget: o bebê não distingue com clareza em sua consciência as impressões que recebe do mundo exterior e as que obtém de si mesmo. O eu e a realidade exterior não estão diferenciados na consciência. (p. 15) Ex.: menina e a lata (o que coincide casualmente é considerado como resultado de seu movimento. (p. 116) Quanto menor a criança, maior é, seu egocentrismo. Mais seu pensamento se centra na satisfação de seus desejos.

Para Freud e Piaget a imaginação (fantasia) é distinta do pensamento realista (consciente). 1 – no pensamento realista a pessoa se dá conta dos objetivos, das tarefas e dos motivos que põe em ação. O pensamento que rege a fantasia não tem consciência das tarefas, objetivos e motivos principais (subconsciente). 2 - No pensamento realista a atividade esta relacionada com a realidade. A imaginação é uma atividade que manifesta por completo o princípio do prazer. 3 – O pensamento realista pode ser comunicado com palavras, é social e verbal.

O pensamento autista não é social, mas individual, está a serviço de desejos que não têm nada em comum com a atividade social da pessoa. É um pensamento sem palavras, em imagens, simbólico, não é comunicável.

A imaginação para Freud e Piaget não serve ao conhecimento da realidade, mas à obtenção do prazer, uma atividade não social e caráter não comunicável.

Psicólogos (experimentos com animais): Do ponto de vista biológico é difícil admitir que na filogênese surja primeiro o pensamento como função de satisfação do prazer, e não como função de conhecimento da realidade. Nenhum animal poderia sobreviver um só dia se sua vida psíquica, muito intimamente ligada a toda a sua atividade vital, estivesse emancipada da realidade.

Difícil admitir que a imaginação e o pensamento estejam orientados para a obtenção de prazer, que a ilusão seja uma forma mais primária que o pensamento orientado para a realidade.

Estudos (crianças): a obtenção de prazer na criança está ligada não à satisfação alucinatória, mas à satisfação real de necessidades. Bleuler: nunca vi nenhuma criança que experimentasse uma satisfação alucinatória da comida que imagina. Ao contrário, a obtenção de comida real proporciona à criança satisfação e prazer. (p. 119) O pensamento orientado para a satisfação de necessidades e para a obtenção de prazer não segue caminhos opostos. Bleuler: a satisfação das necessidades mais simples está ligada na 1ª infância a um prazer intenso.

Relação entre linguagem e imaginação: Freud e Piaget: pensamento verbal; imaginação não verbal. Pesquisas evidenciaram que no desenvolvimento da imaginação infantil, um grande passo está relacionado com a assimilação da linguagem, e que as crianças que experimentam um atraso no desenvolvimento desta última ficam extraordinariamente retardadas na evolução de sua imaginação (ex.: surdos; imaginação pobre). Um atraso na linguagem representa um atraso na imaginação.

A contribuição da patologia: pesquisas neurológicas da psicologia estrutural na Alemanha. Doentes que padeciam de afasia (perda da linguagem: compreensão ou articulação) apresentavam ao mesmo tempo uma forte diminuição da fantasia, da imaginação (reduzida a zero). São incapazes de repetir ou criar algo que não corresponda à realidade percebida por eles. Incapaz de dizer “consigo escrever bem com a mão “direita”, substituindo a palavra “direita” por “esquerda”, por que, de fato, só conseguia escrever com a esquerda”. Ex.: Com tempo bom, dizer que está chovendo; dizer “neve preta”. (p. 121)

Bleuler: a linguagem libera a criança das impressões imediatas sobre o objeto (representação, pensar sobre um objeto não presente); A linguagem e a vida posterior da criança estão a serviço do desenvolvimento de sua imaginação (escola; pensar minuciosamente sobre algo, planejar antes de realizar). (p. 122) A capacidade de se entregar, mais ou menos conscientemente a determinadas elucubrações mentais , independentemente da função relacionada com o pensamento realista.

As pesquisas não só não confirmam a tese de que a imaginação infantil seja uma forma de pensamento não verbal, não dirigido para a realidade, mas mostram que o processo de desenvolvimento da imaginação, assim como o processo de desenvolvimento de outras funções psíquicas superiores, está ligado à linguagem.

Bleuler: a atividade da imaginação: uma atividade dirigida, podemos nos dar conta dos fins e motivos que essa atividade persegue. Ex.: utopias; idéias fantásticas, que se distinguem perfeitamente na consciência dos planos realistas, não se realizam no plano do subconsciente, mas do consciente. Campo da criação artística, também aí a imaginação tem caráter dirigido, consciente.

Imaginação criativa: está relacionada com a transformação do real, por ex. com a atividade técnico-construtiva ou de edificação. Para os verdadeiros inventores a imaginação é uma das principais funções, com a ajuda da qual se trabalha e que, em todos os casos de atividade, a fantasia está extraordinariamente dirigida, orientada para o objetivo que o indivíduo persegue. Equívoco de se entender a imaginação como uma atividade primária.

Outro aspecto: a atividade da imaginação está estreitamente ligada com os sentimentos. Questões irreais do ponto de vista dos momentos racionais são reais do ponto de vista emocional. Assustar-se com um paletó no escuro, é um erro, mas o sentimento de terror é real e não uma fantasia. A imaginação é rica em momentos emocionais. (p. 124)

O pensamento realista, quando está relacionado com uma tarefa importante para o indivíduo, provoca e desperta uma série de sensações emocionais, de caráter muito mais considerável e verdadeiro que a imaginação e a capacidade de sonhar (ex.: vestibular, ou elaborar um plano de fuga, numa situação de perigo). A imaginação criativa não está subordinada aos caprichos da lógica emocional (ex.: o inventor). Em ambos os casos nos encontramos diante de diferentes sistemas, diferentes gêneros de uma complicada atividade. (p. 126)

A imaginação não é uma função entre outras funções, mas uma forma mais complicada de atividade psíquica, a união real de várias funções em suas peculiares relações (pensamento, emoções, memória, percepção): sistema psicológico. Tanto a imaginação quanto o pensamento realista podem ser caracterizados por uma elevadíssima emocionalidade. Entre eles não existe contradição. Ao contrário, existem certas esferas da imaginação que não estão, em si, subordinadas à lógica das emoções.

Ambos têm seu principal ponto crítico com o surgimento da linguagem Ambos têm seu principal ponto crítico com o surgimento da linguagem. A idade escolar é o ponto crucial no desenvolvimento do pensamento infantil (realista e visionário). (p. 128) A imaginação é um momento totalmente necessário, inseparável, do pensamento realista. É impossível conhecer a realidade sem um certo elemento de imaginação. Na invenção e na criação artística, exige-se em alto grau a participação do pensamento realista (atuam juntos). Ao mesmo tempo seria incorreto identificá-los.

A imaginação caracteriza-se não por uma melhor conexão com o aspecto emocional, não por um grau menor de consciência, não por um grau maior ou menor de concretude. Para a imaginação é importante a direção da consciência, que consiste em se afastar da realidade, diferenciando-se da cognição imediata da realidade.

Toda penetração mais profunda na realidade exige uma atitude mais livre da consciência para com os elementos dessa realidade, um afastamento do aspecto externo e aparente da realidade dado imediatamente na percepção primária. Surge a possibilidade de processos cada vez mais complexos, com a ajuda dos quais a cognição da realidade se complica e se enriquece (detour). União em conjunto de três problemas em psicologia: o do pensamento, o da imaginação (liberdade) e o da vontade.