PSICOPATOLOGIA E PSICODIAGNÓSTICO

Slides:



Advertisements
Apresentações semelhantes
Estudo de caso DISCIPLINA: PESQUISA EM EDUCAÇÃO
Advertisements

UNIP AHP Profa. Msc. Carolina Brum Março/2011
CONHECIMENTO CIENTÍFICO
ESTÉTICA 1.
Relembrando... A Investigação como processo tem seis etapas sucessivas: Construção do problema Entendimento do problema: a partir de quais perspectivas.
HUMANISMO E PSICOLOGIA Mauro Martins Amatuzzi
Dinâmica e Gênese dos Grupos
UNIP FEP Prof: Msc. Carolina Brum Agosto de 2010
OS CONHECIMENTOS PRÉVIOS PARA A ELABORAÇÃO DO PLANO DE DISCIPLINA
DEFINIÇÃO DE PSICOPATOLOGIA
EXAME DO ESTADO MENTAL - FUNÇÕES DO EGO
FILOSOFIA DE ENFERMAGEM
DIALÉTICA DO CONCRETO POR: KAREL KOSIK. A Dialética A dialética trata da coisa em si, do concreto. Mas a coisa em si não se manifesta imediatamente aos.
Estruturalismo e Funcionalismo
Ciência e Compreensão da Realidade. Tipos de Conhecimento.
PESQUISA.
INTELIGÊNCIA EMOCIONAL
2.° Bimestre/ A criança, a Natureza e a Sociedade. 2. Objetivos
Aula 2 Psicopatologia e suas definições.
A maioria dos fenômenos psicológicos – como o pensamento, a motivação, as emoções, a aprendizagem, a memória, o conhecimento, o raciocínio, a percepção,
Discentes: Ione Andrade Melina Raimundi Andrade
Fenomenologia Edmund Husserl ( ).
O que é Pesquisa Científica?
A “objetividade” do conhecimento nas ciências sociais
Metodologia Da Pesquisa Científica
Desmistificando a Psicologia Organizacional
O Ensino de Ciências e suas Relações com o Contexto Social
O que é Aprendizagem?.
Pesquisa: Conceitos e Definições
Quantitativo-Qualitativo:
O Desenvolvimento Cognitivo Elaine Regina Rufato Delgado
Funções Mentais Superiores
Teorias do conhecimento
UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
Trabalho de conclusão de curso
Experiência, aprendizagem e formação para a Saúde: algumas questões
Profª. Taís Linassi Ruwer
A Psicologia ou as Psicologias
Questões envolvendo autoconceito, auto-estima e gênero
Sociologia: uma ciência da sociedade Parte.01
Teoria Geral dos Sistemas
INTENCIONALIDADE.
Max Weber ( ) Nasceu em Erfurt – Alemanha Estudou Filosofia – História e Sociologia Berlim 1895 (Heidelberg) Participou da constituição da República.
ESTÉTICA 1.
Texto 1 – Testes Psicológicos e técnicas projetivas
Cognição nas organizações
O que é pesquisa científica?
Conceitos básicos do Aconselhamento não-diretivo
Capítulo 7 Moreira, D. O método fenomenológico na pesquisa. SP: Ed
Conhecimento Científico
PSICOPATOLOGIA BÁSICA
Kant O que posso saber? (teoria do conhecimento)
Psicopatologia.
Bases Epistemológicas da Ciência Moderna Profa. Dra. Luciana Zaterka
A ABORDAGEM GESTÁLTICA
Capítulo 9 Transporte da fenomenologia para o domínio da pesquisa Moreira, D. O método fenomenológico na pesquisa UNIPAHP Maio de 2001.
Períodos no desenvolvimento da terapia centrada na pessoa (HART, 1970)
Profª Elizangela Felipi
Curso de Ciências Biológicas FILOSOFIA DA CIÊNCIA Faculdade Católica Salesiana Faculdade Católica Salesiana Prof. Canício Scherer.
Karl Popper - A lógica das Ciências Sociais Teoria do Conhecimento.
PESQUISA E METODOLOGIA CIENTÍFICA
Uso de técnicas qualitativas e quantitativas
KARL JASPERS
PERSONALIDADE: por que estudar?
PSICODIAGNÓSTICO Jorge Luiz de Sales.
Uma contribuição à teoria do desenvolvimento infantil Aléxis N. Leontiev Uma contribuição à teoria do desenvolvimento infantil Aléxis N. Leontiev.
PROJETO DE PESQUISA Pesquisa Social.
 O que é um conceito?  O espaço na Física Clássica é o mesmo que na Relatividade?  Caso não, o que os diferencia?
Conceituação Cognitiva
Transcrição da apresentação:

PSICOPATOLOGIA E PSICODIAGNÓSTICO Karl Jaspers e a abordagem fenomenológica Profª Alessandra Oliveira Henriques Curso de Psicologia

A subjetividade dos eventos psíquicos EXAME PSIQUIÁTRICO SINTOMAS OBJETIVOS SINTOMAS SUBJETIVOS

SINTOMAS OBJETIVOS Eventos concretos percebidos pelos sentidos ou compreendidos pelo pensamento racional Atividade motora Expressão verbal Produções escritas Ações e conduta geral Rendimentos mensuráveis – capacidade de, habilidade de, memória Idéias delirantes, alucinações, falsas memórias, fantasias Conteúdos que o paciente nos comunica em seu relato Não depende de empatia, são percebidos por qualquer pessoa

SINTOMAS SUBJETIVOS Não são percebidos pelos órgãos sensoriais EMPATIA – participação da experiência do outro Emoções e processos internos – medo, tristeza, alegria, etc Descrição do paciente de experiências psíquicas e fenômenos – acesso indireto Processos mentais que inferimos a partir de dados, ações e modo de conduzir a vida

PSICOLOGIA OBJETIVA x PSICOLOGIA SUBJETIVA Sintomas objetivos – certeza de dados, confirmação, medição – investigação científica Sintomas “subjetivos” – pouco confiáveis PSICOLOGIA OBJETIVA – dados objetivos, campo da senso-percepção, conteúdo racional do pensamento – gráficos e estatísticas PSICOLOGIA SUBJETIVA – auto-observações, análises subjetivas, ausência de critério objetivo

Estudo sistemático da experiência subjetiva Diversidade de fenômenos psíquicos Elementos individuais selecionados para investigação Identificar os fenômenos específicos Estabelecer as diferenças entre estes e outros fenômenos Representação/ definição / classificação

Limitações da empatia Não pensamos em fenômenos mentais isolados Pensamos no objeto de nossa experiência, e não com o processo mental relacionado a ela. Entendemos outras pessoas não através da consideração e análise de suas vidas mentais, mas por vivermos com elas no contexto em que sucedem eventos, ações e os destinos pessoais. Compreensão indefinível, pessoal e direta – pura experiência e não conhecimento explícito

Limitações da empatia Atitude empática – “subjetiva” Podemos apreciar este tipo de compreensão, podemos admirá-la pelas valiosas qualidades humanas que revela; mas jamais podemos reconhecê-la como “ciência” Seu ideal (científico) é uma compreensão plenamente consciente dos fenômenos mentais, de um tipo que possa ser apresentada por meio de terminologia e formas definidas, em contraste à compreensão vaga ou inconsciente que é alcançada apenas de modo pessoal e subjetivo (...) Mas devemos reconhecer também que a psicologia não pode almejar alcançar tal ideal científico... (Jaspers, 1912)

Direção a uma compreensão científica Classificar Definir Diferenciar Descrever os fenômenos psíquicos particulares Representação clara do estado do paciente Evitar considerações, sínteses e relações Evitar construtos básicos e modelos de referência

Isolando os fenômenos Atenção para o que tem real existência, possível de diferenciar e descrever Liberdade de pré-concepções Atitude fenomenológica

O que fazemos? Devemos ser conduzidos, começando pelo exterior, a uma apreciação real de um fenômeno psíquico particular pela observação de sua gênese, suas condições de surgimento, suas configurações, seu contexto e possíveis conteúdos concretos; também pelo uso de comparações intuitivas e simbolização, através do voltar de nossas observações para qualquer direção que elas próprias sugiram (como artistas fazem tão agudamente) e pela demonstração de fenômenos conhecidos que parecem ter algum papel na formação do fenômeno estudado. (Jaspers, 1912)

O que fazemos? Indicar aspectos e características Descrever os dados qualitativamente diferentes Assegurar de não pensem como ele, mas vejam como ele no contato com o paciente – “ver” pela compreensão Faculdade crítica que se opõe à adaptação a construções teóricas “quem quer que não se disponha ou seja incapaz de ‘atualizar’ fenômenos psíquicos e representá-los vividamente não poderá obter uma compreensão fenomenológica.”

“Atualização” empática “Perceber”, “ver”, “colocar-se com lugar de”, “compreender” Pistas e indicações evocada pela apreensão imediata dos fenômenos expressivos e pela “imersão” da autodescrição do paciente

Métodos de análise fenomenológica 1) Apreensão das expressões motoras – gestos, comportamentos e movimentos expressivos 2) Exploração das experiências do pacientes – questionamento direto, autoavaliação conduzida 3) Autodescrições escritas – Ex: Schreber (Freud) Caos de fenômenos constantemente mutáveis – apreender, delimitar e retratar um elemento particular

Fenômenos psicopatológicos “Ver” e não explicar 1) Fenômenos conhecidos pela própria experiência – memórias falsas 2) Combinações, exageros e atenuações de fenômenos experimentados 3) Fenômenos inacessíveis pela compreensão – pensamentos e afetos “fabricados”, impossíveis de serem descritos pela linguagem comum. “ Tem-se que considerar que se trata mais de uma questão de perspectiva; há estas imagens em minha cabeça, mas é excepcionalmente difícil descrevê-las em palavras, às vezes definitivamente impossível”

“Livrar-se das amarras das teorias” “Devemos nos voltar sem qualquer pré-concepção aos fenômenos em si mesmos. E se pudermos identificar algum, nós procuraremos concebê-lo e descrevê-lo tão completamente quanto possível, sem alegarmos conhecer previamente em que consiste o fenômeno em virtude de nosso conhecimento em psicologia.”

Casos individuais e teorias gerais Terminologia estabelecida Experiências individuais são infinitamente variadas Características gerais “A fenomenologia efetua abstrações a partir de uma infinidade de elementos em contínua mudança, e de outro lado é definitivamente orientada ao perceptível e ao concreto, não ao abstrato. Apenas onde algo pode ser reduzido ao ‘real’ se tornar um dado imediato, isto é, se tornar concreto, pode haver matéria para a fenomenologia.”

Classificando grupos de fenômenos Organização dos fenômenos de acordo com o próposito (ex. origem, conteúdos, significados) Acesso ao conhecimento da diversidade da vida psíquica Investigação Transições fenomenológicas – colocar em ordem Separações fenomenológicas - enumerar e contrastar opostos – novo grupo de fenômenos

Análise fenomenológica “A fenomenologia, por outro lado, recusa o ideal dos menos numerosos elementos possíveis; ao contrário, ambiciona lidar com a infinita variedade de fenômenos psíquicos apenas para, tanto quanto possível (dado que a tarefa é evidentemente interminável), tentar fazê-los mais lúcidos, precisos e individualmente reconhecíveis a qualquer momento.”

Os limites da Fenomenologia Interessa apenas a experiência real, perceptível e concreta Isto realmente foi experimentado? Isto realmente se apresenta na consciência do sujeito? Validade – os diversos elementos da realidade psíquica podem ser repetidamente evocados

Os limites da Fenomenologia A fenomenologia nada pode ganhar da teoria: pode apenas perder. A fenomenologia deve sempre encontrar seus padrões em si própria. A fenomenologia não tem nada a ver com a gênese dos fenômenos psíquicos. A fenomenologia deve ser mantida separada do que chamamos de “compreensão genética” dos eventos psíquicos, ou seja, a compreensão de suas relações significativas. “Compreensão estática” - dados, experiências, modalidades conscientes e sua delimitação.

Os limites da Fenomenologia “A fenomenologia apenas nos torna conhecidas as formas nas quais todas as nossas experiências – toda a realidade psíquica – ocorrem; ela não nos diz nada sobre os conteúdos da experiência pessoal do indivíduo, nem qualquer coisa sobre os fundamentos extra-conscientes em que os eventos psíquicos parecem flutuar como espuma na superfície do mar. Penetrar nestas profundezas extra-conscientes sempre será mais tentador do que meramente apresentar achados fenomenológicos, ainda que a realização desta última tarefa seja um pré-requisito para qualquer investigação adicional.”

Referências Bibliográficas TENORIO, Carlene M. D. A psicopatologia e o diagnóstico numa abordagem fenomenológica–existencial. Universitas Ciências da Saúde - vol.01 n.01 - pp. 31-44. http://www.publicacoesacademicas.uniceub.br/index.php/cienciasaude/article/viewFile/493/315