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História e análise da Política Externa Brasileira Gilberto Maringoni 2

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Apresentação em tema: "História e análise da Política Externa Brasileira Gilberto Maringoni 2"— Transcrição da apresentação:

1 História e análise da Política Externa Brasileira Gilberto Maringoni 2
História e análise da Política Externa Brasileira Gilberto Maringoni 2. Aula de 13 de outubro de 2014 UFABC – Outubro – dezembro de 2014

2 O tema central desta aula é a mudança significativa que ocorre na política externa brasileira entre 1850 e 1870. Deixamos de ter apenas uma diplomacia passiva e subordinada ao sistema imperial inglês e agregamos uma nova característica. Embora a subordinação continuasse, agrega-se uma nova característica. A partir desse período, nos tornamos também uma potência regional.

3 A crise no Prata A produção cafeeira resultava do trabalho escravo em vastas propriedades agrícolas que paulatinamente tomam conta das províncias do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Minas Gerais e da Bahia. O café teve a característica de organizar todo um subsistema econômico de negócios ligados à exportação, como casas de financiamento, armazenamento, embalagem, expedição, navegação e comercialização. O cultivo do café, em regiões próximas à Corte, acarretava a redução do peso político e econômico do nordeste, marcado pela produção canavieira.

4 É um novo ciclo histórico que recupera a economia e fomenta centralização do Estado.
Esta passa também por articulações da Corte com as elites regionais através de medidas econômicas e comerciais.

5 Fortalecimento nos anos 1840
O governo imperial e a oligarquia que girava ao seu redor se fortaleceram, ao longo da década de 1840, após o fim das rebeliões provinciais iniciadas após a Independência. Com a melhora do cenário econômico, era vital aumentar a arrecadação e resolver pendências com a Inglaterra. Assim, uma série de iniciativas complementares consolida a unidade política e territorial. Estas medidas institucionais são a Tarifa Alves Branco, de 1844, a Reforma Monetária, de 1846, o Código Comercial, a Lei de Terras e o fim do Tráfico Negreiro, em 1850.

6 Lugar no mundo O Brasil tinha o lugar de fornecedor de matérias primas na divisão internacional do trabalho, assim como toda a América Latina. Seu peso internacional era irrelevante. Isso determinava sua política externa. A industrialização brasileira – que poderia alterar esse panorama - esbarrava em vários entraves estruturais, entre eles a exigüidade do mercado interno.

7 A modalidade que poderia prosperar seria a indústria têxtil, com demandas até nas camadas mais pobres da população. Mas a disseminação do tear mecânico na Grã-Bretanha barateou os preços e inibiu a concorrência internacional.  Aliado a isso, as tarifas preferenciais praticadas pelo Brasil em relação às mercadorias inglesas contribuíam para sufocar a produção local.

8 Entraves à indústria O Brasil teve poucas atividades industriais até 1840. Nenhuma prosperara a contento. Ainda nos tempos de D. João VI, o governo construiu no Arsenal da Marinha, no Rio de Janeiro, uma fábrica de pólvora. Pequenas siderúrgicas foram tentadas em Araçoiaba, próximo à Sorocaba, em São Paulo, e em Congonhas do Campo, em Minas.

9 Medidas protecionistas
Os tratados comerciais com a Inglaterra expiraram em 1843. A primeira das medidas oficiais incidia sobre o comércio internacional. Era a Tarifa Alves Branco, nome de seu proponente, o ministro da fazenda Manuel Alves Branco ( ), elevando as taxas sobre as importações de determinados produtos em percentuais que variavam de 30% a 60%. Tinha por objetivo fortalecer o caixa do tesouro.

10 Lavoura e manufatura O Ministro da Fazenda justifica sua proposta, na mensagem ao Parlamento, em 1844: “Nenhuma nação deve fundar exclusivamente todas as suas esperanças na lavoura, na produção da matéria bruta, nos mercados estrangeiros. Um povo sem manufaturas fica sempre na dependência de outros povos e, por conseguinte, nem pode fazer concessões vantajosas, nem avançar um só passo na carreira da sua riqueza”.

11 Apesar de encarecer a compra de produtos estrangeiros, a tarifa era insuficiente para alavancar a atividade industrial. Além do reduzido mercado interno e da concorrência externa, havia outro fator a inibir a implantação de manufaturas. Brasil. Ministério Da Fazenda. Proposta e Relatório apresentados à Assembléia Legislativa pelo Ministro e Secretário d’Estado dos Negócios da Fazenda, Manoel Alves Branco. Rio de Janeiro, Typ. Nacional, Citado por Sodré, História da burguesia brasileira, Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1876, pág. 113

12 Era a permanência do regime de trabalho escravo
Era a permanência do regime de trabalho escravo. Aparentemente barato para o empreendedor, o custo do escravo era alto em períodos de entressafra. O fazendeiro acabava imobilizando um capital humano que deveria ser alimentado e mantido, sob pena de perder investimento.

13 O economista João Manuel Cardoso de Mello não partilha da opinião de que a indústria brasileira não se desenvolveu antes de 1850 por falta de proteção contra a concorrência externa. Para ele, apenas a elevação das tarifas de importação não criaria condições para o desenvolvimento de tais iniciativas. Em 1846, segundo ele, Foram dispensados às fábricas de algodão vários incentivos, como isenção de tarifas para a importação de máquinas, isenção de impostos sobre transportes internos e externos etc., e, em 1847, confirmou-se a dispensa de direitos alfandegários sobre matérias primas destinadas às fábricas nacionais. Cardoso de Mello, João Manuel, O capitalismo tardio, Unicamp, IE, Campinas, 1998, pág. 77

14 Nem assim houve um surto industrializante. Mais adiante, ele continua:
O verdadeiro problema começa aí: há que se explicar porque o nível de proteção, que jamais foi baixo, revelou-se insuficiente. Seu raciocínio volta-se para a economia escravista. E pergunta: Não seria possível revitalizar a produção mercantil e escravista revigorando as exportações ou implantando a grande indústria escravista?

15 Custos Sobre isso, o economista é categórico ao responder que não. “Os custos da indústria escravista deveriam ser marcadamente superiores aos da indústria capitalista”. Seus lucros seriam menores. Isso acontece, em primeiro lugar, pelo fato de o pagamento da força de trabalho ser adiantado quando há escravos. De outra parte, quando há assalariados, o pagamento é feito após o trabalho ser realizado.

16 Além disso, o escravo tem de ser coagido a produzir, enquanto o trabalhador livre desempenha suas funções em troco de um salário.  Um patrão que mecaniza parte de sua produção dispensa trabalhadores que se tornam ociosos. Um senhor de escravos, que comprou seus trabalhadores, jamais irá se livrar deles para reduzir custos. Pagou por eles. Soltá-los significa perder dinheiro. Assim, o escravismo impede o progresso técnico na produção capitalista.

17 Extinção Entre todas as medidas da época, uma foi definidora: a extinção do tráfico entre a África e o Brasil, por pressão inglesa. A questão arrastava-se desde pelo menos 1826, quando o governo assina um tratado com a Inglaterra, obrigando-se a eliminar o tráfico nos três anos seguintes. O acordo torna-se letra morta. Em 1845, o Parlamento inglês aprova uma norma decarando lícita a apreensão de qualquer embarcação que traficasse africanos em qualquer lugar do mundo.

18 A ação é fulminante. A potência européia se arroga ao direito de realizar apreensões mesmo em águas brasileiras. A carga é tamanha, que o Brasil cede em O tráfico é abolido. Acaba-se ali o mais bem sucedido negócio brasileiro, que resultava na importação anual de cerca de 50 mil escravos. Com isso, as vultosas somas de capital empregadas no tráfico têm de se alocar em outros ramos de atividades, o que provoca uma injeção considerável de dinheiro na economia. De imediato, o país conhece um período de expansão monetária e de ampliação e diversificação dos investimentos, entre 1850 a 1857. Prado Jr., Caio, História econômica do Brasil, Editora Brasiliense, São Paulo, 1965, pág. 157

19 Conciliação Ao longo dos primeiros anos de independência foram se formando dois partidos, o Liberal e o Conservador. Embora inicialmente seus programas apresentassem algumas nuances, na prática o que o diferenciava era o jogo da partilha do poder. Tanto que, após o fim das principais rebeliões provinciais, ambos se entenderam na composição do chamado gabinete de conciliação, em 1853. O presidente do Conselho de Ministros que comandaria o processo de conciliação entre os diversos segmentos das oligarquias era Honório Hermeto de Carneiro Leão ( ), Marquês de Paraná.

20 O novo gabinete com os dois partidos é instalado em 6 de setembro de 1853 e vai até 3 de setembro de 1856, quando morre Paraná. A conciliação não gerou unanimidade, mas deu previsibilidade á política governamental e facultou a realização de grandes investimentos públicos e privados. Era um arranjo entre as classes dominantes, sem nenhuma participação popular, que possibilitou fechar um período de consolidação institucional.

21 Uma nova legislação aduaneira é implantada, em 1860
Uma nova legislação aduaneira é implantada, em Era a tarifa Silva Ferraz, batizada com o nome de seu patrocinador, o chefe do Gabinete conservador Ângelo Moniz da Silva Ferraz, Barão de Uruguaiana, ( ). De inspiração liberal, a medida reduzia novamente as taxas de importação para a entrada de navios, máquinas, ferramentas e ferragens produzidos no exterior e coloca o estaleiro de Niterói diante de uma concorrência predatória.

22 Águas da discórdia O estuário do rio da Prata é uma enorme fenda hídrica ao sul do continente, dividindo o Uruguai e a Argentina. Tem a forma de um triângulo irregular e sua extensão alcança 219 quilômetros.   A parte mais larga, no ponto em que o rio se confunde com o oceano Atlântico, alcança 290 quilômetros. Suas águas barrentas formam um sistema fluvial, através da desembocadura dos rios Paraná – o segundo maior do continente – e Uruguai. Desde os tempos coloniais, o comércio e o contrabando por ali foram intensos.

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26 Entrando pelo Prata, embarcações podem alcançar o Paraguai, a Bolívia e o centro-oeste do Brasil. Até o final do século XVIII, espanhóis e portugueses dominaram a região. No início do século seguinte, barcos ingleses marcavam sua presença, dando as cartas no comércio regional. Dominar o rio da Prata significava apoderar-se das principais rotas comerciais de pelo menos quatro países. Para navegar no estuário, os navios têm de fazer escala num dos portos da entrada, os de Montevidéu ou de Buenos Aires.

27 No final da década de 1840, a província de Buenos Aires era governada por Juán Manuel Rosas ( ). O cargo tinha status de presidência da República. A partir de 1842, com o apoio das demais províncias locais, ele tornou-se uma autoridade nacional. A política de Rosas para o Prata era parte de sua estratégia de centralização territorial e política de várias províncias autônomas, que viriam a formar a Argentina moderna.

28 Dominar o rio, na época, equivalia a afirmar a unidade e a independência argentina e a consolidar seu poder no continente. Para isso, ele acabaria por contrariar as pretensões hegemônicas da Grã-Bretanha na região. Do lado brasileiro, era vital manter a livre navegação, pelo fato de o rio ser o melhor acesso à província do Mato Grosso.

29 Protecionismo Desde 1835, o líder argentino estabelecera um protecionismo rigoroso, o monopólio do comércio de Buenos Aires sobre o interior e o controle do Prata. Tal medida implicava também sua supremacia diante do Paraguai. Faltava uma peça para Rosas dar seqüência às suas pretensões: o controle do porto de Montevidéu. O Uruguai, com isso, temia por sua independência, obtida do Brasil, em Paulatinamente, a antiga Província Cisplatina passou a ser o objeto central na disputa entre Brasil e Argentina. Ingleses e franceses, de sua parte, mantinham uma frota permanentemente estacionada em Montevidéu, para garantir a passagem de seus navios. Cervo, Amado Luiz e Bueno, Clodoaldo, História de política exterior do Brasil, Editora UNB, Brasília, 2002, pág. 60

30 Estava armada uma explosiva teia de interesses internacionais.
Os planos de Rosas sobre o porto de Montevidéu contaram com um aliado providencial. Era o ex-presidente uruguaio Manuel Oribe ( ), que governara país entre 1835 e Alijado do poder e exilado na Argentina, Oribe, era um militar que se destacara na luta pela independência.

31 Guerra Grande Apoiado pelo mandatário argentino, Oribe invade o Uruguai em 1842, sitia Montevidéu e desafia o governo do presidente Fructuoso Rivera ( ), aliado do Brasil. Na cidade de Cerrito, próximo à capital, o rebelde monta um governo paralelo. Tem início a Guerra Grande, que cercaria a capital e o porto até 1851.

32 Farrapos Enquanto o conflito se desenrola, a Província do Rio Grande do Suil está conflagrada pela Guerra dos Farrapos ( ), que durante dez anos expôs tendências separatistas regionais. As fronteiras entre o Brasil e o Uruguai eram mais do que incertas. Mercadorias circulavam de um país a outro sem nenhuma fiscalização. Apesar de buscar a neutralidade, até 1843, a Corte Imperial era constantemente pressionada a intervir no Prata. Os estancieiros gaúchos desejavam a livre navegação no estuário, em busca de mercados para sua produção.

33 Diplomacia uruguaia Sitiado pela argentina e por inimigos internos e com o tesouro quebrado, o governo uruguaio desenvolveu intensa atividade diplomática, solicitando auxílio da Coroa. A França, financiadora habitual de Montevidéu, andava às voltas com as reverberações da onda revolucionária de 1848 e reduzira em muito seu auxílio.

34 Privatizando a política externa
Em meio a esta tensão, Irineu Evangelista de Sousa, Barão de Mauá e homem mais rico do Brasil, amigo do ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulino José Soares de Sousa, Visconde de Uruguai ( ), faz um de seus mais ousados lances empresariais. Percebendo que a diplomacia nunca anda desvinculada de grandes oportunidades de negócios, Mauá oferece-se para sustentar financeiramente a praça de Montevidéu na luta contra Oribe, em Em caso de vitória, teria como garantia as receitas aduaneiras do país. Em caso de derrota, perderia tudo.

35 Extra-oficial Em março de 1850, Paulino Soares de Souza comunica ao embaixador uruguaio no Rio de Janeiro, Andrés Lamas ( ), haver encontrado quem emprestasse dinheiro e fornecesse suprimentos ao seu governo no enfrentamento com Rosas. O acordo foi mantido em sigilo, pois o Brasil mantinha relações diplomáticas com a Argentina. Isso possibilita ao proprietário da Ponta de Areia operar uma política extra-oficial, enquanto o Brasil mantinha uma posição neutra na questão. A partir do acordo com Lamas, as empresas de Irineu passam a fornecer inúmeros produtos a Montevidéu, entre eles roupas, armas e dinheiro.

36 Aliança contra Rosas Pouco mais de um ano depois, em 20 de março de 1851, representantes do Brasil, do Uruguai e da província argentina de Entre Rios selam uma aliança contra Rosas. A guerra se internacionaliza com as intervenções de correntes políticas argentinas, de tropas do Império do Brasil e de militares ingleses e franceses. Oribe é logo derrotado, no Uruguai. Em 1852, com auxílio brasileiro, Rosas é destituído do poder por líderes de províncias rebeldes.

37 Uruguai em ruínas Quando acaba o conflito, o Uruguai está em ruínas, a população mais pobre do que antes e suas finanças comprometidas com pesadas dívidas contraídas junto ao Brasil, à Inglaterra e à França.

38 O acordo que pôs fim à Guerra estipulava as fronteiras com o Brasil, dava ao Império o direito de intervir em assuntos internos uruguaios e garantia a livre navegação do Prata. A ação de Irineu fora decisiva na meta brasileira de transformar o país num semi-protetorado, submetido à sua lógica diplomática. Com isso, o empresário dá início a uma série de negócios ao sul do continente, que incluem um banco e uma extensa propriedade agro-pastoril, além de tornar-se o maior credor da dívida pública uruguaia.

39 Duas vertentes econômicas
O Brasil se colocava, a partir daí, disputando a hegemonia regional, num quadro de subordinação no contexto do sistema internacional, dominado pelo imperialismo inglês. A própria organização da política monetária interna expressava essa subordinação. Havia duas idéias sobre como organizar a moeda. De um lado havia a concepção da contrapartida metalica. Seus partidários faziam a defesa da estabilidade monetária através da adoção do padrão-ouro e do monopólio da emissão por um banco público, que tivesse lastro em ouro para estas emissões.

40 De outro estava um liberalismo extremado, chamada de bancária ou papelista.
Este não via no ouro a solução para uma sociedade atrasada como a brasileira. Não haveria oferta constante e suficiente para lastrear emissões que possibilitassem o desenvolvimento. Tornaria a oferta de idnheiro inelástica em caso de necessidade, acarretando escassez e encarecimento da moeda.

41 Como solução, os papelistas apontavam a pluralidade emissora – isto é, a possibilidade de qualquer banco emitir papel-moeda. O mercado se auto regularia e garantiria a liquidez monetária. O aumento ou redução do meio circulante acompanharia a dinâmica econômica em cada momento. O problema é que qualquer descontrole acarretaria inflação e especulação acentuada, como aconteceu em 1853, 1857, 1864 e 1873. Müler, Elisa, Moedas e bancos no Rio de Janeiro no século XIX, mimeo s.d.

42 Padrão-ouro A disputa não era nova e acontecera na Europa, quando da centralização das emissões no Banco da Inglaterra e na adoção do padrão-ouro, em 1844, que norteou a economia internacional do século XIX. Como conseqüência da inserção do país na economia internacional, o Brasil adotou o padrão-ouro em 1846, através de lei específica. Assim, a moeda nacional teria uma paridade fixa de 27 pences por mil réis. Foi uma vitória dos metalistas. Nos gabinetes imperiais, tanto uma como outra posição, em diversas épocas, alternaram-se como dominantes.  

43 Mais discordâncias no Prata
O foco da política brasileira na região continuava sendo a necessidade de se manterem abertas as vias do estuário à navegação internacional. A situação já fora parcialmente resolvida no início dos anos 1850, após acordos com a Argentina e o Uruguai. Um novo ponto de atrito acontece anos depois em torno dos rios que banhavam o Paraguai.

44 O Brasil queria manter liberado o rio Paraguai, que possibilita a navegação até a Bolívia, e o rio Paraná, que se estende à província do Mato Grosso. Em 1857, José Maria da Silva Paranhos Júnior ( ), futuro Visconde do Rio Branco, pressiona Assunção para a assinatura de um pacto de navegação.

45 Pressões para navegação nos rios internos
Não era tarefa fácil, pois o governo local apontava uma contradição: enquanto o Brasil exigia de seu vizinho a abertura das águas, mantinha o Amazonas fechado às embarcações estrangeiras. O país não era o único a levantar problemas. O Brasil passou a sofrer pressões dos Estados Unidos e da Inglaterra para eliminar as barreiras ao transporte fluvial em seus rios internos. Às reivindicações das potências se somaram as do Peru e as da Bolívia. Quando o Paraguai aceita um tratado, em 1858, a posição brasileira em relação ao Amazonas ficou insustentável.

46 O fechamento do rio era baseado no projeto imperial de manutenção da integridade territorial. Mauá era o grande beneficiário desta política, através de sua Companhia de Navegação a Vapor do Amazonas, que obtivera a exclusividade de trafegar no rio e em seus afluentes por trinta anos, a partir de 1852.

47 Prata de novo As elites brasileiras temiam que as reviravoltas da política uruguaia tivessem repercussões no Rio Grande do Sul, onde as marcas da Guerra dos Farrapos permaneciam vivas. Além disso, estancieiros gaúchos eram proprietários de cerca de um quarto das terras uruguaias. Havia denúncias de crimes cometidos contra brasileiros, como invasões de terras e assassinatos, que eram ignorados pelas autoridades.

48 Em 1864, o país é governado por Atanásio da Cruz Aguirre ( ), do Partido Blanco, e enfrenta uma rebelião liderada por Venâncio Flores ( ), do Partido Colorado. Este último, sem condições políticas e militares de tomar o poder, coloca-se como aliado dos interesses brasileiros e argentinos na região.

49 O governo Aguirre tinha proximidades com Solano López, presidente do Paraguai, pouco simpático ao Brasil. O Paraguai, por sua vez, via numa aliança com o Uruguai a garantia de seu contato com o resto do mundo. Sua única saída para o mar está nos rios da bacia do Prata.

50 Truculência A diplomacia brasileira moveu-se de forma truculenta para resolver pendências dos estancieiros e limitar aproximações entre Montevidéu e Assunção. Em 4 de agosto de 1864, uma missão liderada pelo Ministro José Antonio Saraiva ( ) faz um ultimato para que Aguirre mudasse suas orientações, caso contrário tropas brasileiras entrariam no país.

51 O prazo era de seis dias. A administração local rechaça a mensagem e rompe relações com o Brasil. Francisco Solano López ( ), presidente do Paraguai, protesta contra as ameaças, taxando-as de “atentatória ao equilíbrio dos Estados do Prata” . Doratioto, Francisco, Maldita guerra, Companhia das Letras, São Paulo, 2002, pág. 59

52 Invasão Como se fosse um país imperialista, o Brasil invade o Uruguai, em 12 de outubro. Os combates duraram nove meses e, no fim, o exército brasileiro derruba o presidente Aguirre, colocando Flores em seu lugar. As súbitas mudanças teriam conseqüências nefastas. Elas precipitam a oposição paraguaia e seriam decisivas para a guerra que se desencadearia em seguida. Além disso, cimentariam o Tratado da Tríplice Aliança entre Argentna, Brasil e Uruguai, que seria assinado em 1º. de maio de E Mauá, que vinha tendo um bom entendimento com Aguirre, vê na situação caótica gerada pela intervenção sérias ameaças aos negócios.

53 Guerra do Paraguai Na vizinhança, o país de Solano López trava uma luta desigual, assimétrica e desesperada contra a Tríplice Aliança. Por quase três anos – até 1868 – a fortaleza de Humaitá, no sul do país, fecha o rio Paraguai com sua artilharia. Mas torna-se quase impossível resistir, sem armamentos, suprimentos e com um exército famélico e doente. No ano seguinte, cai Assunção e López é morto em março de 1870.

54 A Guerra do Paraguai foi o maior conflito internacional da história da América Latina. Envolveu quatro países – Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai -, destruiu o último e afirmou nacionalidades, limites e relações entre os envolvidos. Ceifou milhares de vidas, representou tragédias para muitos e vantagens para poucos. A potência regional era o Brasil; a Argentina buscava completar seu processo de unificação e o Uruguai tentava manter sua independência em relação ao Brasil. E o Paraguai viveria uma tragédia por várias gerações.

55 A Guerra consolidou a supremacia brasileira no Prata, mas arrasou as contas do Tesouro imperial.
A dívida com a Inglaterra – na verdade com o Banco de N. M. Rothschild - expandira-se assustadoramente. No fim do conflito, as finanças nacionais exibem seguidos déficits, que se tornariam crônicos e subordinariam ainda mais o país aos desígnios dos financistas ingleses.

56 Paradoxalmente, apesar de consolidar o grande projeto do Império, a unidade territorial, a Guerra marca o início da decadência irreversível do regime monárquico. O país que entrara no conflito num quadro de crise econômica, sai dele em piores condições. Foi um preço altíssimo para se obter a livre-navegação dos rios Paraná e Paraguai.

57 A Guerra do Paraguai foi o maior conflito internacional da história da América Latina.
Envolveu quatro países – Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai -, destruiu o último e afirmou nacionalidades, limites e relações entre os envolvidos. Ceifou milhares de vidas, representou tragédias para muitos e vantagens para poucos. A potência regional era o Brasil; a Argentina buscava completar seu processo de unificação e o Uruguai tentava manter sua independência em relação ao Brasil. E o Paraguai viveria uma tragédia por várias gerações.

58 A guerra, ponto a ponto Guerra foi fundamental para a consolidação dos Estados nacionais no Prata, notadamente na Argentina, no Brasil e no Uruguai. Na Argentina, enriqueceram fazendeiros e comerciantes Foi o apogeu e o início da crise terminal do Estado monárquico Paraguai foi reduzido a escombros. O problema de Solano López é ter perdido a guerra.

59 Solano López – Ditador. É necessário mediar. América Latina era toda baseada na economia agroexportadora. No Brasil, isso estava assentado no latifúndio e na escravidão. As classes dominantes eram as oligarquias criollas, da carne, da erva mate, do café, do charque, da cana etc. Eram oligarquias com autonomia em relação aos arcabouços de Estados nacionais.

60 A ideia de Brasil O crítico literário José Veríssimo ( ) fez, em 1912, uma interpretação dos acontecimentos daquela época. Apesar de relativamente longa, a citação é importante: (Os processos desses tempos) Foram, entre outros, (...): A GUERRA DO PARAGUAI, acordando o sentimento nacional, meio adormecido desde o fim das agitações revolucionárias conseqüentes à Independência, e das nossas lutas no Prata; Pela primeira vez depois da Independência (...) sentiu o povo brasileiro praticamente a responsabilidade que aos seus membros impõem estas coletividades chamadas nações. Ele, que até então vivia segregado nas suas províncias, ignorando-se mutuamente, encontra-se agora fora das estreitas preocupações bairristas do campanário, num campo propício para estreitar a confraternidade de um povo, o campo de batalha.

61 De província a província trocam-se idéias e sentimentos; prolongam-se após a guerra as relações de acampamento. Houve enfim uma vasta comunicação interprovincial do Norte para o Sul, um intercâmbio nacional de emoções, cujos efeitos se fariam forçosamente sentir na mentalidade nacional. A mocidade das escolas, cujos catedráticos se faziam soldados e marchavam para a guerra, alvoroçou-se com o entusiasmo próprio da idade. Os que não deixavam o livro pela espada, bombardeavam o inimigo longínquo com estrofes inflamadas e discursos tonitruantes, excitando o férvido entusiasmo das massas . Veríssimo, José, História da literatura brasileira, Ministério da Cultura, Fundação Biblioteca Nacional. Departamento Nacional do Livro ( pág. 141.

62 Censo de 1872 Helio de Seixas Guimarães, em Os leitores de Machado de Assis – o romance machadiano e o público de literatura no século 19, lembra, entre outros sinais das mudanças, “a realização do primeiro recenseamento geral doIimpério, em 1872”. Expressão ainda dos deslocamentos políticos entre frações da classe dominante é a publicação, no Rio de Janeiro, em 1870, do Manifesto Republicano, externando “preocupações de intelectuais e profissionais liberais urbanos” . Guimarães, Hélio de Seixas, Os leitores de Machado de Assis – o romance machadiano e o público de literatura no século 19, Nankin Editorial/Edusp, São Paulo, 2004, pág. 85. Carvalho, José Murilo de, A construção da ordem e Teatro de sombras, Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2003, pág. 209.

63 A noção de como – ou o quê - era o país, vaga até então e existente em sua maior parte na dinâmica da burocracia imperial, começa a tomar corpo. A migração interna, iniciada de forma mais expressiva com o comércio interprovincial de escravos, a partir da proibição do tráfico atlântico em 1850, e acentuada com a guerra, gera um intercâmbio de costumes e informações inexistente na primeira metade do século. Essa percepção tinha, no entanto, muito de subjetivismo. Poucos eram os estudos e levantamentos científicos sobre a população, sua distribuição geográfica, hábitos e modos de vida.

64 A grande empreitada visando a jogar luz nessas questões foi a realização do primeiro censo oficial do Brasil, cujos dados começaram a ser coletados em Somente quatro anos depois, os números foram tabulados e divulgados. Os indicadores estarreceram alguns setores. O jornal A Província de São Paulo (atual O Estado de S. Paulo), por exemplo, estampou em primeira página uma contundente matéria, sob o título “Algarismos eloqüentes”: Está orçada a população do império, conta redonda, em dez milhões de almas. Numa massa total, conta-se como sabendo ler: Homens: Mulheres: Ao todo:

65 Conta redonda de analfabetos: oito milhões e quinhentos mil
Conta redonda de analfabetos: oito milhões e quinhentos mil! É assustador, embora se possa afirmar que certos países não estão em melhores circunstâncias.(...) Esse desolador e gravíssimo fato é a explicação primeira e mais radical de nossas misérias nacionais. Somos um povo de analfabetos! . A Província de São Paulo, quinta-feira, 10 de agosto de 1876, 1ª. Página. A citação é indicada por Guimarães, Op. cit., pág. 88.

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