Colonização: conceitos e tipologia Amaury Gremaud FESB I.

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Transcrição da apresentação:

Colonização: conceitos e tipologia Amaury Gremaud FESB I

Desenvolvimento e colonização  Existe uma tradição da historiografia brasileira em atribuir, pelo menos parte, dos problemas de desenvolvimento do Brasil ao fato de a. Sermos uma sociedade mais “jovem” b. Termos sidos colonizados

Colonização  Lugar comum dizer que América (Latina) é fruto da colonização europeia O que se quer dizer exatamente com colonização ?  Existe diferença entre colonização da América no século XVI e as colônias de imigrantes do XIX ou a colonização da Amazonia no XX Existe um único “sentido da colonização” – único tipo de colonização europeia ?  Se retornarmos aos pontos “a” e “b” anteriores: Brasil e EUA foram fruto da colonização europeia Tipologias da colonização

Algumas outras respostas a. Étnica: colonizador: português (ibéricos) x anglo saxão (inglês) b. R. Simonsen Durante a fase colonial as exportações brasileiras eram muito superiores às norte-americanas  o que indica certa superioridade brasileira, mas que foi perdida Inversão com as novas condições criadas pela Revolução industrial e a rápida adequação tecnológica dos EUA às novas condições  Pq não no Brasil ?  Novas respostas se baseiam nas diferenças de formato da colonização

V. M. Godinho e a expansão portuguesa Expansão é, basilarmente, a entrada em contato de dois ou mais grupos – contato de múltiplas modalidades. A relação nunca se estabelece de um jacto: formam-se algumas malhas que depois servem de base para novas malhas Se um grupo vai buscar outro, para entabular comércio ou para conquistar, quais as condições internas que o levam a sair de si próprio ? Quais as condições do segundo grupo que atraem o primeiro ? E ao desenrolar-se o contato as condições internas de um e de outro reagem entre si, modificam-se, adaptam-se ?

América: Disposição geográfica ao longo de inúmeros meridianos  Caio Prado Jr.: diferentes possibilidades: Exploração (predatória)  Metais preciosos  Outros produtos – Pau Brasil e Peles Exploração, mas como empresa comercial  Regiões tropicais: Produtos diferentes (dos existentes na metrópole) e interessantes para comércio  com povoamento e criação de riqueza Povoamento  Regiões temperadas – não produtos diferentes  Busca reconstrução do velho mundo no novo mundo  Auto produção – auto abastecimento  Saída do colonizador com motivação diferente  Crise social, conflitos políticos e religiosos Colonização inicial AbandonoAbandono

Colonização: conceitos: Filologia  ColôniaColonização Colo  Colônia e Colonização tem por matriz latina o termo Colo Colo: significou na Roma antiga a) Eu moro, eu habito, eu ocupo a terra; e/ou b) Eu trabalho, eu cultivo a terra  mas difere dos dois (habitar e cultivar) pois tem também a ideia de movimento, de deslocamento para outro local: Lavrar ou fazer lavrar solo alheio  Colônia: terra que se está ocupando, espaço que se está sujeitando  Interessante notar também particípio do verbo  Passado: cultus  Futuro: culturus Dois elementos comuns nas tipologias socioeconômicas da colonização estão presentes na origem etimológica na palavra: exploração (cultivo) e povoamento (ocupação) Tem também implícita a idéia de domínio: Colo: significado básico: tomar conta de Isto significa não apenas cuidar de, mas também mandar em

Colonização: conceitos: Geografia Maximillien Sorre

Colonização: conceitos: Geografia  Sorre: É uma forma de migração humana, uma forma de formação do ecúmeno (espaço territorial humanizado) Entre imobilidade total e mobilidade total (nomadismo completo) – diferentes possibilidades de mobilidade Surgem normalmente da diferença entre crescimento populacional e limitação na disponibilidade territorial  Resolvido por progresso técnico ou migração  Sorre: É uma forma de ocupação e valorização de novas áreas Mas várias possibilidades: para quem ? Como ? Quando ?  G. Hardy: circunscreve dentro de conceito amplo de colonização, um conceito político: o “fato colonial” Nem toda migração tem ação colonizadora, ou seja a existência de um Estado colonizador e de um novo tipo de organismo: a colônia Distinção importante: estabelecimento da relação bilateral metrópole - colônia  Separa as colônias de italianos no sul do Brasil da relação metrópole- colônia estabelecida entre o Brasil e Portugal entre 1500 e 1822

F. Novais (historiador): Brasil Colônia: forma especifica de colonização ou de ocupação e valorização pois esta inserida na colonização da América pela Europa  “Europeização do novo mundo” ocorrida na época moderna ou mercantilista É a partir das coordenadas desta época que se define melhor este processo que no geral ainda sim consiste numa migração que ocupa e/ou valoriza novas regiões para certos grupos

Classificação das colônias  Leroy Beaulieu (século XIX) Origem em Roscher  Fortemente usada no Brasil:  Caio Prado Jr, Fernando Novais etc. Visão do colonizador: suas possibilidades e intenções: 1. Colônias comerciais Entrepostos, feitorias 2. Colônias agrícolas colônias de povoamento 3. Colônias de exploração Roscher inclui um outro tipo de colônia: as colônias de conquista

1. Colônias de comércio Também conhecidos como entrepostos comerciais ou feitorias Objetivo comércio de bens já produzidos regiões visadas são ricas e populosas, mas onde o comércio não é livre Metrópole: não precisa ser populosa, mas ser forte militarmente Ocupação – grandes investimentos e pouca gente, normalmente não ocupa toda a região mas apenas de posições estratégicas para o controle do comércio – São Tomé, Singapura etc. Tendência: não sistemática: – desaparecimento, – incorporação, – manutenção

2. Colônias de Povoamento Também chamadas de Colônias agrícolas Objetivo é ocupação – migração populacional e estabelecimento na nova região Região colonizadas – pouco habitada e de características geo-climáticas semelhante aos da metrópole Metrópole – populosa (muitas vezes com problemas ligados à população – econômicos e/ou políticos) Não grandes investimentos mas muita gente (migra com bens e famílias) Ex: Nova Inglaterra Tendência: progresso lento e autonomização

3. Colônias de exploração Também conhecidas (Brasil) como colônias de plantação Objetivo: controlar produção para exportação Servem para o aprovisionamento da metrópole Região colonizadas – ambiente geo-climático diferente da metrópole (produtos diferentes)  intertropical Metrópole – recursos e capacidade organizacional (controle) para organizar da produção  Organização da produção: nova ou controle sobre processos pré- existente  Solução para a mão de obra pode diferir  Ex: América Latina Tendência:  progresso econômico rápido, sujeito à crises,  não progresso demográfico  autonomização conflituosa e lenta

Outra possibilidade de tipologia  Diferenciar povoamento de exploração nem sempre fácil e/ou possível Toda exploração implica em povoamento e vice versa  G. Hardy (XX): outra classificação Colônias de enraizamento  Por substituição  Substituição da população pré-existente pela metropolitana  Por associação  Mesclagem das duas populações  Por repovoamento  Importa terceiro grupo populacional Colônias de enquadramento  Massa populacional que continua sendo constituída pela população pré-existente, mas dirigida “enquadrada” por colonizadores Hardy também inclui as colônias de posição ou ligação Classificação critérios étnicos: composição populacional resultante

Combinação de Tipologias comercialpovoamentoexploração Enraizamento por substituição por associação com repovoamento Enquadramento

 Tipologias – saem dos conceitos genéricos permitem algumas aproximações ao descriminar vários gêneros e ordenar componentes específicos, mas não apreendem completamente os momentos históricos específicos e suas peculiaridades e não explicam por que um tipo de colônia predomina em determinado tempo e lugar  Classificações têm critérios e propósitos diferentes e assim vantagens e desvantagens dependendo do objetivo Novais: critério de Beaulieu é melhor Problema não é que não existe exploração sem povoamento ou vice-versa mas o que é o mais essencial em cada caso mesmo porque “tipos puros” não existem

O colonizado  Até aqui pouco olhar sobre o que existia antes: Índios: erro não só porque não são habitantes da Índia Também dá a falsa idéia de unidade americana (ou latino americana)  Entre habitantes da América não existe consciência de Oriente x ocidente  Não se conhecem, não resistem ou se associam aos colonizadores juntos ou da mesma maneira

Marca comum  Além de habitar o mesmo continente, marca comum é o relativo isolamento etnográfico Séculos de desenvolvimento:  Domesticam plantas e animais, aprimoramentos tecnológico (tecelagem etc.), desenvolvimento de cidades e grandes unidades políticas (tributação)  Isolados do resto da humanidade  Como se desenvolvimento de dois grupos (não homogêneos):  Um maior (Ásia, África e Europa) e um menor (América)

Conseqüências do isolamento Divisão por longo tempo de grupos não homogêneos maiores e menores,  diferenças aparecem, duas aparentemente são marcantes e importantes para toda a América latina quando do contato dos dois grupos  epidemiologicamente – desenvolvimento de cepas de doenças  Problemas com contato – grande mortalidade  tecnologicamente - desenvolvimento de inovações tecnológicas  domínio ferro/aço

De volta as tipologias... Pode-se diferenciar os povos (pré-existente) da América Latina por grau de sedentarismo: A. Sedentários B. Semi-sedentários C. Não sedentários  Debates se são graus de desenvolvimento ou (mais moderno) graus de adaptação às condições ambientais dadas as tecnologias existentes  Separação talvez forçado, na prática deve existir uma espécie de continuum,  ninguém totalmente sedentário ou totalmente nômade  Relação dos europeus (colonização) diferente dependendo da forma como esta estruturado o outro

A. Sedentários – Agricultura intensiva permanente (milho, cacau x batata) – Densidade populacional – Cidades e aldeias estáveis - especialização – Importância de unidades provinciais e mecanismos de tributação (trabalho compulsório) Imperiais x não imperiais

B. Semi-sedentários – Agricultura e aldeamento, mas mudanças no decorrer de alguns anos – roçado, queimada - mandioca – Caça importante – “Impostos” podem até existir mas não bem institucionalizados – Especialização e hierarquização menor, “coesão provincial” baixa

C. Não sedentários – Não chegam a ser nômades no sentido pré histórico da palavra, dado que existe a concepção de território – Dentro deste território migração com base em ciclo sazonal de colheita e caça – Sem agricultura, acampamentos ao invés de aldeias, organizados em bandos