Da Ideia de Universidade à Universidade de Ideias

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Da Ideia de Universidade à Universidade de Ideias
Transcrição da apresentação:

Da Ideia de Universidade à Universidade de Ideias Boaventura de Sousa Santos

Situação da Universidade A relativa perenidade de objetivos da universidade foi abalada na década de 1960 Três crises Hegemonia Legitimidade Institucional

Crise de Hegemonia “Há uma crise de hegemonia sempre que uma dada condição social deixa de ser considerada necessária, única e exclusiva.” A universidade perde a capacidade de desempenhar as funções que lhe são atribuídas e os grupos sociais mais atingidos buscam meios alternativos para atender aos seus objetivos

Crise de Hegemonia Funções tradicionais da Universidade (Karl Jaspers): Investigação Centro de cultura (âmbito da verdade é muito maior que o da ciência) Ensino

Crise de Hegemonia Novas funções da Universidade: Fornecer mão-de-obra qualificada (credenciamento para empregos de alto nível) Fortalecimento da economia Oportunidade de mobilidade social Prestação de serviços a comunidade local Preparação de lideranças sociais Fornecer paradigmas para políticas nacionais

Crise de Hegemonia Existem contradições entre as funções Investigação x ensino Investigação x fortalecimento da economia Credenciamento x mobilidade social Estas contradições criam tensões nas relações da universidade com o Estado e com a sociedade e também dentro da universidade A autonomia da universidade pública (científica e pedagógica) é posta em questão por sua dependência financeira em relação ao Estado e, recentemente, às empresas capitalistas O controle sobre essas contradições não é trivial e sua superação implicaria mudanças na ordem social

Crise de Hegemonia Alta cultura – cultura popular Educação – trabalho cultura sujeito x cultura objeto Nova cultura sujeito (cultura de massa) Educação – trabalho Teoria – prática Busca da verdade x intervenção Universidade e a produtividade Busca do desenvolvimento tecnológico Universidade e a comunidade

Crise de Legitimidade “Há uma crise de legitimidade sempre que uma dada condição social deixa de ser aceita por consenso” (p.190) Falência dos objetivos coletivamente assumidos Visibilidade do fato de que a educação superior e a alta cultura são prerrogativas das classes mais abastadas O conhecimento é produzido para atender aos interesses dos mais ricos

Crise de Legitimidade A universidade atua como instância de reprodução da sociedade de classes e ela mesma estrutura-se como uma sociedade de classes Excelência x democracia Universidade de elite x universidade de massas A massificação da educação superior não alterou significativamente os padrões de desigualdade social

Crise Institucional “Há uma crise institucional sempre que uma dada condição social estável e auto-sustentada deixa de poder garantir os pressupostos que asseguram sua reprodução.” (p.190) Importação de modelos administrativos de outros tipos de organização, principalmente do mundo da empresa capitalista Cortes orçamentários afetam as posições relativas das diferentes áreas do saber e desestruturam as relações de poder que estabilizavam a instituição

Crise Institucional Perda da autonomia universitária Problemas com a avaliação de desempenho Definição problemática do produto da universidade Quantitativismo das avaliações Grande parte do debate ocorre em torno da crise institucional. As crises de hegemonia e de legitimidade são menos visíveis e permanecem sem o devido tratamento teórico

Ciência Revolucionária Ciência Normal Novo Paradigma Paradigma Aceito pela Comunidade Disputa com o Paradigma Dominante Problema Corroboração do Paradigma Imaginação Paradigmática Proposição de novo Paradigma Ausência de Solução Testes Questionamento do Paradigma Anomalia Resolução do Problema Adaptado de Thomas Kuhn

Generalização Empírica Generalização Teórica Teoria Dedução Hipóteses Teste Observação Generalização Empírica Generalização Teórica Indução Dedução Adaptado de Popper

Ideias que fundamentam a reforma da educação superior do Banco Mundial Vivemos em uma sociedade da informação Economia baseada no conhecimento Para sobreviver, a universidade deve estar a serviço da sociedade da informação e da economia do conhecimento Necessidade de transformação do paradigma institucional e político-pedagógico das universidades públicas Substituição do atual paradigma institucional da universidade pública por um paradigma empresarial

“(...) A inculcação ideológica serve-se de análises sistematicamente enviesadas contra a educação pública para demonstrar que a educação é potencialmente uma mercadoria como qualquer outra e que a sua conversão em mercadoria educacional decorre da dupla constatação da superioridade do capitalismo, enquanto organizador de relações sociais, e da superioridade dos princípios da economia neoliberal para potenciar as potencialidades do capitalismo através da privatização, desregulação, mercadorização e globalização.” (SANTOS, 2004, p.30)

Para uma Universidade de Idéias As múltiplas crises da universidade são afloramentos da crise do paradigma da ciência moderna Questionamento da racionalidade cognitivo-instrumental (ciências da natureza) A universidade não pode refugiar-se na ciência normal, sob pena de se tornar uma instituição completamente anacrônica (Thomas Kuhn – ciência normal e ciência revolucionária)

Para uma Universidade de Idéias Revalorização de saberes não científicos e da relação da ciência com estes saberes por meio de processos de extensão universitária Democratização profunda da universidade Na fase de transição paradigmática, o grau de dissidência mede o grau de inovação Os dirigentes universitários não devem liderar apenas inércias Combater o mito de que a universidade não pode ser reformada

Para uma Universidade de Idéias Deve haver um equilíbrio entre os desenvolvimentos das ciências naturais e sociais. No curto prazo, isso implica em políticas para fortalecer as ciências sociais e humanas (p.227) Enfrentamento dos conflitos entre ciências humanas e da natureza Reestruturação das atividades de extensão e mudança o significado da extensão (comunicação ou extensão) Monocultura do saber x ecologia dos saberes

Dados Anuário Estatístico da USP Ano 1989 1998 2002 2005 2012 2013 Cursos 126 130 189 214 249 289 (129%) Alunos Graduação 31.897 33.934 42.554 48.530 58.303 58.204 (82,4%) Cursos de Mestrado 230 257 267 289 332 347 (50,8%) Cursos de Doutorado 252 274 309 318 (68,2%) Cursos PG 419 487 519 563 641 665 (58,7%) Alunos PG 12.914 21.009 23.709 25.007 28.498 29.610 (129,2%) Total Alunos 44.811 54.943 66.263 73.537 86.801 87.814 (95,9%) Docentes 5.626 4.705 4.884 5.222 5.860 6.009 (6,8%) Aluno/Docente 7,96 11,67 13,57 14,08 14,81 14,61 (83,5%) Al PG/Docente 2,3 4,47 4,85 4,79 4,86 4,93 (114,3%) Funcionários 17.735 14.659 14.952 15.295 16.839 17.448 (1,6%) Aluno/Func. 2,53 3,74 4,43 4,81 5,15 5,03 (98,8%)

Questões Por que a universidade perde a centralidade na produção de alta cultura e conhecimento científico avançado? O que isto significa? Por que a cultura de massa ameaça a universidade? O que é cultura sujeito? E cultura objeto? O que é uma crise paradigmática? Quais os riscos para a pesquisa científica implícito nas relações entre universidade e empresas? Comunidade científica e industrial tratam diferentemente a inovação tecnológica e o compartilhamento de informações, explique?

Questões Diante do exposto por Boaventura de Sousa Santos, como entender a responsabilidade social da universidade? Por que a importação de modelos organizacionais externos afeta a autonomia da universidade? De onde vêm estes modelos? O que é legitimidade da universidade? Por que esta legitimidade está em crise? Como superar as crises da universidade?