Cardiologia e Espiritualidade

Slides:



Advertisements
Apresentações semelhantes
CONCEITOS E OBJETIVOS DA EPIDEMIOLOGIA
Advertisements

Instituto Oncoguia Nossa missão: Transformar a realidade do câncer no Brasil por meio de informação de qualidade e ações de promoção.
ESPIRITUALIDADE NA PRÁTICA CLÍNICA DO PACIENTE GRAVE: IMPLICAÇÕES PARA O PACIENTE CIRÚRGICO Fernando Lucchese Hospital São Francisco – Santa Casa de Misericórdia.
Atividade física e Obesidade. A obesidade é uma doença caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal, associada a problemas de saúde.
DIABETES MELLITUS – TIPO II Jailda Vasconcelos Juan Borges Poliana Zanoni Shamara Taylor.
O que são doenças não transmissíveis?
SAE Sistematização da Assistência de Enfermagem para feridas.
Método Lógico de Redação Científica
Especializando: JOSÉ ALBERTO VELOSO Orientador: Giancarlo Bacchieri
Introdução ao Comportamento Organizacional
Qual Meta Glicêmica Seguir?
Trabalho de Conclusão de Curso Guillermo Doimeadios Garcia
Bioestatística e Epidemiologia Aula 3: Medidas de Tendência Central
Holean Francisco Rodrigues Costa
Implante de stent no canal arterial como paliaçao inicial em cardiopatias canal-dependentes: Resultado inicial e seguimento Juliana Neves, Fabricio Pereira,
Qualidade de Vida no Trabalho
RESULTADOS FUNDAMENTOS OBJETIVOS MÉTODOS CONCLUSÃO
Orientadora: Daniela Nunes
Epidemiologia Analítica
CONDIÇÕES DE SEGURANÇA NO TRABALHO Condições de Segurança no Trabalho
Dania Rojas Gonzaléz Orientadora: Mabel Miluska Sucas Salas
Orientadora (T5G8): Daniele Freitas Brasil
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Medicina Departamento de Medicina Social Curso de Especialização em Saúde da Família - UnaSUS   Melhoria da.
MARIA LORENA ALVAREZ MARTINEZ ORIENTADORA: ANA PAULA SOARES
Especialização em Saúde da Família
METODOLOGIA DE PESQUISA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS -. Universidade Aberta do SUS - UNASUS
Artesanato Nossa Senhora Aparecida
Pelotas 2015 Universidade Aberta do SUS – UNASUS Universidade de Pelotas Especialização em Federal Saúde da Família.
Determinantes Sociais de Saúde
Estudo de Coorte.
Interventions for promoting the initiation of breastfeeding (Review)
ADOLESCÊNCIA & Qualidade de vida
Sociedade Escola Médica.
PPGT Aluno: Arthur Neiva Fernandes Disciplina: Prática Científica
Metodologia Científica
Dalmo Antônio R. Moreira
Orientadora Fabiana Vargas Ferreira
Alex Sandro Rolland de Souza
Aluno: Yvieska Acosta Romero Orientadora: Ana Paula Belini
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E EQUILÍBRIO DO PESO
Aluno: Isleydi Parrado Garcia Orientadora: Cristiane Diniz Félix
INCIDÊNCIA E PREVALÊNCIA.
Orientadora: Danieli B. da Silva
Aterotrombose: uma doença sistêmica
Tipos de estudos epidemiológicos
Indicadores epidemiológicos e sua evolução histórica no Brasil
PERFIL LIPÍDICO OU LIPIDOGRAMA
História Natural da Doença
Métodos e Técnicas de Exploração Diagnóstica
Universidade Aberta do SUS - UNASUS Universidade Federal de Pelotas Especialização.
Orientadora (T9G4): Fabiana Vargas Ferreira
UNIVERSIDADE ABERTA DO SUS
TRIAGEM PSICOLÓGICA.
ATIVIDADE FÍSICA, SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA
Projeto Técnico Científico Interdisciplinar
ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE DA FAMÍLIA TURMA 1 – JULHO 2011
UTI PEDIÁTRICA DO HRAS/HMIB/SES/DF
BENEFÍCIOS DA ATIVIDADE FÍSICA
Atenção a saúde do Hipertenso
ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE
Secretaria do Estado de Saúde do Distrito Federal Hospital Regional da Asa Sul ATENDIMENTO DO PACIENTE COM SIBILÂNCIA NA EMERGÊNCIA DO HOSPITAL REGIONAL.
Kaio Danilo Leite da Silva Rocha Orientador: Ailton Brant
UNIVERSIDADE ABERTA DO SUS
Modalidade a Distância
Diabetes Mellitus Juliana Della Rovere Seabra Enfermeira - STS
A Pressão venosa central prediz a responsividade ao fluido?
Uso de álcool e drogas no ambiente de trabalho
Estudos Descritos: Variáveis relativas às pessoas
Transcrição da apresentação:

Cardiologia e Espiritualidade Dr. Fernando C. R. Figuinha Médico Cardiologista pelo InCor-HC-FMUSP. Presidente da regional de Sorocaba da Sociedade de Cardiologia de São Paulo (SOCESP)

RELAÇÃO DE RELIGIOSIDADE E ESPIRITUALIDADE E: DEFINIÇÕES RELAÇÃO DE RELIGIOSIDADE E ESPIRITUALIDADE E: FATORES DE RISCO FUNÇÃO CARDIOVASCULAR E MARCADORES INFLAMATÓRIOS DOENÇAS CARDIOVASCULARES DESFECHOS CONCLUSÃO

RELAÇÃO DE RELIGIOSIDADE E ESPIRITUALIDADE E: DEFINIÇÕES RELAÇÃO DE RELIGIOSIDADE E ESPIRITUALIDADE E: FATORES DE RISCO FUNÇÃO CARDIOVASCULAR E MARCADORES INFLAMATÓRIOS DOENÇAS CARDIOVASCULARES DESFECHOS CONCLUSÃO

DEFINIÇÕES RELIGIÃO: ESPIRITUALIDADE: Crenças, práticas e rituais relacionados ao transcendente, que pode ser Deus ou outros (Allah, Buda etc..) ESPIRITUALIDADE: Conexão com o sagrado, com o transcendente. Pode estar ligada à uma religião organizada, mas começa antes dela (a pessoa pode ser espiritualizada e não ter uma religião definida). Definição controversa.

DEFINIÇÕES COPING RELIGIOSO: Uso de crenças ou práticas religiosas como uma maneira de se adaptar a desafios físicos, psicológicos e sociais causados pela doença médica. Positivo / Negativo.

DEFINIÇÕES Nos trabalhos científicos, Espiritualidade foi usada de diversas formas: Medida de crença de prática religiosa Medida de estados psicológicos positivos (sentido, paz interior, harmonia, conexão social) Medida de traços positivos de caráter (saber perdoar, altruísmo, ter padrões morais) Consideraremos então nas pesquisas científicas o termo Religiosidade / Espiritualidade (R/E).

RELAÇÃO DE RELIGIOSIDADE E ESPIRITUALIDADE E: DEFINIÇÕES RELAÇÃO DE RELIGIOSIDADE E ESPIRITUALIDADE E: FATORES DE RISCO FUNÇÃO CARDIOVASCULAR E MARCADORES INFLAMATÓRIOS DOENÇAS CARDIOVASCULARES DESFECHOS CONCLUSÃO

FATORES DE RISCO Tabagismo Consumo de álcool em excesso Sedentarismo Hipertensão arterial Diabetes Mellitus Dislipidemia Hábitos alimentares inadequados Estresse psico-social (depressão, ansiedade, traços pessoais como hostilidade)

TABAGISMO No Brasil, 18% da população é tabagista. Contribui com 45% dos óbitos por doença cardiovascular. Em uma revisão de 137 estudos avaliando R/E e tabagismo, 90% dos estudos mostraram uma relação inversa – quanto mais religioso, menos se fuma. Lucchese FA, Koenig HG. Rev. Bras Cir Cardiovasc 2013;28(1):103-128.

ETILISMO E USO DE DROGAS O álcool e uso de drogas pode predispor ao desenvolvimento de miocardiopatias, arritmias, hipertensão e AVC (acidente vascular cerebral). Em uma revisão de 185 estudos avaliando R/E e uso de drogas, 84% dos estudos mostraram uma relação inversa. Lucchese FA, Koenig HG. Rev. Bras Cir Cardiovasc 2013;28(1):103-128.

OUTROS FATORES DE RISCO SEDENTARISMO: 68% dos estudos mostrou relação positiva. HÁBITOS ALIMENTARES RUINS: 70% mostrou melhores hábitos alimentares. OBESIDADE: 39% mostrou que R/E está associado com maior peso; somente 19% com menor peso. Lucchese FA, Koenig HG. Rev. Bras Cir Cardiovasc 2013;28(1):103-128.

OUTROS FATORES DE RISCO DISLIPIDEMIA: Redução de 10% no LDL diminui o risco de infarto em cerca de 10%. 56% dos estudos mostrou relação positiva. DIABETES MELLITUS: Não se mostrou relação clara (36% mostrou menos DM e 29% mostrou mais). Lucchese FA, Koenig HG. Rev. Bras Cir Cardiovasc 2013;28(1):103-128.

OUTROS FATORES DE RISCO ESTRESSE: 61% mostrou menores níveis de estresse psicológico. SUPORTE SOCIAL: 82% dos estudos mostrou maior suporte social. Lucchese FA, Koenig HG. Rev. Bras Cir Cardiovasc 2013;28(1):103-128.

OUTROS FATORES DE RISCO DEPRESSÃO: 61% dos estudos mostrou menos depressão. ANSIEDADE: 49% mostrou menos ansiedade. Lucchese FA, Koenig HG. Rev. Bras Cir Cardiovasc 2013;28(1):103-128.

RELAÇÃO DE RELIGIOSIDADE E ESPIRITUALIDADE E: DEFINIÇÕES RELAÇÃO DE RELIGIOSIDADE E ESPIRITUALIDADE E: FATORES DE RISCO FUNÇÃO CARDIOVASCULAR E MARCADORES INFLAMATÓRIOS DOENÇAS CARDIOVASCULARES DESFECHOS CONCLUSÃO

FUNÇÃO CARDIOVASCULAR E MARCADORES INFLAMATÓRIOS Menor reatividade vascular e menor variabilidade da frequência cardíaca na maioria dos estudos relacionados à R/E. Marcadores inflamatórios: A maioria dos estudos dosando interleucina 6 e proteína-C-reativa (PCR) mostrou redução desses marcadores inflamatório. 3 estudos testando interferon gama mostraram que intervenções relacionadas à R/E também reduzem seus níveis.

RELAÇÃO DE RELIGIOSIDADE E ESPIRITUALIDADE E: DEFINIÇÕES RELAÇÃO DE RELIGIOSIDADE E ESPIRITUALIDADE E: FATORES DE RISCO FUNÇÃO CARDIOVASCULAR E MARCADORES INFLAMATÓRIOS DOENÇAS CARDIOVASCULARES DESFECHOS CONCLUSÃO

DOENÇA CORONARIANA 63% dos estudos mostraram relação inversa entre R/E e doença coronariana. O maior estudo foi o Israel Ischemic Study, que seguiu por 23 anos 10.059 homens de meia idade. Relação religião ortodoxa e morte por infarto. Religião ortodoxa: ser religioso, seguir educação ortodoxa, frequência na sinagoga. O grupo mais religioso teve 20% menos morte por infarto do que o grupo menos religioso (dados controlados para idade, PAS, colesterol, tabagismo, DM, IMC e doença coronariana no início do estudo). Goldbourt U, et al. Cardiology. 1993;82(2-3):100-21.

HIPERTENSÃO ARTERIAL 63 estudos foram avaliados. 57% mostrou menor PA naqueles mais religiosos. 11% mostrou maior PA. Como em algumas populações maior religiosidade pode estar associado com maior estresse, ansiedade e culpa, os resultados dependem muito das característica da R/E local. Lucchese FA, Koenig HG. Rev. Bras Cir Cardiovasc 2013;28(1):103-128.

Koenig "...o padrão dos resultados favoreceu associações positivas entre variáveis religiosas e pressão arterial em quase todas as análises - exceto para assistir a canais de TV religiosos, em que as associações foram reversas." Cap 7, pg 98, 1ª edicao livro - Medicina, Religião e Saúde – Harold Koenig.

DOENÇA CEREBRO-VASCULAR Acidente Vascular Cerebral (AVC): 44% dos estudos mostraram menor risco de AVC em pessoas mais religiosas. Demência: 57% dos estudos mostram relação positiva entre R/E e função cognitiva. Lucchese FA, Koenig HG. Rev. Bras Cir Cardiovasc 2013;28(1):103-128.

RELAÇÃO DE RELIGIOSIDADE E ESPIRITUALIDADE E: DEFINIÇÕES RELAÇÃO DE RELIGIOSIDADE E ESPIRITUALIDADE E: FATORES DE RISCO FUNÇÃO CARDIOVASCULAR E MARCADORES INFLAMATÓRIOS DOENÇAS CARDIOVASCULARES DESFECHOS CONCLUSÃO

MORTALIDADE EM IC Paz espiritual prediz mortalidade em 5 anos em pacientes com insuficiência cardíaca 191 pacientes com FE < 45% (insuficiência cardíaca sistólica) Maioria entre CF II e III Idade média 45 anos; sem psicose ou comprometimento cognitivo Maioria masculino, caucasiano, escolaridade 2º grau ou universitário Health Psychology 2016 35(3):203-210.

MORTALIDADE EM IC Foi avaliado: Estilo de vida (escala de adesão de Sherbourne (05 pontos - adaptada) Escala de depressão Instrumentos de apoio social Comparecimento ao serviço religioso (BMMRS) Paz interior (1 item da BMMRS) Health Psychology 2016 35(3):203-210.

MORTALIDADE EM IC Resultados: Conclusão: Frequência religiosa não se relacionou com sobrevida e mortalidade, MAS Espiritualidade se correlacionou com menor mortalidade. Conclusão: Claramente, pesquisas futuras devem examinar não só as medidas padrão da religiosidade (frequência ao serviço, bem como as práticas religiosas privadas, tais como oração), mas os aspectos mais experienciais da espiritualidade, como avaliados no presente estudo. Health Psychology 2016 35(3):203-210.

ESPIRITUALIDADE E ADESÃO AO TRATAMENTO Estudo brasileiro com 130 pacientes (60 +- 13 anos; 67% masculinos) Diferença importante no nível social do estudo anterior Resultados muito semelhantes, em pacientes com IC Escore de adesão de 38,5% dos pacientes Depressão não foi correlacionados à adesão isoladamente Religiosidade não foi correlacionada à adesão isoladamente (avaliado pelo Índice de Religiosidade de Duke – DUREL) Alvarez JS et al. Arq Bras Cardiol. 2016; 106(6):491-501.

ESPIRITUALIDADE E ADESÃO AO TRATAMENTO Já a combinação de espiritualidade, religiosidade e crenças pessoais(avaliado pelo instrumento WHOQOL-SRPB – Spirituality, Religiosity and Personal Beliefs) mostrou-se um preditor independente de adesão quando ajustado as caracteriscas demográficas, clínicas e instrumentos psicossociais. Alvarez JS et al. Arq Bras Cardiol. 2016; 106(6):491-501.

ESPIRITUALIDADE E ADESÃO AO TRATAMENTO Esses dados sugerem que abordar adequadamente esses aspectos no cuidado com o paciente pode auxiliar a melhorar o padrão de adesão no complexo tratamento da IC. Alvarez JS et al. Arq Bras Cardiol. 2016; 106(6):491-501.

RELAÇÃO DE RELIGIOSIDADE E ESPIRITUALIDADE E: DEFINIÇÕES RELAÇÃO DE RELIGIOSIDADE E ESPIRITUALIDADE E: FATORES DE RISCO FUNÇÃO CARDIOVASCULAR E MARCADORES INFLAMATÓRIOS DOENÇAS CARDIOVASCULARES DESFECHOS CONCLUSÃO

Harold Koenig Religiosidade e Espiritualidade Menor consumo de tabaco Menor consumo de álcool Aumento da atividade física Melhor interatividade com o ambiente Maior longevidade (46/63 estudos) Maior bem estar, menor estresse psicossocial (46/75) Menor taxas de depressão e recuperação mais rápida da depressão Menor comportamento de aversão diante do estresse

IMPLICAÇÕES PRÁTICAS Apesar não termos evidências científicas definitivas no assunto, há um grande volume de trabalhos na literatura que sugere que devemos levar em conta a espiritualidade no cuidado do paciente.

IMPLICAÇÕES PRÁTICAS Tirar uma história espiritual Tirar uma história breve (screening), que geralmente não toma mais de 2-3 minutos, perguntando 1. Denominação religiosa 2. Crenças de R/E que podem levar a coping 3. Crenças de R/E que podem influenciar no tratamento médico 4. Participação na comunidade de fé 5. Outras necessidades espirituais Historia espiritual mostra para o paciente que o medico esta aberto nesse assunto. Melhora a relação médico paciente. Koenig HG. Taking a spiritual history. J Am Med Assoc. 2004;291:2881.

IMPLICAÇÕES PRÁTICAS Tirar uma história espiritual Importante! Sempre explicar para o paciente antes o porque dessas perguntas. A razão dessas perguntas não tem nenhuma relação com a gravidade da sua condição cardíaca. A intenção é somente dar um tratamento que veja a pessoa por completo (mente, corpo, espírito). Do contrário, pode passar uma impressão errada.

IMPLICAÇÕES PRÁTICAS Valor e suporte Comunicar o paciente que você (médico / profissional da saúde) dá valor para a crença dele e a respeita.

IMPLICAÇÕES PRÁTICAS Serviço de capelania / Serviço religioso Se for identificado qualquer necessidade espiritual, encaminhar o paciente para o capelão ou para o serviço religioso do paciente. Ex. Deus está me punindo, não liga pra mim – médico não é treinado para tratar esse assunto

Obrigado!