Modernismo brasileiro 3ª fase ou Pós-Modernismo

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Transcrição da apresentação:

Modernismo brasileiro 3ª fase ou Pós-Modernismo 1945 – 1960/70

MOMENTO HISTÓRICO 1945 - um marco na história da humanidade: Fim da Segunda Guerra Mundial e o início da era atômica, com as explosões de Hiroshima e Nagasaki. Nova luta de poder no mundo EUA X URSS: capitalistas X socialistas – Guerra Fria Criação da Organização das Nações Unidas. Publicação da Declaração dos Direitos do Homem.

Momento histórico brasileiro Fim do Estado Novo (1945) Retorno de Getúlio Vargas à Presidência (1951-1954) Mandato de Juscelino Kubitschek (1956-1961) Fundação de Brasília, nova capital politica do país (1960) Jânio Quadros na Presidência (1961) João Goulart na Presidência (1961-março de 1964) Golpes militares - ditadura

Características literárias da terceira geração Modernista Brasileira Em geral, os autores da época pregavam um retrocesso em relação às conquistas de 1922: Volta ao passado: revalorização da rima, da métrica, do vocabulário erudito e das referências mitológicas. Passadismo, academicismo. Menor posicionamento político. Condenavam o coloquialismo e as liberdades estéticas. São sérios e sóbrios.

Mas os melhores autores... Tinham como características: A produção introspectiva. Sondagens do subconsciente . Análise psicológica. O regionalismo universal. A escrita aproxima-se da poesia, com grande lirismo, usando recursos típicos, como rimas, preocupação rítmica, uso de aliterações, criação de vocábulos, entre outros. As narrativas são interiorizadas, marcadas pelo fluxo de consciência das personagens e sua fusão com o discurso do narrador, em uso contínuo do discurso indireto livre. Outras vezes, encontramos uma narrativa confessional, em primeira pessoa, na qual há praticamente uma relação emotiva com o leitor.

Autores Na prosa: Guimarães Rosa Clarice Lispector Na poesia: João Cabral de Melo Neto

Guimarães rosa Nascimento: 27 de junho de 1908, Cordisburgo, Minas Gerais Falecimento: 19 de novembro de 1967, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro João Guimarães Rosa nasceu em Cordisburgo (MG) a 27 de junho de 1908 e era o primeiro dos seis filhos de D. Francisca (Chiquitinha) Guimarães Rosa e de Florduardo Pinto Rosa, mais conhecido por "seu Fulô" comerciante, juiz-de-paz, caçador de onças e contador de estórias. Falo: português, alemão, francês, inglês, espanhol, italiano, esperanto, um pouco de russo; leio: sueco, holandês, latim e grego (mas com o dicionário agarrado); entendo alguns dialetos alemães; estudei a gramática: do húngaro, do árabe, do sânscrito, do lituânio, do polonês, do tupi, do hebraico, do japonês, do tcheco, do finlandês, do dinamarquês; bisbilhotei um pouco a respeito de outras. Mas tudo mal. E acho que estudar o espírito e o mecanismo de outras línguas ajuda muito à compreensão mais profunda do idioma nacional. Principalmente, porém, estudando-se por divertimento, gosto e distração. Em 1925, matricula-se na então denominada Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais, com apenas 16 anos. Segundo um colega de turma, Dr. Ismael de Faria, no velório de um estudante vitimado pela febre amarela, em 1926, teria Guimarães Rosa dito a famosa frase: "As pessoas não morrem, ficam encantadas", que seria repetida 41 anos depois por ocasião de sua posse na Academia Brasileira de Letras.

Em 1938, Guimarães Rosa é nomeado Cônsul Adjunto em Hamburgo, e segue para a Europa; lá fica conhecendo Aracy Moebius de Carvalho (Ara), que viria a ser sua segunda mulher. Durante a guerra, por várias vezes escapou da morte; ao voltar para casa, uma noite, só encontrou escombros. A superstição e o misticismo acompanhariam o escritor por toda a vida. Ele acreditava na força da lua, respeitava curandeiros, feiticeiros, a umbanda, a quimbanda e o kardecismo. Dizia que pessoas, casas e cidades possuíam fluidos positivos e negativos, que influíam nas emoções, nos sentimentos e na saúde de seres humanos e animais. Aconselhava os filhos a terem cautela e a fugirem de qualquer pessoa ou lugar que lhes causasse algum tipo de mal estar. Embora consciente dos perigos que enfrentava, protegeu e facilitou a fuga de judeus perseguidos pelo Nazismo; nessa empresa, contou com a ajuda da mulher, D. Aracy. Em reconhecimento a essa atitude, o diplomata e sua mulher foram homenageados em Israel, em abril de 1985, com a mais alta distinção que os judeus prestam a estrangeiros: o nome do casal foi dado a um bosque que fica ao longo das encostas que dão acesso a Jerusalém. Foi a forma encontrada pelo governo israelense para expressar sua gratidão àqueles que se arriscaram para salvar judeus perseguidos pelo Nazismo por ocasião da 2ª Guerra Mundial.

BIBLIOGRAFIA:  - Magma (1936), poemas. Não chegou a publicá-los.  - Sagarana (1946), contos e novelas regionalistas. Livro de estreia. - Com o vaqueiro Mariano (1947)  - Corpo de Baile (1956), novelas. (Atualmente publicado em três partes:     - Manuelzão e Miguilim,      - No Urubuquaquá, no Pinhém e      - Noites do sertão.)  - Grande Sertão: Veredas (1956), romance.  - Primeiras estórias (1962), contos.  - Tutameia:Terceiras estórias (1967), contos.  - Estas estórias (1969), contos. Obra póstuma.  - Ave, palavra (1970) diversos. Obra póstuma. Colaborações em jornais e revistas: - Colaborou no suplemento "Letras e Artes" de A Manhã (1953-54), em O Globo (1961) e na revista Pulso (1965-66

Guimarães rosa- estilo Neologismos – criação de palavras Ex: “amormeuzinho”, “ bis-viu”, “ jajão”, “ maismente”, entre outras Arcaísmos. Entre outros, anotemos aqui alguns exemplos: riba (cf. por riba do monte), banda (em lugar de lado), vigiar (em vez de olhar), quentar (em vez de esquentar) e uma enfiada de verbos com prótese de um a, outrora bastante em voga em nossa língua e que ainda existe na fala do nosso homem do interior: agarantir, alembrar, alumiar, amostrar, arreconhecer, arrenegar, arresolver, arresponder, arresistir, etc. Musicalidade. Ex. :“As ancas balançam, e as vagas de dorsos, das vacas e touros, batendo com as caudas, mugindo no meio, na massa embolada, com atritos de couros, estralos de guampas, estrondos e baques, e o berro queixoso, do gado junqueira, de chifres imensos, com muita tristeza, saudade dos campos, querência dos pastos de lá do sertão...” ( Sagarana pág. 23). Hibridismo – palavras derivadas de línguas diferentes. Ex.: Sagarana – saga + rana= origem germânica + tupi= lenda- espécie Provérbios e fábulas. Ex.: “Quem não trabuca não manduca”

Guimarães rosa Regionalismo universal – temas como a morte, a existência de Deus ou do diabo, o amor, a vingança, entre outros Região retratada – sertão de Minas Gerais, que simboliza o mundo.

Trecho de Grande sertão:veredas NONADA. TIROS QUE O SENHOR ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. Alvejei mira em árvores no quintal, no baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia isso faço, gosto; desde mal em minha mocidade. (...) De primeiro, eu fazia e mexia, e pensar não pensava. Não possuía os prazos. Vivi puxando difícil de dificel, peixe vivo no moquém: quem mói no asp’ro, não fantaseia. Mas, agora, feita a folga que me vem, e sem pequenos dessossegos, estou de range rede. E me inventei neste gosto, de especular ideia. O diabo existe e não existe? Dou o dito. Abrenúncio. Essas melancolias. O senhor vê: existe cachoeira; e pois? Mas cachoeira é barranco de chão, e água se caindo por ele, retombando; o senhor consome essa água, ou desfaz o barranco, sobra cachoeira alguma? Viver é negócio muito perigoso...

Clarice lispector Nasceu em Tchetchelnik, Ucrânia, no dia 10 de dezembro de 1920, veio para o Brasil em março de 1922, passou a infância na cidade do Recife e em 1937 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde se formou em Direito. Estreou na literatura ainda muito jovem com o romance "Perto do Coração Selvagem" (1943), que teve calorosa acolhida da crítica e recebeu o Prêmio Graça Aranha.  Em 1944, recém-casada com um diplomata, viajou para Nápoles, onde serviu num hospital durante os últimos meses da Segunda Guerra. Depois de uma longa estada na Suíça e Estados Unidos, voltou a morar no Rio de Janeiro.  Começou a colaborar na imprensa em 1942 e, ao longo de toda a vida, nunca se desvinculou totalmente do jornalismo. Trabalhou na Agência Nacional e nos jornais A Noite e Diário da Noite. Foi colunista do Correio da Manhã e realizou diversas entrevistas para a revista Manchete. A autora foi cronista do Jornal do Brasil. Produzidos entre 1967 e 1973, esses textos estão reunidos no volume "A Descoberta do Mundo".  Entre suas obras mais importantes estão a reunião de contos em "A Legião Estrangeira" (1964), "Laços de Família" (1972), os romances "A Paixão Segundo G.H. (1964) e "A Hora da Estrela" (1977). Clarice Lispector faleceu no Rio de Janeiro no dia 9 de dezembro de 1977.

Clarice Lispector - características Introspecção – sondagem psicológica Predominam a filosofia e a psicologia Universo feminino- predominante Personagens-ilha Fluxo de consciência Epifania – momento de revelação que ocorre normalmente nos seguintes passos: personagem em comportamento cotidiano; acontece algo que incomoda a personagem; o clima de tensão aumenta; ocorre a epifania – a personagem se descobre

Clarice lispector - imagens

Clarice lispector- algumas obras

João cabral de melo neto Nasceu na cidade de Recife - PE, em 1920,- morreu no RJ em 1999 . Primo, pelo lado paterno, de Manuel Bandeira e, pelo lado materno, de Gilberto Freyre.  Passa a infância em engenhos de açúcar.  Lia cordel para os funcionários. Era um amante do futebol, tendo sido campeão juvenil pelo Santa Cruz Futebol Clube em 1935. Em 1940 viaja com a família para o Rio de Janeiro, onde conhece Murilo Mendes. Esse o apresenta a Carlos Drummond de Andrade e ao círculo de intelectuais que se reunia no consultório de Jorge de Lima.  1942 marca a publicação de seu primeiro livro, Pedra do Sono. Surrealismo Faz concurso para a carreira diplomática, para a qual é nomeado em dezembro. Começa a trabalhar em 1946, no Departamento Cultural do Itamaraty, depois no Departamento Político e, posteriormente, na comissão de Organismos Internacionais. É removido, em 1947, para o Consulado Geral em Barcelona, como vice-cônsul. Adquire uma pequena tipografia artesanal, com a qual publica livros de poetas brasileiros e espanhóis. Era atormentado por uma dor de cabeça que não o deixava de forma alguma. Ao saber, anos atrás, que sofria de uma doença degenerativa incurável, que faria sua visão desaparecer aos poucos, o poeta anunciou que ia parar de escrever. Já em 1990, com a finalidade de ajudá-lo a vencer os males físicos e a depressão, Marly, sua segunda esposa, passa a escrever alguns textos tidos como de autoria do biografado.

João cabral de melo neto – características literárias Conhecido como “ Poeta-engenheiro”. Poesia de rigor formal, construindo uma expressão poética mais disciplinada. Poesia substantiva e a precisão dos vocábulos. Poesia de caráter objetivo numa linguagem sem sentimentalismo e rompendo com a definição de “poesia profunda” – antilirismo. Para o poeta, “a poesia não é fruto de inspiração em razão do sentimento”, mas de transpiração: “fruto do trabalho paciente e lúcido do poeta”. Economia de palavras – ( falar= catar feijão ) Poesia geometrizada e com precisão vocabular.  Ele e Graciliano Ramos possuem o mesmo grau ético e artístico, um na poesia, o outro na prosa, que objetiva com precisão uma prática poética comum: deram à paisagem nordestina, com suas diferenças sociais, uma das dimensões estéticas mais fortes, cruéis e indiscutíveis que já se conheceu.

Características e temas Sua obra apresenta duas linhas-mestras: a metapoética e a participante. A linha metapoética abrange os poemas de investigação do próprio fazer poético. E a participante é aquela que tem como tema o Nordeste, com todos os problemas voltados para a questão social, tais como a miséria, a indigência, a fome, entre outros. Entre seus temas, encontramos: O nordeste ; A seca, a miséria, a opressão do nordestino; Comparações entre Espanha e o Nordeste; O futebol e Ademir da Guia; A própria poesia; Touradas; O rio Capibaribe

Catar Feijão  Catar feijão se limita com escrever:  Jogam-se os grãos na água do alguidar  E as palavras na da folha de papel;  e depois, joga-se fora o que boiar.  Certo, toda palavra boiará no papel,  água congelada, por chumbo seu verbo;  pois catar esse feijão, soprar nele,  e jogar fora o leve e oco, palha e eco.  Ora, nesse catar feijão entra um, risco  o de que entre os grão pesados entre  um grão imastigável, de quebrar dente.  Certo não, quando ao catar palavras:  a pedra dá à frase seu grão mais vivo:  obstrui a leitura fluviante, flutual,  açula a atenção, isca-a com risco.  João Cabral de Melo Neto

O Cão Sem Plumas Sabia dos caranguejos de lodo e ferrugem. A cidade é passada pelo rio como uma rua é passada por um cachorro; uma fruta por uma espada. O rio ora lembrava a língua mansa de um cão ora o ventre triste de um cão, ora o outro rio de aquoso pano sujo dos olhos de um cão. Aquele rio era como um cão sem plumas. Nada sabia da chuva azul, da fonte cor-de-rosa, da água do copo de água, da água de cântaro, dos peixes de água, da brisa na água. Sabia dos caranguejos de lodo e ferrugem. Sabia da lama como de uma mucosa. Devia saber dos povos. Sabia seguramente da mulher febril que habita as ostras. Aquele rio jamais se abre aos peixes, ao brilho, à inquietação de faca que há nos peixes. Jamais se abre em peixes.

Alguns Toureiros Eu vi Manolo Gonzáles e Pepe Luís, de Sevilha: precisão doce de flor, graciosa, porém precisa. Vi também Julio Aparício, de Madrid, como Parrita: ciência fácil de flor, espontânea, porém estrita. Vi Miguel Báez, Litri, dos confins da Andaluzia, que cultiva uma outra flor: angustiosa de explosiva. E também Antonio Ordóñez, que cultiva flor antiga: perfume de renda velha, de flor em livro dormida. Mas eu vi Manuel Rodríguez, Manolete, o mais deserto, o toureiro mais agudo, mais mineral e desperto, o de nervos de madeira, de punhos secos de fibra o da figura de lenha lenha seca de caatinga, o que melhor calculava o fluido aceiro da vida, o que com mais precisão roçava a morte em sua fímbria, o que à tragédia deu número, à vertigem, geometria decimais à emoção e ao susto, peso e medida.

ADEMIR DA GUIA Ademir impõe com seu jogo o ritmo do chumbo (e o peso), da lesma, da câmara lenta, do homem dentro do pesadelo. Ritmo líquido se infiltrando no adversário, grosso, de dentro, impondo-lhe o que ele deseja, mandando nele, apodrecendo-o Ritmo morno, de andar na areia, de água doente de alagados, entorpecendo e então atando o mais irrequieto adversário.

João Cabral - obras A Educação pela Pedra (1966) Museu de Tudo (1975) Pedra do Sono (1942) Os Três Mal-Amados (1943) O Engenheiro (1945) Psicologia da Composição com a Fábula de Anfion e Antiode (1947) O Cão sem Plumas (1950) O Rio ou Relação da Viagem que Faz o Capibaribe de Sua Nascente à Cidade do Recife(1954) Morte e Vida Severina (1955) Dois Parlamentos (1960) Quaderna (1960) A Educação pela Pedra (1966) Museu de Tudo (1975) A Escola das Facas (1980) Auto do Frade (1984) Agrestes (1985) Crime na Calle Relator (1987) Primeiros Poemas (1990) Sevilha Andando (1990) Tecendo a Manhã (1999)

João Cabral- imagens