ESTUDO DE NECESSIDADES DE INFORMAÇÃO PARA IMPLANTAÇÃO DE UMA BIBLIOTECA DIGITAL FABÍOLA MARIA PEREIRA BEZERRA Bibliotecária da Universidade Federal do Ceará (Brasil) – Aluna de Mestrado em Gestão da Informação da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto – Portugal – Bolseira do Programa Alban
APRESENTAÇÃO Estudos de necessidades de informação, como procedimento essencial para implantação de uma biblioteca digital, estando direccionada às bibliotecas universitárias; Método de pesquisa que melhor se ajusta no processo de identificação das necessidades de informação da comunidade académica a qual a biblioteca digital irá atender.
A IMPLANTAÇÃO DE BIBLIOTECAS DIGITAIS NAS UNIVERSIDADES Os estudos de utentes viabilizam efectivamente estes serviços, uma vez que através destes estudos é possível identificar as necessidades de informação. “[…] saber o que os indivíduos precisam em matéria de informação, ou então para saber se as necessidades de informação estão sendo satisfeitas de modo adequado”. (FIGUEIREDO, 1987). Outro factor relevante a considerar e que justifica um estudo de necessidades é a própria competência académica uma vez que as universidades geralmente actuam em muitas áreas do conhecimento e tem portanto utentes com diferentes necessidades de informação
IDENTIFICANDO NECESSIDADES DE INFORMAÇÃO Os estudiosos da área afirmam, que o utente é motivado no processo de busca de informação mediante uma dúvida inicial. Esta dúvida representa algo que o utente desconhece. A isto, os autores chamam de lacuna do conhecimento ou “gap”. “A necessidade de informação apesar de desconhecida pelo indivíduo, está subjacente à tarefa de resolução de um problema ou de um novo tópico que se precisa conhecer. Isto ocorre quando o usuário, diante de um problema, reconhece que o seu conhecimento não é suficiente para resolvê-lo, por isso precisa obter novas informações. Esta é a motivação necessária para desencadear o processo de busca de informação”. (ALVES, 2002).
NECESSIDADE DE INFORMAÇÃO ASSOCIADA A ACTIVIDADE DE TRABALHO DO USUÁRIO Disciplina/campo/área de interesse; A disponibilidade de facilidade; A posição hierárquica dos indivíduos; Os factores motivacionais da necessidade de informação; A necessidade de tomar uma decisão; A necessidade de procurar novas ideias; A necessidade de validar as ideias correcta; A necessidade de fazer contribuições profissionais; A necessidade de estabelecer prioridade para a criação”. (CRAWFORD apud PAULA, 2004)
NECESSIDADES DE INFORMAÇÃO NA COMUNIDADE ACADÉMICA As pesquisas desenvolvidas nas áreas de estudos de utentes apresentam como resultado que: Necessidades de informação e procedimento de busca de informação estão directamente relacionados com a área de actuação do pesquisador; Bastante diversificada variando de acordo com as disciplinas; Tomada de decisão e para a actualização de sua área específica; Existem grandes diferenças quanto a necessidades de informação dependendo da área do pesquisador.
“O professor-pesquisador precisa de cobertura total, universalidade, actualização constante e serviços de alerta; O professor com dedicação maior à docência prefere informação organizada metodologicamente e publicações do tipo revisões; Os estudantes, por sua vez, querem informações específicas, em poucas palavras, em sua língua materna, e intimamente relacionadas com as disciplinas que cursam”. (Leckie; Pettigrew; Sylvain, 1996)
PORTANTO No âmbito das bibliotecas universitárias, deve-se considerar: Formação de seus acervos nas áreas do conhecimento nas quais a universidade em questão disponibiliza seus cursos; Adequar os serviços e os recursos tecnológicos disponíveis; Planear suas actividades com base no perfil de sua clientela; Necessidade de informação do utilizador de qualquer serviço de informação muda com o tempo; portanto os serviços de informação devem ser flexíveis permitindo assim que os utentes adeqúem as buscas de informação às suas necessidades.
ESTUDO DE UTENTES “Devemos compreender as necessidades de nossa comunidade para entregar-lhe serviços de informação efectivos”. (ROMANOS DE TIRATEL, 2003) Tipos de Abordagens (FERREIRA, 1997). 1- Tradicional 2- Alternativa Na abordagem tradicional, estuda-se o utente segundo as suas atitudes: “Usa um ou mais sistemas de informação, um ou mais tipos de serviços de informação e materiais; É afectado por uma ou mais barreiras ao uso do sistema de informação; e Demonstra satisfação com os vários atributos do sistema”.
Abordagem tradicional O utente é visto como um “processador imperfeito da informação”, uma vez que nem todas as pessoas manifestam interesse pelas mesmas fontes de informação. Neste tipo de abordagem os questionamentos são: “Quanto um sistema de informação é utilizado Como um sistema de informação é utilizado Quais as dificuldades com o seu uso Qual a satisfação quanto ao seu uso”. (SILVA et al., 2002).
Na abordagem alternativa, os estudos são centrados no utente, sua forma de aprender, seus sentimentos, sua percepção de mundo, o utente é analisado sob uma perspectiva individual. Apresenta as seguintes características: “Observar o ser humano como sendo construtivo e activo; Considerar o indivíduo como sendo orientado situacionalmente; Visualizar holisticamente as experiências do indivíduo; Focalizar os aspectos cognitivos envolvidos; Analisar sistematicamente a individualidade das pessoas; e Empregar maior orientação qualitativa”. (DERVIN e NILAN, apud FERREIRA, 1997).
Dentro desta óptica é possível direccionar os estudos para os seguintes questionamentos: “Que informação um indivíduo quer encontrar no sistema de informação? Que uso fará dela? Como o sistema pode ser melhor projectado para preencher essas necessidades de informação?”.
Na Ciência da Informação, a abordagem Alternativa em sido utilizada sobre diferentes vertentes: “Abordagem de "Valor Agregado" de Robert Taylor - User-Values ou Value- Added b) Abordagem do "Estado de Conhecimento Anômalo" de Belkin e Oddy e Brooks - Anomalous StateSóof-Knowledge c) Abordagem do "Processo Construtivista" de Carol Kuhlthau - Constructive Process Approach d) Abordagem "Sense-Making" de Brenda Dervin”.
MÉTODOS MAIS UTILIZADOS PARA IDENTIFICAR NECESSIDADES DE INFORMAÇÃO Inquéritos e a entrevista. A abordagem “Sense-Making” Indivíduo tem a capacidade de se compreender reciprocamente, embora cada um tenha seu próprio ponto de vista; Indivíduo é um “ser activo” em constante construção e baseado nas suas características e em suas experiências individuais tendo a sua própria percepção do problema; A informação é vista como algo em construção, baseada no sentido individual criado pelo indivíduo.
A metáfora da abordagem teórica-metodológica do Sense-Marking parte da ideia de descontinuidade, onde o indivíduo em várias etapas da sua vida passa por processos de falta de compreensão de algo, o que o leva a interromper sua caminhada, e que muitos autores chamam de “situação problema”. Esta falha, ou lacuna, é que leva os indivíduos a buscar informação que o possa ajudar a continuar seu caminho.
METÁFORA DO SENSE-MAKING Fonte: Duckworth et al. (2005)
A UTILIZAÇÃO DO SENSE-MAKING EM ESTUDOS DE UTENTES PRESSUPÕE A ADOPÇÃO DAS SEGUINTES PARTICULARIDADES: a) “Individualidade - usuários devem ser tratados como indivíduos e não como conjunto de atributos demográficos; b) Situacionalidade - cada usuário se movimenta através de uma única realidade de tempo e espaço; c) Utilidade da informação - diferentes indivíduos utilizam a informação de maneira própria, e informação é o que auxilia a pessoa a compreender sua situação; d) Padrões - analisando as características individuais de cada usuário, intenta chegar aos processos cognitivos comuns a maioria”. (FERREIRA, 1997).
CONSIDERAÇÕES FINAIS O levantamento de necessidades de informações dos utentes deve ser uma prática constante e corriqueira nas bibliotecas; A utilização de estudos de utentes nos processos e planeamento de serviços de informações é uma ferramenta indispensável, uma vez que possibilitará à biblioteca conhecer as lacunas de informação de seus utentes, podendo assim oferecer informações e serviços que efectivamente preencham estas lacunas de informação de sua comunidade.
Referências Bibliográficas ALVES, Maria Bernardete Martins. A percepção do processo de busca de informação em bibliotecas, dos estudantes do curso de Pedagogia da UFSC, à luz do modelo ISP (Information Search Process) 2001. 120 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2001. Disponível em. http://teses.eps.ufsc.br/defesa/pdf/5447.pdf. Acesso em 03 dez. 2005. DUCKWORTH, Ana; PAULA, Lícia Pupo de; MARQUES , Sandro. Centro Virtual de Recursos para Surdos : planeamento de área de informações médico-educacionais de um website para famílias de crianças Surdas no contexto da educação pública. Disponível em. http://www.telmed.com.br/telmed99/posters/18/ Acesso em. 19 dez. 2005. FERREIRA, Sueli Maria S. P. Estudo de Necessidades de Informação: dos paradigmas tradicionais à abordagem sense-making. Porto Alegre: ABEBD, 1997. 29 p. (Documentos ABEBD, 2) Disponível em: FONTENELLE, Maria de Fátima Silva. Necessidade de informação dos professores universitários. 1997. 126f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) - Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa 1997. (Recebido por e-mail). ROMANOS DE TIRATEL. Susana. Estudios de usuarios: investigación y competencia profesional. Buenos Aires: Asociación de Bibliotecarios Graduados de la República Argentina, 2003. Disponível em: http://www.abgra.org.ar/documentos/ppt/romanosusuarios.ppt Acesso em: 29 nov. 2005.
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