Aristóteles Ética & Política Filosofia
A Ética Segundo Aristóteles, a ética é a ciência que estuda a areté: ação virtuosa, ou a boa ação, ou a excelência moral na ação. Estudamos, pesquisamos e pensamos a ética a fim de melhorar nossas vidas, de modo que sua principal preocupação é o bem estar humano, ou a felicidade e, como tal, diz respeito a ações. A virtude moral é uma consequência do habito. Nós nos tornamos os que fazemos repetidamente. Ou seja: nós nos tornamos justos ao praticarmos atos justos, controlados ao praticarmos atos de autocontrole, corajosos ao praticarmos atos de bravura
Nada do que existe por natureza pode ser alterado pelo hábito Ethiké X Physiké Ética (ethiké) vem da palavra ethos: costume ou hábito. Por natureza (physis), Aristóteles compreende aquilo que é necessário e não pode mudar (é da natureza da pedra cair; do fogo, subir...) Diferença com Platão: para Aristóteles, a virtude ou a excelência é um hábito e, como tal, pode ser ensinada e deve ser praticada constantemente – razão pela qual a educação (ou a criação de hábitos desde criança) é central para a felicidade. Nenhuma das virtudes morais surge em nós por natureza; com efeito, nada do que existe naturalmente pode formar um hábito contrário à sua natureza ... Nada do que existe por natureza pode ser alterado pelo hábito
O Bem A ética não é uma ciência teorética, mas prática: não investigamos o bem simplesmente para saber o que é o bem, mas para que possamos melhor conduzir nossas próprias vidas para atingir o bem. Assim, uma pessoa sem instrução pode ser virtuosa e praticar o bem! Daí surge uma questão: o que é o bem? A maioria das pessoas admite que o bem é: amizade, prazer, riqueza, honra, renome... Até aí, tudo bem. O problema surge quando queremos definir quais dentre esses bens são bens maiores do que os outros...
A Ética e o Bem Por mais que possamos discordar a respeito do que é o bem, é inegável que todas as atividades e ações humanas têm como fim (causa final, finalidade, objetivo ou propósito) alguma forma de bem (riqueza, reconhecimento, amizade, amor...). Certas atividades possuem como finalidade a obtenção de um bem distinto da própria ação, enquanto outras ações possuem como finalidade a própria atividade exercida. ‘vou apreender geometria para poder pintar; vou pintar para poder vender quadros’ vs. ‘estudo geometria porque gosto!’; ‘pinto porque gosto!’ Assim, a finalidade que desejamos por si mesma, sem vínculo com oura coisa que a subordine, é melhor e mais elevada do que as demais, porque não está subordinada ou condicionada a outra coisa.
A Felicidade A finalidade última que não se subordina a nenhuma outra é a felicidade! A felicidade, ou viver bem, não é meio para a obtenção de nenhuma outra coisa, mas é um fim em si mesmo! Nesse sentido, a felicidade é o Bem Supremo! Mas como ser feliz? O que faz a ação virtuosa, a excelência moral, o bem? A virtude do humano deve ser diferente da virtude do cão – daí: o que é o ser humano?
A Alma A alma humana (psyché), segundo Aristóteles, pode ser dividida em várias partes, segundo sua função para o ser humano: para o crescimento, a percepção, a locomoção, os desejos... Mas, dentre todos os animais na natureza, há algo que é exclusivo do ser humano: a alma racional, capaz de pensamento e raciocínio. A virtude ou o bem humanos, portanto, devem estar ligados à capacidade racional do ser humano – à capacidade de orientar nossas ações de acordo com a razão. Assim, a felicidade significa a constituição do hábito em agir virtuosamente, guiado pelo que estabelece a razão!
Felicidade e Virtude Segundo Aristóteles, a virtude diz respeito ao méson: o justo caminho. O excesso ou a falta constituem, para Aristóteles, fonte de vício – assim, o meio-termo ou a medida correta, ou o justo caminho são aquilo que define a virtude. Ex: entre 1 e 10, o meio é 5. Entretanto, não podemos simplesmente identificar o ser humano, suas ações, desejos e vontades, a uma escala aritmética. Aquilo que é o meio na alimentação para um atleta é diferente do meio na alimentação para um técnico de informática.
O meio-termo Dessa maneira, não há um bem universal que defina a felicidade para todos os seres humanos, mas cada um deve saber julgar aquilo que lhe convém para se afastar dos extremos, dos excessos. Ser corajoso, nesse sentido, não equivale a portar-se corajosamente em toda e qualquer situação: há certas circunstâncias em que devemos fugir do perigo disposto. Ao mesmo tempo, fugir sempre também não estabelece o que é a coragem; Deve-se saber quando devemos lutar e quando devemos fugir do perigo à nossa frente!
A Política Há um conhecimento, ou uma ciência, que diz respeito à obtenção desse Bem Supremo: a ciência política – ou a ciência relativa ao seres humanos na pólis! Obs: Aristóteles assim estabelece sua ética como uma parte da ciência política, e não como uma ciência à parte desta (como nós fazemos). A ciência política se encarrega do estudo de como criar leis, instituições e costumes que possam reger a vida dos seres humanos de modo harmonioso e justo.
O humano: um animal político O ser humano, segundo Aristóteles, é um animal político! Isso quer dizer que a vida na pólis não é fruto da convenção, do costume ou do hábito (nem do ethos, nem do nomos): é por natureza que vivemos em comunidade, politicamente. Isso se dá, basicamente, graças ao fato de sermos entes racionais e de possuirmos a capacidade para a linguagem – o que nos permite distinguir e definir o que é o bem e o justo.