Mestrado em Microbiologia Universidade de Aveiro Marta Valadas

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Transcrição da apresentação:

Mestrado em Microbiologia Universidade de Aveiro Marta Valadas Prevalência de colonização/infecção por MRSA no Centro Hospitalar P.Varzim/V.Conde Mestrado em Microbiologia Universidade de Aveiro Marta Valadas

Staphylococcus aureus Isolado pela 1ª vez por Ogston, 1883; Tornou-se o principal patogénio nosocomial com a introdução da penicilina em 1944; Coloniza pele e vias respiratórias; 30% dos indivíduos saudáveis estão colonizados (EARSS,2006);

Características dos S. aureus Formam colónias douradas em “forma de cacho” É a espécie mais virulenta do seu género; Aeróbios ou anaeróbios facultativos; Gram-positivos; Catalase e coagulase positivas; Produzem hemólise no ágar sangue ; Fotografias tiradas no laboratório do Centro Hospitalar PV/VC

Staphylococcus aureus resistentes à meticilina (MRSA) 1ª estirpe descoberta no Reino Unido 1961; Subcategorizadas em HA-MRSA e CA-MRSA; Resistentes a todos os antibióticos β-lactâmicos; Infecções mais comuns em pessoas hospitalizadas;

Factores de virulência estruturais em MRSA Cápsula; Parede celular : 1-peptidoglicano; 2-proteína A; 3-ácidos teicóicos; Adesinas de superfície; Membrana citoplasmática;

Factores de virulência extracelulares em MRSA Toxinas: 1-hemolisinas (alfa, beta e gama); 2-leucocidina Panton-Valentine 3-esfoliativas A e B 4-enterotoxinas A-E 5-TSST-1 Enzimas: 1- coagulase 2- catalase 3- hialuronidase 4- fibrinolisina 5- DNAase 6- lipases 7- penicilinases

Mecanismos de resistência aos antibióticos Síntese de β-lactamases Gene mecA que codifica a PBP2a Resistência intrínseca a todos os antibióticos β-lactâmicos

Antibióticos β-lactâmicos baixa toxicidade; mais usados em todo mundo; activos contra gram+; gram-; espiroquetas; antibióticos parietais e bactericidas; Todos os antibióticos β-lactâmicos têm em comum o anel-lactâmico; Uma das maiores conquista do século XX foi a utilização terapêutica da penicilina a partir dos anos 40, bem como de outros antibióticos. O início da era antibiótica desenvolveu a falsa esperança do desaparecimento das doenças microbianas. Por volta dos anos 50 desenvolveram-se as primeiras resistências à penicilina em S. aureus. A aquisição e transferência de genes de resistência aos antibióticos, associadas com o uso intensivo destas substâncias explicam a situação alarmante em medicina humana à escala mundial: MRSA, VRE, bactérias Gram negativo produtoras de ESBL são alguns microrganismos que colocam desafios diários às equipas de controlo de infecção. Antibióticos parietais_actuam na fase final da biosíntese do peptidoglicano, constituinte fundamental da parede celular e essencial à sua sobrevivência, inibindo as ligações interpeptídicas entre cadeias vizinhas de peptidoglicano Bactericidas_Atuam na membrana plasmática ou parede celular bacteriana, inibindo sua síntese e provocando sua destruição. Como exemplo temos os antibióticos penicilina, cefalosporina e vancomicina que atuam sobre as enzimas responsáveis pela síntese da parede.

Antibióticos β-lactâmicos A presença de um anel beta lactâmico define quimicamente esta família de antibióticos originando 5 grupos distintos: Penicilinas Anel beta-lactâmico+anel tiazolidina formando o ácido 6-aminopenicilánico. Possuem uma cadeia lateral que varia entre penicilinas na posição 6 do anel beta-lactâmico e que define as suas propriedades Cefalosporinas Estruturalmente semelhantes às penicilinas, constituídas por um núcleo CEFEM (anel dihidrotiacínico+anel beta-lactâmico). Modificações nas cadeias laterais R originam diferentes cefalosporinas com propriedades farmacocinéticas dispares Carbapenemos Compostos por um anel beta-lactâmico + anel pirrolidínico compartilhando um átomo de N (nitrogénio). Modificações nas cadeias laterais R bem como a sua posição espacial condiciona a afinidade elevada para as PBP. São os beta-lactâmicos com o maior espectro de actividade Monobactamos Derivados do ácido 3-aminomonobactámico, estrutura monociclíca do anel beta-lactâmico Inibidores das beta-lactamases Ácido clavulânico_ núcleo similar ao ácido penicilánico, com a substituição do átomo de enxofre (S) na posição 3 por um átomo de oxigénio aumenta a sua reactividade e proporciona uma maior afinidade para as enzimas beta-lactamases

Mecanismo de acção dos antibióticos Os mecanismos de acção sobre os microrganismos são vários: Síntese da Parede Celular: As penicilinas e cefalosporinas são bactericidas que actuam ao nível das transpeptidases, enzimas fundamentais num dos passos finais da produção do peptidoglicano, inibindo-as . Além disso, quando uma bactéria é exposta a penicilinas, activam-se enzimas autolíticas, que vão hidrolisar o peptidoglicano, destruindo a bactéria; se estas enzimas não forem activadas, então a bactéria não é destruída e diz-se tolerante. As penicilinas e cefalosporinas são drogas β-lactâmicas (possuem um anel β-lactâmico) e, por isso, podem ser degradadas por β-lactamases que clivam o anel β-lactâmico. Este é um dos mecanismos responsáveis pela resistência microbiana contra este antibiótico, a par das mutações genéticas ao nível da transpeptidase (impedindo a ligação da penicilina a esta´). Síntese Protéica: Há muitas drogas que afectam significativamente a síntese proteica bacteriana sem causar grandes alterações na síntese proteica humana. Isto acontece devido às grandes diferenças existentes ao nível dos ribossomas e das enzimas: os ribossomas humanos são 80S[5] e possuem subunidades 60S e 40S, ao passo que os ribossomas dos procariontes são 70S, possuindo subunidades 50S e 30S. Temos, por exemplo, as aminoglicosidas e as tetraciclinas, que actuam na subunidade 30S dos ribossomas, e o cloranfenicol e a eritromicina, que actuam na subunidade 50S. O mecanismo de acção destas drogas baseia-se na indução de uma má leitura do mRNA ou na inibição da função do tRNA Metabolismo do ácido fólico: A seletividade desses antimicrobianos é uma consequência do fato de que bactérias não podem usar ácido fólico pré-formado e precisam sintetizar seu próprio ácido fólico. Contrariamente, células de mamíferos usam ácido fólico obtidos a partir do alimento. Sulfonamidas_ Esses antimicrobianos são análogos do ácido para-aminobenzóico (PABA) e inibem competitivamente a formação do ácido dihidroptérico (pela inibição da enzima dihiropteroato sintetase) Trimetoprim_ Esses antimicrobianos se ligam à di-hidrofolato-redutase e inibe a formação do ácido tetrahidrofólico. Estes 2 antimicrobianos são usados em combinação com as sulfonamidas. Essa combinação bloqueia duas etapas distintas no metabolismo do ácito fólico e impede a emergência de linhagens resistentes. Síntese de ácidos nucléicos: As quinolonas são drogas bactericidas, ligam-se à subunidade A da DNA girase (topoisomerase) e impede o superenrolamento do DNA, impedindo assim a síntese de DNA. A rifampicina inibe a síntese de mRNA em bactérias bloqueando a RNA polimerase bacteriana, sem afectar a RNA polimerase humana.

Factores de risco para aquisição de MRSA internamentos prolongados; doentes internados em lares; sobrelotação de serviços; pacientes com lesão cutânea; uso excessivo de antibióticos; antibioticoterapia previa; idade superior a 75 anos; transferências intra-hospital; insuficiência de recursos humanos; insuficiência de condições de isolamento;

Modo de transmissão     http://www.infectionprotection.org.uk/goingintohospital/mrsa.html

Percentagem de MRSA em Portugal (Ribeiro, 2008).

Objectivos 1- Conhecer a prevalência de colonização/infecção nos pacientes dos serviços de internamento no Centro Hospitalar Póvoa de Varzim/Vila do Conde. 2- Estudar a evolução ao longo do período de estudo do MRSA no Centro Hospitalar Póvoa de Varzim/Vila do Conde. 3- Analisar qual dos géneros e grupos etários têm maior prevalência de MRSA. 4- Contribuir para o estudo de MRSA como agente bacteriano de infecção em doentes internados no Centro Hospitalar, a nível do controlo de infecção nosocomial e no tratamento das infecções. 5- Avaliar as resistências in vitro aos antimicrobianos de MRSA isolados de diversas amostras estudadas no laboratório do Centro Hospitalar, durante o período de estudo. 6- Avaliar os factores de risco de infecção por MRSA.

Material e Métodos Estudo Retrospectivo no CHPV/VC: - 1 de Janeiro 2007 a 31 de Dezembro 2009 – 3 anos - Vários tipos de amostras biológicas - Internamentos do CHPV/VC - 541 isolados com Staphylococcus aureus - Identificação através de testes bioquímicos e sistema VITEK®2 Compact c/software Advanced Expert System (AES) (bioMérieux, Marcy-L’Étoile, França)

Provas de identificação de MRSA Teste da coagulase Teste da catalase Teste de sensibilidade aos antibióticos Fotografias tiradas no laboratório do Centro Hospitalar PV/VC

Resultados Número de Staphylococcus aureus isolados no período de estudo (541 amostras).

MRSA/MSSA 90 75 91 105 88 20 40 60 80 100 MRSA MSSA 2007 2008 2009 Número de MRSA e MSSA (Staphylococcus aureus sensíveis à meticilina) , isolados nos pacientes dos serviços de internamento do Centro Hospitalar.  

Percentagem de S. aureus isolados por produtos no período de estudo. Pús (42.4%) e Expectoração (18.2%) foram os 2 produtos biológicos com maiores taxas de isolamento de Staphylococcus aureus.

Distribuição de MRSA por serviços Medicina e Cirurgia – serviços com maior isolamento de MRSA

Número de MRSA isolados em relação aos indivíduos estudados. 51 42 34 29 40 14 11 6 10 20 30 50 60 2007 2008 2009 Homens Mulheres Crianças ESCOLHER UM DOS GRÁFICOS SEGUINTES   1 4 Género masculino com faixa etária dos 17-100 anos, género feminino com faixa etária dos 17-100 anos e crianças com a faixa etária dos 0-17 anos. Género masculino com maior taxa de isolamento de MRSA.

Discussão/Conclusão Prevalência de MRSA no CHPV/VC: 14,6% -Portugal: 50% em 2008 (Sousa et al., 2008); 49,7% dos isolados são MRSA; 50,3% dos isolados são MSSA; % de MRSA superior no género masculino (50%) e no serviço de medicina (35%); % de MRSA superior nas amostras de pús e expectoração;

Discussão/ Conclusão A elevada prevalência de doentes com infecção por MRSA indica que é importante fazer o rastreio em portadores saudáveis quando da sua admissão ao hospital a fim de diminuir as infecções nosocomiais.

Medidas a tomar de acordo com os resultados deste trabalho: investir na detecção mais rápida de MRSA (PCR) isolar doentes colonizados/infectados usar antibióticos tópicos para descolonização de pacientes e pessoal clínico. realizar estudos com portadores assintomáticos; estudar factores de risco para efectuar escalas de risco para triagem de doentes; publicar os dados dos agentes etiológicos e o padrão de susceptibilidades aos antimicrobianos para tratamentos adequados.

http://mrsa-research-center. bsd. uchicago. edu/patients_families/faq http://mrsa-research-center.bsd.uchicago.edu/patients_families/faq.html Obrigado! Marta Valadas