O mundo do jovem: concepções de juventude.

Slides:



Advertisements
Apresentações semelhantes
9º CONGRESSO DA FEDERAÇÃO GAÚCHA DE MULHERES
Advertisements

Jovem X RISCO EMOÇÃO Dr. Jairo Bouer Março de 2004.
BEM-VINDO À DISCIPLINA
Dez novas competências para Ensinar – Philippe Perrenoud
A Educação Sexual e os seus Contextos
Comunicação de Risco, Saúde e Ambiente: uma agenda em construção
Curso de Especialização em Educação de Jovens e Adultos
desafios atuais para a escola
Disciplina: Educação Formal e Não-Formal 3º ano Psicologia 2007
CENTROS DA JUVENTUDE. Aline Pedrosa Fioravante Curitiba, 27 de novembro de 2012.
Dez novas competências para Ensinar – Philippe Perrenoud
cenários e perspectivas.
Teorias Pós-críticas do Currículo
Identidade dos Indivíduos nas Organizações
Pontíficia Universidade Católica de Goiás
LOGÍSTICA DE SUPRIMENTOS
TERRA SEM LEI, CRIME DE DIFÍCIL CASTIGO.
Sofia Esteves do Amaral
Frei Rubens Nunes da Mota, OFMCap.
RELAÇÕES: PEDAGOGIA, EDUCAÇÃO ESCOLAR E DIDÁTICA
Quem é o jovem brasileiro?
ESCOLA E FAMÍLIA: UM COMPROMISSO COM A EDUCAÇÃO
Curso Direito à Memória e à Verdade
Revisão para Avaliação I
MÚSICA DA CIRANDA Um sorriso negro Um abraço negro Traz felicidade Negro sem emprego Fica sem sossego Negro é a raiz de liberdade.
O NEPSO completa cinco anos no Pólo RS!
Desenvolver Por uma Nova Escola.
Estrutura Familiar e Dinâmica Social
Dimensões da Globalização
Globalização por S. Hall e Milton Santos:
Os processos psicossociais da exclusão
Perfil do Profissional
PROTAGONISMO JUVENIL COMO FORMA DE PARTICIPAÇÃO SOCIAL
INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA NO AMBIENTE ESCOLAR
1-A POPULAÇÃO RURAL E URBANA
EDUCAÇÃO E CULTURA Aula de 09/05/2012.
Fundamentos Sócio Antropológicos da Educação
PREVIDÊNCIA SOCIAL BRASILEIRA DESAFIOS E PERSPECTIVAS
Centro de Cidadania da Mulher
Conversando sobre Formação Integral.
Profª Drª Monica Ribeiro da Silva
6. Para onde vai a Juventude A juventude na pós-moderna deve ser encarada dentro de um sistema orgânico, ou seja, ela é fruto de várias situações que a.
Globalização: Boa ou ruim?.
Educação Sexual na Adolescência
O SISTEMA CAPITALISTA E O PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO
Emile Durkheim e o fato social
NAS ESCOLAS DÉBORAH MACIEL CORRÊA 1.
Mídia e Violência Primeiros resultados Desafios para a cobertura policial ABRAJI 2008.
Transformações do pensamento sociológico ocidental
Competência 5: Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e democracia, favorecendo uma atuação consciente.
O QUE SERVIÇO SOCIAL QUER DIZER
DIREITOS HUMANOS, VIOLÊNCIA E COTIDIANO ESCOLAR
Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres
-Unidade I – noções fundamentais. -Unidade I – noções fundamentais.
ASSOCIAÇÃO MUNICIPAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL - AMAS
PSICOLOGIA SOCIAL COMUNITÁRIA
Ministério da Educação
1 A Satisfação do Consumidor. 2 Atualmente, há uma valorização maior do consumidor no processo de comercialização. Empresa Divulgação das técnicas de.
Perspectivas atuais do Trabalho Pedagógico OTP 7
Oficinas de criatividade para jovens em situação de risco
Brasil, sexualidade e demografia:Onde estamos?
REESTRUTURAÇÃO CURRICULAR DOS CURSOS TÉCNICOS
Émile Durkheim: um dos pais da sociologia moderna
PNEM/2014 CADERNO 2 O JOVEM COMO SUJEITO DO ENSINO MÉDIO
Comunicação, desenvolvimento regional e local e ruralidades A juventude rural e as novas fronteiras culturais entre o campo e a cidade a partir do debate.
SOCIEDADE, CULTURA E VIOLÊNCIA VIVIAN DA VEIGA SILVA CIENTISTA SOCIAL E COORDENADORA DE ATIVIDADES DO PROGRAMA ESCOLA DE CONSELHOS/PREAE/UFMS.
Objetivos O Programa de Redução da Violência Letal tem como objetivos: mobilizar e articular a sociedade em torno do tema dos homicídios construir mecanismos.
Introdução ao Estudo do Direito. Objetivo conceitual do curso de Introdução ao Estudo do direito: Compreender o Direito como uma (a) técnica de controle.
Abordagem sociológica do sistema jurídico
Pierre Bourdieu - O poder simbólico
Transcrição da apresentação:

O mundo do jovem: concepções de juventude. Belo Horizonte, 16 de outubro de 2007. Miriam Abramovay

Juventude e Juventudes É uma construção histórica e social. Cada época e cada setor, postula diferentes maneiras de ser jovem, dentro de situações sociais e culturais específicas. É uma produção de uma determinada sociedade, relacionada com formas de ver os jovens, inclusive por estereótipos, momentos históricos, referências diversificadas e situações de classe, gênero, raça, grupo, contexto histórico entre outras.

Juventude e Juventudes Parte-se da afirmação de que não há somente uma juventude, mas juventudes que se constituem em um conjunto diversificado com diferentes parcelas de oportunidades, dificuldades, facilidades e poder na nossa sociedade.

Percepção sobre as Juventudes O século XX marca a visão do jovem em processo de transição , sob a influência da psicologia como ciência. O jovem é visto como em processo de maturação psicológica,uma passagem difícil em suas vidas, um momento de crise na sua sexualidade, nos seus sentimentos e no seu ideal.

Percepção sobre as Juventudes A sociedade tem uma enorme dificuldade em conceber os jovens como sujeito de direitos e de identidade própria, oscilando entre considerá-lo adulto para algumas exigências e enfatizá-lo em várias outras circunstâncias.

Representações contraditórias sobre os jovens Em geral os jovens são rotulados e prejulgados negativamente: São todos drogados; Não têm juízo; São inconseqüentes; São inexperientes; São revoltados; São violentos.

Preconceitos Por serem jovens; Pelo fato de morarem em bairros da periferia ou favelas; Pela sua aparência física, a maneira como se vestem; Pelas dificuldades de encontrar trabalho; Pela condição social.

Os Jovens e a conteporaneidade A juventude vive na contemporaneidade a reificação de um ideal estético em uma sociedade de consumo, transformando, inclusive, a forma de ser jovem em objeto, em mercadoria, intervindo no mercado do desejo como sinal de distinção e de legitimidade. Sujeitos de uma sociedade de consumo ostentatória, suscitando desejos e aspirações que resultam em frustrações, porque em sua maioria irealizáveis, transitando em um meio cuja desigualdade e acirramento das contradições constituem uma das formas mais visíveis.

Condição Juvenil Cinco elementos são cruciais para a definição da condição juvenil em termos ideais-objetivos, quais sejam: A obtenção da condição adulta, como uma meta; A emancipação e a autonomia, como trajetória; A construção de uma identidade própria, como questão central, As relações entre gerações, como um marco básico para atingir tais propósitos. As relações entre jovens para modelar identidades, ou seja, a interação entre pares como processo de socialização Portanto os jovens possuem uma importância crucial para o entendimento das sociedades modernas, o seu funcionamento e suas transformações. Entender a juventude é compreender a própria modernidade em diversos aspectos como a arte, a cultura, o lazer, o consumo entre outros. Além de o jovem possuir, como já foi assinaladas, características que dependem de sua classe, raça/cor, gênero, idade etc, as juventudes desenvolvem formas de pensar e atuar característicos de sua condição de jovem. Ser jovem não depende somente da idade, de características biológicas, do corpo. Não depende exclusivamente da classe social a que pertencem seu gênero, sua raça/cor. Há que se considerar a circunstância cultural com a qual as juventudes estão sendo socializadas, seus hábitos, sua maneira de perceber e vivenciar o mundo onde vivem. Nestes aspectos as várias juventudes podem ser semelhantes, na diferença. Segundo Charlot (Juventudes Sergipanas – Relatório de pesquisa, Bernard Charlot, Aracaju, 2006: 2): É inegável que se encontram vários tipos de jovens, bastante diferentes entre eles. Todavia é difícil descartar a idéia de que há elementos comuns entre eles, por mais diferentes que sejam. Além da “cultura jovem”, ou melhor, dos traços comuns ás várias “culturas jovens”, sempre há pelo menos características comuns a todos, inclusive na abordagem de Bourdieu: esses jovens são considerados jovens pelos adultos e por si mesmos. Portanto, quando se pensa em juventude e jovens, não se pode renunciar nem ao plural, nem ao singular. Ao jovens são diferentes mas tem em comum o fato de serem considerados jovens e terem que lidar com os adultos. Essa relação entre gerações é fundamental para entender como são os jovens e o que é juventude em um determinado lugar e momento da história. ( 2006:2). Mas o que é ser jovem na nossa sociedade, qual a situação dessa vasta camada da população, tão escondida até recentemente e descoberta em função de suas transgressões, de denúncias sobre o seu comportamento, de comentários sobre sua forma de vestir, de falar, sobre seus piercings e sua música? Viver em grupo, ser veloz, buscar de forma incessante novidades é quase uma condição do ser jovem. Ser transgressor, com aspas e sem aspas, pode desencadear comportamentos violentos ou abrir margem para a discussão de soluções para os problemas que tenham como base as capacidades e os recursos que os jovens possuem são características das Juventudes. Os jovens vivem em uma época onde acontecem profundas transformações econômicas e de valores na nossa sociedade, o que afeta a sua transição para a vida de adulta. Existem muitos e diversos grupos juvenis, com características particulares e específicas, que sofrem influências multi-culturais e que de certa forma são globalizados, além da presença que os bens de consumo possuem em suas vidas. Vivemos em uma sociedade de consumo ostentatória que suscita no conjunto das juventudes aspirações e frustrações, no seio de uma sociedade que apresenta fortes desigualdades sociais.

Vulnerabilidade Os jovens sofrem riscos de exclusão social sem precedentes devido a um conjunto de desequilíbrios provenientes do mercado, Estado e sociedade que tendem a concentrar a pobreza entre os membros deste grupo e distanciá-los do “curso central” do sistema social. (Vignoli, 2001).  Os jovens são vulneráveis, mas também possuem certos recursos para fazer frente aos obstáculos e riscos – como capital humano, social e simbólico.

Vulnerabilidades Positivas Rebeliões sobre estereótipos, tabus, preconceitos; Vontade de saber e construir Busca por autonomia e por participação, curiosidade Orientação gregária Apelo para diversas linguagens e tipos de organização (movimentos sociais e ONGs) recorrendo à culturas juvenis.

Contraponto: como os jovens se sentem em relação à vida? Grau de satisfação com a vida que leva hoje, 2004. Muito satisfeito- 6% Satisfeito- 69% Insatisfeito- 22% Muito insatisfeito- 2%

Razões de satisfação

Finalmente Com base na percepção de nossos jovens, podemos dizer que a juventude nos aponta com o otimismo, com a certeza de que pouco ou nada se perdeu, que ainda há muito espaço por onde começar/recomeçar a construção de um outro mundo. Um mundo melhor, porque possível. E possível porque também mediado pela ótica e pela participação juvenil tanto em sua dimensão estética quanto ética.

Quem são os Jovens no Brasil População Ano 1970 1980 1991 2000 2005 Total da população Brasileira 93.139.037 118.562.549 146.639.039 169.799.170 184.184.264 Jovens de 15 a 29 anos 25.043.157 34.531.408 41.220.428 47.930.995 50.500,000 FONTE: IBGE (censos demográficos, 1970, 1980, 1991 e 2000). IBGE (Projeção da população 2005). PNAD 2005.

Jovens: quantos são?

Jovens: freqüência à escola

Aspectos Socioeconômicos da População Jovem Classe Socioeconômica N % Classe A 621.158 1,3% Classe B 5.393.905 11,2% Classe C 15.112.448 31,6% Classe D 19.798.177 41,4% Classe E 6.906.983 14,4% Total 47.832.671 100,0% FONTE: Pesquisa: Juventude, juventudes: o que une e o que separa, 2004.

Caracterização por cor/raça auto atribuída N % Branco(a) 16.035.983 33,5% Negro(a) 5.442.528 11,4% Pardo(a)/moreno(a) 25.580.067 53,5% Indígena 453.909 0,9% Oriental 105.093 0,2% Outra 95.603 Não opinou 119.487 Total 47.832.671 100,0% FONTE: Pesquisa: Juventude, juventudes: o que une e o que separa, 2004.

Distribuição por Sexo Distribuição por sexo N % MASCULINO 23.696.849 49,5 FEMININO 24.135.821 50,5 Total 47.832.671 100,0 FONTE: Pesquisa: Juventude, juventudes: o que une e o que separa, 2004.

Influências Os jovens sofrem influências multiculturais e vivem dois problemas em comum: a globalização e a violência e a globalização do crime ligada ao narcotráfico. Segundo Castells(1997), nas últimas décadas organizações criminosas tem levado a cabo operações em escala internacional, aproveitando da globalização econômica e das novas tecnologias dei informação. Em torno do narcotráfico foi-se organizando uma poderosa rede de crimes como o tráfico de armas, tráfico de imigrantes, prostituição internacional, contrabando etc. Todas as transações se baseiam na coesão mediante uma violência extraordinária.

Enquanto organizamos, por cima, a nova ordem econômica e tecnológica, um amplo setor de jovens está construindo, por baixo, uma desordem alternativa feita de sua negação a um sistema que os nega. (...) Somente restabelecendo as pontes de contato com a nossa juventude, em todos os países, poderemos realmente construir nosso futuro. E somente se soubermos como os jovens pensam e vivem, e porque pensam assim, poderemos encontrar uma nova linguagem, fundamento de uma nova política. Manuel Castells

Socióloga, pesquisadora membro do Conselho Nacional de Juventude. Miriam Abramovay Socióloga, pesquisadora membro do Conselho Nacional de Juventude. mabramovay@gmail.com http://www.miriamabramovay.com