1 Comunicação, Memória e Ação Cultural: balanço de uma experiência Bruno Fuser - UFJF Josimara Delgado - UCSal Novembro de 2012.

Slides:



Advertisements
Apresentações semelhantes
Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania 1 GOVERNO FEDERAL MINISTÉRIO DA JUSTIÇA PROGRAMA NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA COM CIDADANIA PRONASCI.
Advertisements

Adolescência e Afectos
JOVENS E A CIDADE: UM ESTUDO EM JUIZ DE FORA JOVENS E A CIDADE: UM ESTUDO EM JUIZ DE FORA Resultados: As relações com o bairro e a cidade dos jovens de.
PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO
PROGRAMA NACIONAL DE EDUCAÇÃO NA REFORMA AGRÁRIA – PRONERA
ESCOLA DE FORMAÇÃO POPULAR EM DIREITOS HUMANOS CURSO CONSTRUINDO DIREITOS HUMANOS COMUNICAÇÃO & CULTURA Gleber Pieniz Jornalista.
SECRETARIA DE RELAÇÕES DO TRABALHO
Ensinar e aprender história nos primeiros ciclos de aprendizagem Programa Curricular História PBH
Programa de Ética e Cidadania
Educação Politécnica EPSJV/FIOCRUZ
Sujeitos da EJA 1. Diante do quadro diagnóstico, muitos desafios devem ser enfrentados Formular políticas públicas de Estado.
EJA vem se expandindo no país, ocupada por professores sem uma formação específica
Programa de Apoio ao Ensino e à Pesquisa Científica e Tecnológica em Educação Profissional integrada à Educação de Jovens e Adultos- PROEJA CAPES/SETEC.
Resolução n°51 EJA e ECONOMIA SOLIDÁRIA. Formação de Educadores Ministério da Educação Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade.
Resultados da Pesquisa "Identificação de Valores de Jovens Brasileiros – Uma Nova Proposta", realizada pela Profª. Dra. Rosa Maria Macedo, da PUC de São.
INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Processos participativos
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
CURSO: CONVIVÊNCIA ESCOLAR
NATUREZA E SOCIEDADE Curso de Formação Natureza e Sociedade: Orientações Curriculares e os Cadernos de Apoio e Aprendizagem 17/04/12.
Máscaras Africanas.
A EJA E O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DOS ALUNOS
A EJA trabalha com sujeitos marginais ao sistema de ensino e o PROEJA visa possibilitar-lhes acesso a educação e a formação profissional na perspectiva.
Análise dos Resultados Preliminares do Universo e da Amostra
- Universidade e sociedade - A extensão universitária - Graduação e extensão
FORUM PERMANENTE DE ARTE & CULTURA
ACONSELHAMENTO.
NOVAS TECNOLOGIAS PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS:
CONSERVAR É PRESERVAR A NATUREZA
PLANO DE AÇÃO PEDAGÓGICA
EXPERIÊNCIA DE AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL NA UFRN
Como a Criança Pequena se Desenvolve
CONTAG Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura
Cidade Educadora, Cidade Saudável
IV Seminário Internacional de Bibliotecas Pública e Comunitárias
Núcleos de Extensão e Relações Comunitárias da UNISC
VISIBILIDADE E (IN)VISIBILIDADE DO BEBÊ E DA CRIANÇA PEQUENA
Softwares Educativos: possibilidades e limitações
1 Jovens Urbanos 3ª edição Resultados da Avaliação Econômica Jovens Urbanos 3ª edição São Paulo março/2010.
POLÍTICA EDUCACIONAL E FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES
O Coordenador Pedagógico desafios e práticas
LICENCIATURA EM LETRAS-PORTUGUÊS UAB – UNB
A Secretaria Estadual do Trabalho, foi criada pela lei em 11 de novembro de 2003, com o objetivo de implantar Políticas Públicas de qualificação.
Bolsista: MARCOS VINICIUS DA SILVA GOULART
OS OBJETIVOS E CONTEÚDOS DE ENSINO
ENSINO MÉDIO POLITÉCNICO ENSINO MÉDIO-CURSO NORMAL
O COMPORTAMENTO INFORMACIONAL DE JOVENS ESTUDANTES DO
ALUNA: Fernanda de Oliveira Boaventura Wensing
Conceito de Cultura A Cultura é produto e meio da vida em suas
Coordenadora : Profª Dra. Clarice Salete Traversini
A cultura de um povo, em suas diferentes formas de expressão, representa todo um modo de “ser e viver,” e o como se relaciona em uma dada sociedade.
II ENCONTRO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES I SEMINÁRIO INSTITUCIONAL DO PIBID UNIUBE “A multiculturalidade nos diferentes tempos e espaços de aprendizagens”
Formação de Professores na UFMS:
SEGUNDO EDUCADORES DA EJA Professora Dóris Maris Luzzardi Fiss - PEAD
Intersetorialidade   Intersetorialidade pode ser entendida como uma articulação de saberes e experiências no planejamento, implementação e avaliação.
Prof. Ms. José Elias de Almeida
Mídias Digitais Quais são as novas formas de comunicação?
Um paralelo entre aprendizagem na família e aprendizagem na escola
PNEM/2014 CADERNO 2 O JOVEM COMO SUJEITO DO ENSINO MÉDIO
PROF. FABIO AGUIAR PLANEJAMENTO GRÁFICO PRODUÇÃO DE VÍDEO.
EDUCAÇÃO DO CAMPO: LIMITES E POSSIBILIDADES Isabelle Leal de Lima / Câmpus Paranaguá Orientador: Prof.
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Ana Parker, Grasiela Birck, Jandira Petry, Renata Silva e Salete Schmidt Professora orientadora Dóris Maria Luzzardi Fiss.
“A educação para as mídias é uma condição de educação para a cidadania, um instrumento para a democratização de oportunidades educacionais e de acesso.
Disciplina de Núcleo Livre/2007 Disciplina: Educação de Jovens e Adultos Profª: Maria Margarida Machado ATIVIDADE DE PESQUISA – 20/03/08 TEMA: Sujeitos.
Telma PREFEITA 13 Desenvolvimento para todos. Apresentação Antes de propormos um debate com os jovens sobre o futuro da cidade (mundo), devemos atentar-nos.
Germes Projeto de Trabalho Trabalho com a turma de 1° ano prof: Talita
Comunicação, desenvolvimento regional e local e ruralidades A juventude rural e as novas fronteiras culturais entre o campo e a cidade a partir do debate.
J UVENTUDE RURAL E CULTURA. Juventude rural, terra e migração Dos 51 milhões de jovens com 15 a 29 anos no Brasil, vive no campo. Comparando.
A PESQUISA COMO PRINCÍPIO EDUCATIVO Ana Paula Palheta PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E INOVAÇÃO.
Transcrição da apresentação:

1 Comunicação, Memória e Ação Cultural: balanço de uma experiência Bruno Fuser - UFJF Josimara Delgado - UCSal Novembro de 2012

2 Projeto “Comunicação, Memória e Ação Cultural” Apoio: FAPEMIG 2008 – 2010 – Extensão e pesquisa 2010 – 2012 – Programa Pesquisador Mineiro Coordenação: Bruno Fuser – PPGCOM - Jornalismo – UFJF Profª Josimara Delgado – Serviço Social – Docente do Mestrado em Políticas Sociais e Cidadania – UCSal Bolsista de apoio técnico: Bel. Marcos Antonio de Oliveira Santos – UFV Bolsistas de iniciação científica e de extensão

3 O projeto Produção cultural comunitária acerca de narrativas e memórias produzidas por velhos e jovens moradores do bairro Dom Bosco, em Juiz de Fora Na coleta e produção de tais narrativas, envolvimento de várias instâncias: escolas, igrejas, organizações não governamentais Participação de jovens, velhos e adultos na produção de vídeos, fotos, histórias de famílias, do bairro, registro das perspectivas futurase análise de presente e passado de várias gerações

4 As atividades Pesquisa de perfil sócio-econômico Entrevistas de histórias de vida Oficinas diversas com jovens e velhos do bairro, de foto, vídeo, iniciação à informática Produção de vídeos, artigos, exposições fotográficas no bairro e no centro da cidade

5 As produções finais Dois livros: Memória, gerações e produção cultural: experiências e reflexões; e Nove histórias mineiras Um DVD, com vídeos sobre aspectos da história de vida dos velhos do bairro: Infância, Trabalho, Bairro, Família, Envelhecimento. E sobre Ser mãe no Dom Bosco (feito por jovens do bairro) Uma revista (Viva Dom Bosco), de ampla circulação no bairro, sobre a história da região, as perspectivas do presente, as personagens que fizeram e fazem a história do Dom Bosco

6 Ponto de partida Utilização dos meios de comunicação, em especial os digitais, em processos criativos, de cidadania cultural, de afirmação de identidades em uma perspectiva contra-hegemônica – como fazê-lo? Exigência prévia: definição de conceitos, desenvolvimento de métodos

7 Perspectiva interdisciplinar Comunicação: importância de articulação com outras áreas Comunicação, arte e cultura: um caminho, que dilui/tensiona/enriquece o próprio campo da comunicação Projetos de educomunicação: caminho possível Busca de parceria com Serviço Social: importância da experiência do projeto Òmnia, Espanha

8 Cultura e cidadania Cultura democrática - negação da cultura como mercadoria, como consagração do consagrado Afirmação da crítica, da imaginação, da sensibilidade Estímulo à produção cultural, além do campo das belas-artes Cultura como direito dos cidadãos, como recurso e afirmação de formas diferenciadas e conflitantes de cultura (Marilena Chauí)

9 Ação cultural Ação cultural = parte de uma política cultural (Teixeira Coelho) Afirmação da crítica, da imaginação, da sensibilidade Objetivo = satisfação de necessidades culturais e desenvolvimento de representações simbólicas Ação cultural = não a construção de projetos, mas sua inserção na luta contra apatia e os modelos impostos, em uma perspectiva que valorize a crítica e a consciência de si e do seu entorno

10 Gerações e cultura Pesquisa e intervenção social baseadas em memórias e narrativas com idosos e jovens A expressão do universo cultural de jovens e velhos como forma de perceber esses sujeitos como interlocutores no desvendamento dos sentidos de nossa sociedade Criação de alternativas de recriação e transmissão de referenciais culturais dessa população, assim como de enfrentamento de suas necessidades materiais

11 Reconstrução coletiva da memória e produção / identificação / valorização de seus suportes objetivos Narrativas: formas de compreensão e (re)construção de um lugar social de velhos e jovens empobrecidos – em cenário de ritmo acelerado de mudanças sociais, com novas relações geracionais Jovens e idosos: portadores de memória social, discursos que constroem e reconstroem sentidos e identidades

12 Reconstrução do lugar social do velho, visto de forma naturalizada como representante de posturas do passado, atrasadas, saudosistas Reconstrução do lugar social do jovem, visto como associado a esperança de futuro ou como risco e ameaça

13 As histórias de vida Trabalho de entrevistas de histórias de vida, com registro em áudio, vídeo e foto, de 13 idosos: 2 homens e 11 mulheres entre 65 e 87 anos Idosos: geração que consolidou a inserção do grupo no trabalho urbano Enfrentou os processos de exclusão territorial da cidade, vivenciando a busca pelos terrenos mais acessíveis, muitas vezes não regularizados e em locais sem infra-estrutura e serviços públicos fundamentais

14 As histórias de vida Infância como tempo roubado pelo trabalho, perspectiva naturalizada nas narrativas, socialização vista como necessária e única possível ao pobre Estudo cede espaço também ao trabalho Renda atual de 1 a 2 salários mínimos, importante perante quadro de precarização do trabalho das gerações posteriores

15 As histórias de vida Geração que se reconhece como legatária de valores em forte mutação: redes de parentesco e solidariedade apontadas como código essencial nas relações sociais Críticas a novos valores materiais e quebra de hierarquias familiares pelas gerações mais novas Mudanças de valores vistas como principal referência temporal (amizades versus brigas, desrespeito aos mais velhos), além de alterações na infra-estrutura urbana (“tudo” melhorou)

16 As oficinas com as jovens Oficinas de audiovisual foram (e continuam sendo) desenvolvidas em parceria com Grupo Espírita Semente 2009: seleção de oito jovens, entre 13 e 16 anos Produção de vídeos e registros fotográficos com diversas temáticas: o bairro; ser mãe no bairro; a moda no Dom Bosco; a escola onde elas estudaram; as amizades Exposições de fotos das jovens (e do bolsista Marcos) em vários locais do bairro e da cidade

17 As oficinas com as jovens Imagens com forte teor narcísico (tecnonarcisismo; Muniz Sodré) Expressiva carga erótica Associação com objetos de consumo aos quais não têm acesso (carros, motos, casas)

18 As oficinas com as jovens Identificação e crítica ao bairro A falta de infra-estrutura – os problemas de coleta de lixo, casas precárias Os amigos, as amigas, carinho pela escola, pelas professoras, por uma funcionária da associação espírita

19 As oficinas com as jovens Interesse inicial forte pela novidade da oficina, das máquinas – a importância do bolsista Participação com muitas alterações de intensidade: maior, menor Sensibilização pelo entorno, entusiasmo por propostas feitas por elas mesmas (vídeo de homenagem à funcionária, sobre moda, fotos com rapazes do bairro)

20 O retorno ao bairro Oficinas de audiovisual nunca foram interrompidas Novos contatos com as jovens e com os idosos em 2012 Distribuição de vídeos, revistas, livros – ação que foi finalizada no bairro, mas ainda não nas bibliotecas das escolas públicas de Juiz de Fora, e nos cursos superiores/pós-graduação eventualmente interessados

21 O retorno ao bairro Jovens passaram por muitas mudanças: uma delas (Geisiane) se preparava para ganhar o primeiro filho, e iria morar com namorado, diz que aprendeu na oficina a buscar “o espírito da fotografia” Frequenta EJA, não trabalha, tem máquina fotográfica (que fica com o namorado), não posta fotos nem tem acesso à internet Outra (Evellyn) diz que a oficina foi a única oportunidade que teve de usar máquina fotográfica e mesmo computador. Mora com o namorado e trabalha das 6h às 16h em um restaurante

22 O retorno ao bairro Eliziane (Lilica) teve contato inicial com máquina fotográfica, está hoje no Facebook e também no orkut, e tem o hábito de postar fotos nas redes sociais. Frequenta o 2º ano do ensino médio, pretende fazer curso superior na UFJF Andreska cuida de crianças para uma tia e para duas outras mulheres do bairro. Angélica busca trabalho, como atendente em loja. Para ambas, as imagens feitas na oficina eram produzidas “por acaso”. Não estudam, não têm máquina fotográfica nem acesso à internet

23 O retorno ao bairro Revisitamos a casa de todo/as o/as idoso/as: uma delas havia morrido; outra havia se mudado, pois estava doente. Todo/as o/as demais foram encontrado/as e foram deixados com eles/as exemplares do livro Nove histórias mineiras, do DVD e da revista Livro, em especial, emocionou o/as idoso/as – (re)conta a histórias de nove dos entrevistados Perspectiva atual é transcrever e analisar entrevistas feitas com filhas e filhos desses idosos, e que não puderam integrar corpo de interpretação do projeto

24 Vídeos Disponíveis no youtube, canal memoriaeacaocultural (fechamento da escola estadual Dom Orione, Caminho das Águas, Retratos do Bairro, Reggae Bem, etc.)