Maria Cristina da Cunha Pereira DERDIC - PUCSP

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Transcrição da apresentação:

Maria Cristina da Cunha Pereira DERDIC - PUCSP SUGESTÕES QUE PODEM CONTRIBUIR PARA AMPLIAR O CONHECIMENTO DA LÍNGUA PORTUGUESA POR ALUNOS SURDOS Maria Cristina da Cunha Pereira DERDIC - PUCSP

“Roteiro” de leitura – SUELI FERNANDES - 2008 ASPECTOS INTERTEXTUAIS Conhecimento prévio sobre o tema proposto. Relação com outros textos lidos. Reconhecimento de palavras ou expressões (pistas semânticas). Induzir o raciocínio para associações importantes. Hipóteses de leitura.

ASPECTOS PARATEXTUAIS Gênero e tipologia textual;Estilo (níveis de formalidade); sinais gráficos (pontuação, acentuação, negrito); organização em verso ou prosa; paragrafação; caixas de texto, destaques, notas de rodapé, asteriscos, cor e formato das letras, logotipos, ícones...

ASPECTOS TEXTUAIS Identificação do léxico (palavras e enunciados)‏ Regras de organização da escrita. Aspectos de coesão e coerência. Relações gramaticais.‏

PRÉ-LEITURA Contextualização visual do texto. Exploração do conhecimento prévio e de elementos intertextuais, elementos paratextuais e significativos. LEITURA Leitura individual do texto e discussão das hipóteses de leitura no grupo. (Re)elaboração escrita com vistas à sistematização de conteúdos em L2.

Contextualização visual do texto. Exploração do conhecimento prévio e de elementos intertextuais. Identificação de elementos textuais e paratextuais. Leitura individual e discussão das hipóteses de leitura no grupo. (Re)elaboração escrita com vistas à sistematização.

Contextualização visual do texto. As atividades de leitura em segunda língua para aprendizes surdos, principalmente na fase inicial, devem ser contextualizadas em referenciais visuais que lhes permitam uma compreensão prévia do tema implicado, de modo que esse conhecimento seja mobilizado no processo de leitura propriamente dita. O professor deve procurar textos interessantes, ricos em imagens que ofereçam apelos visuais sedutores para o aluno, independente do meio de materialização: fotografias, desenhos, caricaturas, cartazes, outdoors, folhetos, informativos, revistas, jornais, gibis, artes plásticas e cênicas, vídeos com trechos de programas de TV (novelas, humorísticos, propagandas...), filmes (legendados, preferencialmente), games eletrônicos, softwares, entre outros.

A leitura das imagens e a sua relação com as experiências vividas permitirão o despertar da atenção e do interesse pelas possíveis mensagens que o texto veicula. A experiência nos ensina o quão desestimulante é iniciar as experiências de leitura com textos sem apelos visuais, o que torna o processo penoso e desestimulante pela falta de pistas para a decifração. A idéia fundamental é que a hipótese inicial de leitura se realize pelo “casamento” entre as pistas imagéticas e textuais. Não importa se nesse momento os alunos façam interpretações equivocadas, levados pela mera associação de imagens com seus conhecimentos pessoais ou pelo reconhecimento imediato de palavras isoladas. O fundamental é que realizem um ‘ensaio de leitura’, pois isso lhes permitirá inferir sentidos do texto e elaborar hipóteses, o que significa muito para a familiarização com elementos da escrita.

Há a necessidade também de se pensar em que perguntas poderiam nortear as primeiras interações com o texto, já que os alunos desconhecem seu significado e podem levantar hipóteses absurdas, baseadas em seu conhecimento prévio ou nas pistas visuais que para ele parecem importantes. Assim, ao realizar perguntas como “o que vocês estão vendo? de que será que o texto trata? há alguma palavra que você já conhece? o que significa essa palavra? “por que esta letra está escrita maior do que esta? para que serve esse sinal aqui no início da linha?”, entre outras, conduzem a atenção do aluno para o foco das questões que você já levantou anteriormente e à reflexão mais efetiva sobre o conteúdo escrito”.

Exploração do conhecimento prévio e de elementos intertextuais O próximo passo é incitar que o aluno “leia” sem compromissos com a “decodificação” das palavras. É importante explorar toda a sorte de informações que fazem parte do cotidiano dos alunos sobre o tema proposto, por meio da mediação do professor com perguntas pertinentes que conduzam a relações sobre o real conteúdo do texto. A intertextualidade envolve associações de idéias com textos já lidos a respeito do tema. Poderão ser relembrados trabalhos anteriores, fazer comparações em relação à forma de apresentação e imagens, retomar idéias que poderão ser aproveitadas, trazer curiosidades sobre o autor como idade, origem, época em que o escreveu e outras informações (se isto for necessário e possível).

Como nesse momento eles poderão ser guiados pela leitura de palavras isoladas, que possivelmente não tenham nenhuma relação de sentido com o texto, o professor deve estar atento para não “perder o fio da meada” e por a perder seu planejamento. Ao apresentar o texto e iniciar o diálogo sobre ele, muitas respostas serão dadas pelos alunos, algumas pertinentes, outras nem tanto. Se o aluno estabelece hipóteses de leitura inadequadas, é o professor, com sua mediação, o que reconduzirá o raciocínio para as questões, de fato, pertinentes.

Identificação de elementos textuais e paratextuais significativos. É o momento do “refinamento” das informações visuais que chegam sob a forma de hipóteses e adivinhações sobre o conteúdo do texto. São três os aspectos a serem focados: os elementos lexicais, gramaticais e paratextuais. Como sabemos há muitas dificuldades de os alunos estabelecerem relações textuais mais amplas, justamente pela limitação de vocabulário na segunda língua (português). Geralmente, o conteúdo apresentado em língua de sinais nas discussões é riquíssimo, mas eles não conhecem as palavras e expressões em português para designá-los. Assim, o professor poderá registrar a(s) palavra(s) equivalente(s) em português, debatendo seus possíveis sentidos.

Por exemplo: na leitura de um texto sobre o meio ambiente, os alunos sinalizavam que as pessoas precisavam cuidar da natureza, não cortar árvores e colocar fogo nas florestas. A professora incentiva cada um a se colocar e registra no quadro: natureza as árvores, os animais, os rios = ecossistema meio ambiente cuidar da natureza = preservar não cortar = não derrubar = desmatar colocar fogo = fazer queimadas O registro é valioso, pois ele oferece uma espécie de antecipação do léxico (vocabulário) do texto, sem funcionar como uma repetição de suas estruturas.

Reconhecidas palavras e expressões que permitirão a aproximação com os sentidos impressos no texto, é chegado o momento da condução do olhar dos alunos para outros aspectos que organizam e potencializam sua leitura. É importante observar quais aspectos gramaticais poderão ser sistematizados por oferecerem dificuldades na compreensão do texto. Para escolher um aspecto gramatical relevante para o trabalho, o professor deve ter em mente que, nesse caso, ‘gramatical’ não se refere à gramática tradicional (nomear, classificar, descrever termos da oração, classes de palavras, conjugação verbal, etc.), mas sim à gama de conhecimentos que são ‘naturais’ no processo de aquisição da linguagem pelo falante nativo (ouvinte) e que são desconhecidos pelos alunos surdos.

É o caso da a ordem das palavras na oração (sujeito-verbo-objeto); palavras que indicam gênero (masculino e feminino); palavras ou morfemas (-s) que indicam número (plural); relações entre palavras que estabelecem a concordância nominal (subjetivo-adjetivo/ artigo substantivo/, pronome/ adjetivo...), concordância verbal (pessoa/verbo, tempo/verbo, modo/verbo), coesão (artigos, preposições, conjunções, pronomes), entre outros. Fernandes (2006) enfatiza que esta é a etapa mais difícil do processo, pois pressupõe que o professor tenha clareza em relação à diferença entre conhecer as regras de funcionamento da língua e teoria gramatical.

Por fim, é fundamental destacar elementos paratextuais pela função que exercem ao inserir o texto a ser trabalhado em determinada tipologia (narração, descrição, dissertação), gênero (poético, publicitário, informativo, científico...) e nível de formalidade (as marcas da oralidade (repetições, reduções de palavras, gírias, dialetos...). Não se deve esquecer de explorar outros elementos paratextuais cujo reconhecimento potencializará a leitura, como os sinais de pontuação (travessões, exclamações, interrogações...); a organização em verso ou prosa; o uso de maiúsculas/minúsculas como recurso estilístico; as caixas de texto, os destaques, as notas de rodapé, os asteriscos, a cor e o formato das letras, , entre outros.

Leitura individual e discussão das hipóteses de leitura no grupo. Até aqui a leitura funcionou como um ‘jogo de adivinhações’ dos sentidos impressos no texto, pois, afinal, houve apenas leitura de imagens, fragmentos (palavras, expressões), intertextos (relações com o conhecimento vivido). Todo esse trabalho anterior objetivou tornar o aluno mais confiante e preparado para enfrentar a leitura propriamente dita, pois há conhecimento prévio construído. Após a discussão sobre o tema, a sistematização de algumas palavras e elementos gramaticais presentes no texto, os alunos apresentam certa autonomia no ato de ler. Em suas tentativas, é muito comum que eles recorram ao roteiro registrado no quadro, buscando relações com o que estão desvelando no texto.

Depois de realizadas as tentativas individuais dos alunos, há inúmeras formas de confrontar se as hipóteses de leitura aproximam-se do conteúdo veiculado pelo texto: fazendo perguntas diretas, retomando o roteiro de leitura registrado inicialmente no quadro e questionando a que parte do texto se refere, solicitando aos alunos a leitura de trechos para a turma, inventando absurdos sobre o texto e solicitando argumentação, entre mais possibilidades. As perguntas e indagações sobre o conteúdo lido são fundamentais à valorização do trabalho de leitura individual realizado. Assumir um posicionamento em relação ao texto lido é também necessário, pois, como se sabe, permite ao leitor inserir-se nas práticas culturais que o escrito veicula: solicitar uma apreciação, uma argumentação, uma ponderação, uma opinião contrária ou favorável ao texto permite a inserção da leitura como inerentemente ligada à vida cotidiana.

(Re)elaboração escrita com vistas à sistematização. Todas as etapas que antecederam o trabalho de leitura, detalhadas anteriormente, potencializarão a produção escrita pelo aprendiz surdo. Se o texto foi lido, discutido, significado coletiva e individualmente, é possível enriquecê-lo, propondo o acesso a outros textos, oportunizando novas leituras, de modo a ampliar a cultura do escrito e os pontos de vista sobre o tema. Assim, a produção escrita flui sobre bases mais consistentes, mais concretas.

A atividade de re(elaboração) escrita pode estar direcionada a muitos aspectos: atividades (jogos, exercícios, questionários, paráfrases) que possibilitem avaliar se houve apropriação dos conhecimentos sistematizados (saber social, gramatical, lexical) nas atividades de leitura; atividades de produção escrita que permitam utilizar o conhecimento sistematizado (dissertação, descrição, narrativa, entrevista, slogan, etc.); proposição da leitura de novos textos relacionados tematicamente; criação de textos nos gêneros propostos; apresentação de seminários a outros grupos sobre o tema debatido...

FERNANDES, Sueli. PRÁTICAS DE LETRAMENTOS NA EDUCAÇÃO BILÍNGÜE PARA SURDOS. Secretaria de Estado da Educação do Paraná. Superintendência de Educação. Departamento de Educação Especial. 2006. FERNANDES, Sueli. Trabalho apresentado no Simpósio DERDIC 2008 – Escrita.